Tive a oportunidade, em julho de 2014, de visitar durante uma
semana a República Popular Democrática da Coreia. Na ocasião,
cumpri uma intensa agenda, realizando mais de 40 atividades em
distintas regiões do país, incluindo visitas a centros de
atenção à saúde; centros educacionais; equipamentos culturais,
esportivos e de lazer; empreendimentos fabris e agrícolas;
modernas áreas residenciais; museus, monumentos e sítios
históricos; grandes obras, como o Complexo Hidráulico do Mar do
Oeste; a Linha Demarcatória do Armistício, em Panmunjon; etc.
Pude, também, manter conversações com o Embaixador brasileiro na
RPD da Coreia, Roberto Colin, e com distintas representações
governamentais, além de ter acesso a ampla informação e
bibliografia sobre as transformações em andamento no país.
Constatei, então, a enorme distância entre a realidade e a
imagem que é difundida pelos monopólios midiáticos ocidentais em
relação à RPDC, apresentando-a como um país retrógrado,
belicista e de famintos, a ser salvo pelas “pacíficas”, “nada
discriminadoras” e “benevolentes” “democracias” ocidentais,
lideradas nada mais, nada menos que pelos EUA de Donald Trump...
Ao retornar ao Brasil, apresentei à Assembleia Legislativa do
Rio Grande do Sul um relatório detalhado sobre essa viagem,
acompanhado de um estudo histórico sobre a Coreia. É com base
nessa separata que apresento este texto sobre as profundas
transformações ocorridas na Coreia nas últimas décadas.
OS PRIMÓRDIOS
Os primeiros sinais de humanídeos na península coreana datam do
paleolítico inferior, há um milhão de anos atrás. Já os
primeiros indícios humanos (artefatos, uso do fogo, etc.), datam
de 300.000 anos AC.
Seus descendentes ingressaram na idade do bronze na segunda
metade do quarto milênio AC, tendo criado a Civilização
Taedonggang. Surgiu, então, o primeiro Estado da nação
coreana – conhecido como Joson Antigo e fundado pelo Rei
Tangun. Civilização que irá durar cerca de três mil anos, até
108 aC.
Em 277 AC, emergiu o primeiro Estado Feudal da Coréia, que
rapidamente se expandiu, submetendo progressivamente os demais
reinos. No início do século 5º DC, o Estado de Koguryo já
dominava um território de 2.400 km de leste a oeste e de 2.000
km de norte a sul. Sua capital era Pyongyang.
Em 918, o Rei Wangkon estabeleceu a dinastia Koryo, tendo
por capital a atual cidade de Kaesong, unificando pela primeira
vez a nação coreana. A dinastia Koryo durou até 1392, quando
surgiu a dinastia feudal Joson, o último Estado feudal da nação
coreana, que no início do século XX foi dominado pelos
japoneses.
A
TRANSFORMAÇÃO DA COREIA EM COLÔNIA JAPONESA
No final do século XIX – quando ocorreu a expansão imperialista
em todo o mundo – a Coréia sofreu sua primeira agressão em 1866,
quando o navio de guerra norte-americano General Sherman
invadiu as águas territoriais do país e subiu o Rio Taedong até
Pyongyang, mas foi afundado e incendiado pelos coreanos. Após,
outros barcos de guerra – da França, Inglaterra e Japão – foram
repelidos pelo povo coreano.
Porém, em 1876, o Japão conseguiu impor ao decadente Estado
feudal coreano o desigual Tratado de Kanghwado, reduzindo
a Coréia a uma semi-colônia japonesa. As guerras sino-japonesa
de 1904-1905 e russo-japonesa de 1904-1905 – quando a China e a
Rússia foram derrotadas pelo Império Japonês – criaram as
condições para o total domínio nipônico sobre a Coréia.
Os Estados Unidos apoiaram o Japão em sua ocupação da Coréia, em
troca do apoio japonês à ocupação norte-americana das Filipinas
(Pacto Secreto Taft-Katsura). O Tratado de Ulsa –
imposto pela força das armas em 1905 – e o Tratado
Coreano-Japonês de Anexação, em 1910, consumaram a
transformação da Coréia em colônia japonesa. A partir de então –
usando da maior brutalidade – os japoneses desenvolvem uma
política de colonização, apoderando-se das terras, indústrias e
riquezas coreanas e explorando duramente o país e o seu povo. Em
1925 já eram 425 mil japoneses instalados na Coréia. Em 1942,
80% das florestas e 25% das terras cultivadas estavam em suas
mãos.
A
RESISTÊNCIA CONTRA A DOMINAÇÃO JAPONESA
Os coreanos nunca aceitaram o domínio japonês e em 1908 o
movimento “voluntários anti-japoneses” chegou a abarcar 70 mil
guerrilheiros, mas acabou derrotado em 1910. Ocorreram diversas
outras rebeliões, mas igualmente foram esmagadas pelos
japoneses, com grande violência.
Em 1917, Kim Hyong Jik – pai do futuro Presidente da Coréia, Kim
Il Sung – criou a organização revolucionaria Associação
Nacional Coreana, para lutar contra a dominação japonesa,
mas acabou sendo preso. Em 1919, no lugar dos “voluntários
anti-japoneses”, que haviam sido derrotados, surgiu o
Movimento do Exército Independentista, que retomou a
resistência armada aos japoneses. Em 1925, foi formado o
Partido Comunista da Coréia, que não foi reconhecido pela
Internacional Comunista e se desfez em 1928.
Em outubro de 1926, Kim Il Sung fundou a União para Derrotar
o Imperialismo (UDI), integrada por jovens comunistas, tendo
por objetivos derrotar o imperialismo japonês, alcançar a
independência da Coréia e construir o socialismo e o comunismo.
Em 3 de julho de 1930, Kim Il Sung criou a Associação de
Camaradas Konsol, formada por jovens comunistas, que viria a
ser o embrião do futuro Partido do Trabalho da Coréia.
Em abril de 1932, foi iniciada a Guerrilha Popular
Anti-japonesa, que logo se estendeu para diversas regiões,
incluindo a Manchúria. Em março de 1934, ela foi transformada em
Exército Revolucionário Popular da Coréia. Nas áreas
liberadas, foram organizados governos revolucionários
populares, unindo todas as forças antijaponesas.
Em maio de 1936, realizou-se a conferência constituinte da
Associação para a Restauração da Pátria (ARP) – primeira
organização permanente da frente única nacional anti-japonesa na
Coréia – e foi aprovado o seu Programa de Dez Pontos. Kim
Il Sun foi eleito seu presidente.
No final da década de 30, os japoneses atacaram duramente o
ERPC, que correu o risco de ser aniquilado. Em fins de 1938, sob
o comando de Kim Il Sung, o ERPC empreendeu a chamada Marcha
Penosa, em pleno inverno, para fugir ao cerco. Após mais de
100 dias de marcha, o grosso da guerrilha conseguiu chegar, em
março de 1939, à região fronteiriça de Beidadingzi, escapando ao
cerco.
A
DERROTA DO IMPERIALISMO JAPONÊS E A OCUPAÇÃO DO SUL PELOS EUA
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6 de
setembro de 1945: o povo coreano celebra a
proclamação da República Popular da Coréia. |
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Ao final da Segunda Grande Guerra, após a rendição alemã (8 de
maio de 1945), a luta prosseguiu contra o Japão, que continuava
dominando inúmeros países na região do Pacífico e ocupando a
Coréia. Em 8 de agosto, o Exército Revolucionário Popular da
Coréia (ERPC), sob a direção de Kim Il Sung, iniciou sua
ofensiva contra os japoneses, em todo o país. Em 9 de agosto, a
URSS declarou guerra ao Japão e atacou as tropas japonesas na
Manchúria e na Coréia. Nas principais cidades e regiões, a
população sublevou-se. A situação tornou-se insustentável para
os japoneses.
Sem qualquer necessidade, pois o Japão já negociava a rendição,
os Estados Unidos lançaram duas bombas atômicas em Hiroshima e
Nagasaki, matando mais de 300 mil pessoas, quase todos civis. Em
15 de agosto, o Japão assinou a sua rendição. O ERPC e demais
lideranças patrióticas organizaram Comitês Populares em
toda a Coréia que, reunidos em Seul, proclamaram em 6 de
setembro de 1945 a República Popular da Coréia.
Desrespeitando a autodeterminação do povo coreano, no dia 8 de
setembro, os Estados Unidos ocuparam o Sul da Coréia com suas
tropas, até o paralelo 38, inclusive Seul, dissolveram os
Comitês Populares e prenderam em massa os seus membros.
Segundo o historiador norte-americano Bruce Comings:
A informação
interna estadunidense acerca de prisioneiros políticos sob a
ocupação dos EEUU dava 21.458 pessoas na prisão em 1947, e
17.000 em agosto de 1945; dois anos depois, 30.000 supostos
comunistas estavam nos cárceres de Rhee e os processos dos
suspeitos de comunismo constituíam 80% de todos os casos
judiciais. Uma série de ‘Campos de Tutela’ alojavam esses
prisioneiros adicionais (...) a embaixada dos EEUU estimava que
70.000 pessoas encontravam-se nesses campos.[1]
O
1º comunicado do General Douglas MacArthur, comandante das
tropas norte-americanas, não deixou dúvidas quanto ao seu
caráter de ocupação militar:
como comandante
em chefe das Forças Armadas dos Estados Unidos no Pacífico,
exerço através das mesmas o controle militar sobre o Sul da
Coréia, desde o paralelo 38, e sobre a sua população. (...)
Devem ser respeitadas todas as minhas ordens e as ditadas sob a
minha autoridade. Os atos de resistência às forças de ocupação
ou qualquer ação que possa obstaculizar a tranqüilidade pública
e a segurança serão castigadas com energia. Durante o meu
controle militar, o inglês será o idioma oficial.[2]
Em seu informe sobre os três primeiros meses de ocupação, o
General Hodge afirmou: “[Existe] um crescente ressentimento
em relação a todos os estadunidenses na área (...) cada dia que
passa em meio a essa situação torna a nossa posição na Coréia
mais insustentável e diminui nossa decrescente popularidade
(...) a palavra pró-estadunidense é associada a pró-japonês,
traidor nacional e colaboracionista.”[3]
Após negarem ao povo coreano o direito à autodeterminação, os
militares estadunidenses – diante das dificuldades em formar um
governo pró-americano no Sul da Coréia – foram buscar nos EUA o
Sr. Syngman Rhee (um septuagenário que lá vivia há 37 anos) e o
impuseram, no início de 1946, como presidente de um fictício
Conselho Democrático Representativo, que tinha como
principal sustentáculo os antigos colaboracionistas
pró-japoneses. Poucos tempo depois, uma série de greves e
passeatas – pleiteando melhores salários e direitos trabalhistas
– tomaram conta da cidade de Seul. Na manifestação a polícia foi
autorizada a atirar na multidão, matando 41 grevistas. Logo
depois, centenas de grevistas foram presos, torturados e
condenados à pena de morte.
A
ocupação norte-americana e seu apoio aos segmentos que haviam
colaborado com a ocupação japonesa geraram uma grande reação do
povo sul-coreano: “Os torturadores e os integrantes de
esquadrões da morte, que até bem pouco haviam sido um dos braços
do domínio estrangeiro, estavam de volta, circulando pelas ruas
com armamento norte-americano, radiotransmissores e jipes.”[4]
No outono de 1946, uma rebelião massiva se espalhou por quatro
províncias. Fortemente reprimidos, os rebeldes iniciaram uma
guerrilha que se manteve ativa até 1949. Em outubro de 1948,
ocorreu uma importante rebelião no porto de Yosu, sufocada ao
custo de mais de 2.000 mortos e 3.000 presos. Na ilha de Cheju a
resistência foi calada depois de terem sido mortos 60 mil
pessoas, terem fugido para o Japão outras 40 mil e terem sido
destruídas cerca de 40 mil casas. Das 400 aldeias existentes, só
restaram 170.
A
RECONSTRUÇÃO NA COREIA DO NORTE
Enquanto isso, no Norte as tropas russas respeitaram o governo
surgido dos Comitês Populares, criados logo após a
vitória contra os japoneses.
Em 10 de outubro de 1945, Kim Il Sung fundou o Partido
Comunista da Coréia do Norte, que em 1946 uniu-se ao
Partido Neodemocrático da Coréia, constituindo o Partido do
Trabalho da Coréia.
Em 8 de fevereiro de 1946, tendo por base os Comitês
Populares formados em todo o país, foi constituído o
Comitê Popular Provisório da Coréia do Norte – com a tarefa
de levar adiante a revolução democrática, anti-imperialista e
anti-feudal – o qual elegeu Kim Il Sung como seu presidente.
Em 5 de março – sob o lema “a terra pertence aos camponeses que
a trabalham” – foi editada a Lei da Reforma Agrária na Coréia
do Norte, que confiscou as terras de japoneses,
pró-japoneses, traidores da nação e latifundiários, e as
distribuiu para 725 mil famílias camponesas sem terra ou com
pouca terra. O regime permitiu aos ex-latifundiários que
desejassem trabalhar a terra, se mudarem para províncias
vizinhas, onde lhes era concedida a mesma quantidade de terra
que aos demais agricultores. Os camponeses obtiveram terras que
podiam ser transmitidas aos seus filhos, mas não podiam ser
compradas ou vendidas no mercado.
Em 24 de junho foi promulgada a “Lei do Trabalho para os
operários e empregados da Coréia do Norte”, estabelecendo a
jornada de 8 horas e a proibição do trabalho às crianças. No dia
30 de julho, foi assinada a “Lei da igualdade de direitos do
homem e da mulher na Coréia do Norte”.
Seguiram-se diversas outras medidas para democratizar as esferas
judicial, fiscal, cultural e educacional. Foi estabelecido o
ensino gratuito e obrigatório e deflagrada uma grande campanha
de alfabetização que criou mais de 16 mil escolas para adultos,
só em 1946. No início de 1949, mais de 2,3 milhões de coreanos
haviam sido alfabetizados e o analfabetismo foi definitivamente
erradicado no país.
Em 10 de agosto de 1946, foi assinado o “Decreto de
nacionalização de indústrias, transportes, comunicações, bancos,
etc.”, pertencentes a japoneses, pró-japoneses e traidores
da nação, que tiveram os seus bens expropriados, sem direito a
qualquer indenização. Os capitalistas patriotas e pequenos e
médios empresários tiveram os seus bens respeitados.
Em 3 de novembro de 1946, foram realizadas as primeiras eleições
democráticas da Coréia, em seus 5.000 anos de existência: “Nas
eleições ao Comitê Nacional Popular de novembro de 1946 o PDC
obteve 351 representantes, o Chongu-dang 253 e o PTCN 1.102;
foram eleitos, ainda, 1.753 representantes postulados como
apartidários.”[5]
Em fevereiro de 1947, instalou-se o Comitê Popular da Coréia
do Norte, tendo por presidente Kim Il Sung. Em 8 de
fevereiro de 1948 foi constituído o Exército Popular da Coréia.
Fruto de todas essas transformações econômicas, sociais e
políticas, a produção industrial aumentou 3,4 vezes entre 1946 e
1949, e a produção para o consumo cresceu 2,9 vezes. Houve um
início de diversificação industrial. No ano de 1949, a indústria
nacionalizada era responsável por 91% da produção e as
cooperativas e o Estado controlavam 57% do comércio. Na
agricultura, surgiram as primeiras cooperativas agrícolas e
artesanais e um incipiente setor estatal, formado por granjas
experimentais e estações de máquinas e tratores.
Segundo Cumings:
72% das crianças
freqüentavam a escola primária, comparadas com os 42% de 1944;
cerca de 40 mil escolas para adultos em todo o país brindavam
alfabetização básica a operários e camponeses. Informação
estadunidense (...) mostra a produção de lingotes de ferro
subindo de 6.000 toneladas em 1947 a 166.000 em 1949, a produção
de barras de aço subir de 46.000 toneladas a 97.000, (...)
superior à produção japonesa de 1944 (...); a produção
industrial subiu 39,6% em 1949(...). O resultado desse esforço
extraordinário (...) foi que desde 1940 até meados dos anos 60
(...) Coréia do Norte cresceu de maneira muito mais rápida que o
Sul (...).[6]
OS EUA IMPEDEM A REUNIFICAÇÃO E A AUTODETERMINAÇÃO DA COREIA
|
O povo
coreano participa da primeira eleição
democrática em 3 de novembro de 1946. |
|
Apesar de ter sido acordado na Conferência de Ministros de
Relações Exteriores, realizada em Moscou, em dezembro de 1945,
que a URSS e os Estados Unidos trabalhariam pela criação de um
governo provisório unificado e que no prazo de cinco anos se
retirariam da Coréia, no dia seguinte os Estados Unidos passaram
a trabalhar pela divisão definitiva do país, em um contexto de
“Guerra Fria”.
Além de dissolverem pela força os Comitês Populares e
reprimirem os que defendiam a reunificação da Coréia, criaram a
armaram um exército de 150 mil homens no Sul, sem possuir
qualquer mandato para tanto. Não satisfeitos, propuseram em
setembro de 1947 que a questão da Coréia – que era um assunto a
ser resolvido entre a URSS e os Estados Unidos – passasse para a
alçada da ONU, sem ingerência do Conselho de Segurança (onde a
URSS podia exercer o direito de veto). Moscou se opôs, mas os
EUA – que naquela época manejavam as Nações Unidas ao seu bel
prazer – conseguiram aprovar a proposta. Assim, foi formada a
Comissão Temporária das Nações Unidas sobre a Coréia, que
convocou “eleições gerais” no país, o que não foi aceito nem
pela URSS, nem pelos norte-coreanos, que não permitiram que essa
comissão fantoche dos Estados Unidos desenvolvesse as suas
atividades no Norte da Coréia.
Em resposta às maquinações norte-americanas, foi realizada, em
abril de 1948, em Pyongyang, uma Conferência conjunta de
representantes de partidos políticos e organizações sociais da
Coréia do Norte e do Sul – na qual compareceram 695
representantes de 56 partidos e organizações, representando mais
de 10 milhões de coreanos. A própria imprensa norte-americana
foi obrigada a reconhecer que “na Conferência de Pyongyang
todas as organizações de direita e de esquerda estiveram
representadas, com exceção de três organizações dirigidas por
Syngman Rhee, Kim Song Su, etc.”[7]
Desrespeitando a vontade do povo coreano, dita “comissão”
organizou eleições fraudulentas no Sul, em 10 de maio de 1948.
Segundo Vivian Trias, as eleições “foram vergonhosas. Os
bandos terroristas assolaram a população; nas seis semanas
anteriores foram cometidos quase 600 assassinatos políticos. É
claro que ganhou a direita e a comissão internacional considerou
o seu triunfo como legítimo e ‘democrático’. (...) A divisão
ficou consagrada.”[8]
Segundo Bruce Cuming, “praticamente todos os políticos e
partidos políticos de expressão, à direita de Rhee, se negaram a
participar nas eleições, incluindo a Kim Kyu-sik, um peculiar
centrista coreano, e a Kim Ku, um homem situado, provavelmente,
à direita de Syngman Rhee”.[9]
Como era de esperar, Syngman Rhee obteve ampla maioria e assumiu
a presidência. Poucos dias depois, em 15 de agosto de 1948, sob
os auspícios do Gal. MacArthur, foi proclamada a República da
Coréia, dividindo de forma definitiva a nação. MacArthur
ameaçou: “Esta barreira [o paralelo 38] deve ser
derrubada e o será. Nada poderá impedir que o vosso povo logre a
unidade em liberdade.”[10]
Com a posse de Syngman Rhee, chegou ao fim o governo militar de
ocupação, mas não a presença militar e a tutela dos EUA sobre o
governo do Sul da Coréia. Segundo Vitorino: “seguindo as
orientações de Washington (...) Rhee governou a Coréia do Sul em
estado de terror e perseguição. (...) Em 1949, o governo de Rhee
mantinha em cárcere 36 mil prisioneiros políticos e um saldo de
mortes de mais de 100 mil pessoas.”[11]
O
próprio Presidente Truman teve de confessar a conivência dos
Estados Unidos com esses crimes: “Syngman Rhee (...)
rodeou-se de homens reacionários (...) e, quando o fim do
governo militar lhe deixou as mãos livres para atuar impunemente
contra seus inimigos políticos, adotou métodos policialescos
para impedir a liberdade de expressão. (...) Entretanto, não
tínhamos outro remédio senão apoiá-lo.”[12]
Relatando a evolução política da Coréia do Sul, sustentada pelos
EUA, o insuspeito Mário Giordani nos diz:
Syngman Rhee foi
reeleito presidente em 1952 e, novamente, em 1956, exercendo
poderes ditatoriais para manter-se no governo até 1960, quando
teve como sucessor o general Park Chung Hee, que assume o poder
em maio de 1961, após um golpe militar. Park foi reeleito em
1967 e em 1971, mas em 1979 foi assassinado pelo chefe dos
Serviços Secretos. Sobe ao poder Choi Kiu Há que é deposto pelos
militares em 1980. Segue-se a presidência do General Chum Doo
Hwan (1980-1988), caracterizada por repressões políticas.[13]
Como se pode ver, não é de hoje que os Estados Unidos impõem e
apóiam ditaduras sem qualquer compromisso com a democracia.
SYNGMAN RHEE – O DITADOR DO SUL – ORGANIZA A INVASÃO ARMADA DO
NORTE
Em resposta às eleições fraudulentas realizadas no Sul, o Norte
organizou, em 25 de agosto de 1948, eleições diretas para a
Assembleia Popular Suprema. Devido ao regime de terror
implantado por Syngman Rhee, a única alternativa para a
indicação dos representantes do Sul na Assembleia Popular foi a
indicação clandestina de delegados que, reunidos em Haeju,
elegeram os seus deputados. Assim, em 9 de setembro de 1948 – um
mês após a criação da República da Coréia no Sul – foi
constituída no Norte a República Democrática Popular da
Coréia (RPDC) e Kim Il Sung foi eleito o seu Chefe de
Estado.
Pouco depois, as tropas soviéticas abandonaram a Coréia em
respeito à autodeterminação coreana e conclamaram os Estados
Unidos a fazer o mesmo. Esses, porém, negaram-se a fazê-lo e só
se retiraram da Coréia em 30 de julho de 1949, quase um ano
depois. Segundo Bruce Cumings:
Os estadunidenses
não podiam retirar suas tropas com tanta facilidade, pois
estavam preocupados pela viabilidade do regime no Sul, por suas
tendências ditatoriais e por suas intenções (declaradas a todo o
momento) de marchar em direção ao Norte. Mas muito mais
relevante que isso era a crescente importância que a Coréia
adquiria para a política mundial estadunidense como parte de uma
nova estratégia dual de contenção do comunismo e revitalização
da economia industrial do Japão.[14]
Em fevereiro de 1949, falando à Assembleia Nacional, Syngman
Rhee disse que se não conseguia anexar a Coréia do Norte com a
ajuda da “Comissão da ONU sobre a Coréia” o “Exército de
Defesa Nacional (...) deverá necessariamente marchar sobre a
Coréia do Norte.”[15]
E, em 9 de março, seu Ministro do Interior, Yun Chi Yong,
afirmou “que a República da Coréia recupere pela força a
terra perdida que é a Coréia do Norte; é a única via para
reunificar o Norte e o Sul da Coréia.”[16]
Em resposta a essas ameaças, em junho de 1949 realizou-se em
Pyongyang um encontro para constituir a “Frente Democrática pela
Reunificação da Pátria” que conclamou a reunificação da Coréia
pela via pacífica. A FDRP apresentou seis pontos para viabilizar
essa reunificação pacífica:
1) A reunificação
da Pátria deve ser realizada pelo próprio povo coreano; 2) as
tropas dos EUA devem retirar-se imediatamente da Coréia do Sul;
3) A ‘Comissão da ONU sobre a Coréia’, organismo ilegal, deve
retirar-se sem tardança; 4) Efetuar simultaneamente, em setembro
de 1949, em todo o território da Coréia do Norte e do Sul,
eleições para um órgão legislativo unificado; 5) Assegurar a
legalidade e a liberdade em suas atividades aos partidos
políticos e organizações sociais democráticas; 6) O órgão
legislativo supremo, surgido das eleições gerais, deve adotar
uma constituição e formar, sobre essa base, um governo.[17]
Em resposta, em julho de 1949, logo após a publicação do projeto
de reunificação pacífica da FDRP, o Ministro da Defesa da Coréia
do Sul, Sin Song Mo, ameaçou: “Nosso Exército de Defesa
Nacional (...) tem a convicção e a força para ocupar
completamente, não importa quando, em um dia, Pyongyang e,
mesmo, Wonsan ao Norte, se a ordem for dada.”[18]
AS SUCESSIVAS PROVOCAÇÕES ARMADAS SUL-COREANAS
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Tropas
soviéticas retiram-se da Coréia em respeito
à autonomia coreana. |
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Durante todo ano de 1949, as incursões de tropas sul-coreanas ao
território do Norte – que já ocorriam desde 1947 –
recrudesceram, deixando claro que o Sul buscava a guerra. Em
Kaesong, em 4 de maio, um ataque de tropas do Sul durou quatro
dias, causando a morte de 400 soldados norte-coreanos e 22
sul-coreanos, além de mais de 100 civis, segundo cifras oficiais
estadunidenses e sul-coreanas. Entre 21 de maio e 7 de junho,
efetivos da 1ª Divisão do Exército sul-coreano, com apoio aéreo,
atacaram os montes Kuksa, Unpha, Kachi e Pidulgi, ocupando-os
por algum tempo, mas logo foram expulsos. Em fins de junho,
atacaram o monte Unpha, tomando-o e fortificando-se ali. No dia
6 de julho, atacaram o monte Kosan, mas sem conseguir tomá-lo.
Em 25 de julho, atacaram e ocuparam o monte Song-ak, mas foram
expulsos.
Em julho de 1949, o General W. L. Roberts chefe do “Grupo
Assessor Militar da Coréia” (GAMC) – que sucedeu o governo de
ocupação dos EUA na Coréia – afirmou aos comandantes
sul-coreanos Chae Pyong Doc e Kim Sok Won que “a presente
invasão do Norte servirá de bom terreno de experimentação para a
guerra civil iminente; o combate permitirá adquirir
conhecimentos vivos através de um contato direto com o inimigo.”[19]
E
Kim Sok-Won, comandante das tropas sul-coreanas no paralelo 38,
afirmou à CONUC que a península vivia um estado de guerra e que
“devemos contar com um programa para recuperar nosso
território perdido, a Coréia do Norte, atravessando a fronteira
do paralelo 38, fixada em 1945”. E mesmo o historiador
norte-americano Bruce Cumings reconhece que “a guerra que
eclodiu em junho de 1950 produziu-se depois de uma guerra de
guerrilhas e nove meses de combate ao longo do paralelo 38,
durante 1949. (...) A razão pela qual a guerra não eclodiu em
1949 (...): o Sul queria uma guerra, mas o Norte não a desejava.”[20]
Em 4 de agosto de 1949, diante da ocupação do Monte Unpha por
tropas sul-coreanas, o Exército Popular da Coréia contra-atacou,
aniquilando-as por completo. Diante desse desastre, diversos
comandantes militares do Sul propuseram um ataque geral contra o
Norte, o que acabou não ocorrendo. Em 23 de agosto, diversos
barcos da Marinha do Sul invadiram o Rio Taedong – na Coréia do
Norte – e afundaram quatro embarcações norte-coreanas de 35 a 45
toneladas. Em 18 de agosto, uma frota naval sul-coreana
bombardeou Monggumpho, na província de Hwanghae, no Norte,
litoral Oeste da Coréia.
Em setembro de 1949, Egon Ranshofen- Wertheimer membro da CONUC
informou que “a tentação de Rhee por invadir o Norte e a
pressão exercida sobre ele para fazê-lo pode, assim, tornar-se
irresistível. As autoridades militares mais altas da República
(...) estão exercendo uma pressão permanente sobre Rhee para que
ele tome a iniciativa e cruze o paralelo.”[21]
Em outubro de 1949, Syngman Rhee discursou a bordo de um navio
de guerra dos EUA, ancorado em Inchon, dizendo que o Sul podia
tomar Pyongyang em três dias, queixando-se de que só não fazia
isso porque os Estados Unidos temiam que isso precipitasse a
terceira guerra mundial. E o Ministro da Defesa, em entrevista
coletiva realizada em 31 de outubro, declarou que suas tropas
estavam preparadas para avançar sobre a Coréia do Norte:
“Se pudéssemos manejar-nos por conta própria, já (...)
teríamos começado (...) Temos força suficiente para avançar e
tomar Pyongyang em uns poucos dias.”[22]
Em janeiro de 1950, Preston Goodfellow, assessor de Syngman
Rhee, informou ao Embaixador de Taiwan nos Estados Unidos,
Wellington Koo, que “eram os sul-coreanos que estavam
ansiosos por penetrar na Coréia do Norte, devido a que já se
sentiam prontos, com seu exército de 100.000 homens bem
treinados.”[23]
Apesar de constantemente agredida, a RPDC respondia com uma
ampla campanha pela reunificação pacífica da Coréia, sem
ingerências estrangeiras. Para bloquear essa campanha – que
contava com crescente simpatia da população do Sul –, o
Congresso dos EUA aprovou em fevereiro de 1950 a “Lei de Ajuda à
Coréia” que estabelecia que essa ajuda terminaria “caso seja
formada na República da Coréia um governo de coalizão que inclua
um ou mais membros do Partido Comunista ou do partido que
atualmente controla o governo da Coréia do Norte.”[24]
Através dessa Lei os EUA bloquearam qualquer possibilidade de
reunificação pacífica da Coréia e incentivaram o confronto.
No mês de junho, três emissários enviados pelo Norte para tratar
da reunificação, foram sumariamente fuzilados. Em 18 de junho, o
republicano John Foster Dulles – defensor de um confronto
preventivo com a URSS, antes que esta alcançasse a paridade
nuclear com os EUA – iniciou uma visita à Coréia, que teve a
característica de uma “revista às tropas” e de uma verificação
sobre seus preparativos guerreiros no paralelo 38. Nesse mesmo
dia o Secretário da Defesa Louis Johnson e o General Bradley
chegaram a Tóquio para conferenciar com o General MacArthur.
Segundo informaram, para inteirarem-se de fatos “que afetam a
segurança dos Estados Unidos e a paz do mundo”.[25]
Destaque-se, ainda, que em 30 de maio haviam ocorrido eleições
para a Assembleia Nacional Coreana, nas quais Syngman Rhee
sofrera importante derrota, tendo a oposição eleito 128 das 210
vagas no parlamento. Politicamente acuados, Rhee e os
norte-americanos começaram ver na guerra com o Norte uma saída
para a sua crise política.
A
ECLOSÃO DA GUERRA DA COREIA
No dia 25 de junho de 1950, pela manhã teve início a “Guerra da
Coréia”, que durante três anos manteve o mundo a beira de uma
Terceira Guerra Mundial e causou sofrimentos indescritíveis ao
povo coreano. Até hoje se discute quem deu o “primeiro tiro”. O
fundamental, porém, é identificar quem impôs a divisão
artificial da Coréia, quem bloqueou e bloqueia até hoje a
reunificação pacífica do país e quem multiplicou entre 1947 e
1950 as provocações armadas.
Em 23 de junho, às 22h, as forças sul-coreanas iniciaram um
ataque ao Monte Unpha – palco de agressão semelhante em fins de
junho de 1949 –, que prosseguiu até 4h da manhã do dia 25. E,
nas primeiras horas do dia 25 de junho, o 17º Regimento da
Coréia do Sul atacou os norte-coreanos que defendiam o Monte
Turak, em Onjin. Às 11h da manhã, os sul-coreanos divulgaram que
seu 17º Regimento havia tomado a cidade de Haeju, no Norte: “O
New York Times, o New York Herald-Tribune e o Washington Post
informaram que em 25 de junho duas companhias do 17º Regimento
haviam ocupado Haeju. O Delegado militar do Reino Unido em
Tóquio telegrafou em 27 de junho que dois batalhões do 17º
Regimento ocuparam Haeju”.[26]
Referindo-se a essa tão documentada ocupação de Haeju – de que a
Coréia do Sul se vangloriou publicamente – o historiador
norte-americano Bruce Cumings afirma que “este livro não pode
excluir a possibilidade de que haja sido o Sul que tenha
iniciado os combates em Ongjin, diante da perspectiva da tomada
imediata de Haeju.”[27]
Confirmando isso, John Gunther, biógrafo de Mac Arthur, relata
em “The Ridle of MacArthur”, p. 165, que “dois
importantes membros das forças de ocupação realizaram a excursão
a Nikko e (...) um deles ‘foi inesperadamente chamado ao
telefone’. Ao regressar, disse em voz baixa: ‘acaba de se
iniciar uma grande confusão. Os coreanos do Sul atacaram a
Coréia do Norte’.”[28]
Posteriormente, Gunther sustentaria que esta informação era
errônea, baseada numa versão da Coréia do Norte...
Em resposta ao ataque sul-coreano, o Exército Popular da Coréia
iniciou uma grande contra-ofensiva, que em poucos dias o levou a
tomar Seul.
A
ONU EMPRESTA SUA BANDEIRA À AGRESSÃO DOS EUA À COREIA
Às três horas da manhã do dia 25 de junho, tão logo se iniciaram
os combates, os EUA telefonaram para o Secretário Geral da ONU,
Trygve Lie, e lhe exigiram a convocação do Conselho de Segurança
da ONU que – com as ausências da China Continental, excluída do
Conselho de Segurança, e da URSS, que poderia vetar qualquer
deliberação – reuniu-se na manhã do próprio dia 25. Baseado
unicamente em informações dos EUA e da Coréia do Sul e
totalmente manipulado pelos Estados Unidos, o Conselho
responsabilizou a Coréia do Norte pelo ataque e exigiu que essa
suspendesse os combates.
Sem autorização do Congresso, o Presidente Truman determinou a
intervenção militar norte-americana (chamada de “ação policial”,
para driblar a exigência constitucional), o bloqueio naval e o
bombardeio da Coréia do Norte. Além disso, aproveitando o
pretexto, postou uma poderosa frota naval entre a China
Continental e Formosa, em apoio a Chiang Kai Check. No dia 27, o
Conselho de Segurança – ao invés de tentar mediar o conflito –
aprovou uma resolução dando cobertura legal ao ataque
norte-americano e conclamando todos os membros das Nações Unidas
a se somarem às forças intervencionistas. Mais do que isso,
entregou o comando dessas tropas “da ONU” ao General MacArthur,
sem estabelecer qualquer supervisão da ONU sobre suas ações.
A
partir daí, os Estados Unidos, a Coréia do Sul e mais 15 nações
– Inglaterra, França, Canadá, Itália, Bélgica, Holanda
Austrália, Nova Zelândia, Irlanda, Dinamarca, Grécia, Turquia,
África do Sul, Filipinas e Colômbia – uniram-se na agressão à
Coréia do Norte, contribuindo com tropas, armas, mantimentos e
apoio logístico. O Brasil, fortemente pressionado para
engajar-se na Guerra da Coréia, negou-se a fazê-lo, por conta da
forte campanha contrária, liderada pelo Partido Comunista do
Brasil.
O
CONTRATAQUE AVASSALADOR DA COREIA DO NORTE
Apesar da sua inferioridade em número, em armamento e em apoio
aéreo e naval, as tropas norte-coreanas – demonstrando grande
capacidade estratégica e tática e alta combatividade – avançaram
rapidamente, pondo em fuga tanto as tropas sul-coreanas
(consideradas pelos EUA como “o melhor exército da Ásia”),
quanto os até agora “invencíveis” norte-americanos.
Nesse avanço, contaram com o apoio de forças guerrilheiras do
Sul da Coréia. Em três dias tomaram Seul. Logo após uma pausa
para consolidarem o seu avanço, prosseguiram no dia 5 de julho
em direção ao Sul, tomando Taejon. Em fins de agosto, haviam
empurrado os exércitos sul-coreanos e norte-americanos até o
perímetro de Pusan, libertando mais de 90% do território e 92%
da população da Coréia. Nos territórios liberados foram
reconstruídos os Comitês Populares que haviam sido
liquidados pelos norte-americanos e foram distribuídas aos
camponeses pobres as terras dos latifundiários: 43,3% das terras
cultiváveis na zona liberada foram confiscadas e distribuídas
gratuitamente a 1 milhão e 267 mil famílias camponesas.
No dia 9 de julho, derrotado em todas as frentes e cercado no
perímetro de Pusan,
MacArthur enviou
uma mensagem urgente a Matthew Ridgway, em que solicitava ao
Estado Maior Conjunto ‘que considerasse se as bombas A
[Atômicas]
iam estar ou não à disposição do general MacArthur’ Se solicitou
então ao general Charles Bolte, chefe de operações, que falasse
com MacArthur acerca do uso de bombas atômicas ‘em apoio direto
aos combates terrestres’; poderiam ser disponibilizadas entre 10
e 20 bombas (...) não obstante, o Estado Maior Conjunto rechaçou
o uso da bomba.[29]
Em sua desabalada retirada, as tropas estadunidenses e
sul-coreanas realizaram todo o tipo de massacres de civis
suspeitos de serem comunistas ou de colaborarem com os
norte-coreanos. Em agosto, Alan Winnington publicou no Daily
Worker de Londres:
a polícia
sul-coreana, sob a supervisão dos assessores do GMAC, havia
massacrado 7.000 pessoas na aldeia de Yangwol, perto de Taejon,
entre 2 e 6 de julho. (...) chegaram caminhões da polícia na
região e fizeram com que fossem cavados seis poços, a duzentos
metros um do outro. Dois dias depois, foram conduzidos ao lugar
uma série de prisioneiros políticos, sendo executados (tanto
através de um balaço na nuca como pela decapitação) e atirados
nas fossas uns sobre os outros, ‘como sardinhas’. (...) As
fontes sul-coreanas inicialmente falaram em 4.000 mortos (logo
mudaram essa cifra para 7.000, alguns meses depois).[30]
Os EUA adotaram uma política de terra arrasada e de bombardeio
indiscriminado das populações civis: “As forças
estadunidenses começaram a queimar as aldeias suspeitas de
abrigar guerrilheiros e, em alguns casos, simplesmente as
queimaram, para negar às guerrilhas um possível lugar onde
esconder-se.”[31]
Segundo o correspondente britânico Reginald Thompson:
o imenso poder
das armas modernas foi desafiado por um punhado de camponeses
providos de uns poucos rifles e carabinas e de uma coragem
desesperada (...) sofrendo sobre si e sobre o resto dos
habitantes o espantoso horror das bombas incendiárias (...).
Cada povo e aldeia no caminho da guerra eram borrados do mapa
(...) eliminando cegamente gente remota e desconhecida, gerando
holocaustos de morte, uma verdadeira produção em massa da morte,
espalhando uma desolação abismal sobre comunidades inteiras.[32]
OS EUA REJEITAM A PROPOSTA DA URSS DE UM ACORDO DE PAZ E
ELEIÇÕES GERAIS
Quando, em inícios de julho, Nehru se propôs a realizar uma
mediação, o Departamento de Estado dos EUA respondeu que “o
cessar fogo e o retorno dos coreanos do Norte ao paralelo 38
eram condições mínimas e irredutíveis” para a paz.
Mas quando, em fins de julho, a URSS somou-se a essa iniciativa
e propôs um acordo de paz e eleições gerais “tanto no Norte
como no Sul, para eleger um só governo de toda a península”,
os EUA se opuseram com veemência, mostrando toda sua hipocrisia.
O
correspondente chefe do New York Times nas Nações Unidas
deixou claras as razões disso:
A dificuldade
consiste em que há muita probabilidade de que os comunistas
obtenham uma grande maioria se as eleições se celebram antes que
se tenha derrotado e desfeito a comunização da Coréia do Norte e
antes que o programa de reconstrução da ONU haja amortecido o
ressentimento do Norte e do Sul, causado pela destruição de
lares feita no curso da liberação pelas forças da ONU. Nesse
caso, o comunismo viria a ganhar, mediante eleições, o que não
pode obter com a invasão.”[33]
Ou seja, as eleições só eram bem vindas se houvesse a certeza da
vitória de Syngman Rhee, aliado dos Estados Unidos.
E
quando, em 28 de setembro, Inglaterra, Austrália, Canadá,
Noruega e Filipinas apresentaram uma resolução prevendo eleições
em ambas as zonas, um dos delegados que a elaborou afirmou que
“era possível que sob esse plano se criasse uma Coréia
unificada comunista, em quatro ou cinco anos. As esperanças de
uma vitória democrática se acredita que aumentarão se as
eleições forem adiadas até que um programa de ajuda das Nações
Unidas comece a reparar a destruição causada pela guerra e se
possa fazer um esforço para enfrentar a influência comunista na
Coréia do Norte.”[34]
Não pode haver uma confissão mais clara de que o regime do Norte
contava com amplo apoio popular tanto no Norte como no Sul.
Aos poucos, a máquina de guerra norte-americana, apoiada por 15
nações, começou a pesar na balança:
no dia 29 [de
agosto] quase 2.000 homens pertencentes à 27ª Brigada de
Infantaria Inglesa chegaram a Pusan, vindos de Hong Kong. Cinco
batalhões de blindados, com cerca de 69 tanques cada um, também
chegaram em agosto, e no fim do mês a ONU já tinha muito mais de
500 tanques no perímetro (...). Esse número dava à ONU uma
superioridade de quase 5:1 naquela área. Assim, com a
superioridade no ar já garantida, a ONU estava agora em boas
condições para manter suas linha e atacar quando chegasse a
hora.[35]
O
DESEMBARQUE DOS EUA EM INCHON E A RETIRADA NORTE-COREANA
Em 15 de setembro, enquanto a situação mantinha-se crítica em
Pusan, os Estados Unidos realizaram o desembarque de 83 mil
soldados estadunidenses, mais 57 mil sul-coreanos e britânicos,
em Inchon, na retaguarda das tropas norte-coreanas – utilizando
261 navios e o apoio de mais de mil aviões. Isto criou um perigo
mortal para as tropas norte-coreanas, que tiveram que levantar o
cerco a Pusan e realizar uma rápida retirada em direção às
regiões montanhosas do Norte, visando preservar as suas forças.
Sua retirada foi facilitada pela renhida batalha pela retomada
de Seul, que manteve ocupadas as tropas norte-americanas e
aliadas até o final de setembro, causando-lhes enormes baixas. À
medida que se retiravam as tropas norte-coreanas semeavam
inúmeros grupos guerrilheiros no caminho, que passaram a
fustigar as tropas estadunidenses e foram decisivos no
contra-ataque posterior.
Em Seul, a vingança dos novos senhores da capital foi terrível:
Idosos, gestantes
e crianças cavaram valas, para nelas serem amontoados uma hora
depois. (...) As mulheres correspondiam a um terço dos quatro
mil camaradas Centenas delas, comunistas e colaboracionistas
foram deixadas em bordéis, para serem violentadas por coreanos e
soldados da ONU. Os carrascos da polícia de Syngman Rhee (...)
se encarregaram da matança dos que pertenciam aos comitês
populares por estes criados, aí se incluindo os dirigentes e os
familiares dos dirigentes. Um levantamento oficial realizado na
Coréia do Norte apontou 29 mil vítimas da vingança sulista.”[36]
Nesse momento, colocou-se uma nova questão para os Estados
Unidos: o seu avanço devia deter-se no paralelo 38 ou devia
continuar em direção ao Norte? Apesar das advertências
transmitidas por Nehru, de que os chineses não tolerariam o
avanço das tropas norte-americanas além do paralelo 38, Truman –
incitado por MacArthur, que tudo fazia para transformar a Guerra
da Coréia em uma cruzada contra o comunismo mundial, ainda que à
custa de uma conflagração nuclear – decidiu fazê-lo. Isso apesar
do mandato da ONU não autorizá-lo a tanto. Ambos interpretaram a
retirada norte-coreana como a ruína total do exército
norte-coreano e avaliaram a ameaça chinesa como um blefe. Do
alto da sua prepotência, MacArthur afirmou que os comunistas
chineses “não dispõem de cobertura aérea; se tentarem a
travessia com tropas terrestres vai ser a maior das
carnificinas. Serão aniquilados.”[37]
Assim, os mesmos que “indignados” haviam acusado a Coréia do
Norte de ter cruzado o paralelo 38 – fazendo com que o Conselho
de Segurança da ONU a condenasse por isso – agora afirmavam que
o paralelo 38 era uma “mera linha imaginária” e que o objetivo
da ONU era a reunificação da Coréia sob o governo de Syngman
Rhee. “Em outras palavras, o paralelo que cortava em duas a
Coréia era um limite internacionalmente reconhecido se os
cruzassem os coreanos, mas não o era se o cruzassem os
estadunidenses.”[38]
Para a sua expedição ao Norte, MacArthur reuniu um corpo
expedicionário de mais de 300 mil norte-americanos armados até
os dentes, aos quais se somavam centenas de milhares de
sul-coreanos e soldados de outros 15 países aliados. Em 2 de
outubro, MacArthur apresentou um ultimato à Coréia do Norte: sua
única alternativa era a capitulação incondicional.
A
INVASÃO DA COREIA DO NORTE PELOS EUA
|
Desembarque das tropas dos EUA na praia em
Pusan. |
|
Em 9 de outubro, o 8º Exército dos Estados Unidos e seus aliados
cruzaram o paralelo 38, ingressando na Coréia do Norte. Ao
início, encontraram forte resistência. Logo, porém, a
resistência cessou, como que por milagre, e as tropas invasoras
penetraram profundamente no país, ocupando em 17 de outubro
Pyongyang, parcialmente abandonada. Já as tropas que haviam
desembarcado em Inchon contornaram a península, em seus mais de
200 barcos, e ocuparam Wonsan, a Leste, em 25 de outubro.
O
rastro de sangue e de destruição que foi sendo deixado pelas
tropas norte-americanas pode ser aquilatado pela ordem expedida
pelo General Walker, comandante do 8º Exército, ao iniciar o seu
avanço: “Os soldados das forças das Nações Unidas não deixem
tremer suas mãos ainda quando diante deles apareçam crianças e
velhos. Matem-os! Fazendo isso vocês estarão salvando-se de uma
catástrofe e cumprindo o seu dever como soldados das forças das
Nações Unidas.”
Em Pyongyang, as atrocidades contra civis, crianças, mulheres e
idosos ultrapassaram todos os limites, sendo que as autoridades
sul-coreanas informaram que já haviam detido 55.909 “malignos
colaboracionistas vermelhos e traidores”, logo assassinados.
Mas, as forças dos EUA e da ONU não eram alheias e essas
atrocidades. Tanto que o Guerrilla Operations Outline,
editado pela 8240ª Unidade Armada (United Nations Partisan
Force), em seu parágrafo 18, “Assassination”,
determinava:
Os principais
alvos de assassinato são líderes comunistas coreanos. Líderes
comunistas ou do Partido dos Trabalhadores norte-coreano que não
cooperam com as nossas forças armadas são mortos. A morte dos
líderes comunistas por ordem de importância reduz a ambição dos
subordinados. Têm prioridade as táticas terroristas que chamem
atenção para o alto índice de mortalidade das lideranças
inimigas.”[39]
MacArthur anunciou “triunfos espetaculares e prometeu aos
soldados que no Natal já estariam em casa. O Comando Supremo das
Potências Aliadas declarou que a guerra havia acabado. O New
York Times informou que o conflito estava chegando ao seu
final e todos falavam de uma “derrota acachapante da Coréia do
Norte”.
A
realidade, porém era outra. Conforme comentou um oficial do
Exército Popular da Coréia:
É possível pensar
que ter seguido todo o caminho até o perímetro de Pusan, para
logo retirar-se completamente até o Rio Yalu constitua uma
derrota total. Mas não é assim. Nós retrocedemos porque sabíamos
que as tropas da ONU nos seguiriam até bem ao Norte, estendendo
e enfraquecendo suas linhas por esta vasta região. Chegou,
então, o momento de que envolvamos essas tropas e as
aniquilemos.[40]
Como se viu posteriormente, as tropas da ONU passariam a ser
atacadas tanto pela frente, quanto pela retaguarda, onde haviam
sido deixadas tropas com o objetivo de envolvê-las.
Simultaneamente “voluntários” chineses começaram a ingressar na
Coréia, cruzando à noite o Rio Yalu e burlando a vigilância
norte-americana. Logo, essas forças se uniram nas montanhas às
tropas norte-coreanas reagrupadas, preparando o contra-ataque.
Embriagados pelo avanço fácil, os estadunidenses nada
perceberam:
Em 22 de outubro,
os assessores do GMAC informaram que no Norte só existiam focos
isolados de resistência; o EPC já não era capaz de “uma defesa
organizada”. Em um lapso de uns poucos dias, porém, “tropas
coreanas frescas e com equipamento novo” golpearam duramente as
linhas de frente da ONU, contando com tanques e apoio aéreo; as
unidades do ERdC recuaram, em total confusão. Em 26 de outubro,
unidades combinadas chino-coreanas baixaram com estrondo desde
as montanha de Unsan (...) golpeando seriamente as forças
estadunidenses; esse mesmo dia, os ataques do EPC destruíram o
2º Corpo de Exército da ERdC, debilitando assim o flanco direito
do 8º Corpo de Exército. (...) esses ataques geraram o “completo
colapso e a desintegração” do 2º Corpo.[41]
Mas, logo o inimigo sumiu e a calmaria voltou aos campos de
batalha.
No início de novembro, os EUA iniciaram o bombardeio das pontes
sobre o Rio Yalu, na fronteira com a China, na tentativa de
impedir a infiltração e tropas, armamentos e mantimentos para a
Coréia do Norte.
A
DEMOLIDORA CONTRAOFENSIVA CHINO-COREANA
|
Voluntários chineses após cruzarem o Rio
Yalu. |
|
Em 16 de novembro, o comandante das forças chinesas
“voluntárias”, Pen Te-huai, difundiu a notícia que suas forças,
atemorizadas, iriam retirar-se. Presunçoso, MacArthur lançou, em
25 de novembro, a ofensiva “Home by Christmas” (Em casa no
Natal!), por ele considerada o golpe de misericórdia contra os
norte-coreanos.
A
ofensiva de duas colunas – uma pelo Leste e outra pelo Oeste,
“para cercar e aniquilar o inimigo” – progrediu sem dificuldades
durante três dias, mas a partir do dia 27, as “tropas da ONU”
passaram a sofrer terríveis ataques que aniquilaram grandes
contingentes de tropas. As forças estadunidenses foram
perseguidas desde a represa de Changjin, o 2º Corpo do ERdaC
colapsou novamente e iniciou-se uma retirada geral à custa de
enormes perdas: “As duas alas dos exércitos das Nações Unidas
foram isoladas uma da outra (...) havia começado a autêntica
sangria e a destruição. As dizimadas forças das Nações Unidas
enquanto se deslocavam para o Sul (...) realizaram uma retirada
de ‘terra queimada’ deixando a milhões de coreanos sem lar e
famintos.”[42]
Enquanto isso, por todos os lados e pela retaguarda, fortes
forças guerrilheiras sangravam os exércitos aliados em retirada:
“em 6 de dezembro, as forças comunistas tomaram Pyongyang e
no dia seguinte a frente aliada estava em seu ponto mais
setentrional, a somente 32 quilômetros ao norte do paralelo. A
ofensiva combinada chino-coreana limpou a Coréia do Norte de
forças inimigas em pouco mais de duas semanas.”[43]
No dia 15 de dezembro, as “tropas da ONU” cruzaram de volta o
paralelo 38 e continuaram em desabalada carreira para o sul.
Em retaliação à derrota nos campos de batalha, a força aérea
estadunidense
bombardeou
Pyongyang, entre 14 e 15 de dezembro, com 700 bombas de 500
libras, caças Mustang arrojando napalm e 175 toneladas de bombas
de demolição de ação retardada, que caem dando um golpe seco e
logo explodem em momentos estranhos, quando as pessoas tentam
escapar da morte sob o fogo do napalm. Ridgway ordenou o
bombardeio de Pyongyang ‘com o objetivo de queimar a cidade até
os cimentos com bombas incendiárias’.[44]
A
cidade foi totalmente destruída.
Na noite do Ano Novo, as tropas chino-coreanas cruzaram o
Paralelo 38 e avançaram rapidamente 15 quilômetros, causando
pesadas perdas aos EUA e seus aliados:
O VIII Exército,
com seu equipamento pesado, viu-se praticamente barrado pelas
pontes de Pukhan. Para Washington, os cem mil norte-americanos
cercados – um terço das forças – possivelmente transformariam o
horror em um ato de desespero. (...) Às três horas, ordenou a
retirada total e a evacuação de Seul (...) Na tarde seguinte
[4 de
janeiro] duas divisões dos Voluntários do Povo e a 1ª Divisão
norte-coreana entraram na cidade.(...) Com isso se encerrava a
terceira fase da ofensiva, que forçara as tropas
norte-americanas da ONU a recuar 120 quilômetros na direção sul.[45]
Em janeiro, os
chineses, buscando de forma evidente limitar a sua ação,
permitiram que a ofensiva decrescesse.[46]
A
mesma tática de “terra queimada” foi aplicada contra todas as
cidades e centenas de aldeias. Em 18 de janeiro, ao voar sobre a
região de Tanyang, o General Barr constatou:
a fumaça das
aldeias e as choças em chamas enchem os vales (...) não se pode
entender porque as tropas dos EEUU queimam as moradias quando o
inimigo não está presente (...) os incêndios sistemáticos que se
aplicam aos pobres camponeses quando o inimigo não está ali, vão
contra o abastecimento em grãos para os próprios soldados
estadunidenses. Dadas as casas em chamas, estimamos uma cifra de
8.000 refugiados e esperamos mais. Os refugiados são em sua
maioria os velhos, os aleijados e as crianças.
E George Barret, do New York Times, ao visitar uma aldeia
atacada, relatou: “Os habitantes ao longo da aldeia e nos
campos circundantes foram atingidos e assassinados pelo napalm,
conservando as posturas exatas que tinham quando se produziu o
ataque incendiário – um homem a ponto de montar sua bicicleta,
50 meninos e meninas jogando em um orfanato, uma dona de casa
surpreendentemente sem ferimentos, tendo nas mãos uma página
enrugada de um catálogo da Sears-Roebuck.[47]
Apesar de seus métodos bárbaros, os norte-americanos sofreram
uma humilhante derrota:
VIII Exército
desfez-se ao longo do caminho. Até mesmo as unidades que não
sofriam ameaça abandonaram seus equipamentos e fugiram, tentando
evitar um cerco. (...) Desde a derrota da França, em maio de
1940, não se tinha conhecimento de tamanho fracasso. A incrível
visão de todo um exército norte-americano abandonando armas e
feridos no campo de batalha, para salvar a própria pele traduzia
o ardente desejo de deixar o país pela via mais rápida. (...) Em
dez dias o VIII Exército recuou 180 quilômetros. (...) No dia 15
de dezembro, atravessaram o paralelo 18 em direção ao sul. Em 7
de janeiro, (...) o cabo James Cardinal (...) escreveu a seus
pais, em Nova York (...): “Está parecendo o princípio do fim. Os
chineses meteram o pé no traseiro do exército dos EUA, e eu
penso que vamos cair fora. (...) pensem no fato de que todo
soldado aqui está sentindo o mesmo”.[48]
Ressaltando o papel – tantas vezes ignorado – dos norte-coreanos
nessa contra-ofensiva, Cumings comenta:
o efeito de shock
que causou a intervenção chinesa foi o elemento decisivo no
desmantelamento do contra-ataque estadunidense na Coréia do
Norte. Mas a contribuição coreana a esse resultado também foi
importante, tanto na estratégia como no poder militar e é
usualmente subestimada na literatura sobre o tema. (...)
MacArthur (...) não só ignorou a palpável ameaça chinesa; foi,
ainda, amplamente superado como estrategista pelos generais do
EPC.[49]
DERROTADOS, OS EUA AMEAÇAM COM A GUERRA NUCLEAR
|
Vista geral da cidade queimada de Taejon em
30 de setembro de 1950, vítima da tática de
"terra queimada" aplicada pelas tropas dos
EUA. |
|
Em fins de 1950, o pânico tomou conta das altas esferas do
governo norte-americano, que passou a trabalhar com a hipótese
de utilizar o seu arsenal nuclear, mesmo que ao custo da eclosão
de uma terceira guerra mundial. Em 30 de novembro, em coletiva
de imprensa amplamente divulgada, o Presidente Truman,
traumatizado pelas perdas diárias de suas tropas – 11 mil homens
naquele dia e no dia seguinte –, afirmou que os EUA estavam
dispostos a utilizar qualquer arma do seu arsenal, em uma alusão
explícita ao seu arsenal nuclear. Em dezembro as perdas
norte-americanas se mantiveram e no dia 3 o General Bradley
cogitou da evacuação de suas tropas da Coréia.
No dia 9 de dezembro, MacArthur solicitou 26 bombas atômicas
para serem usadas na Coréia. Na noite de Natal, Mac Arthur
enviou a Washington uma lista contendo 24 alvos nucleares, entre
os quais Xangai, então com três milhões de habitantes. Em
entrevista publicada posteriormente, MacArthur afirmou que tinha
um plano para ganhar a guerra em dez dias: “teria lançado entre
30 e 50 bombas atômicas (...) ao redor do pescoço da Manchúria”
e “espalharia detrás de nós – desde o Mar do Japão até o Mar
Amarelo – um cinturão de cobalto radioativo, com uma vida ativa
entre 60 e 120 anos.” Diga-se, de passagem, que o cobalto 60 tem
uma radioatividade 320 vezes maior que o rádio.
Segundo Bruce Cumings, “a crise de dezembro levou também à
utilização, ou à ameaça de utilização, do que Washington
denominava como ‘armas de destruição massiva’: atômicas,
químicas e biológicas.”[50]
Em abril de 1951, Leavenworth escreveu na Revista Militar,
órgão do Comando do Exército Norte-americano que “os
micróbios devem ser cultivados e é necessário possuir grandes
quantidades dos mesmos, prontas a serem utilizadas (...) a
enfermidade produzida deve ser a mais difícil possível de
diagnosticar, deve ser difícil de determinar-se a origem (...) e
o gérmen não deve ser suscetível de nenhuma terapêutica química
especial”.
Em setembro do mesmo ano, o U.S. News and World Report
informou que “novas armas serão utilizadas. (...) fala-se no
Congresso de que novas armas não atômicas, de forma ‘fantástica’
estariam disponíveis para serem utilizadas na Coréia.” Em
seguida surgiram as denúncias do uso de armas químicas e
bacteriológicas pelos norte-americanos contra a
população-coreana:
foram coletadas
centenas de provas do emprego de armas microbianas pelos
americanos na Coréia, e muitas delas pela Comissão Internacional
de Juristas Democratas (...) desde o paralelo 38 até quase o Rio
Yalu, os americanos lançaram micróbios de terríveis moléstias
como a peste, o cólera, o tifo, a encefalite, etc. (...) A
guerra química também foi utilizada pelos agressores ianques.
(...) A Comissão de Juristas examinou os resultados da autópsia
das vítimas.”[51]
Em 11 de abril, MacArthur foi demitido por divergências com
Truman, sendo substituído pelo General Ridgway. Os primeiros
dias de abril de 1951 foram os dias em que os Estados Unidos
estiveram mais perto de utilizar armas atômicas; foram
paradoxalmente, os dias em que Truman destituiu MacArthur.
Ridgway solicitou, em maio de 1951, 38 bombas atômicas, mas o
seu pedido não foi acatado pelo Alto Comando, em parte por
pressão dos aliados europeus, que temiam uma retaliação nuclear
soviética na Europa.
Truman chegou a autorizar um ataque atômico, em determinadas
circunstâncias:
em fins de maio
já estavam operativas as plataformas de lançamento da bomba
atômica dispostas na base aérea de Cadena, em Okinawa; as bombas
foram levadas para lá desmontadas, sendo armadas na base –
faltando-lhes somente o núcleo atômico vital. Em 5 de abril, o
EMC
[Estado Maior Conjunto] ordenou uma represália nuclear
imediata contra as bases manchurianas se grande número de tropas
novas ingressassem no conflito ou, aparentemente, se fossem
lançados desde aí bombardeiros contra as possessões
estadunidenses. (...) O Presidente firmou ainda uma ordem que
autorizava o uso das ogivas contra objetivos chineses e
norte-coreanos.[52]
AS NEGOCIAÇÕES PARA POR FIM À GUERRA E NOVAS AMEAÇAS NUCLEARES
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Bomba de napalm sobre Hanchon. |
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A
partir de fins de maio de 1951, porém, a frente estabilizou-se
em torno do paralelo 38, com ofensivas alternadas de ambos os
lados, sempre com pesadas perdas. Por um lado, os chineses e
norte-coreanos – cientes dos riscos de uma escalada nuclear
norte-americana – julgavam ter atingido seu principal objetivo:
infligir uma humilhante derrota aos norte-americanos, acabando
com sua áurea de invencibilidade, e forçá-los a retornar ao sul
do paralelo 38. Objetivos maiores exigiriam forças superiores às
que dispunham.
Já os norte-americanos – ressabiados do enfrentamento com as
tropas chinesas e norte-coreanas – se deram conta que só
atacando frontalmente a China e a Rússia – o que levaria à
terceira guerra mundial – poderiam vencer a guerra na Coréia.
Cresceram, então, interna e externamente, as pressões pelo
encerramento da guerra. Em 30 de junho de 1951, o General
Matthew Ridgway – “Comandante Geral das tropas da ONU” – propôs
a abertura de negociações para estabelecer um armistício. Após
718 reuniões e quase dois anos de tratativas, finalmente as
negociações chegaram a um entendimento, levando ao armistício.
Diante das resistências de Syngman Rhee em aceitar o armistício,
“Washington ofereceu-lhe uma ajuda no valor de 200 milhões de
dólares e o equipamento de 20 divisões, além de apoio militar na
eventualidade de um ‘caso claro de agressão’. E também o retorno
aos velhos tempos. Rhee disse que não assinaria o armistício,
mas o respeitaria.”[53]
Antes, porém, o impasse nas negociações colocou de novo o mundo
à beira de uma guerra atômica. Em outubro de 1952, Mark Clark,
sucessor de MacArthur e de Ridgway solicitou a Washington “que
sejam feitos planos para o uso de armas atômicas” Em 2 de
fevereiro de 1953, Eisenhower, em seu discurso sobre a situação
nacional, “mencionou a possibilidade de empregar armas
nucleares contra a China” Em 25 de maio de 1953, os EUA
exigiram que a China concordasse com o armistício,
caso contrário os
B-29 de Le May plantariam o cogumelo atômico em Xangai, Nanquim,
Beijing e Shenyang. (...) Na primavera de 1953, (...) uma nova
carga de ogivas atômicas foi levada em um navio para Okinawa;
desta feita, segundo os fidedignos depoimentos de Eisenhower e
Dulles, não como um blefe. (...) Em manifestações públicas e
conversas privadas, ele e Dulles haviam dito que encaravam as
bombas atômicas como “uma parte normal do arsenal de guerra”
(...) Seu governo, disse o presidente, considerava “essas armas
convencionais”. (...) “De uma maneira ou outra, o tabu que cerca
o uso de armas atômicas teria que ser destruído.”[54]
Prevendo o eventual fracasso das negociações de armistício,
Eisenhower e o alto comando norte-americano aprovaram a
National Security Council Action Nº 794, que determinava,
nesse caso, o “uso extensivo, estratégico e tático de bombas
atômicas contra a Manchúria e toda a China. (...) O alvo do
ataque era a China e o objetivo a ser atacado era a totalidade
da sua população urbana, a razão de ser de uma arma nuclear.”[55]
Esses quase dois anos de intermináveis tratativas – durante as
quais os Estados Unidos tentaram reverter sua derrota na Coréia
através de inúmeras ofensivas fracassadas – foram responsáveis
por 45% das perdas norte-americanas. Nesse período, os EUA
adotaram uma estratégia de terra arrasada e de destruição da
Coréia, “batizando a sua nova política coreana com o nome de
‘Operação Assassino’, carnificina sem fim e sem objetivos que,
como escreveu Pearl Buck, ‘nos fez perder o que sempre
deveríamos ter conservado: o afeto dos asiáticos’.”[56]
Ao contrário disso, os comandantes estadunidense jactavam-se de
que nem em cem anos o povo coreano levantaria de novo a cabeça:
Os combates
aéreos (...) mataram a milhões de pessoas antes que a guerra
concluísse (...) destruindo desde o ar “toda fábrica, cidade ou
aldeia” ao longo de milhares de quilômetros quadrados de
território norte-coreano. (...) Para 1952, quase todo o centro e
norte da Coréia haviam sido arrasados. O que restava de
população tinha que viver em covas (...) como ato final de sua
bárbara guerra aérea, bombardearam grandes represas que
irrigavam água para 75% da produção de alimentos do Norte. (...)
A força aérea estava orgulhosa da destruição que havia gerado:
“a corrente resultante inundou 43 km de vale curso abaixo e o
caudal de águas inundadas varreu
[rotas de
abastecimento, etc.] (...) O cidadão ocidental
dificilmente consegue conceber a incrível importância que a
perda [do arroz] tem para a fome e a morte lenta dos
asiáticos.” (...) Quando a guerra finalmente concluiu, em 27 de
julho de 1953, o Norte havia sido devastado por três anos de
bombardeios que dificilmente deixaram um edifício moderno em pé.
Ambas as Coréias haviam presenciado um virtual holocausto que
arrasou seu país.[57]
O
Chefe do Estado Maior da Aeronáutica dos EUA, Curtis LeMay
gabava-se: “Incendiamos cada cidade da Coréia do Norte, de
qualquer modo, e algumas da Coréia do Sul também. (...) Durante
um período de mais ou menos três anos, matamos 20% da população
da Coréia como baixa direta da guerra ou de fome e exposição às
intempéries.” No seu desvario genocida, LeMay escreveu em 3
de agosto de 1952 a Vandenberg, “dizendo que, em abril, sua
capacidade para bombardear a Rússia em seis dias havia aumentado
de 140 para 146 bombas atômicas. (...) ‘isso vai virar uma
guerra total. Isso significa que Moscou, São Petersburgo,
Mukden, Vladivostok, Beijing, Xangai, Port Arthur, Darien,
Odessa, Stalingrado (...) serão eliminadas’.”
[58]
Impotentes para derrotar a pequenina Coréia, os EUA vingavam-se
transformando a guerra em um genocídio contra o povo coreano e
preparando um ataque atômico não provocado à China e à URSS, o
que daria início à III Guerra Mundial e ao holocausto nuclear. E
ainda há gente que acredita que é a Coréia do Norte – e não os
EUA – quem ameaça a humanidade com a deflagração de uma
hecatombe nuclear.
A
ASSINATURA DO ARMISTÍCIO DE PANMUNJON
|
O general do Exército dos EUA Mark W. Clark
assina o acordo Armistício da Guerra da
Coreia em 27 de julho de 1953. |
|
Apesar dos delírios dos militaristas estadunidenses, finalmente
chegou-se a um acordo para a pacificação da península coreana
Envergonhados por sua incapacidade em vencer a República Popular
Democrática da Coréia, os norte-americanos queriam que a
assinatura do armistício – marcada para 27 de julho de 1953, na
localidade de Panmunjon, na Coréia do Norte – ocorresse da forma
mais discreta possível. Mas os norte-coreanos não aceitaram isso
e construíram, em tempo recorde, um amplo pavilhão especialmente
para a cerimônia de assinatura do armistício. Um comando armado
dos Estados Unidos ainda tentou derrubar esse pavilhão na
madrugada que antecedeu a assinatura do acordo, mas foi impedido
pelos soldados norte-coreanos.
O
general norte-americano Mark Clark, que assinou o armistício,
diria amargurado: “Eu ganhei a nada invejável distinção de
ser o primeiro Comandante do Exército dos Estados Unidos a
assinar um acordo de armistício sem vitória”.
O
armistício assinado estabeleceu uma linha demarcatória de em
torno de 250 quilômetros de extensão – que atravessa o país de
leste a oeste, seguindo um trajeto próximo ao paralelo 38 –, em
torno da qual se estende uma área desmilitarizada, de 2 km de
cada lado, na qual é proibida a existência de armas automáticas
ou de alto poder de fogo.
As perdas dos Estados Unidos e de seus aliados, nos três anos de
guerra, foram de 1.567.128 soldados mortos, feridos ou
capturados (dos quais 405.498 norte-americanos); 12.224 aviões
derrubados ou capturados; 564 navios de guerra afundados ou
capturados (inclusive o cruzador pesado Baltimore); 3.255
tanques e veículos blindados destruídos ou capturados; 13.350
carros, 7.695 armamentos de diferentes tipos e 925.152 pequenas
armas destruídas ou capturadas.
Referindo-se a isso, o General Omar Bradley, Chefe do Estado
Maior do Exército dos Estados Unidos, desabafou: “Falando
francamente, a Guerra da Coréia foi uma grande catástrofe
militar, foi uma guerra errada, realizada no local errado, no
momento errado e contra o inimigo errado.”
A
ÁRDUA RECONSTRUÇÃO DA RPDC SOB A PERMANENTE AMEAÇA DOS EUA
Após três anos de guerra – durante os quais os EUA submeteram a
RPDC a um bombardeio genocida por ar, terra e mar – o país havia
sido completamente destruído e precisava recomeçar a partir do
zero. A evacuação do Sul pelas tropas norte-americanas, a não
introdução de novas armas e a reunificação pacífica da Coréia
por meio de eleições gerais – previstas no armistício – jamais
aconteceram, mas as Nações Unidas não tomaram qualquer medida
para exigir que os EUA cumprissem com o acordado.
O
armistício mostrou não significar qualquer garantia sólida de
paz e de não agressão atômica contra a RPDC por parte dos EUA: “Depois
que finalizou a Guerra da Coréia, os Estados Unidos introduziram
armas nucleares na Coréia do Sul, apesar do acordo de armistício
proibir a introdução de armamento novo enquanto ao seu tipo.
(...) Syngman Rhee (...) com freqüência ameaçava reabrir a
guerra.”[59]
Em agosto de 1957, Eisenhower aprovou a NSC 5702/2, autorizando
o estacionamento de armas nucleares no país e permitindo:
apoio
estadunidense a uma iniciativa unilateral da RdC, em resposta a
uma rebelião de massas ao estilo húngaro na Coréia do Norte.
(...) Rhee não diminuiu a sua defesa do uso de bombas de
hidrogênio quando fizesse falta; sobressaltou inclusive seus
partidários republicanos quando defendeu o seu uso em um
discurso dirigido ao Congresso, em 1954. (...) Em janeiro de
1958, os Estados Unidos colocaram canhões nucleares de 280 mm e
mísseis nucleares tipo ‘Honest John’ na Coréia do Sul e um ano
mais tarde a força aérea ‘estacionou permanentemente um
esquadrão de mísseis cruzeiro tipo Matador na Coréia’. Com um
alcance de 1.100 quilômetros, os Matador foram dirigidos à China
e à URSS, assim como também à Coréia do Norte.[60]
É
nesse quadro de grave ameaça externa que a RPDC teve que trilhar
o árduo caminho da sua reconstrução. Isso a obrigou a despender
importantes recursos – de que tanto necessitava para sua
reconstrução pacífica – em ações de defesa. Na 6ª Sessão
plenária do Comitê Central do Partido do Trabalho da Coréia,
realizada em 5 de agosto de 1953, logo após a assinatura do
armistício, o Presidente Kim Il Sung afirmou: “Na construção
econômica do pós-guerra devemos seguir a orientação de assegurar
preferentemente o restabelecimento e o desenvolvimento da
indústria pesada e, ao mesmo tempo, desenvolver a indústria leve
e a agricultura.”[61]
No decorrer do Plano Trienal (1954-1956), consagrado
essencialmente à retomada da economia, a produção de meios de
produção aumentou a uma média anual de 59% e a de bens de
consumo a uma média anual de 28%, ultrapassando em 1,7 vezes e
2,1 vezes, respectivamente, o nível de produção de 1949, ano que
antecedeu a guerra.
Já o 1º Plano Qüinqüenal (1957-1961) – cumprido em apenas quatro
anos –, teve por objetivo lançar as bases do socialismo. O nível
de destruição na agricultura, na indústria, no comércio e no
artesanato havia sido tal que as diferenças de classes e de
posses haviam sido praticamente eliminadas e estavam a exigir
esforços conjuntos para garantir a sobrevivência de todos. Isso
favoreceu uma rápida socialização dos meios de produção – tanto
no campo como na cidade –, o que foi realizado de maneira
voluntária, sem o uso da coerção, através do exemplo e da
comprovação das vantagens do trabalho coletivo sobre o
individual.
A
RECONSTRUÇÃO NA AGRICULTURA
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Fazenda cooperativa Migok, em Sariwon. |
|
A
socialização da agricultura começou por uma fase experimental,
quando foram criadas algumas cooperativas por circunscrição,
englobando camponeses pobres e membros do Partido. Muito
rapidamente, apesar da ausência de maquinário agrícola, a
exploração cooperativa – que se beneficiava do auxílio do Estado
– mostrou a sua superioridade sobre a pequena propriedade
parcelar: “A nossa experiência mostrou que a cooperativização
agrícola é perfeitamente possível, mesmo nas condições em que
não existem praticamente máquinas agrícolas modernas (...) a
exploração cooperativa assim organizada é, apesar disso,
decisivamente superior à economia individual”.[62]
A
partir daí ela generalizou-se, atingindo 80,9% em 1956, 95,6% em
1957 e 100% em 1958. Aos “grandes proprietários” (que na Coréia
não eram tão grandes) foi permitido se manterem trabalhando a
terra, em províncias adjacentes, onde lhes foi concedida a mesma
quantidade de terra que aos demais agricultores.
As cooperativas criadas foram inicialmente de três tipos,
respeitando as particularidades locais e o nível de consciência
dos camponeses: 1) As cooperativas elementares eram formadas por
uma equipe de cooperação de trabalho, onde os camponeses
cultivavam em comum suas terras individuais, com seus próprios
meios de trabalho e a retribuição era segundo a terra, os meios
de produção e o trabalho fornecidos; 2) Nas cooperativas
semi-socialistas, as terras eram postas em comum e exploradas
coletivamente, com retribuição segundo o trabalho realizado e a
quantidade de terra aportada por cada um; 3) Nas cooperativas
plenamente socialistas, as terras e os principais meios de
produção eram tidos em comum e a retribuição de cada um era
proporcional ao trabalho realizado. Rapidamente o conjunto das
cooperativas evolui para o terceiro tipo. Cada família camponesa
teve direito a conservar uma pequena parcela para uso
individual, com alguns porcos, aves e pequenos animais. O
produto excedente dessas parcelas individuais podia ser
livremente vendido no mercado.
Em 1958, uma vez concluída essa primeira etapa, foi realizado um
reagrupamento das cooperativas por circunscrição administrativa,
cada uma passando a ter uma média de 275 agregados (3.843
cooperativas com 1.055.000 camponeses, em 1958). Em 1960, as
cooperativas exploravam 84% das superfícies cultivadas, contra
16% das 1.609 granjas estatais, das quais 39 eram geridas
centralmente e 130 eram geridas por comitês populares regionais.
Com esse reagrupamento, a área média de terras cultivadas por
cada cooperativa passou de 130 para 500 hectares: “O
reagrupamento das cooperativas permitiu utilizar racionalmente
os meios de produção, desenvolver a revolução técnica, melhorar
a utilização da mão-de-obra e diversificar a economia
cooperativa. Além disso, uniu estreitamente as unidades de
produção com a administração e submeteu a um controle único a
produção, o comércio e o crédito”.[63]
Tendo em conta que dos 12,8 milhões de hectares do Norte da
Coréia, somente 2 milhões eram de terras aráveis, foi feito um
enorme esforço para ampliar as superfícies cultivadas, seja pelo
ordenamento das planícies e montanhas (através de plataformas
nas encostas íngremes), seja pela recuperação das terras salinas
no litoral, o que exigiu um grande investimento em trabalho. Ao
mesmo tempo, nos setores montanhosos foram incrementadas as
culturas arbustivas – especialmente frutíferas – e o
reflorestamento.
A
partir de 1958, os principais esforços para ampliar a produção
se voltaram para a implementação da revolução técnica:
Sem transformar a
atrasada técnica da agricultura é impossível mostrar no plano
geral a superioridade da exploração cooperativa e desenvolver
mais as forças produtivas da agricultura. À medida que se
concluía a cooperativização da agricultura, o nosso Partido
preparou-se imediatamente, sem perda de um instante, para a
modernização técnica da economia rural.[64]
O
primeiro elemento dessa revolução técnica foi a expansão da
irrigação. Para isso, o sistema de canais foi renovado e
ampliado, de forma que o conjunto dos arrozais e boa parte das
áreas dedicadas a outras culturas – como o milho e a
horticultura – passaram a contar com a irrigação mecânica: “Em
1967, contavam-se 39.726 km de canais de irrigação. Os trabalhos
realizados substituíram os antigos sistemas de irrigação locais
por vastos sistemas regionais. (...) A superfície de arrozais
irrigados passou de 387.900 djeungbos [cada djeungbo
equivale a aproximadamente 1 Hectare], em 1946, para 509.698,
em 1960, e para 700.000, em 1970.”[65]
A
eletrificação foi o segundo aspecto dessa revolução
técnica, sendo que em 1967 já havia alcançado a 98,2% das
circunscrições administrativas e a 86,1% das famílias
camponeses. A título de comparação, lembremos que só muito
recentemente – com o Programa “Luz para Todos” de Lula– a
energia elétrica chegou para a maioria dos trabalhadores rurais
brasileiros.
O
terceiro aspecto da revolução técnica foi a mecanização
da agricultura. Em um primeiro momento – tendo em vista que o
parque fabril encontrava-se destruído – a ênfase foi para o
aperfeiçoamento do material de arar manual e de tração animal.
Será somente a partir de 1960, com a recuperação industrial, que
a mecanização da agricultura passou a jogar papel. Assim, o
número de tratores passou de 372, em 1953, para 6.313 em 1960,
ultrapassando os 20 mil em 1970, fazendo com que a totalidade
dos arrozais de planície passasse a ser trabalhada com tratores
e que a totalidade da debulha fosse mecanizada.
Por fim, a quimização – isto é, o uso generalizado de
adubos químicos, herbicidas e inseticidas – foi o quarto
elemento da revolução técnica na agricultura. O uso médio de
adubos químicos por hectare saltou de 13 quilos, em 1949,
para160 quilos em 1960 e 510 quilos em 1970, eliminando na quase
totalidade o uso de excrementos animais com adubo.
Em 1960, os cereais ocupavam 82,4% das áreas semeadas (sendo
18,1% arroz e 28,3% milho); os legumes e as forragens 13,4%; e
as plantas industriais 4,2%. Pode-se considerar que em meados da
década de 1970 a revolução técnica da agricultura havia sido
concluída no seu essencial e o país podia considerar cobertas as
suas necessidades básicas de alimentação, com destaque para o
arroz, o milho, a batata, leguminosas e hortigranjeiros. O
desenvolvimento forrageiro e, em conseqüência, da pecuária ainda
sofriam importantes atrasos.
O
imposto em espécie, que em 1945 havia sido de 25%, caiu em 1959
para 8,4%, sendo totalmente suprimido em 1966. Houve uma
melhoria considerável do nível de vida dos camponeses e o Estado
assumiu a responsabilidade da reconstrução das habitações
rurais, de qualidade equivalente às moradias urbanas.
A
RECONSTRUÇÃO DA INDÚSTRIA
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Fábrica de Fertilizantes de Hamhung.
A produção atual é de 500.000 toneladas e
nela trabalham cerca de 7.000 pessoas. |
|
O
Plano Trienal (1954-1956) e o Plano Qüinqüenal (1957-1961)
puseram ênfase na reconstrução e desenvolvimento da indústria
pesada (energia elétrica, siderurgia, indústria mecânica,
produtos químicos, etc.), colocando a produção de bens de
consumo em segundo plano. Nessa empreitada, a RPDC contou com o
apoio da URSS e da China, ainda que nem de longe próxima do que
o Sul recebeu dos Estados Unidos e do Japão. Isso fez com que a
indústria da RPDC crescesse a uma taxa média anual de 41,7%
durante o Plano Trienal e de 36,6% durante o 1º Plano
Quinquenal.
Em junho de 1958, cada circunscrição foi orientada a construir
uma indústria de pequeno ou de médio porte, com os seus próprios
recursos. Até o final de 1958, foram construídas mais de 1.000
empresas locais, mobilizando recursos e mão-de-obra ociosos, as
quais já eram responsáveis, em 1960, pela metade da produção de
bens de consumo do país. Em 1964 elas já eram mais de 2.000.
Dessa forma, o Estado pode concentrar 82,6% dos seus
investimentos na indústria pesada, contra 17,4% na indústria
leve; apesar disso, a fabricação de bens de produção cresceu 3,6
vezes e a de bens de consumo cresceu 3,3 vezes. Além disso, as
indústrias locais contribuíram muito para o desenvolvimento
regional, aproximaram a agricultura da indústria e diminuíram
progressivamente as disparidades entre a cidade e o campo.
Ao mesmo tempo em que incentivava a emulação socialista – do que
o movimento Chollima foi um claro exemplo – o Partido do
Trabalho da Coréia nunca caiu na tentação “igualitarista” e
sempre defendeu a retribuição de acordo com o trabalho aportado
por cada um:
O impulso
político e moral do trabalho sob o socialismo deve estar ligado
ao estímulo material. A distribuição segundo a qualidade e a
quantidade do trabalho é uma lei objetiva da sociedade
socialista e é um potente meio contra aqueles que querem comer
sem trabalhar, a expensas dos outros, e para estimular
materialmente o ardor dos trabalhadores na produção.[66]
No período do 1º Plano Quinquenal, o desequilíbrio entre a
indústria extrativa e a indústria de transformação foi superado,
paralelamente à grande expansão da produção de máquinas e
equipamentos: “a participação das construções mecânicas no
valor global da produção industrial passou de 17,3% em 1956 para
21,3% em 1960 e a taxa de auto-suficiência nacional para os
equipamentos mecânicos, de 46,5% a 90,6%, no mesmo período.”[67]
Foram desenvolvidos novos ramos industriais e os que já existiam
foram qualificados. A indústria metalúrgica foi diversificada e
reequilibrada, reduzindo o excesso de fundição em relação à
produção de aço; esta passou de 30%, antes da Libertação, para
70%, em 1960. A indústria química, restrita aos adubos,
expandiu-se para a produção de matérias plásticas e produtos
sintéticos. A indústria de bens de consumo ampliou enormemente a
sua gama de produtos.
Em 1960, a produção industrial alcançou um volume 7,6 vezes
maior que 1944. Em 1964, as indústrias mecânicas já eram
responsáveis por 26% do total da produção industrial e a Coréia
já supria quase 95% de suas necessidades em máquinas e
equipamentos.
O
DIVERSOS PLANOS SETENAIS E SEXENAIS
|
Complexo siderúrugico de Chollima. |
|
O
1º Plano Setenal (1961-1967) projetou uma taxa anual de
crescimento de 18%, mas o agravamento das tensões com os EUA e a
suspensão da ajuda da URSS – devido ao apoio coreano à China, na
disputa Sino-Soviética – fizeram com que o Plano fosse
prorrogado por três anos, devido à necessidade da destinação de
maiores recursos para a defesa nacional. Por essas razões, o
crescimento da produção industrial limitou-se a 12,8% ao ano,
entre 1961 e 1970, o que ainda é uma taxa extremamente elevada.
Segundo Cumings, “nas duas décadas posteriores à Guerra da
Coréia o crescimento do Norte deixou muito para traz o Sul,
colocando medo no coração dos funcionários estadunidenses, os
quais se perguntavam se Seul decolaria em algum momento.”[68]
Apesar de todos esses percalços, entre 1956 e 1970 o valor da
produção industrial aumentou 11,6 vezes – sendo 13,3 vezes para
os meios de produção e 9,3 vezes para os bens de consumo – e o
peso da indústria no total da produção saltou para 75%, tornando
a Coréia um país predominantemente industrial. Na geração de
energia ocorreram importantes mudanças, aumentando a
participação das centrais térmicas – alimentadas a carvão – em
relação à geração hidroelétrica. Assim, a produção global de
energia aumentou 70%, enquanto a geração térmica cresceu 11
vezes.
Diante da carência de coque metalúrgico na Coréia, foram
desenvolvidos diferentes processos técnicos para produzir o aço
sem o uso do coque (aço elétrico, ferro granulado, etc.). A
indústria siderúrgica diversificou-se, elevando o percentual de
aços especiais e produtos semi-acabados (laminados, tubos de
aço, etc.). O país passou a ser grande produtor e exportador de
tungstênio, molibdênio, cromo e níquel, entre outros, e
desenvolveu a produção de metais não ferrosos como o cobre,
chumbo, zinco e alumínio.
A
indústria mecânica deu um enorme salto, passando a produzir
navios, tratores, caminhões e outros veículos, locomotivas
elétricas e a diesel, vagões, turbinas, transformadores,
equipamentos elétricos e de transmissão, máquinas têxteis,
prensas, máquinas para mineração, motores diesel, além de bens
de consumo duráveis: “o maior êxito registrado no
estabelecimento da indústria pesada foi a criação da nossa
própria indústria das construções mecânicas, que constitui o
fundamento do desenvolvimento da economia nacional e do
progresso técnico.”[69]
A
indústria química também teve uma grande expansão. Além de uma
refinaria, ampliou a produção de adubos nitrogenados,
super-fosfatos, uréia, amoníaco, plásticos, álcool, metanol,
ácido clorídrico, carbureto de cálcio, etc. Destaca-se, ainda, a
produção de borracha – tanto natural quanto sintética – e de
pneus A indústria da construção passou a contar com diversas
fábricas de cimento, vidro, madeira e pré-moldados para a
produção moradias.
A
indústria leve tem o seu ponto alto na indústria têxtil,
incluindo a fiação, tecelagem, impressão e confecção. Ela
trabalha o algodão, a lã, a seda e as fibras sintéticas, onde se
destacam o Vinalon – criado com tecnologia puramente
coreana, a partir de antracita e cal – e os têxteis celulósicos.
Na indústria alimentar tem importância a indústria da pesca e
das conservas a ela associadas.
Na área dos transportes, o esforço principal do Plano Setenal
foi no sentido da eletrificação do sistema ferroviário (de 12%
em 1960 para 55% em 1970) e a expansão da rede rodoviária a
todas as aldeias do país.
O
1º Plano Sexenal, iniciado em 1971, colocou a necessidade de
fazer a produção ingressar em uma nova etapa:
As três tarefas
principais apontadas à revolução técnica pelo Plano Sexenal
(...) são reveladoras da preocupação pelo homem que está no
centro da política do Partido do Trabalho da Coréia e do
governo: eliminar os trabalhos penosos, reduzir a diferença
entre o trabalho na agricultura e na indústria, libertar as
mulheres dos trabalhos domésticos.[70]
O
esforço para a eliminação dos trabalhos pesados ou nocivos à
saúde levou a mais ampla mecanização e automatização da
indústria e dos transportes, exigindo o rápido desenvolvimento
da indústria eletrônica. Na agricultura, significou a ampliação
da irrigação, o amplo uso de adubos químicos, a seleção de
variedades cultiváveis, a eletrificação e a generalização da
mecanização. Fruto disso, a produção de cereais alcançou 7
milhões de toneladas em 1974, 8 milhões em 1976, 9 milhões em
1979 e 10 milhões em 1984. A libertação das mulheres das tarefas
doméstica ensejou o desenvolvimento da indústria de preparação
prévia dos alimentos e a
produção massiva de eletrodomésticos (refrigeradores, máquinas
de lavar, marmitas elétricas, etc.).
Visando a atualização e a modernização tecnológica, a RPDC
adquiriu durante o Plano Sexenal plantas industriais completas
no campo socialista, no Japão e no Ocidente. Comparando o
desenvolvimento do Norte e do Sul nesse período, o historiador
norte-americano Bruce Cumings afirma em 2004:
estudo da CIA,
publicado em 1978, situa a renda per capita da RPDC no mesmo
nível da RdC para 1976 e outro estudo estimou que as taxas de
crescimento per capita do Sul e do Norte foram iguais até 1986.
(...) A produção total de eletricidade, carvão, fertilizante,
máquinas ferramenta e aço na Coréia do Norte era comparável ou
maior aos totais da Coréia do Sul no início dos anos 80,
devendo-se ter em conta que a população da RdC era o dobro da
RPDC. (...) um crítico do rendimento econômico norte-coreano
avaliou o seu crescimento industrial anual, entre 1978-1984, em
12,2%. (...) o nível de vida das massas na Coréia do Sul, ainda
que ligeiramente melhores, não sobressaem sobre os níveis médios
dos coreanos
[do Norte]. (...)
Engenheiros agrônomos da ONU constataram que o Norte utilizava
sementes milagrosas de arroz em 1980 e que havia substituído o
adubo humano (ainda amplamente utilizado no Sul a essa época)
por fertilizantes químicos. (...) A moral da população é
claramente melhor que na ex União Soviética e tanto as fábricas
como as cidades dão uma imagem de eficiência e trabalho duro.
(...) Nos anos 90, o consumo per capita de energia se estimava
quase tão alto como no Sul, ainda que os consumidores da RdC
utilizam muito mais energia que os do Norte, onde se aplica
fundamentalmente à indústria.[71]
Fruto dessas medidas,
a produção
industrial cresceu a uma média anual de 15,9%, de 1970 a 1979.
No mesmo período, o valor global da produção industrial aumentou
3,8 vezes: 3,9 vezes pela produção de bens de produção, 3,7
vezes pela dos bens de consumo. (...) A produção industrial
continuou a desenvolver-se rapidamente durante a execução do
segundo Plano Setenal. (...) O valor global da produção
industrial cresceu 2,2 vezes entre 1978 e 1984 – 2,2 vezes no
que se refere aos meios de produção e 2,1 vezes em relação aos
bens de consumo. Seu ritmo de crescimento anual foi de 12,2%.
(..) Em 1984, relativamente a 1977, a produção de eletricidade
aumentou 78%, o carvão 50%, o aço 85%, as máquinas-ferramenta
67%, os tratores 50%, os veículos automotores 20%, os adubos
químicos 56%, o cimento 78%, os tecidos 45% e os equipamentos
para a pesca 120%. (...) Durante esse período, foram construídas
e colocadas em funcionamento 17.785 fabricas e oficinas
modernas. (...) A produção de máquinas se multiplicou por 2,3.
Assinale-se em particular a ampliação dos centros de produção de
máquinas pesadas, de equipamentos sob encomenda, de equipamentos
de extração, de meios de transporte, de aparelhos eletrônicos e
de elementos de automatização. Em 1984 a renda nacional havia
crescido 80% em relação a 1977
[72]
Após o 2º Plano Setenal, concluído em 1984, houve um período de
reajustamento, entre 1985 e 1986, com o objetivo de reequilibrar
o desenvolvimento econômico do país e prepará-lo para maiores
avanços. Durante esse período as prioridades foram a produção
energética, os transportes ferroviários e a indústria
siderúrgica.
Em 1987, teve início o 3º Plano Setenal (1987-1993), tendo como
principais objetivos ampliar em 90% a produção industrial (a uma
média de 10% ao ano), em 40% a produção agrícola (alcançando 15
milhões de toneladas de cereais) e em 80% o PIB. A meta de
crescimento da renda de operários e empregados foi fixada em 60%
e dos camponeses em 70%. Foi definido um ambicioso plano
energético, prevendo a construção de diversas hidroelétricas e
centrais térmicas, além de uma central atômica. Nas regiões
costeiras e montanhosas foi prevista a construção e numerosas
centrais eólicas.
Outras prioridades do 3º Plano Setenal foram a indústria do
carvão, a produção de aços especiais, metais não-ferrosos,
máquinas-ferramentas com comando numérico, robôs, caminhões,
tratores, navios, máquinas extratoras, implementos agrícolas,
indústria eletrônica e microeletrônica. Na indústria da
construção foi estabelecida a meta de construir de 150 mil a 200
mil moradias nas cidades e nos campos a cada ano.
Esses resumidos dados nos mostram quão longe da realidade estão
aqueles que nos apresentam a República Popular Democrática da
Coréia como um país atrasado, estagnado e inviável.
IMPORTANTES AVANÇOS SOCIAIS
A
RPDC – após a guerra que devastou o país e liquidou boa parte da
sua população – teve de enfrentar simultaneamente inúmeras
tarefas: a reorganização da agricultura, a industrialização (com
prioridade para a indústria pesada), a defesa nacional e a
melhoria das condições de vida da população.
Assim, no âmbito do atendimento à sua população, esforçou-se
para assegurar a todos o essencial: alimentação, vestuário,
moradia, educação e atendimento à saúde. Em conseqüência, na
RPDC tem enorme importância o “salário social” (não monetário),
usufruído através da moradia disponibilizada pelo Estado –
gratuitamente ou com aluguéis extremamente baixos, incluídas a
luz e a calefação –, da alimentação com preços subsidiados, do
vestuário fornecido pelas empresas a seus trabalhadores e pelas
escolas aos seus alunos (da pré-escola à universidade), pela
educação e atendimento à saúde, totalmente gratuitos.
Ao lado de um crescente aumento dos salários e rendas da
população, houve uma diminuição persistente dos preços
industriais e dos bens de consumo. No decorrer do Plano Sexenal,
o ganho real dos operários e empregados cresceu 70% e os ganhos
dos trabalhadores rurais cresceu 80%. Em 1974, foram suprimidos
todos os impostos sobre a população.
Tendo em vista a completa destruição das moradias nos campos e
nas cidades, devido aos bombardeios genocidas dos Estados
Unidos, um dos maiores desafios enfrentados foi a construção de
habitações para a população. Só durante o Plano Sexenal, foram
construídas 414 mil moradias nas cidades e 472 mil nas áreas
rurais, em um país que contava com apenas 15 milhões de
habitantes. Hoje, o problema habitacional está totalmente
resolvido na Coréia.
Em 1956, foi instituído ensino primário obrigatório. Em 1958, o
ensino obrigatório passou a ser de 7 anos e hoje já é de 12
anos. Foi construído um amplo sistema de estabelecimentos de
ensino superior – sendo a Universidade Kim Il Sung de Pyongyang
a mais importante –, completado por uma rede de universidades
noturnas e por correspondência para os trabalhadores.
Na década de 70 as emissões de televisão passaram a cobrir todo
o território da RPDC. A rede de creches, que em 1970 já atendia
80% das crianças, ao final do Plano Sexenal já cobria 100% das
necessidades. O Estado assumiu integralmente os numerosos órfãos
de guerra, privilegiando-os para que possam superar a
desvantagem social de que foram vítimas.
O
atendimento à saúde também se tornou exemplar:
funcionários da
Organização Mundial da Saúde e outros organismos da ONU elogiam
a provisão de serviços básicos de saúde; as crianças na Coréia
do Norte estão melhor cobertas pela vacinação que as crianças
estadunidenses. A informação das Nações Unidas mostra que a
expectativa de vida nesse pobre e pequeno país é de 70,7 anos
(contra 70,4 da RdC), um número só ligeiramente inferior ao dos
Estados Unidos. A mortalidade infantil é de 25 por mil
nascimentos, frente aos 21 por mil no Sul. (...) Em torno de 74%
dos norte-coreanos vive nas cidades, frente a 78% no Sul (...)
um grau de urbanização e industrialização acorde aos níveis
internacionais.[73]
Durante o 2º Plano Setenal (1977-1984), a renda real dos
operários e empregados aumentou em 60% e a dos agricultores em
40%:
Durante esse
período as vestimentas, os calçados, os artigos de uso escolar e
os produtos alimentares foram fornecidos gratuitamente (...) a
todas as crianças, alunos e estudantes.
(...) Em fins de
1984, o país contava com 216 estabelecimentos de ensino superior
[em 1989, já eram 270] (...) assim como com 1.250.000
técnicos e especialistas. No âmbito da saúde pública, foram
construídos mais de 290 estabelecimentos de saúde – preventivos
e terapêuticos –e o número de médicos e de leitos aumentou,
respectivamente, em 40% e 6%.[74]
OS ESFORÇOS DO NORTE PELA REUNIFICAÇÃO DA COREIA
Logo após o armistício, a RPDC retomou os seus esforços para uma
reunificação pacífica do país, mas encontrou forte resistência
dos Estados Unidos e do governo ditatorial de Seul. Em novembro
de 1953, os EUA fizeram malograr a conferência política prevista
pelos acordos de armistício. Em abril de 1954, quando a questão
da Coréia foi discutida na Conferência de Genebra, a República
Popular Democrática da Coréia propôs a reunificação nacional, a
retirada de todas as tropas estrangeiras e a realização de
eleições livres em todo o país. A proposta foi rejeitada pelos
Estados Unidos, que se negavam a sair da Coréia do Sul, mas
exigiam a retirada dos voluntários chineses.
Em outubro de 1954, o governo da RPDC propôs
a convocação para
Pyongyang ou para Seul de uma conferência conjunta da Assembleia
Popular da República Popular Democrática e da Assembleia
Nacional de Seul, a fim de discutir intercâmbios econômicos e
culturais, comunicações postais e livre circulação entre as duas
partes da Coréia. Essas propostas, bem como as que se seguiram –
agosto de 1955, abril de 1956, setembro de 1957 e fevereiro de
1958 – esbarraram com uma recusa ou nem sequer tiveram resposta
por parte do regime de Syngman Rhee.[75]
No decorrer de 1958, em um gesto de boa vontade, todos os
voluntários e militares chineses retiraram-se da RPDC, mas as
tropas norte-americanas não só permaneceram no Sul como
ampliaram suas bases militares e reforçaram o seu armamento, o
que estava proibido pelo acordo de armistício.
A
DERRUBADA DE SYNGMAN RHEE E A DITADURA DO GENERAL PARK CHUNG HEE
Em abril de 1960, em protesto contra mais uma eleição fraudada,
eclodiram em todo o país grandes manifestações populares. Apesar
do apoio norte-americano, Syngman Rhee não conseguiu resistir e
foi apeado do poder. Em julho de 1960, assumiu Chang Myun.
Em agosto de 1960, o Presidente Kim Il Sung apresentou uma nova
proposta para a reunificação da Coréia:
se as autoridades
da Coréia não podiam aceitar (...) eleições gerais livres em
toda a Coréia, poderia ser criado um sistema de confederação do
Norte e do Sul, como medida transitória antes da reunificação
completa. Seria formado um Conselho Nacional Supremo,
compreendendo representantes dos governos da República
Democrática da Coréia e da República da Coréia (...). Os
sistemas políticos do Norte e do Sul permaneceriam inalteráveis
e os dois governos prosseguiriam as suas atividades
independentes.[76]
Diante do profundo eco que essa proposta alcançou entre a
população do Sul da Coréia, os Estados Unidos perceberam que o
governo de Chang Myun seria incapaz de deter o clamor pela
reunificação e organizaram em 16 de maio de 1961 um golpe
militar que colocou a frente do governo de Seul o General Park
Chung Hee. Este, tão logo assumiu, desatou a mais feroz
repressão contra o povo sul-coreano. Assim, foi momentaneamente
refreado o movimento a favor da reunificação. Apesar disso, o
governo da RPDC continuou a apresentar propostas para a
reunificação pacífica da Coréia, como em junho de 1962, outubro
de 1962, dezembro de 1963, março de 1964, maio de 1965, etc.
O
INÍCIO DAS NEGOCIAÇÕES PARA A REUNIFICAÇÃO DA COREIA
|
Encontro diplomático entre as Coréias
visando a reunificação,1972. |
|
Em janeiro de 1972, em entrevista ao jornal japonês Yomiuri
Shimbun, Kim Il Sung afirmou:
Para eliminar a
tensão na Coréia é necessário substituir o acordo de armistício
da Coréia por um acordo de paz entre o Norte e o Sul. Insistimos
para que o Norte e o Sul concluam um acordo de paz e que as
forças armadas do Norte e do Sul da Coréia sejam
consideravelmente reduzidas, com a condição de que as tropas de
agressão do imperialismo americano sejam retiradas da Coréia do
Sul. Por mais de uma vez declaramos que não temos a intenção de
‘invadir o Sul’. Se os governantes sul-coreanos não tiverem a
intenção de realizar a ‘reunificação através da marcha em
direção ao Norte’, não haverá qualquer razão para não darem o
seu assentimento ao estabelecimento do acordo de paz entre o
Norte e o Sul..[77]
Aqui temos o claro desmentido da acusação feita pela chamada
“livre imprensa ocidental” de que é a RPDC que não aceita
estabelecer um acordo da paz...
Em 4 de julho de 1972, após negociações prévias em Pyongyang e
em Seul, os representantes da Coréia do Norte e da Coréia do Sul
assinaram uma Declaração manifestando “o desejo comum de
realizar a reunificação pacífica do país o mais cedo possível”
e definindo os três princípios que deveriam orientar a
reunificação (referendando os três pontos propostos
anteriormente pela RPDC): 1) Reunificação independente (sem
ingerências estrangeiras); 2) Reunificação pacífica (sem o
recurso às armas); 3) Reunificação através de uma grande unidade
de toda a nação (transcendendo as diferenças de concepções,
ideais e sistemas).
Mas o General Park Chung Hee – fortemente pressionado pelos EUA
– recuou dos compromissos assumidos e desatou, em julho de 1952,
uma forte repressão contra os manifestantes que pediam a
reunificação, condenando inúmeros líderes oposicionistas
sul-coreanos à morte ou à prisão perpétua. Em 17 de outubro de
1972, proclamou a lei marcial e impôs uma nova Constituição que
lhe permitia continuar de forma vitalícia na presidência e lhe
concedia todos os poderes, sem qualquer controle. Curiosamente,
não houve qualquer protesto por parte dos Estados Unidos e das
nações ditas “democráticas” do ocidente, nem lhe foi imposta
qualquer sanção econômica ou diplomática pela ONU...
Com isso as negociações para a reunificação da península
“voltaram à estaca zero”.
A
administração Jimmy Carter (1977-1981), que anunciou uma
retirada gradual forças terrestres estadunidenses da Coréia (o
que acabou não acontecendo), abriu espaço para um melhoramento
da relação entre o Norte e o Sul.
Assim, em 1980, no 6º Congresso do Partido do Trabalho da
Coréia, o Presidente Kim Il Sung propôs como caminho para a
reunificação da Coréia a formação de um Estado Federal Unitário
e de um governo nacional unificado, no qual o Norte e o Sul
estariam representados com o mesmo peso e sob o qual ambos os
lados exerceriam a respectiva autonomia regional, com direitos e
deveres iguais. Ou seja, uma federação baseada em uma nação, um
estado, dois sistema e dois governos. Esse estado federal
assumiria um caráter independente e democrático e se chamaria
República Federal Democrática do Koryo, retomando o nome do
Primeiro estado unificado na história da Coréia. Mais uma vez –
apesar do enorme apoio que essa proposta recebeu tanto no Norte,
como no Sul –, o governo sul-coreano a rejeitou.
A
ascensão de Reagan à presidência dos EUA – em substituição a
Jimmy Carter – teve como conseqüência o agravamento das tensões
na península:
Reagan convidou o
ditador Chun Doo Hwan
[que sucedera Park
Chung Hee] a visitar Washington em fevereiro de 1981, como
seu primeiro ato de política exterior (...) se agregaram 4.000
estadunidenses aos 40.000 já existentes ali, se venderam a Seul
caças F-16 avançados e se levaram a cabo, a cada início de ano,
grandes exercícios militares (chamados Espírito de Equipe) que
envolviam a mais de 200.000 soldados estadunidenses e coreanos.
(...) O Secretário da Defesa, Caspar Weinberger, declarou em
1983 (...) que se os soviéticos atacassem o Golfo Pérsico, os
Estados Unidos podiam responder atacando qualquer ponto que
elegessem. O documento dizia que a Coréia era esse ponto.[78]
O
resultado dessa política agressiva dos EUA foi o congelamento de
quaisquer tratativas.
O
COLAPSO DO LESTE EUROPEU E DA URSS E OS IMPACTOS NA RPDC
Entre 1989 e 1991, produziu-se o colapso do Leste Europeu e a
União Soviética deixou de existir, fracionando-se em diversas
repúblicas. Na sua maioria, governos reacionários e
anti-comunistas passaram a dirigi-las. As anteriores relações
inter-estatais no interior do campo socialista e os tratados
comerciais em vigor foram abandonados da noite para o dia,
criando enormes dificuldades econômicas para os países que
persistiram no caminho socialista, como Cuba, Vietnam, Laos e a
República Popular Democrática da Coréia. A China – que havia
iniciado as suas reformas e a sua abertura em 1986 – foi menos
afetada, inclusive devido à sua pujança econômica, dimensões e
vasto mercado interno:
O colapso do
bloco socialista privou Pyongyang de importantes mercados,
causando vários anos de queda do PIB a princípios dos anos 90.
Dados sul-coreanos situam essa queda na faixa de 2 a 5% e
analistas governamentais estadunidenses pensam que o pior havia
passado para a Coréia do Norte em fins de 1993. (...) Pyongyang
reconheceu pela primeira vez publicamente “grandes perdas na
nossa construção econômica” e “uma situação externa e interna
sumamente complexa e aguda” no 21º Pleno do Partido do Trabalho,
em dezembro de 1993. A maior parte da responsabilidade na crise
foi atribuída não ao sólido sistema socialista norte-coreano,
mas ao “colapso dos países socialistas e ao mercado socialista
mundial”, que “destroçou” a muitos sócios de Pyongyang e seus
acordos comerciais.[79]
Até a década de 70, o comércio exterior da RPDC havia sido quase
que unicamente com o boco socialista, mas nos anos seguintes
havia se diversificado com o Japão, Europa Ocidental e várias
nações do Terceiro Mundo. Em meados dos 70, 40% do seu comércio
era com países não comunistas e somente 30% com a URSS. Mas, no
final dos anos 80, por falta de divisas fortes e outras
dificuldades, a RPDC voltara a ser dependente do comércio com a
URSS. A exigência da recém criada Federação Russa de que
o petróleo e outros produtos passassem a ser pagos com moedas
fortes foi, assim, um duro golpe para os norte-coreanos.
Os problemas se agravaram ainda mais devido à ocorrência nesse
exato momento de sérias perturbações climáticas, prejudicando a
produção de alimentos e causando uma situação de insegurança
alimentar, contornada com grandes sacrifícios da população e com
alguma ajuda internacional. Esse período ficou conhecido como a
“marcha penosa”, em analogia com a dura luta travada pelo
Exército Revolucionário Popular da Coréia contra os
ocupantes japoneses, em 1934, quando enfrentou o risco de
aniquilamento. Os líderes norte-coreanos, agindo com habilidade,
procuraram fazer as alterações de rumo necessárias para
enfrentar as novas circunstâncias e as novas condições do cerco
imperialista:
a crise (...)
resultou na apresentação de uma nova legislação sobre inversões
estrangeiras, relações com empresas capitalistas e novas zonas
de livre comércio. Numerosas leis foram sancionadas para o
sistema bancário, na área do trabalho e das inversões. (...)
Numerosas empresas de Hong Kong, Japão, França e Coréia do Sul
formularam compromissos de abertura de fábricas de manufaturas
na RPDC (...) No outono de 1990, pela primeira vez foram
mantidas conversações entre primeiros ministros, em Seul em
setembro, em Pyongyang em outubro. Em 1991, ambas as Coréias se
uniram às Nações Unidas, apesar da prolongada oposição dos
norte-coreanos a entrar nesse organismo aceitando duas bandeiras
coreanas. (...) em 13 de dezembro de 1991 (...) os
primeiros-ministros da RdC e da RPDC firmaram um acordo de
reconciliação, não agressão, cooperação econômica e intercâmbio
em muitos campos e a livre passagem entre as duas metades do
país para estimadas 10 milhões de famílias separadas pela
guerra.”[80]
No mesmo diapasão, Kim Il Sung tornou público, em 1993, o seu
Programa de Dez Pontos da Grande Unidade Pan-Nacional para a
Reunificação da Pátria, propondo: 1) Fundar um Estado
unificado independente, pacífico e neutro, mediante a grande
unidade pan-nacional; 2) Lograr a unidade baseada no amor à
nação e no espírito de independência nacional; 3) Unir-se no
espírito de fomentar a coexistência, a co-prosperidade e
interesses comuns e entregar tudo à causa da reunificação da
Pátria; 4) Unir-se após por fim a toda luta política que fomente
a divisão e o enfrentamento entre os compatriotas; 5) Confiar
mutuamente e unir-se após eliminar por igual os temores de
agressão ao Norte ou ao Sul, à vitória contra o comunismo ou à
comunização; 6) Valorizar a democracia e ir de mãos dadas pelo
caminho da reunificação da Pátria, sem rechaçar um ao outro por
professar diferentes doutrinas e opiniões; 7) Proteger os bens
materiais e espirituais do indivíduo e da organização e fomentar
a sua utilização em favor da conquista da grande unidade
nacional; 8) Todos os integrantes da nação devem compreender-se
e confiar uns nos outros e unir-se mediante contatos, viagens e
diálogos; 9) Os integrantes da nação que residem no Norte e no
Sul do país e no ultramar devem fortalecer a solidariedade entre
si na busca da reunificação da Pátria; 10) Valorizar enormemente
os que contribuam para a obra da grande unidade nacional e da
reunificação da Pátria.
Uma vez mais a proposta da RPDC – apesar de amplo apoio tanto no
Norte como no Sul – não obteve qualquer resposta concreta por
parte da Coréia do Sul, instigada pelos Estados Unidos ao
confronto.
Em 2000, Kim Jong Il – que substituiu Kim Il Sung, retomou os
esforços norte-coreanos buscando a reunificação da Coréia e
realizou um encontro com o Presidente da Coréia do Sul, Kim Tae
Jun, em Pyongyang. Foi adotada, então, a Declaração Conjunta
Norte-Sul de 15 de junho, passo decisivo para desanuviar as
tensões entre as duas Coréias. Outra reunião foi realizada em 4
de Outubro de 2000, quando foi aprovada a Declaração de 4 de
Outubro, que deu desdobramentos concretos à Declaração de
15 de junho, incluindo a criação do Parque Industrial
conjunto de Kaesong, o estabelecimento de uma zona especial de
paz e cooperação no Mar do Oeste, o restabelecimento da ligação
férrea entre o Norte e o Sul, a participação conjunta nos jogos
olímpicos de Pequim, em 2008, e intercâmbios culturais e
familiares.
Inconformados com a aproximação entre as duas Coréias, os EUA
passaram a pressionar o governo de Seul, ampliaram as manobras
militares conjuntas e a nuclearização da Coréia do Sul e
impuseram novas sanções econômicas à RPDC, elevando enormemente
as tensões na península e inviabilizado maiores avanços na
reunificação entre o Norte e o Sul da Coréia.
OS EUA AMEAÇAM A RPDC COM O OBJETIVO DEDESESTABILIZÁ-LA
É
nesse momento de graves dificuldades da RPDC que os EUA
decidiram apertar o cerco econômico, diplomático e militar
contra a RPDC, com o objetivo de levá-la ao colapso. O pretexto
foi o programa de energia nuclear norte-coreano, iniciado em
1962 através de um pequeno reator nuclear com fins
investigativos, de apenas 4 MW, cedido pela URSS. Este reator já
havia sido colocado em 1977 sob a supervisão da Agência
Internacional para a Energia Nuclear da ONU (AIEA).
Posteriormente, a Coréia construiu um reator de gás-grafite, de
30 MW, que iniciou suas operações em 1987, em Yongbyon, tendo a
AIEA sido convidada a inspecioná-lo.
É
nesse contexto que no início da década de 90 a imprensa e as
agências de notícias norte-americanas começaram a martelar o
tema do “perigo nuclear norte coreano”:
Os repórteres
(...) escrevem de forma rotineira que a Coréia do Norte tem
recusado as inspeções; entretanto (...), a Coréia do Norte havia
permitido seis inspeções formais da AIEA no sítio de Yongbyon,
entre maio de 1992 e fevereiro de 1993. (...) Nessa época já era
uma rotina entre os analistas estadunidenses influentes
sustentar que Kim Il Sung era malvado ou louco, ou ambas as
coisas, que o seu regime devia ser derrubado e, se fosse
necessário, que seus recursos nucleares deveriam ser eliminados
pela força.[81]
As ameaças mais graves iniciaram em 26 de janeiro de 1993,
quando o
presidente Bill Clinton, recém empossado, anunciou que as
manobras militares “Espírito de Equipe” seriam retomadas (...).
Em fins de fevereiro, o General Lee Butler, encarregado do novo
“Comando Estratégico” dos Estados Unidos anunciou que estava
mudando o alvo das armas nucleares estratégicas (isto é, as
bombas de hidrogênio), pensadas para a antiga URSS, para a
Coréia do Norte.[82]
Em março de 1993, dezenas de milhares de soldados estadunidenses
chegaram para exercícios militares na Coréia e com eles vieram
bombardeiros B-1B e B-52 da base de Guam, além de vários navios
de guerra com mísseis de cruzeiro. Diante de tais ameaças dos
EUA, a RPDC anunciou que poderia abandonar o Tratado de
Não Proliferação de Armas Nucleares (TNPN), visto
que este prevê que os países sem armas nucleares não podem ser
ameaçados por aqueles que as têm (algo que os EUA nunca
respeitaram).
Uma vez terminadas as manobras militares, a RPDC aceitou reabrir
negociações e não levou adiante a sua ameaça de abandonar o
TNPN. Porém, a AIEA, instigada pelos Estados Unidos, insistiu em
“inspeções especiais” – que nunca havia solicitado em nenhuma
parte –, inclusive em áreas sem instalações nucleares, o que,
evidentemente, não foi aceito pelos norte-coreanos. Depois de
muitas tensões, em julho de 1993, os norte-coreanos propuseram
que o seu programa nuclear – baseado em reatores de grafite e
urânio natural – fosse substituído por reatores de água leve,
proporcionados pelos Estados Unidos, menos propensos a serem
utilizados com fins militares. Essa proposta causou surpresa,
pois tornaria a RPDC dependente do abastecimento externo de
combustível.
Depois de muitas marchas e contramarchas, em outubro de 1994 foi
acordado que
em troca do
congelamento de seus reatores de grafite e da permissão de
inspeções completas sob o TNPN, um consórcio de nações (...)
proporcionaria os reatores de água leve (...). Enquanto isso, os
Estados Unidos forneceria o petróleo para solucionar os
problemas energéticos da RPDC e começaria a incrementar
gradualmente relações diplomáticas.[83]
Os Estados Unidos, porém, não só não honraram os compromissos
assumidos – alegando falta de aprovação pelo Congresso e outras
desculpas – como autorizaram a Coreia do Sul a estender o
alcance de seus mísseis balísticos a todo o território da RPDC e
desenvolveram um
plano que denominaram ‘dissuasão sob medida’ (...) o qual apela
a operações militares conjuntas sul-coreanas-estadunidenses
contra a Coreia Popular (...) incluindo incidentes menores (...)
tanto em tempo de paz como de guerra. (...) O Plano apela a um
ataque antecipado (preemptive), baseado na percepção de
um lançamento iminente de mísseis norte-coreanos. O
vice-comandante do Comando Coreia das Nações Unidas, general
Jean-Marc Jouas, explicou que mísseis norte-coreanos podiam ser
rapidamente alvejados ‘antes de estarem em posição de serem
empregados’. Para dizer isso em termos simples, poderia ser
lançado um ataque a sítios de mísseis com base em suposições,
mesmo quando os mísseis norte-coreanos não estivessem em uma
posição de fogo.[84]
A
resposta da RPDC – após anos de paciente espera e covardes
ameaças – foi denunciar o referido acordo e a retomar o seu
programa nuclear, retirando-se do TNPN e anunciando que diante
das reiteradas ameaças nucleares dos EUA, passaria a produzir
suas próprias armas nucleares, como meio de dissuasão a qualquer
agressão norte-americana.
O
que pouco depois foi concretizado, através da realização de dois
testes nucleares. Da mesma forma – comprovando o seu elevado
desenvolvimento científico e tecnológico – a RPDC colocou em
órbita, em abril de 2012, um satélite de observação da terra e
lançou à continuação diversos satélites no espaço.
Em retaliação, os EUA e seus aliados na ONU – violando
abertamente o tratado internacional do espaço exterior que
garante o direito de explorar o espaço a “todos os Estados,
sem discriminação de qualquer espécie” – fizeram aprovar no
Conselho de Segurança da ONU, em 22 de janeiro de 2013, a
resolução 2087, com duras sanções à RPDC.
Na ocasião, o representante da RPDC na ONU, So Se Pyon denunciou
a hipocrisia e discriminação da referida resolução: “Houve
não menos de 2.000 testes nucleares e pelo menos 9.000
lançamentos de satélites no mundo desde que a ONU existe, mas
nunca houve uma única resolução do seu Conselho de Segurança que
proibisse testes nucleares e lançamento de satélites”[85]
Sem acovardar-se diante das ameaças estadunidenses e de seus
cúmplices na ONU, a Coreia Popular efetuou
o seu terceiros
teste nuclear em 12 de fevereiro de 2013. Vários dias depois,
numa aparente referência ao Iraque e à Líbia, as mídias
norte-coreanas recordaram os destinos que haviam acontecido
àqueles que haviam abandonado suas armas nucleares em resposta à
pressão estadunidense. Estes exemplos, acrescentaram, “ensinam a
verdade de que a chantagem nuclear dos EUA deve ser contida com
contra-medidas substanciais, não com compromissos ou retirada.”[86]
Em resposta, os Estados Unidos – além de um endurecimento sem
precedentes das sanções econômicas, financeiras e diplomáticas –
ampliaram em muito a sua ofensiva belicista contra a RPDC, com
total cobertura da ONU, sempre calada diante das reiteradas
transgressões norte-americanas do TNPN e das normas do Direito
Internacional. E, em 7 de março de 2013, aprovaram no Conselho
de Segurança a resolução 2094, que ampliou as sanções e impôs
inclusive a inspeção dos navios e aviões norte-coreanos que
fossem suspeitos de transportar bens proibidos, em um atentado à
soberania da RPDC e à Carta das Nações Unidas.
Em um alentado artigo, o Professor
Gregory Elich denunciou essa prepotência e arrogância
estadunidense e elencou um conjunto de provocações e ameaças
contra a RPDC:
Num aumento do
arsenal sul-coreano, os EUA aprovaram a venda de 200 bombas
destruidoras de bunkers, adequadas para alveja
instalações subterrâneas norte-coreanas. (...) A Coreia do Sul
também planeja comprar da Europa 200 mísseis de cruzeiro
Taurus, lançados do ar,
os quais são capazes de penetrar até seis metros de concreto
reforçado. (...) Os EUA constituíram uma organização militar
responsável pela entrada na Coreia Popular e captura de
instalações e armas nucleares no caso de uma crise na RPDC.
Naquele cenário, as forças dos EUA também prenderiam “figuras
chaves” (...) Não foi revelado quais indivíduos norte-coreanos
seriam sujeitos à prisão pelas forças dos EUA. (...) A
administração Obama nunca quis negociar com a Coreia Popular e,
claramente, pretende efetuar mudança de regime quando acumula
sanções sobre sanções e desenvolve planos militares que ameaçam
a existência da RPDC. Com efeito, ações dos EUA encorajaram a
Coreia Popular a desenvolver um programa de armas nucleares como
seu único meio de dissuasão realista contra ataques (...).[87]
Sem intimidar-se – apesar das ameaças e sanções – a RPDC
desenvolveu com êxito diferentes tipos de mísseis de médio e
longo alcance e detonou a sua Bomba de Hidrogênio, aumentando
enormemente o seu poder de dissuasão e tornando-se uma potência
nuclear de primeira linha.
Só então – depois de inúmeras ameaças infrutíferas, que se
chocaram com a firmeza e a altivez dos norte-coreanos –, os EUA
– já sob o governo de Donald Trump – baixaram o tom e propuseram
um diálogo com a RPDC, como é de conhecimento público...
Desde então, Trump já viajou três vezes ao Sudeste Asiático,
para encontrar-se com Kim Jong Un – a quem não cansa de elogiar
como “um grande líder de seu povo”. O último encontro,
inclusive, ocorreu em território norte-coreano, em Panmunjon,
onde exatamente os Estados Unidos se viram forçados a assinar,
por primeira vez, um armistício sem vitória...
Ao mesmo tempo em que a RPDC reafirma a sua disposição em
discutir a desnuclearização de toda a península coreana
(incluindo o Sul), nega-se a qualquer desarmamento unilateral e
exige contrapartidas concretas, como o levantamento das sanções,
um tratado de paz e garantias contra agressões militares. O que
até agora os EUA se negam a aceitar.
Em recente artigo, de 12 de julho de 2019, intitulado “Quão
real é a nova flexibilidade da administração Trump com a Coréia
do Norte”, Gregory Elich observa:
Se a Coreia do
Norte desnucleariza-se ou não, depende inteiramente dos EUA. Se
a administração Trump acredita que pode intimidar a Coreia do
Norte forçando um desarmamento unilateral está, então,
infelizmente, errada. Se, por outro lado, vier a reconhecer que
a única maneira de alcançar o seu objetivo é oferecer alguma
medida de reciprocidade, a desnuclearização se torna uma meta
alcançável. Neste ponto, há pouca indicação de que os EUA
estejam preparados para ir além da posição anterior. (...) É uma
noção curiosa essa expectativa de que nada precisa ser oferecido
à Coreia do Norte em troca de atender às exigências dos EUA.
Mais estranha ainda é a convicção de que a Coreia devia estar
satisfeita em ser atormentada por sanções incapacitantes para
cada concessão que faz. Mas o imperialismo e a arrogância andam
de mãos dadas. Não há razão, no entanto, para esperar que os
norte-coreanos sejam servis. “A Coreia do Norte quer ações, não
palavras”, observa Christopher Green, do International Crisis
Group. “Eu não tenho certeza se os EUA estão mentalmente prontos
para isso, mesmo agora.”[88]
A
PAZ E A REUNIFICAÇÃO NÃO ACONTECEM DEVIDO AOS EUA
Evidentemente, não temos a pretensão – neste breve estudo sobre
a história da Coréia – de abarcar todos os aspectos e esclarecer
todas as controvérsias acerca da atribulada trajetória do povo
coreano. A nossa intenção é unicamente levantar o véu de
desinformação e de falsidades que as agências de notícias e de
propaganda norte-americanas e ocidentais disseminam em todo o
mundo, buscando apresentar a Coréia como membro proeminente do
“eixo do mal” e pintar os Estados Unidos como o mais “pacífico”
e “benemérito” Estado que a humanidade já conheceu.
Os fatos aqui relatados, depois de minuciosa pesquisa – baseada,
na sua maioria, em autores ocidentais sem qualquer simpatia com
a República Popular Democrática da Coréia – demonstram de
forma cabal as atrocidades cometidas pelos norte-americanos na
Guerra da Coréia, dizimando 20% da sua população e arrasando sem
necessidade o país. Da mesma forma, mostram a total
irresponsabilidade e prepotência com que os seus “estadistas”
manejavam sua momentânea superioridade em armas nucleares nos
anos 50, ameaçando por diversas vezes a humanidade com uma
hecatombe nuclear.
Pode-se dizer que a Terceira Guerra Mundial só não ocorreu nesse
momento devido à pressão de seus aliados europeus – que temiam
serem os primeiros a sofrer uma eventual retaliação soviética –
e pela extrema cautela da URSS e da China. Esta, depois de ter
aplicado – junto com os norte-coreanos – uma tremenda surra nas
tropas estadunidenses, retornou ao paralelo 38, evitando
aniquilá-las, para não justificar uma vindita nuclear.
Encerrada a guerra com o armistício, todos os esforços para
estabelecer uma paz definitiva e para realizar a reunificação
pacífica da Coréia foram barrados pelos Estados Unidos, que não
escondem o seu objetivo de manter na Coréia do Sul uma poderosa
base militar e nuclear, de onde possam ameaçar a China, a
ex-URSS e a própria Coréia do Norte.
Frustrados por não terem conseguido forçar a República Popular
Democrática da Coréia ao colapso nos anos que se seguiram ao
desmantelamento do Leste Europeu da URSS, os Estados Unidos
continuam tentando por todos os meios estrangulá-la, sem
qualquer respeito para com a autodeterminação dos povos e o
Direito Internacional. Para isso, os EUA utilizam a sua
hegemonia na ONU, aplicando todo o tipo de sanções econômicas,
financeiras e diplomáticas contra o heróico povo norte-coreano e
usam todo o seu poderio tecnológico e militar para ameaçá-lo.
Como afirmou o vice-Diretor do Departamento Internacional do
Partido do Trabalho da Coréia, Pak Gun Kwang na conversa que
tivemos em 2014, quando de nossa viagem à RPDC:
Os Estados Unidos
mantém 30 mil soldados e mais de 1.000 artefatos nucleares na
Coréia do Sul. Ameaçam permanentemente a RPDC com seus B52 e
suas bases nucleares no Hawai e em Guam. Por isso a RPDC viu-se
obrigada a desenvolver suas armas nucleares. Os EUA não
conseguem liquidar com a RPDC devido ao seu poderio nuclear.
Essa é a única garantia da paz.
NOTAS
[1]
CUMINGS, Bruce. El Lugar de Corea en El sol – Una
historia moderna. Córdoba: Comunic-arte Editorial,
2004, pp. 244-245.
[2]
GARCIA ALVAREZ, Raul I. e PARDILLO GOMEZ, Mayra.
Corea Sí. Pyongyang, 1992, p. 115.
[3]
CUMINGS, idem, p. 219.
[4]
FRIEDRICH, Jörg.
Yalu – à beira da terceira guerra mundial.
Rio de Janeiro, 2011, p. 188.
[5]
CUMINGS, idem, p. 251.
[6]
CUMINGS, idem, pp. 478-479.
[7]
JO AM e NA CHOL GANG.
Corea en El Siglo XX.
Pyongyang, 2002, p. 98.
[8]
TRIAS, Vivian. Historia del imperialismo
norte-americano-2. La hegemonia:1919-1963. Buenos
Aires, 1977, p. 224.
[9]
CUMINGS, idem, p. 233.
[10]
HOROWITZ, D. Estados Unidos Frente a la Revolución
Mundial (de Yalta al Vietnam).
Barcelona, 1968, p. 147.
[11]
VITORINO, William. Guerra na Coréia – A origem de um
conflito. São Paulo, 2010, p. 59.
[12]
ZENTNER, Christian. Grandes Guerras de nuestro tiempo
– Las Guerras de La Postguerra (I). Barcelona, 1980,
p. 70.
[13]
GIORDANO, Mário Curtis. História do Século XX.
Aparecida/SP, 2012, p. 572.
[14]
CUMINGS, idem, p. 231.
[15]
HO
JONG HO, KANG SOK HUI E PAK THAE HO.
L’impérialisme US, provocateur de la guerre de Corée.
Pyongyang, 1993, p.85.
[19]
Compilação de provas documentais da provocação pelos
imperialistas americanos da Guerra Civil da Coréia.
Pyongyang, p.115.
[20]
CUMINGS, idem, p. 276.
[21]
New York Herald Tribune,
30.10.49. In: CUMINGS, idem, p. 286.
[23]
CUMINGS, idem, p. 284.
[24]
New York Times,
20.06.50.
[25]
Daily Mail, Londres, 19.06.50, edição parisiense.
[26]
FO317, fragmento nº 84057, Gascoigne a FO, 27 de junho
de 1950.
[27]
CUMINGS, idem, p. 293.
[28]
STONE, Irving F. La historia oculta de La Guerra de
Corea.
Cuba, 1952, p. 62.
[29]
CUMINGS, idem, p. 304.
[32]
Idem, pp. 300; 303-304.
[33]
New York Times, 24.08.50.
[34]
New York Times, 29.09.50.
[35]
HEIFERMAN, R., SHERMER,D. e MAYER, S.L. Guerras do
Século 20. Rio de Janeiro, 1975, p. 463.
[36]
FRIEDRICH, idem, p. 243.
[37]
FRIEDRICH, idem, p. 259.
[38]
CUMINGS, idem, p. 309.
[39]
FRIEDRICH, idem, p. 263.
[40]
CUMINGS, idem, p. 311.
[42]
HOROWITZ, idem, p. 149.
[43]
CUMINGS, idem, p. 318.
[45]
FRIEDRICH, idem, p. 334.
[46]
HOROWITZ, idem, p. 149.
[47]
CUMINGS, idem, pp. 325-326.
[48]
FRIEDRICH, idem, pp. 287-290.
[49]
CUMINGS, idem, p. 319.
[51]
BRITTO, Letelba R. de. Um brasileiro na Coréia,
Rio de Janeiro, 1952, p. 16; p. 20; pp. 102-105.
[52]
CUMINGS, idem, pp. 322-323.
[53]
FRIEDRICH, idem, p. 423.
[54]
Idem, pp. 413-414; p. 421; p. 436.
[56]
HOROWITZ, idem, p. 151.
[57]
CUMINGS, idem, pp. 324-329.
[58]
FRIEDRICH, idem, p. 467.
[61]
KIM IL SUNG. Informe al 6º Pleno del Comité Central
del Partido del Trabajo de Corea, 05.08.53. In: KIM
IL SUNG. La Construcción del Socialismo. Buenos
Aires, 1973, p. 60.
[62]
KIM IL SUNG. Sur l’édification socialiste.
In: SURET-CANALE, J e VIDAL, J.E. A República Popular
Democrática da Coréia. Lisboa, 1977, p. 43.
[63]
HONG SEUNG EUN. Le Developpement Economique de la
Republique Populaire Démocratique de Corée.
Pyongyang, 1990, pp. 38-39.
[64]
KIM IL SUNG. Rapport d’activité Du Comité Central.
In: SURET-CANALE, J. e VIDAL, J.E., idem, p. 43.
[65]
SURET-CANALE, J. e VIDAL, J.E., idem, p.50.
[66]
KIM IL SUNG. Rapport d’activité du Comité Central.
In:SURET-CANALE, J. e VIDAL, J.E., Idem, p. 45.
[67]
HONG SEUNG EUN, idem, p. 27.
[68]
CUMINGS, idem, p. 481.
[69]
KIM IL SUNG. Rapport d’activité..., idem, p.
87-88.
[70]
SURET-CANALE, J. e VIDAL, J.E., idem, p.10.
[71]
CUMINGS, idem, pp.481-483.
[72]
HONG SEUNG EUN, idem, pp. 49-50; pp. 56-59.
[73]
CUMINGS, idem, p.482.
[74]
HONG SEUNG EUN, idem, p. 60.
[75]
SURET-CANALE, J. e VIDAL, J.E., idem, p. 118.
[77]
SURET-CANALE, J. e VIDAL, J.E., idem, p. 128-129.
[78]
CUMMINGS, idem, pp. 528-529.
[79]
CUMMINGS, idem, p. 484.
[80]
Idem, p. 484; p. 531.
[81]
Idem, pp. 540, 542-543.
[82]
CUMMINGS, idem, p. 543.
[84]
ELICH, Gregory. Como Obama fomenta uma crise na
Península Coreana. CounterPunch, 21.04.13.
[88]
ELICH, Gregory. Quão real é a
nova flexibilidade da administração Trump com a Coreia
do Norte?CounterPunch, 12.07.19.