Raul Carrion nasceu em 22 de
dezembro de 1945, em Porto Alegre, numa família de forte atuação
política e social.
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Sua mãe Erna
Maria Kroeff Carrion era professora.
Seu pai Francisco
Machado Carrion era advogado e professor das Faculdades
de Economia e de Filosofia da Universidade Federal do RS
(UFRGS). |
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O avô Jacob Kroeff Neto
(em pé)
e o bisavô Jacob Kroeff Filho. |
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Raul com a mãe, irmãs e
irmãos. |
Por duas vezes, seu pai foi Diretor
da Faculdade de Economia, além de Diretor interino da Faculdade de
Filosofia. Por ser decano do Conselho Universitáro, várias vezes
assumiu a Reitoria da UFRGS. Também foi Professor na PUC/RS e na
UNISINOS. Católico fervoroso, mas de forte compromisso social,
liderou a Ação Católica no Rio Grande do Sul junto com Ernani Maria
Fiori e outros intelectuais gaúchos. Tanto ele como o seu irmão
Cândido Machado Carrion foram suplentes de Deputado Estadual pelo
PSD (Partido Social Democrático) na Constituinte de 1947. Ambos
assumiram por diversas vezes o mandato.
Francisco Machado Carrion também foi Presidente do Conselho Estadual
de Educação/RS, Secretário de Educação do Porto Alegre e Presidente
do Conselho Diretor e do Conselho de Administração da Fundação
Educacional Padre Landel de Moura (FEPLAM). Liberal convicto se
afastou da política partidária em 1966, quando a ditadura militar
extinguiu os partidos existentes, criando no seu lugar a ARENA e o
PMDB. Dedicou-se, desde então, unicamente às atividades educacionais
e culturais.
Seu bisavô materno Jacob Kroeff Filho foi Deputado Estadual pelo
Partido Republicano – nas legislaturas de 1892/1896 e 1897/1900 – e
seu avô materno Jacob Kroeff Neto foi Deputado Estadual, também pelo
Partido Republicano, nas legislaturas de 1917/1920, 1921/1924 e
1925/1928. Jacob Kroeff Neto liderou a emancipação do município de
Novo Hamburgo e foi o seu primeiro Prefeito.
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Acompanhando o irmão
Francisco, candidato à
prefeito de P. Alegre em 1985. |
Seu irmão Francisco Machado Carrion Júnior – falecido com a esposa e
filha em um acidente aviatório em 2001 – era Doutor em Economia pela
Universidade de Paris e Professor da Faculdade de Economia da UFRGS.
Era simpático ao socialismo e amigo do PCdoB. Prestava assessoria
econômica a diversos sindicatos de trabalhadores, entre os quais o
CPERS e o Sindicato Médico/RS. Foi Deputado Estadual pelo PMDB na
legislatura 1983/1986. Em 1985, foi candidato a Prefeito de Porto
Alegre pelo PMDB. Em 1986, elegeu-se Deputado Estadual Constituinte,
pelo PMDB. Na legislatura 1991/1994, foi Deputado Federal pelo PDT,
ocasião em que assumiu a Secretaria de Administração e Planejamento
do Estado do Rio Grande do Sul.
Seu irmão Eduardo K. M. Carrion é advogado, Mestre em Direito
Constitucional pela Universidade de Paris, Cientista Político e
Professor de Direito Constitucional, tendo sido Diretor da Faculdade
de Direito da UFRGS. Atualmente, leciona na Escola Superior do
Ministério Público do Rio Grande do Sul (FMP). Sua irmã Otília
Beatriz Kroeff Carrion é Doutora em Economia pela USP e Professora
universitária, tendo sido Diretora da Faculdade de Economia da
UFRGS. Sua irmã Vera Maria K. Carrion é Engenheira Química,
servidora aposentada do Badesul e Diretora do Sindicato dos
Engenheiros/RS, do qual já foi Vice-Presidenta.
Seu primo Fernando Machado Carrion foi Prefeito de Passo Fundo e,
posteriormente, Deputado Federal pelo PDS, de 1991/1994.
O ingresso na Ação Popular
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No Colégio Anchieta,
1963. |
Raul Carrion fez o ensino fundamental
no Instituto Piratini, em Porto Alegre. A seguir, cursou o primeiro
ano do curso científico no Colégio Farroupilha e os dois últimos
anos do científico no Colégio Anchieta. Influenciado pelo Movimento
da Legalidade de 1961 e pelas mobilizações em defesa das Reformas de
Base – que sacudiram o Brasil de Norte a Sul – iniciou a sua
militância política em 1963, quando tinha 17 anos, ingressando na
Ação Popular (AP) – organização de origem cristã que propunha uma
“revolução socialista de libertação nacional”. Nela atuou junto com
colegas do Colégio Anchieta, entre os quais José Luiz Fiori, Paulo
Renato de Souza (futuro Ministro da Educação), Roberto Motolla, os
irmãos Coimbra e outros.
O golpe militar
Em 1° de abril de 1964, o presidente João Goulart foi derrubado por
um golpe militar que suspendeu as eleições diretas para Presidente
da República, anulou os direitos constitucionais, cassou direitos
políticos e os mandatos de 3 ex-presidentes, 6 governadores, 4
Ministros do STF, quase 400 parlamentares – senadores e deputados –,
atingindo ao todo 4.862 brasileiros.
Só nos primeiros meses, os golpistas prenderam mais de 50 mil
pessoas, muitas das quais torturadas, mortas ou desaparecidas Dez
mil funcionários foram demitidos, sem direito a nada. Foram
instaurados 5 mil Inquéritos Policiais Militares (IPMs), envolvendo
mais de 40 mil pessoas. Foram indiciadas na Lei de Segurança
Nacional 13.752 pessoas, das quais 7.367 levadas ao banco dos réus.
Nas Forças Armadas, 6.592 militares sofreram punições ou foram
afastados. Mais de 10 mil brasileiros tiveram de se exilar para
escapar às perseguições.
A Central Geral dos Trabalhadores foi proibida e os seus dirigentes
perseguidos. Sofreram Intervenção militar 452 sindicatos, 43
federações e 3 Confederações. A UNE e a UBES tiveram a sua sede no
Rio de Janeiro incendiada e os seus dirigentes caçados pelos órgãos
de repressão. As Ligas Camponesas tiveram a mesma sorte. Expurgos de
professores e cientistas nas universidades, expulsão de líderes
estudantis, censura de 500 filmes, 450 peças teatrais, 200 livros,
100 revistas, mil letras de música, 12 novelas de TV e 20 programas
de rádio pretenderam calar a intelectualidade, mas sem êxito.
O aparelho de Estado foi “tomado” por 18 mil militares da ativa e da
reserva que – além de um grande número de ministérios – assumiram
cargos remunerados na administração direta, estatais, autarquias e
grupos privados. O recém criado Serviço Nacional de Informações
(SNI) montou uma máquina de espionagem com 300 mil informantes e 1
milhão de colaboradores. Foram “fichados” 250 mil cidadãos.
Os seqüestros, prisões arbitrárias, torturas, assassinatos e
desaparecimentos se tornaram rotina, acobertados pela
'incomunicabilidade” dos presos, pelo desrespeito – e depois
eliminação – do habeas corpus e pela censura dos meios de
comunicação. Os centros clandestinos de tortura e assassinato – como
a Operação Bandeirante” (OBAN), em São Paulo, comandada pelo
famigerado Coronel Brilhante Ustra – passaram a rivalizar em
barbárie com os centros oficiais de detenção e tortura, como os
DOPS, DOI-CODI, CENIMAR. Muitos “desaparecidos” foram na verdade
jogados de avião em alto-mar, queimados em fornos industriais ou
enterrados como indigentes, para que não ficassem rastros.
Os estudantes na luta contra a
ditadura
Quando aconteceu o golpe, Raul
havia acabado de ingressar na Escola de Engenharia da UFRGS,
classificando-se em 13º lugar no vestibular, entre mais de 1500
candidatos. Tendo optado pelo curso de Engenharia Química, logo se
destacou como liderança universitária no combate à ditadura.
As principais forças de esquerda na UFRGS eram o PCB – cujas maiores
lideranças eram Marco Aurélio Garcia, Flávio Koutzi, Marcos Faermann
e Trajano –, a AP e o PCdoB. Nas eleições para o Centro de
Estudantes Universitários de Engenharia (CEUE), Carrion foi
convidado a compor a chapa de esquerda, mas a direita venceu por
cerca de 80 votos.
Vivia-se o momento das primeiras lutas e confrontos contra o regime
militar que – após colocar na ilegalidade a UNE, a UBES, as UEEs e
as Federações Universitárias – tentava impor uma estrutura
estudantil espúria, atrelada ao Ministério da Educação, formada por
um pretenso “Diretório Nacional de Estudantes” (DNE), Diretórios
Estaduais de Estudantes (DEEs), Diretórios Centrais de Estudantes
(DCEs) e Diretórios Acadêmicos (DAs).
A maior parte das lideranças estudantis apoiava a UNE, que
continuava atuando na clandestinidade, e rejeitava a nova estrutura
imposta pelo militares. Assim, apesar de haver vencido as eleições
para o CEUE, a direita nunca conseguiu alterar o seu nome para
“Diretório Acadêmico”, pois nenhuma assembleia geral de estudantes
aprovou tal mudança. Por isso, até hoje ele se mantém com a
denominação de “Centro Acadêmico”.
Quando foram convocadas eleições para o DCE da URGS (criado no lugar
da FEURGS). O PCB lançou a candidatura de Flávio Koutzi, que contava
com o apoio da AP, em troca do apoio que o PCB lhe havia dado nas
eleições para o DEE. Raul Carrion, apesar de ser da AP, foi lançado
por lideranças do PCdoB da Escola de Engenharia como candidato
alternativo a Flávio Koutzi. Na plenária para a escolha do candidato
da esquerda, Koutzi venceu, mas depois foi derrotado pela direita
nas eleições para o DCE.
Não concordando com a tática defendida pelos principais dirigentes
da AP no Rio Grande do Sul, de “hibernação” frente à ditadura,
Carrion assumiu junto com outros companheiros a reorganização da AP,
passando a compor o seu Comando Regional – do qual também faziam
parte o metalúrgico José Ouriques de Freitas (ex-presidente nacional
da JOC), o estudante de engenharia da UFRGS, Elo Ortiz Duclós Filho,
o estudante de economia na UFRGS Gilberto Bossle e o ex-estudante de
economia Hélio Corbellini (expulso da PUCRS por perseguição
política). Com exceção de Carrion, todos os demais tinham a sua
origem na Ação Católica.
Em 1965, Raul Carrion passou a participar do Comitê Nacional da AP –
formado pelo Comando Nacional e por um representante de cada Comando
Regional. No Comitê Nacional, Carrion representava o Comando
Regional do Rio Grande do Sul. Lá, conheceu Aldo Arantes, Haroldo
Lima, José Herbert de Souza (“Betinho”), Duarte Pereira, Paulo
Whrigth e outros dirigentes nacionais e estaduais da Ação Popular e
participou da discussão da Resolução Política de 1965, que definiu o
caráter “socialista de libertação nacional” da revolução brasileira
e o caminho da “luta insurrecional”. Também acompanhou os
entusiásticos relatos dos dirigentes nacionais da AP de sua visita a
Republica Popular da China, onde ocorria a Revolução Cultural.
A atuação junto ao movimento operário
Nessa época, além de dirigir a frente estudantil da AP no Rio Grande
do Sul – onde atuavam José Loguércio, João Luís Santos, Walmaro Paz,
Carlos Lenglert, Beto, Carlos Augusto de Souza, Nilza de Santi,
André Foster, Diana e Raquel Gay da Cunha, entre outros –, Carrion
começou a atuar com José Freitas no movimento sindical da Região
Metropolitana de Porto Alegre, especialmente entre os metalúrgicos,
calçadistas e trabalhadores do vestuário.
Em 1965, participou da campanha da chapa de oposição ao sindicato
dos metalúrgicos de Porto Alegre, que enfrentou a negativa do DOPS
em fornecer o “atestado ideológico” para diversos candidatos da
oposição. Pouco depois, Carrion participou da articulação e da
campanha da chapa de oposição ao Sindicato dos Sapateiros de Porto
Alegre, elegendo Adão da Graça como seu Presidente. A partir da
vitória no Sindicato dos Sapateiros de Porto Alegre, Raul estreitou
as suas relações com os calçadistas do Vale do Sinos, em especial da
cidade de Novo Hamburgo, principal centro operário da região.
Nesse período, Carrion lecionou Desenho e Geometria Descritiva no
Curso Pré-Vestibular do DCE/UFRGS e trabalhou como calculista no
GEIPOT (Grupo Executivo de Integração da Política de Transportes).
Em 1966, ocorreram mudanças no Comando Regional da AP do Rio Grande
do Sul, cujo núcleo executivo passou a ser formado por Raul Carrion,
José Freitas e Pedro Calmon, este último vindo da cidade de Pelotas.
Em 1967, para poder dedicar-se integralmente à tarefa de direção da
AP e ao trabalho junto ao movimento operário, Carrion interrompeu os
seus estudos de Engenharia Química, onde já cursava o quarto ano, e
passou a atuar junto aos calçadistas de Novo Hamburgo, onde existia
uma forte organização da JOC. Devido às crescentes exigências do
trabalho, Carrion passava boa parte do tempo em Novo Hamburgo,
residindo na casa de companheiros.
A luta contra a ditadura e o AI-5
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Armados de paus e
pedras, estudantes enfrentam pelotão da polícia na
"sexta-feira sangrenta" (21/06/1968) que encerrou uma
semana de protestos cujo saldo foi de 28 mortos. |
Em julho de 1964, o “mandato” do ditador Castelo Branco foi
prorrogado por 14 meses. Em março de 1965, a ditadura foi derrotada
nas eleições para a Prefeitura de São Paulo, sendo eleito o
Brigadeiro Faria Lima, com o apoio do cassado Jânio Quadros. Em
outubro de 1965, ocorreram eleições para Governador em 11 Estados. A
oposição venceu na Guanabara e Minas Gerais – os principais Estados
em disputa –, além de Santa Catarina, Rio Grande do Norte e Mato
Grosso.
Em resposta, Castelo Branco editou ainda em outubro o Ato
Institucional n° 2, que extinguiu todos os partidos – só permitindo
a ARENA (“governista”) e o MDB (“oposição responsável”) –, tornou
indireta as eleições presidenciais, alterou a composição do STF
(para garantir a maioria ao regime militar, passou para os tribunais
militares o julgamento de civis com base na “lei de segurança
nacional” e retomou as cassações e as suspensões de direitos
políticos.
Mesmo proibida, a UNE realizou em julho de 1965, em São Paulo, o seu
27º Congresso, que reorganizou a entidade. Em julho de 1966, em Belo
Horizonte, realizou o seu 28º Congresso e lançou o “Movimento Contra
a Ditadura” (MCD).
O Ato Institucional nº 3, em fevereiro de 1966, eliminou as eleições
diretas também para governadores. No RS, onde o MDB tinha a maioria
na Assembleia Legislativa e a ARENA estava dividida, a cassação do
mandato de quatro deputados do MDB e uma regra de fidelidade
partidária asseguraram a eleição do governador imposto pelos
militares. O Ato Institucional nº 4, em dezembro de 1966, delegou a
um Congresso mutilado a aprovação da constituição imposta pelo
generais, formou o Colégio Eleitoral para eleger o general Costa e
Silva como o novo ditador de turno e criou os decretos-lei por
decurso de prazo. Em março de 1967, Castelo Branco foi substituído
por Costa e Silva.
Em que pese o fechamento do regime, o ano de 1967 registrou uma
retomada das lutas sindicais e populares em todo o país e o
surgimento de diversas articulações sindicais, entre elas o
Movimento Intersindical Anti-Arrocho (MIA), que realizou importantes
mobilizações, duramente reprimidas. A vitória de José Ibrahim,
candidato da oposição ao Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, e o
fortalecimento da oposição à direção “pelega” do Sindicato dos
Metalúrgicos de São Paulo, impulsionaram ainda mais as lutas
operárias. No movimento estudantil, através do Movimento contra a
Ditadura (MCD), a AP passou a protagonizar importantes mobilizações
em todo o país
Em 1968, a resistência à ditadura ampliou-se ainda mais. No dia 28
de março, foi assassinado pela polícia o secundarista Edson Luís, ao
participar de uma manifestação contra o fechamento do restaurante
estudantil do Calabouço. Isso desencadeou grandes protestos
estudantis em todo o país. Pouco depois, em abril, teve início a
greve dos metalúrgicos de Contagem, Minas Gerais, que conquistou um
abono salarial de 10% para todos os trabalhadores brasileiros. No 1º
de maio de 1968, na Praça da Sé, em São Paulo, os trabalhadores
investiram contra o palanque oficial e puseram a correr as
autoridades presentes. Em junho, violenta repressão policial a
estudantes no Rio de Janeiro – causando 3 mortos, 52 feridos e 400
presos – levantou uma onda de protestos em todo o país, culminando
com a “Passeata dos 100 mil” no Rio de Janeiro e com grandes
mobilizações nos demais Estados, inclusive em Porto Alegre.
No mês de julho, eclodiu a greve dos metalúrgicos de Osasco, São
Paulo, com a ocupação de fábricas e detenção pelos operários de
engenheiros e chefias. Na área rural ocorreram a greve dos
canavieiros de Pernambuco, a luta dos camponeses do Vale do Pindaré,
Maranhão, e dos camponeses de Água Branca, Alagoas. Intelectuais,
artistas e religiosos passaram a participar das manifestações de
oposição ao regime.
Nesse contexto de crescimento da luta contra a ditadura, o Congresso
Nacional negou-se a conceder licença para que o Deputado Márcio
Moreira Alves fosse processado pelo regime, após fazer um discurso
contra os militares. Em resposta, a ditadura editou o Ato
Institucional nº 5, fechando por tempo indeterminado o Congresso
Nacional e seis Assembleias Legislativas Estaduais; suspendendo as
eleições em todos os níveis; cassando os mandatos e os direitos
políticos de 1 governador, 6 senadores, 110 deputados federais, 161
deputados estaduais e 3 Ministros do STF, num total de 4877 cidadãos
brasileiros atingidos.
A criação das penas de morte, prisão perpétua e banimento; a
suspensão do habeas corpus, a oficialização da incomunicabilidade
dos presos e a generalização das torturas, assassinatos e
desaparecimentos dos opositores ao regime, criaram no Brasil um
Estado de caráter fascista!
A adesão ao marxismo e o progressivo
afastamento da AP
Em sua atuação junto ao movimento sindical, Carrion conviveu com
diversas lideranças operárias da época, como José Freitas, Pedro
Machado Alves, Castilhos, Antônio Losada, Adão da Graça,
Rancheirinho, João de Deus Canha, Aldomiro Scherer, Agenor Castoldi,
Luís Carlos Xavier, entre outros.
Foi um período em que os militantes da AP que atuavam no movimento
operário se aproximaram do marxismo, sob a influência de José
Freitas, que já conhecia diversas obras marxistas. A partir de
então, a questão do partido da classe operária se colocou na ordem
do dia e o próprio sentido da Ação Popular começou a ser
questionado.
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Surgido em 1968, o
jornal Libertação era o órgão oficial de comunicação
da Ação Popular (AP). |
Nessa época, a AP havia se aproximado da China e o “maoísmo” se
tornara hegemônico em seu Comando Nacional. Jair Ferreira de Sá, o
“Dorival” – que junto com outros companheiros da AP havia acabado de
voltar de um curso na China – propôs, então, o chamado Esquema dos
Seis Pontos, onde afirmava: 1) A revolução mundial vive a etapa da
ruína total do capitalismo e da vitória mundial do socialismo; em
conseqüência, o marxismo-leninismo ingressou em uma nova etapa, a
etapa do Pensamento Mao Tse-Tung; 2) A sociedade brasileira é
semi-colonial e semi-feudal; 3) A revolução brasileira é nacional e
democrática; 4) A Guerra Popular é o caminho da revolução; 5) É
preciso “reconstruir o partido proletário no Brasil”; 6) Os
militantes de origem pequeno-burguesa (a ampla maioria) devem
“integrar-se na produção” – trabalhando como operários ou camponeses
– para alcançar a sua transformação ideológica e fazer com que a AP
se torne o “partido do proletariado brasileiro”.
Os pontos “1”, “2” e “5” geraram controvérsias entre os companheiros
da AP do Rio Grande do Sul que atuavam no movimento sindical e o
ponto “6” foi o mais contestado. Ainda que fosse justa a preocupação
da AP em direcionar o seu trabalho prioritariamente para as massas
operárias e camponesas, a orientação de “integração na produção”
expressava na prática a tentativa da pequena-burguesia
revolucionária de substituir e dirigir a classe operária e os
camponeses, através da transformação de seus militantes de origem
pequeno-burguesas em “líderes” operários e camponeses.
Em seguida, essa orientação tornou-se obrigatória para todos os
militantes e assumiu um caráter quase religioso de “purificação” e
“autotransformação ideológica”, chegando-se ao ponto de estabelecer
normas diferenciadas a serem seguidas pelos militantes – segundo
tivessem origem operária, camponesa ou pequeno-burguesa –, definindo
o que cada um poderia possuir e o estilo de vida que deveria
levar...
Para Carrion, Freitas e outros militantes operários – que já haviam
assimilado a concepção leninista, segundo a qual o partido do
proletariado era a fusão do movimento operário espontâneo com o
socialismo científico –, a concepção de que a “integração na
produção” de militantes de origem pequeno-burguesa transformaria a
AP no “partido do proletariado brasileiro” era falsa e alheia ao
marxismo.
Partindo da concepção leninista, entendiam que os intelectuais
revolucionários – portadores da teoria revolucionária – deviam
unir-se aos movimentos operários e contribuir para a formação de
lideranças proletárias, sem pretender substituí-las. Portanto, até
poderia ser aceitável a “integração na produção” como um caminho
para facilitar a aproximação e a formação de lideranças operárias,
ajudando-as a assimilarem o marxismo e a se transformarem em
“intelectuais revolucionários proletários”. Nunca, porém, com o
objetivo de ocupar o seu lugar.
Formularam, então, por escrito, uma crítica teórica a essas
concepções equivocadas, discutindo-a amplamente entre os militantes
que atuavam no movimento operário. Isso se deu por iniciativa local,
sem relação com qualquer “dissidência” nacional. Infelizmente, por
ocasião da prisão de alguns militantes, esse documento de crítica
foi queimado por razões de segurança.
Nesse ínterim, o Comando Nacional da AP enviou para o Rio Grande do
Sul o dirigente Altino Dantas – que mais tarde viria a romper com a
AP e formar o PRT – com o objetivo de “enquadrar” a AP gaúcha nas
novas orientações. Altino teve, então, um embate com Carrion e
Freitas que, junto com Pedro Calmon, formavam o núcleo executivo da
direção estadual da AP no Rio Grande do Sul e criticavam essa visão.
Esse processo sedimentou uma forte divergência entre os militantes
que atuavam no meio operário e o Comando Nacional da AP. Fruto
dessas divergências, Carrion e Freitas foram afastados do Comando
Regional da AP, que passou a ser dirigido por Altino Dantas, com o
apoio de Pedro Calmon e outros militantes que aderiram às novas
teses.
Atuação junto aos calçadistas de Novo Hamburgo
Frente a essa situação, Carrion decidiu mudar-se para Novo Hamburgo
– principal pólo da indústria calçadista no Rio Grande do Sul –, com
o objetivo de ajudar na organização e na luta dos trabalhadores
calçadistas. Seja para tornar mais fácil a sua atuação entre os
calçadistas, seja para deixar claro que a sua divergência era de
concepção e não por falta de disposição para “integrar-se na
produção”, Carrion optou por trabalhar em uma fábrica, mas com uma
concepção diametralmente oposta a defendida no Esquema dos Seis
Pontos.
Realizou um rápido curso de “cortador” na escola do sindicato e
empregou-se em uma importante fábrica de calçados, utilizando uma
documentação falsa, em nome de Antônio Ferreira da Costa. Passou nos
testes e chegou a trabalhar durante uma semana, mas não conseguiu
obter a vaga por não ter toda a documentação exigida pela empresa.
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A realização de cursos
e a difusão de materiais de formação política
contribuíam para o fortalecimento do trabalho nas
fábricas. |
Conseguiu um emprego, então, em uma fábrica de componentes de
calçados, como operador de máquina. Ali trabalhou durante quase um
ano, compartindo a vida cotidiana da classe operária. Para morar,
alugou um quarto em uma pensão de trabalhadores. À noite e nos
finais de semana, dedicava-se à politização e à organização dos
trabalhadores. Periodicamente, ia a Porto Alegre, onde visitava os
pais, que nada sabiam de suas atividades.
Em pouco tempo, estruturou a AP na cidade, atraindo importantes
lideranças calçadistas, entre elas os principais dirigentes da
Juventude Operária Católica (JOC). Destacavam-se, entre outros,
Renatinho, Sebastião Velho, Nelson Sá e Astrogildo, que passaram a
compor o Comando Municipal da AP de Novo Hamburgo, junto com
Carrion. Pequenas lutas, em diferentes empresas, serviram para
melhor preparar as forças.
Na medida em que o trabalho cresceu e mais trabalhadores ingressaram
na AP, aumentaram as demandas organizativas e tornou-se necessária a
publicação regular de um pequeno jornal mimeografado. Para dar conta
dessas e de outras tarefas, Carrion deixou o seu emprego, para
dispor de mais tempo. Isso foi considerado pelos membros do novo
Comando Regional da AP como um “recuo no processo de integração na
produção no RS”. Ou seja, era mais importante para a AP ter um
militante de origem pequeno-burguesa trabalhando em uma fábrica do
que a formação o ingresso e de inúmeras lideranças operárias na Ação
Popular.
O dissídio dos calçadistas de NH
O dissídio dos calçadistas de Novo Hamburgo, em maio de 1969, serviu
como uma prova de fogo para o trabalho que vinha sendo realizado.
Depois de debater a situação, a direção da AP em NH decidiu lançar
uma ampla mobilização entre os calçadistas de Novo Hamburgo, com a
palavra de ordem "40% ou greve!". Panfletos foram impressos e
amplamente distribuídos nas fábricas, de maneira semi-clandestina,
utilizando os mais variados métodos.
Apesar da direção pelega à frente do sindicato e da recente edição
do Ato Institucional Nº5, em dezembro de 1968 – o que causou um
inevitável refluxo das lutas sindicais –, a categoria mobilizou-se.
Temendo a greve, os patrões apelaram para a repressão. Na véspera da
assembleia decisiva, agentes do DOPS prenderam nas fábricas dez
lideranças calçadistas e as levaram para o DOPS, em Porto Alegre,
tentando desarticular o movimento. Entre os presos estava Renatinho,
da direção municipal da Ação Popular em Novo Hamburgo.
Em reunião realizada nessa mesma noite, decidiu-se manter a
mobilização e fazer uma panfletagem, de carro, durante a madrugada,
nas principais fábricas, conclamando os operários a participarem da
assembleia. Um dos objetivos era demonstrar que os presos não eram
os responsáveis pela mobilização, para assim aliviar a pressão sobre
eles. Milhares de panfletos foram impressos em um mimeógrafo de
tinta e Carrion combinou com Hélio Corbellini – que morava em Porto
Alegre – a realização dessa panfletagem em seu SIMCA CHAMBORD.
Às 5h da manhã, Carrion e Corbellini partiram do Bairro Canudos, em
direção a Porto Alegre, onde chegaram em apenas 25 minutos. Em seu
percurso, passaram por mais de 20 fábricas, que amanheceram com suas
calçadas cobertas de panfletos com a convocação da assembleia. No
DOPS, os policiais vociferaram indignados, reclamando que tinham
ficado de “campana” até as 3h da manhã, só se retirando após. Não é
preciso dizer o quanto isso elevou a moral dos detidos.
Na assembleia daquela noite, mais de 700 trabalhadores lotaram o
salão do Sindicato. A repressão policial não se fez esperar. Ao
final da assembleia, mais de 30 trabalhadores que haviam se
pronunciado defendendo a paralisação foram detidos e levados para
Porto Alegre, inviabilizando a greve. Finalizada a mobilização e
libertados os detidos, o balanço mostrou que a estrutura
organizativa da Ação Popular não havia sido detectada nem golpeada.
Em meados de 1969, depois de algum tempo afastado da produção,
Carrion retomou o trabalho fabril, agora em uma metalúrgica, como
operador de prensa, ao mesmo tempo em que seguia realizando o
trabalho organizativo da AP. Depois de alguns meses, sofreu um
acidente de trabalho, tendo o dedo médio da mão esquerda esmagado em
uma prensa, acidente rotineiro na empresa. Ficou, então, por alguns
meses no seguro. Com o dinheiro da indenização pelo acidente,
adquiriu uma carabina Itajubá, calibre 22, que depois serviu para
atividades de treinamento da militância, em um processo inicial de
preparação militar. Ao final do período de seguro, desligou-se da
empresa.
1969: o rompimento com a AP e o ingresso no PCdoB
Durante esse período, ocorreram diversas reuniões com a direção da
AP, inclusive com dirigentes nacionais que tentavam “enquadrar os
rebeldes”. Mas as divergências eram insanáveis e no segundo semestre
de 1969 a totalidade dos militantes que atuavam no movimento
operário e sndical da região metropolitana de Porto Alegre – entre
eles José Freitas, Pedro Machado Alves, Agenor Castoldi, João de
Deus, Raul Carrion e as lideranças calçadistas do Vale do Sinos –
desligaram-se da Ação Popular.
Nos meses que se seguiram, Carrion e a maioria dessas lideranças
operárias ingressaram no Partido Comunista do Brasil. Pesaram nessa
decisão diversos fatores: 1) A postura explicitamente marxista do
PCdoB; 2) A sua luta intransigente contra a ditadura; 3) A sua
proposta programática de combate “à espoliação do país pelo
imperialismo, em particular o norte-americano, ao monopólio da terra
e à crescente concentração de riquezas nas mãos de uma minoria de
grandes capitalistas” e de luta por “um novo regime (...)
antiimperialista, antilatifundiário e antimonopolista”; 4) A sua
crítica ao “foquismo” e a sua defesa da “Guerra Popular” como o
caminho da luta armada no Brasil; 5) A sua história de lutas, desde
1922, e o seu enfrentamento ao revisionismo soviético no Brasil,
reorganizando o PCdoB em 1962.
A incorporação da AP-ML ao PCdoB
|
Livro de Haroldo Lima e
Aldo Arantes conta a História da Ação Popular - AP,
desde seu surgimento até a incorporação ao PCdoB em
1973. |
Três anos e meio depois, a maioria da Ação Popular chegou a esse
mesmo entendimento e integrou-se ao PCdoB. Antes disso, porém, foi
preciso ultrapassar diversas etapas. Em maio de 1971, aprovou um
“Programa Básico” e um novo “Estatuto”, transformando-se em “Ação
Popular Marxista-Leninista do Brasil”. A AP-ML defendia a criação de
“um partido proletário (...) de tipo inteiramente novo,
marxista-leninista-maoísta”, tendo por fundamento o Programa Básico
da AP-ML. Mas, reconhecia a existência de um partido
marxista-leninista no país – o PCdoB – e de “outras forças
marxista-leninistas”, às quais propunha unificar.
Em novembro de 1971, A Classe Operária publicou a resposta do PCdoB
à proposta de criar “um partido inteiramente novo” (que fora
divulgada pela AP-ML), no artigo “A proposta da Ação Popular”. Ali o
PCdoB afirmava: “Os comunistas (...) quando, recentemente, souberam
que militantes e dirigentes da AP evoluíam no sentido da aceitação
das idéias marxista-leninistas, saudaram jubilosos o fato (...)
esperavam sinceramente que essa evolução não os conduzisse à
formação de um novo partido marxista-leninista nem, muito menos, à
pretensão de fundir o Partido Comunista do Brasil com outras
organizações supostamente marxista-leninistas num 'partido
inteiramente novo' (...) a situação exige dos marxista-leninistas
não a multiplicação voluntarista de partidos marxista-leninistas e
sim o fortalecimento do que já existe.”
Antes disso, porém, no segundo semestre de 1971, a maioria do Bureau
Politico do CC da AP-ML havia proposto a unificação com o PCdoB,
ainda que mantivesse a opinião de que o marxismo vivia uma nova
etapa – a etapa do pensamento de Mao Tse-Tung – e que era necessário
formar “um partido inteiramente novo”.
Posteriormente, três dos seis membros do seu Bureau Político –
Haroldo Lima, Aldo Arantes e Renato Rabelo – abandonaram a proposta
de criação de “um partido inteiramente novo” e assumiram a defesa da
incorporação imediata da AP-ML ao PCdoB, considerando que ele já era
o partido marxista-leninista do Brasil e o pólo de aglutinação dos
demais marxista-leninistas do país. Essa posição foi submetida ao
Comitê Central da AP-ML e aprovada por ampla maioria.
Acirrou-se, então, a luta entre a maioria da AP-ML – que defendia a
incorporação ao PCdoB – e a minoria, que se opunha a isso e
continuava a defender a necessidade da criação de “um partido
inteiramente novo”. O início da luta guerrilheira do Araguaia sob a
direção do PCdoB e a dura repressão que se abateu sobre os
comunistas fizeram com que a questão da incorporação da AP-ML ao
PCdoB se colocasse com maior força e urgência. As conversas se
aceleraram e finalmente, em 17 de maio de 1973, o Bureau Político do
CC da AP-ML divulgou sua última circular, intitulada
“Incorporemo-nos ao PC do Brasil”. Os anos seguintes comprovaram a
justeza e a importância dessa decisão, que fortaleceu enormemente a
luta dos comunistas no Brasil.
A retomada do curso de Engenharia
Química
No início de 1970, Raul Carrion foi eleito para o Comitê Estadual do
PCdoB e assumiu a sua secretaria de organização, adotando o nome de
guerra “Vitor”. O secretariado era composto ainda por Roberto
Martins (“Nelson”), secretário político, e por Agenor Castoldi
(“Gurjão”), secretário de agitação e propaganda. Também participavam
da direção estadual, entre outros, o psiquiatra Bruno Mendonça
Costa, o dentista Júlio Zancanaro, o ferroviário Delfino Lobo, o
agrônomo Delfino Reis, o metalúrgico Pedro Machado Alves.
Por orientação partidária – com o objetivo de fortalecer o PCdoB no
movimento estudantil –, Carrion retomou o seu curso de Engenharia
Química e voltou a residir em Porto Alegre, ainda que tenha
continuado acompanhando o trabalho junto à categoria calçadista de
Novo Hamburgo.
Na UFRGS, a maioria dos Diretórios Acadêmicos, Centros de Estudantes
e o DCE estavam em mãos da direita. A primeira tarefa foi reverter
essa situação e, ao mesmo tempo, construir o PCdoB, que era bastante
débil no movimento estudantil gaúcho.
O primeiro embate se deu nas eleições para o CEUE. Aglutinando um
combativo grupo de estudantes – entre os quais Renato Dagnino, Peter
Peng, Flávio Presser, Pedro Bisch, Nelson Rolim, Erno Zimpel, Carlos
Schmidt, Pezzi e outros – foi formada uma chapa de oposição, tendo
por base as demandas mais sentidas dos estudantes, destacadamente a
luta contra o Decreto 464 que desligava sumariamente da universidade
os estudantes reprovados em um certo número de créditos, problema
comum em cursos difíceis como o de engenharia. A chapa, apesar de
ser acusada de “comunista”, foi vitoriosa, encerrando anos de
domínio da direita.
A vitória da esquerda na Engenharia logo contagiou outros cursos, a
começar pela vizinha Faculdade de Economia, onde também foi
vitoriosa a chapa de esquerda para o DAECA. Várias vitórias
ocorreram em outras unidades da UFRGS, alterando a correlação de
forças no Conselho do DCE/UFRGS – a quem cabia a eleição da
diretoria do DCE. Convocado o referido Conselho, a diretoria
direitista usou de todos os meios para tentar impedir a realização
da eleição, inclusive sumindo com o livro de Atas. Este só
reapareceu quando o responsável por ele foi ameaçado de ser jogado
pela janela... Também na PUC/RS e em outras universidades ocorreram
vitórias da esquerda. Nesse processo, a principal força a se
fortalecer foi o PCdoB.
Em fins de 1970 – refletindo a hegemonia que o PCdoB havia
conquistado no movimento universitário gaúcho – Carrion foi
escolhido para ser o delegado único do Rio Grande do Sul na reunião
do Conselho Nacional da UNE, realizada clandestinamente, no início
de 1971, na cidade de Salvador. Ao retornar dessa reunião – que teve
que ser encerrada abruptamente, no meio da noite, por razões de
segurança – Carrion prestou vestibular para o curso de Química da
UFRGS, sendo aprovado em 2º lugar.
No decorrer dos anos de 1970 e 1971, além de cursar Química, Carrion
lecionou Desenho e Geometria Descritiva no 2º grau do Colégio
Israelita Brasileiro e trabalhou como professor de Matemática no
Educandário Nossa Senhora do Carmo e no Curso Pré-Vestibular do
Instituto Pré-99. E, até 28 de maio de 1971 – quando foi preso pelo
DOPS –, Carrion lecionou Desenho Geométrico e Geometria Descritiva
no Instituto Pré-Vestibular (IPV).
Prisão, torturas, exílio
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Em conseqüência de sua
luta, Raul foi preso
em 1971 e barbaramente torturado. Acima,
a ficha de identificação no DOPS. |
No dia 28 de maio de 1971, à noite, ao chegar à residência de João
Flores da Silva, onde eram datilografados os jornais “A CLASSE
OPERÁRIA” e “O PROLETÁRIO”, Carrion foi preso e imediatamente
conduzido ao DOPS, no Palácio da Polícia. Ali, já encontrou sob
tortura João Flores da Silva e sua esposa Flávia Röessler, além de
diversos membros do Comitê Estadual do PCdoB, entre os quais Bruno
Mendonça Costa, Delfino Lobo, Delfino Reis, Júlio Zancanaro e João
Barbosa.
Acusado de ser o secretário de organização do PCdoB no Rio Grande do
Sul – conhecedor, portanto, dos contatos do Partido em todo o Estado
– e de haver entregue a João Flores “pentes” de balas calibre 45,
encontradas no seu apartamento, Carrion foi submetido durante dez
dias seguidos às mais bárbaras torturas, sob o comando do delegado
Pedro Seelig e de seus sicários, entre os quais Nilo Hervelha e Didi
Pedalada.
No DOPS, foi dependurado de cabeça para baixo, nu e encapuçado, com
as mãos amarradas sobre os joelhos flexionados e com uma barra de
ferro entre as pernas – o chamado “pau-de-arara”. Nessa posição, foi
mantido dependurado horas a fio, causando-lhe dores indescritíveis e
dificuldades de circulação, o que poderiam causar-lhe um grave
comprometimento muscular. Periodicamente, era jogado no chão, de
costas, com barra e tudo, com o objetivo de golpear-lhe a coluna
vertebral, causando-lhe traumatismos irreparáveis.
Dia após dia, foi vitima de choques elétricos de até 400 Volts (mas
de baixa amperagem, para evitar a mortes) nos pés, nas mãos, no
crânio, nos ouvidos, nos órgãos genitais. Uma das formas mais
sádicas de aplicação dos choques elétricos era a chamada
“bicicleta”, quando o supliciado é posto de bruços no chão,
completamente nu, com os braços amarrados nas costas e fios presos
nos dedos dos pés, também voltados para traz. Ao serem aplicadas as
descargas elétricas, o resultado é um movimento convulsivo das
pernas, lembrando o pedalar de uma bicicleta, acompanhado de
terríveis dores.
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O
Pau-de-Arara consistia numa barra de ferro
que era atravessada entre os punhos
amarrados e a dobra do joelho, sendo o
conjunto colocado entre duas mesas, ficando
o corpo do torturado pendurado a cerca de 20
ou 30 centímetros do solo. Este método quase
nunca era utilizado isoladamente, seus
complementos normais eram eletrochoques, a
palmatória e o afogamento. |
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Carrion sofreu por várias vezes violentos espancamentos – com socos,
chutes e porretes –, que ocorriam a qualquer hora do dia ou da
noite. Também foi submetido à “palmatória” – violentos golpes nas
palmas das mãos com pedaços de madeira – e o chamado “telefone” –
golpes simultâneos nos dois ouvidos, tendo como conseqüência o
rompimento dos tímpanos. Enfrentou execuções simuladas com armas de
fogo e sofreu todo tipo de agressões e torturas psicológicas,
buscando destituí-lo de toda dignidade e desestruturá-lo
psiquicamente. Em mais de uma ocasião ficou desacordado e coberto de
hematomas, em conseqüência das torturas. Apesar de tudo isso,
Carrion resistiu à essas bárbaras torturas e não forneceu qualquer
informação que pudesse prejudicar o partido ou os seus camaradas.
Uma das questões que mais preocupava os agentes do DOPS – chefiados
pelo sádico e criminoso delegado Pedro Seelig – era onde estava e
quem era o secretário político do PCdoB no Rio Grande do Sul, do
qual só sabiam o “nome de guerra” – “Nelson”. O problema é que na
véspera de sua prisão, Carrion havia marcado um encontro com
“Nelson” no Parque Farroupilha, na parada de ônibus em frente ao
Instituto de Educação Flores da Cunha. O procedimento de segurança
acertado era o seguinte: Carrion aguardaria na parada, “Nelson”
desceria do ônibus, não o abordaria e continuaria caminhando.
Carrion observaria se tudo estava em ordem e o seguiria, abordando-o
mais adiante, durante a caminhada. O detalhe é que haviam combinado
que se por algum motivo Carrion não estivesse no ponto, “Nelson”
deveria ir até a residência de João Flores, exatamente onde a
polícia estava de campana. Portanto, se nada fosse feito, “Nelson”
seria inevitavelmente preso. Enquanto era torturado, Carrion pensou
no que fazer para impedir que isso acontecesse.
Tomou, então, uma decisão extremamente arriscada: fingir que estava
disposto a colaborar e levá-los até o ponto de encontro marcado.
Como, Carrion não o seguiria, “Nelson” perceberia que havia algo de
errado e, ao dar-se conta disso, não iria até a casa do João Flores.
Assim, no meio da madrugada, Carrion disse aos seus torturadores que
tinha um ponto marcado com “Nelson” e conseguiu convencê-los que
estava disposto a colaborar. Descreveu “Nelson” de forma diferente
da realidade e prometeu indicar-lhes quem era, no momento em que ele
lhe abordasse. Ao tomar essa decisão, Carrion assumiu o maior risco
de toda sua vida, pois se algo desse errado e “Nelson” fosse preso,
ele seria tido como um delator... Mas, aceitou correr esse risco
para preservar o Partido da queda de seu secretário político e
outras eventuais prisões.
Assim, alguns minutos antes da hora marcada, Carrion foi levado até
a referida parada de ônibus do Instituto de Educação – onde
circulava grande número de colegas da UFRGS – e, em seguida, os
agentes do DOPS montaram a campana. Um pouco antes da hora marcada,
passou um estudante que parou para falar com Carrion e após seguiu
caminhando. Os agentes quiseram saber quem era e Carrion informou
que era um conhecido da universidade, pois naquele local havia
muitas pessoas que o conheciam. Mas, que avisaria quando fosse o
“Nelson”.
Pouco depois o “Nelson” desceu do ônibus e – contrariando todas as
normas de segurança acertadas –, ao invés de seguir caminhando, foi
até Carrion e o cumprimentou. Como este lhe respondeu secamente,
“Nelson” seguiu caminhando. Por sorte os agentes não desconfiaram de
nada e como Carrion não o seguiu, “Nelson” percebeu que algo estava
errado e não foi até a casa de João Flores, escapando da prisão.
Mais por sorte do que por juízo, porque se os agentes fossem
inteligentes, teriam detido todos os que falassem com Carrion, para
depois esclarecer quem era cada um. Como ninguém mais apareceu e
passou o horário do ponto, retornaram ao DOPS, onde retornaram as
torturas.
Nessa noite, “caiu a ficha” dos agentes. Carrion que estava
dormindo, depois de mais um dia de torturas, foi acordado a altas
horas da noite por cinco agentes enfurecidos, que gritavam que ele
os tinha enganado e passaram a espancá-lo na própria cama,
deixando-o em tal situação, que depois mal podia caminhar.
A transferência para o centro de torturas da Operação Bandeirante-SP
|
Rua
Tomás Carvalhal, 1030, fundos da 36ª
Delegacia de Polícia, onde funcionava a
OBAN. |
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Como os agentes do DOPS-RS não conseguiram arrancar qualquer
informação de Carrion, ele foi enviado, em 6 de junho – junto com o
psiquiatra Bruno Costa, tesoureiro do Partido – para a Operação
Bandeirantes (OBAN), em São Paulo, o maior centro clandestino de
torturas do país, comandado pelo famigerado Major Brilhante Ustra.
Arrastando-se, coberto de hematomas, com costelas fraturadas, um
tímpano descolado e urinando sangue, Carrion foi carregado algemado,
assim como Bruno Costa, até o Aeroporto Salgado Filho e embarcado em
um avião “DC3”, da FAB. Ironicamente, foi a sua primeira viagem de
avião.
Tão logo chegou à OBAN – apesar de encontrar-se em péssimas
condições de saúde e sem qualquer atenção médica –, foi enviado
diretamente para as câmaras de tortura e submetido novamente ao
“pau-de-arara” e a choques elétricos generalizados. Ambos
permaneceram em torno de 45 dias na OBAN, submetido a
interrogatórios e torturas permanentes. Presos em fins de maio, só
tveram a sua incomunicabilidade quebrada em meados de julho, através
de uma visita vigiada de seu irmão Eduardo Carrion.
O retorno a Porto Alegre e a libertação
Em meados de julho, Carrion e Bruno Costa – que também teve um
comportamento exemplar frente às torturas, da mesma forma que
Delfino Lobo e Delfino Reis – foram “devolvidos” ao DOPS de Porto
Alegre. Nessa ocasião, viajaram na companhia de Fanny Seixas, viúva
de Joaquim de Alencar de Seixas – que acabava de ser assassinado sob
torturas na OBAN – e de seus filhos Ivan, Ieda e Iara. Tomaram
conhecimento, então, que Ivan, um menino de apenas 16 anos, também
havia sido barbaramente torturado na OBAN, junto com seu pai.
Mal chegado a Porto Alegre, Carrion foi conduzido de volta às
torturas, para uma acareação com o estudante Nei De Grandi, preso
sob a acusação de haver buscado um local para esconder “Nelson” da
polícia. Como Nei DeGrandi dizia que quem lhe havia solicitado isso
fora Carrion – algo impossível, pois nesse momento ele já estava
preso – Carrion percebeu que se Nei afirmava isso era para não
delatar quem de fato lhe havia feito essa solicitação. Assim, depois
de negar durante certo tempo essa acusação, aceitou que “talvez
tivesse feito essa solicitação”, aliviando a pressão sobre Nei
DeGrandi.
Posteriormente, Raul e Bruno foram mantidos encarcerados no DOPS por
diversos dias, até que no dia 2 de agosto a 1ª Auditoria Militar da
3ªCJM negou unanimemente prisão preventiva de ambos, por absoluta
falta de provas, e determinou a sua imediata libertação, com a
condição de se apresentarem semanalmente na Auditoria Militar.
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Início do exílio em
Buenos Aires,
1971, após sair da prisão em
Porto Alegre. |
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Vigiado e ameaçado pelos órgãos de repressão; sob o risco de ser
novamente preso a qualquer momento; sem poder contatar qualquer
membro do PCdoB, por razões de segurança óbvias; a única alternativa
que lhe restou para prosseguir a luta foi o exílio. Assim, na
madrugada do dia 6 de agosto, Raul Carrion partiu de carro – com seu
irmão Francisco Carrion Júnior e sua então cunhada Rejane Xavier –
para Santana do Livramento. Como Santana do Livramento faz fronteira
com a cidade uruguaia de Rivera, bastaria atravessar uma rua para
estar no país vizinho. Combinaram que, se fossem parados no caminho,
diriam que estavam indo visitar parentes da Rejane, moradores de São
Gabriel, cidade próxima à Rivera.
Tendo chegado a Rivera sem problemas, Raul solicitou o visto de
entrada em uma delegacia dessa cidade, viajando em seguida, de
ônibus, até Montevidéu. De Montevidéu, seguiu para Buenos Aires e de
lá voou para Santiago do Chile, onde o Presidente Salvador Allende
despertava a admiração dos progressistas de toda América Latina.
No Chile de Salvador Allende
Depois de ter concorrido à Presidência do Chile por três vezes sem
êxito (52, 58, 64), o socialista Salvador Allende concorreu pela
quarta vez por uma ampla frente de centro-esquerda – a Unidade
Popular, formada pelo PS, PC, MAPU (dissidência da DC), API e
Partido Radical e Social-Democrata – e venceu as disputadíssimas
eleições de 4 de setembro de 1970, derrotando o direitista Jorge
Alessandri e o democrata-cristão Radomiro Tomic. Ao obter 36,3% dos
votos, Allende foi o mais votado, mas não obteve a maioria absoluta
dos votos, precisando submeter-se a aprovação do Congresso Pleno, em
sessão a realizar-se no dia 24 de outubro.
A eleição de Salvador Allende foi considerada “inaceitável” pelos
Estados Unidos, que – como comprovam documentos desclassificados dos
EUA e o Informe da Comissão Church, do Senado estadunidense – haviam
despejado milhões de dólares nas campanhas de seus adversários, já
durante o processo eleitoral, inundado o país de fake news (como se
diz hoje) e financiado regiamente a imprensa conservadora, em
especial “El Mercurio”, para que atacasse dia e noite o candidato
socialista.
Logo após a vitória de Allende, Nixon convocou Henri Kissinger – seu
assessor para Assuntos de Segurança Nacional – e Richard Helms,
diretor da CIA, para comunicar-lhes que “um governo allendista era
inaceitável para os Estados Unidos e instruiu a CIA a desempenhar um
papel direto na organização de um golpe de Estado no Chile, para
evitar que Allende assumisse a Presidência.” (Informe Church). De
imediato, foram liberados dez milhões de dólares para isso.
A partir de então, foi tentado de tudo. Desde a compra de votos de
congressistas democrata-cristãos, para que – rompendo com uma longa
tradição republicana – não ratificassem a vitória de Allende e
elegessem o direitista Jorge Alessandri (o segundo mais votado), até
o golpe de Estado. Só estava excluída a invasão direta por marines
“ao estilo República Dominicana”. Fracassada a tentativa de suborno
aos congressistas, ganhou força a alternativa do golpe militar,
envolvendo os generais Roberto Viaux e Camilo Valenzuela, além de
altos escalões da Marinha, Força Aérea e Carabineiros, mas o golpe
esbarrou na postura legalista do General René Schneider,
comandante-em-chefe do Exército chileno.
A CIA decidiu, então, remover esse obstáculo e forneceu armas e
dólares para o assassinato do General Schneider. Depois de duas
tentativas frustradas, o general Schneider foi emboscado por cinco
homens que o metralharam em seu carro oficial. O atentado ocorreu no
dia 22 de outubro, antevéspera da reunião do Congresso Pleno que
ratificaria ou não a vitória de Allende. Gravemente ferido,
Schneider foi levado às pressas para um Hospital Militar, mas não
resistiu aos ferimentos e faleceu em 25 de outubro.
O atentado contra o general Schneider criou uma comoção nacional que
paralisou os generais golpistas e favoreceu a confirmação pelo
Parlamento da vitória de Salvador Allende, que lhe deu 153 votos,
contra 35 votos para Alessandri e 7 abstenções. Finalmente, no dia 3
de novembro, Salvador Allende assumiu a Presidência do Chile. Desde
então as elites dominantes do Chile e dos Estados Unidos não lhe
deram um só minuto de trégua, tudo fazendo para desestabilizar o seu
governo, até derrubá-lo e assassiná-lo através do golpe fascista de
Pinochet!
O exílio e a retomada da luta no Chile
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Cursando Química na
UCC, 1971. |
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Foi nesse contexto de acirrada luta de classes que Raul Carrion
chegou ao Chile em agosto de 1971. De imediato, contatou Paulo
Renato de Souza – ex-colega do Colégio Anchieta e concunhado de seu
irmão Carrion Júnior –, que lá se encontrava trabalhando na CLACSO e
que lhe abrigou em sua residência, enquanto Carrion regularizava a
sua situação no país.
Para isso, Carrion procurou o Professor Ernani Maria Fiori –
Professor expurgado da UFRGS, que lecionava na Universidade Católica
do Chile – que lhe conseguiu uma matrícula no curso de Química da
Universidad Católica de Chile. Matriculado na UCC, Carrion passou a
frequentar o curso e obteve um visto de permanência provisória para
fins de estudo.
Nesse momento, cerca de cinco mil brasileiros viviam exilados no
Chile, convivendo com exilados de todo o continente. Com a ajuda de
Paulo Renato de Souza, Carrion retomou o contato com o PCdoB,
através do ex-dirigente nacional Amarílio Vasconcelos, um dos
participantes na Conferência da Mantiqueira que reorganizou o
Partido em 1943. Ele e sua mulher Raquel haviam trabalhado durante
alguns anos na Rádio Pequim, fazendo suas transmissões em português
para o Brasil. Depois de relatar-lhe detalhes sobre as prisões que
haviam atingido a direção do partido no Rio Grande do Sul, Carrion
informou de sua intenção de retornar ao Brasil logo que possível.
Enquanto aguardava o contato com algum dirigente partidário, vindo
do Brasil, constatando que não havia trabalho organizado do PCdoB
entre os exilados, Carrion propôs a criação de um organismo
partidário em Santiago que além de organizar a solidariedade à luta
do povo brasileiro contra a ditadura, publicasse em espanhol os
principais documentos partidários e o jornal “A Classe Operária”,
divulgando-os entre os exilados brasileiros e latino-americanos.
Assim, foi constituída uma organização de base do PCdoB em Santiago,
que reunia alguns comunistas exilados, debatia e divulgava os
documentos partidários, planejava as ações de solidariedade ao povo
brasileiro e denunciava dos crimes da ditadura.
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No início de 1972,
Carrion conheceu Elvira Ballester Lafertt – que
tornou-se sua companheira de vida – e sua filha Maria
Victoria, então com sete anos. |
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Através de Elvira e de sua família (que era ligada ao PC do Chile),
Carrion teve contato com os principais dirigentes do PC do Chile –
Luis Corvalán, Volodia Teitelboim, Mireya Baltra e outros –, o que
muito ajudou o trabalho de solidariedade internacional à luta do
povo brasileiro.
Chamado pela mãe de Elvira de “Rúcio” (que em castelhano significa
“Ruivo”), Carrion adotou esse apelido como seu “codinome” no Chile.
É desnecessário dizer que a ditadura militar brasileira além de
transformar a embaixada em um centro de espionagem, buscava
infiltrar os seus agentes entre os exilados, fazendo com que a
adoção de um “nome de guerra” fosse recomendável. Carrion passou,
então, a participar de reuniões e atividades dos exilados e a
acompanhar as lutas e mobilizações do povo chileno.
Amplia-se a solidariedade à luta do
povo brasileiro contra a ditadura
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Diógenes Arruda |
Dynéas Aguiar |
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No primeiro semestre de 1972, logo após o início a Guerrilha do
Araguaia, o Comitê Central do PCdoB enviou para o Santiago dois
importantes dirigentes nacionais – Diógenes Arruda e Dynéas Aguiar –
com a tarefa de intensificar a luta no exterior contra o regime
militar. Com a sua chegada ao Chile, foi decidido que Carrion
permaneceria no Chile, para colaborar com o trabalho de
solidariedade internacional, adiando o seu retorno ao Brasil. Foram
organizadas, então, diversas atividades de denúncia da ditadura,
algumas de grande repercussão. Para proporcionar uma maior amplitude
ao trabalho, passou a ser publicado o jornal “La Lucha Popular”.
Em fins de 1972, por determinação partidária, Carrion viajou até a
Albânia, representando a juventude do PCdoB em um Congresso
Internacional de Juventudes Revolucionárias. Como não possuía
passaporte brasileiro, teve que solicitar um documento de viagem
chileno para refugiados. Como, por razões óbvias, o vôo não poderia
passar pelo Brasil, fez um vôo pela costa do Pacífico, cuja última
parada foi na Venezuela. De lá, o voo fez uma escala em Dakar, de
onde seguiu para Paris. De Paris, Carrion, depois de encontrar-se
com Diógenes Arruda, tomou um vôo para Tirana, capital da Albânia.
Na Albânia, além de participar do Congresso – onde se pronunciou em
nome da juventude comunista brasileira – Carrion permaneceu cerca de
um mês, conhecendo a sua experiência de construção socialista,
visitando locais históricos, fábricas, cooperativas e universidades,
além de acompanhar um curso de duas semanas sobre o a revolução
albanesa.
Ao visitar a Rádio Tirana, reencontrou um antigo companheiro da Ação
Popular – a quem havia, nos anos 60, ajudado a cruzar a fronteira
com o Uruguai –, que trabalhava com a esposa nas transmissões da
Rádio Tirana, em português, para o Brasil.
No seu retorno, Carrion fez uma nova escala em Paris, onde teve a
oportunidade de se encontrar com o seu irmão Eduardo e sua esposa
Maria Conceição, que ali faziam uma pós-graduação. De volta ao
Chile, Carrion retomou as atividades de solidariedade com a luta do
povo brasileiro e de denúncia da ditadura militar.
A preparação do golpe militar
no Chile
O Chile passava por momentos de suma gravidade. As forças de direita
e os EUA articulavam o golpe de Estado contra Allende. Os documentos
desclassificados comprovam que o temor dos EUA é que o Chile
chegasse ao socialismo através de eleições democráticas...
No primeiro ano do governo Allende, o PIB havia crescido 8,5%, o
desemprego baixara 4% e os trabalhadores haviam aumentado de 51 para
63% a sua parcela na renda nacional. Esses avanços se refletiram nas
eleições municipais de 1971, quando a Unidade Popular obteve 50,2%
dos votos. As eleições seguintes, para o parlamento, ocorreram em 4
março de 1973. Ainda que a Unidade Popular não tenha obtido a
maioria, teve uma nova vitória, conquistando 43% dos votos e
acabando com as esperanças da direita de ter maioria suficiente para
destituir Allende. Um Informe da CIA, de 06.03.1973, dizia: “Estamos
discutindo futuras opções à luz dos decepcionantes resultados
eleitorais, que permitirão a Allende e à UP levar adiante o seu
programa com maior força e entusiasmo.”
Os golpistas decidiram, então, acelerar a preparação do golpe e
desestabilizar a economia chilena. Para isso, suspenderam todo e
qualquer investimento, refrearam a produção; causaram o
desabastecimento de produtos de primeira necessidade, ocultaram
produtos para vendê-los a preços exorbitantes no “mercado negro”,
especularam contra a moeda chilena, bloquearam os empréstimos
externos ao Chile, financiaram greves de caminhoneiros com dólares
da CIA, desataram uma campanha midiática implacável contra o governo
e aliciaram altos oficiais das Forças Armadas para o golpe.
Para enfrentar o desabastecimento, o governo criou as “Juntas de
Abastecimento e Preços” (JAPs) nas vilas e nos bairros, onde as
famílias inscritas tinham direito a uma “cesta” de produtos básicos
a um preço tabelado. Essa iniciativa, de profundo sentido social,
foi apresentada pela imprensa como “mais um passo em direção ao
comunismo”.
Falando sobre essa “guerra econômica” contra o governo Allende, o
ex-agente da CIA Philip Agee afirmou, anos depois: “a CIA, ao
financiar os caminhoneiros, comerciantes e outras associações contra
o regime de Allende, pôde criar a aparência de caos e
desorganização, que sempre atrai os líderes militares de direita, já
que estes sempre advogam por ordem e disciplina. O quadro faria com
que eles interviessem para restaurar a ordem, a paz e a dignidade da
nação.” E o Informe Church revela que “a CIA gastou mais de um
milhão e meio de dólares para apoiar El Mercúrio, o principal jornal
do país e o mais importante canal de propaganda contra Allende.”
No contexto dessa escalada golpista, aconteceu no dia 29 de junho o
“Tancazo” – uma tentativa de golpe a partir do Batalhão Blindado
comandado pelo Coronel Souper, que só foi abortado devido à atitude
firme do comandante-em-chefe do Exército – General Prats –, que
percorreu os quartéis reunindo forças para deter os golpistas. Em 26
de julho, foi assassinado com um tiro o comandante Arturo Araya,
ajudante naval do Presidente. Depois do golpe, se soube que o seu
assassinato foi obra do grupo terrorista de ultra-direita Pátria y
Libertad.
Mas, era preciso afastar o General Prats, o último obstáculo ao
golpe. E isso foi conseguido através da sua renúncia, em 23 de
agosto, depois de fortes pressões. Em seu lugar assumiu o General
Pinochet. Estava aberto o caminho para o golpe, que veio a ocorrer
19 dias depois, sob o comando do próprio Pinochet.
O golpe fascista de Pinochet e o exílio na Argentina
No início de 1973, concluído um ano do seu curso de Química na UCC,
Carrion suspendeu a matrícula, para dedicar-se integralmente ao
trabalho partidário. Para renovar o visto, conseguiu através de
conhecidos uma declaração do Partido Socialista de que trabalhava no
seu jornal. Encaminhados os papéis, foi marcado o dia 11 de setembro
para a retirada do seu novo visto.
O dia 11 de setembro amanheceu com o Palácio La Moneda sendo
bombardeado pela aviação golpista. Poucas horas depois, Salvador
Allende estava morto, o golpe consumado e iniciaram as prisões e os
assassinatos. Em conseqüência, no próprio dia do golpe, Carrion –
que obviamente não foi buscar o seu visto – ficou ilegal no Chile.
Depois de alguns dias aguardando os acontecimentos, na expectativa
de que surgisse alguma resistência ao golpe, os militantes do PCdoB
que estavam em Santiago tomaram a decisão de buscar asilo na
Embaixada Argentina. Isso se fez necessário diante da campanha nas
rádios e TVs conclamando a população a denunciar os “estrangeiros” e
“subversivos” que conhecesse, em um verdadeiro processo de incentivo
à delação coletiva.
Além de Carrion, se encontravam em Santiago Diógenes Arruda, sua
companheira Tereza Costa Rego, Amarílio Vasconcelos e sua esposa
Raquel. Dynéas Aguiar havia viajado recentemente para a Buenos
Aires, com o objetivo de acompanhar o novo quadro que se havia
criado na Argentina com a vitória do peronista Héctor Cámpora, nas
eleições presidenciais de maio de 1973.
Foi acertado que Teresa – cuja vinculação ao PCdoB não era conhecida
– permaneceria em Santiago, no apartamento de Elvira. Assim,
Carrion, Arruda, Amarílio e Raquel asilaram-se na Embaixada
Argentina. Poucos dias depois, o apartamento de Elvira foi invadido
e vasculhado por militares armados. Elvira e Teresa, depois de
interrogadas, foram deixadas em paz. Não é difícil imaginar o que
teria acontecido se Carrion ainda estivesse no apartamento...
Na Embaixada Argentina, estavam refugiados mais de 400 brasileiros,
número que aumentava a cada dia que passava. Lá tiveram que
permanecer durante quase dois meses, em condições precárias,
dormindo no chão e preparando as suas próprias refeições. Héctor
Cámpora, recém eleito, negou-se a conceder-lhes o asilo solicitado e
só permitiu a sua entrada na Argentina depois que o Alto
Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) garantiu que
lhes conseguiria asilo em outros países.
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O irmão Francisco,
Rejane e as irmãs Otília e Vera viajaram até Empedrado
para encontrar com Raul. |
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Após esse acerto, os asilados foram levados, para Empedrado, na
Província de Corrientes, onde ficaram alojados em um hotel. Só em
fins de dezembro – quando Perón já assumira a Presidência – os
refugiados puderam ir para Buenos Aires, sendo alojados em um prédio
público desocupado, na Calle Combate de los Pozos. Perón, porém,
manteve a decisão de não conceder asilo aos refugiados brasileiros.
Só então, Carrion pôde reencontrar Elvira e Maria Victória, que
haviam permanecido em Santiago e viajaram para Buenos Aires. Depois
de demorados trâmites junto ao ACNUR, quando estava tudo acertado
para que Carrion, Elvira e Maria Victória viajassem para a França –
que lhes havia concedido asilo político e bolsas de estudos –,
Carrion comunicou ao Partido a decisão sua e de Elvira de
permanecerem na Argentina, para mais facilmente retornar ao Brasil e
prosseguir a luta contra a ditadura. Levando à prática essa decisão,
Carrion desligou-se do ACNUR, saiu do alojamento disponibilizado
pelo governo argentino e mudou-se com Elvira e Maria Victória para a
casa de amigos da esquerda argentina que os acolheram.
Durante os meses em que ficaram aguardavam os trâmites do ACNUR,
Carrion, Diógenes Arruda, Dynéas Aguiar, Amarílio, Raquel, Carlos e
Loreta Valadares e outros militantes do PCdoB que estavam em Buenos
Aires organizaram uma base do PCdoB que entre outras atividades
realizou um curso de marxismo, ministrado por Diógenes Arruda.
Apesar de ter ficado em situação irregular na Argentina, Carrion
conseguiu – por meio de companheiros da esquerda argentina – um
trabalho na Livraria Hernandez, na Calle Corrientes. Para dar
cobertura à sua permanência no país, viajou até Colônia de
Sacramento, no Uruguai, retornando com um visto de turista (que não
lhe autorizava trabalhar), válido por três meses e renovável por
outros três meses. A partir de então, precisou viajar a cada seis
meses ao Uruguai ou ao Paraguai, retornando como turista e renovando
o seu visto três meses depois.
Também por indicação de conhecidos argentinos, Elvira conseguiu um
trabalho de tradução de textos técnicos russos, recebendo por
tarefa. Alguns meses depois, obteve emprego em uma indústria
química, com o que pôde receber um visto provisório para fins de
trabalho. Com ambos trabalhando, foi possível alugarem um pequeno
apartamento para morar e matricularem Maria Victoria em uma escola
pública.
Depois que Arruda, Teresa, Amarílio e Raquel viajaram para a Europa,
os que ficaram na Argentina – entre ele Dynéas Aguiar – mantiveram a
base partidária funcionando e passaram a fazer o trabalho de
denúncia dos crimes da ditadura e de divulgação da luta do povo
brasileiro, formando o “Comité de Solidaridad con la Lucha de los
Pueblos Latino Americanos” e publicando o “Noticiero Brasilero”.
Visando criar melhores condições para o seu retorno ao Brasil,
Carrion matriculou-se em um curso de eletrônica nas “Escuelas
Técnicas Industriales – IADES”, formando-se técnico eletrônico no
início de 1976. Elvira realizou um curso de português, incluindo
dicção. A partir de sua formatura como técnico eletrônico, Carrion
saiu da Livraria Hernandez e abriu uma pequena oficina de consertos,
para ganhar experiência prática e preparar o seu retorno ao Brasil.
A crise argentina e o golpe de Videla
A Argentina vivia – como toda a América Latina – um período de
grande instabilidade política. Para compreendê-la, é preciso voltar
um pouco no tempo. Depois dos dois governos de Juan Domingo Perón
(1946-51 e 1952-55), a Argentina havia vivido uma sucessão de
governos militares, com pequenos intervalos civis. Com a deposição
de Perón em 1955, assumiu o poder o general Aramburu, que governou
até 1958, A ele lhe seguiu o governo civil de Arturo Frondizi
(1958-62), derrubado por outro golpe militar. O presidente
provisório, José Maria Guido, (1963-63) teve como sucessor Arturo
Illia (1963-66). Em 1966, os militares argentinos deram um novo
golpe, colocando no poder o general Ongania (1963-70). Este
dispensou qualquer Constituição e governou como ditador, com base no
Estatuto de la Revolución Argentina. Durante o seu governo, surgiram
diversas organizações que optaram pela luta armada contra o regime –
como o Ejército Revolucionário del Pueblo (ligado ao PRT) e Los
Montoneros. Deposto em 1970, Ongania foi substituído pelo general
Levingston, deposto em 1971 pelo general Lanusse, que convocou
eleições para 11 de maio de 1973.
Estando Perón proibido de concorrer e exilado na Espanha, os
peronistas formaram uma chapa com Héctor Cámpora, presidente, e
Solano Lima, Vice. Sob o lema “Cámpora ao governo, Perón ao poder”,
essa chapa venceu com 49,6% dos votos.
A primeira medida de Cámpora foi a anistia e o indulto, tanto para
Perón como para os chefes das organizações armadas que lutavam
contra o regime. Assim, em 20 de junho, após 18 anos de ausência,
Perón retornou à Argentina e calcula-se que três milhões de
argentinos o aguardaram ao longo do percurso entre o aeroporto de
Ezeiza e Buenos Aires. Um conflito, inclusive armado – entre
militantes Montoneros e militantes da burocracia sindical peronista,
que aguardavam Perón no aeroporto –, deixou 13 mortos e 380 feridos,
forçando Perón a descer em outro aeroporto.
Poucos dias depois, Cámpora convocou novas eleições para 21 de
setembro, já com Perón anistiado, podendo participar delas. Nessas
eleições, Perón concorreu tendo como vice sua esposa Maria Estela de
Perón (“Isabelita”). Sua vitória foi avassaladora, com 62% dos
votos, e Perón assumiu a presidência no dia 14 de outubro de 1973.
Em revide à morte de seus militantes no confronto ocorrido em
Ezeiza, quando chegou Perón, os Montoneros assassinaram no dia 25 de
setembro o secretário-geral da CGT, José Ignácio Rucci. A partir de
então, explodiu um confronto aberto e “à morte” entre a ala sindical
do peronismo e os Montoneros, causando vítimas de ambos os lados.
Em 1º de julho de 1973, Juan Domingo Perón faleceu e assumiu em seu
lugar Maria Estela de Perón, que pouco depois aliou-se a José Lopez
Rega (“el Brujo”), da burocracia sindical peronista, o qual criou a
“Triple A” (Alianza Anticomunista Argentina) para o extermínio
físico dos Montoneros e dos militantes do ERP, mas que logo colocou
toda a esquerda como alvo.
Durante o ano de 1975, em torno de 700 pessoas, a maioria de
esquerda, foram vítimas de crimes políticos. Seqüestradas em suas
casas ou nas ruas, os seus cadáveres apareciam crivados de balas ou
parcialmente queimados, com marcas de torturas.
Em certa ocasião, Carrion teve um encontro com dois jovens de uma
organização de esquerda argentina. Dois dias depois, tomou
conhecimento pelos jornais que ambos haviam sido assassinados pela
“Triple A” e seus corpos explodidos por bombas, junto com outras
vítimas.
Em 24 de março de 1976, o general Videla, o almirante Massera e o
brigadeiro Agosti deram um novo golpe militar e destituíram o
desgastado governo de Isabelita Perón, instaurando uma ditadura
terrorista, com o objetivo declarado de “destruição das organizações
subversivas mediante a eliminação física de seus membros”,
assassinando mais de 30 mil opositores. Durante essa ditadura
fascista, os “voos da morte”, torturas seguidas de assassinato,
vítimas queimadas vivas, bebês recém nascidos entregues a militares
sem filhos, foram algumas das atrocidades realizadas contra o povo
argentino.
Em 1981, Videla foi substituído pelo general Viola. Nesse mesmo ano,
uma junta militar o destituiu e colocou o General Galtieri
(1981-82). Este provocou a Guerra das Malvinas e, depois de
derrotado pelos ingleses, foi substituído pelo general Bignone.
Diante do profundo desgaste dos militares – Bignone decidiu entregar
o governo aos civis e convocou eleições para 1983, as quais foram
vencidas pelo “radical” Raúl Alfonsin (1983-87), retomando o ciclo
civil.
O retorno clandestino de Carrion
ao Brasil
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Com a irmã Vera,
Buenos Aires, 1976. |
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A instalação da ditadura terrorista de Videla, em março de 1976,
tornou inviável a permanência de Carrion na Argentina, inclusive
pela situação irregular em que se encontrava. Em junho de 1976,
depois de conversar com Elvira – Carrion comunicou a Dynéas Aguiar a
sua decisão de retornar ao Brasil. Da mesma forma, informou aos seus
pais e à sua irmã Otilia Beatriz – que viajaram a Buenos Aires –
dessa decisão. Por razões de segurança, foi acertado que Elvira e
Maria Victória permaneceriam em Buenos Aires, até haverem condições
para irem para o Brasil.
No Brasil, a situação era extremamente difícil, pois a Guerrilha do
Araguaia fora derrotada no início de 1975 e – após o aniquilamento
de todas as organizações foquistas – o PCdoB estava sob ataque
concentrado da repressão.
Antes de retornar ao Brasil, Carrion acertou com Elvira um esquema
indireto de comunicação por carta e com Dynéas Aguiar um sistema de
“pontos” com a direção do PCdoB na cidade de Santos/SP. Decidiu,
então, entrar no Brasil pela cidade de Libres, fronteira com
Uruguaiana no Brasil.
Como, nessa época, em qualquer viagem de ônibus era exigida a
apresentação de um documento de identificação – e os únicos
documentos que Carrion possuía eram os originais e tudo indicava que
o seu nome constava como “procurado” –, ele optou por fazer o
trajeto entre Uruguaiana e Santos por trem, onde não havia essa
exigência.
Assim, depois de atravessar a fronteira Libres-Uruguaiana, iniciou
uma longa viagem de trem até Santos, com escala às noites em Santa
Maria/RS, Marcelino Ramos/RS, Porto União/SC, Ponta Grossa/PR, e
Ourinhos/SP. Depois de gastar cinco dias de viagem até Ourinhos,
Carrion resolveu arriscar e seguiu de ônibus até Santos. Felizmente,
tudo correu bem e ele chegou a Santos sem problemas.
Ali, alugou um quarto, em uma pensão, para morar e no dia e horário
marcados foi ao “ponto” previamente acertado com Dynéas Aguiar.
Nele, para sua surpresa, encontrou o mesmo ex-companheiro de AP que
havia reencontrado na Radio Tirana, quando de sua viagem á Albânia.
Uma vez estabelecido o contato com o PCdoB no Brasil, Carrion teve
diversas conversas em São Paulo com membros do Comitê Central –
entre eles Sérgio Miranda, Haroldo Lima e Pedro Pomar. Durante os
meses que permaneceu em São Paulo, providenciando uma documentação
falsa e aguardando a definição para onde ir, Carrion trabalhou como
técnico eletrônico em Santos e em Campinas.
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A CTPS em nome de
Silvio Augusto Ferreira. |
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Nesse período, Carrion viajou para o Rio de Janeiro e Curitiba, com
o objetivo de conseguir uma documentação em outro nome. Em uma de
suas viagens à Curitiba – onde foi buscar uma certidão de nascimento
para tramitar a sua nova identidade – marcou um encontro sua irmã
Otília Beatriz, com quem havia combinado um local fixo de encontro e
uma maneira de marcar, por carta, de forma cifrada, a data e o
horário do encontro. Essa combinação foi essencial para, após a
queda da Lapa, retomar o contato com a família e com o PCdoB.
Em outubro de 1976, por definição do Comitê Central, Carrion
mudou-se para Goiânia, onde passou a residir, e fez “legalmente” uma
nova documentação, em nome do “paranaense” Sílvio Augusto Ferreira.
Poucos dias depois, conseguiu emprego em uma empresa de consertos de
equipamentos eletrônicos.
Em novembro, na data previamente marcada para o “ponto” com o
Partido em Goiânia, Carrion encontrou-se com João Batista Drummond –
a quem não conhecia nem sabia o nome –, membro do Comitê Central e
principal dirigente do PCdoB em Goiás. Depois de conversarem, foi
marcado um novo “ponto”, dentro de 30 dias, a ser repetido
mensalmente se por algum motivo um dos dois faltasse.
A Queda da Lapa e a perda de contato com o Partido
No mês de dezembro, na data marcada, somente Carrion compareceu ao
“ponto”. Alguns dias depois, tomou conhecimento – através do jornal
alternativo Movimento – da “Chacina da Lapa” e do assassinato de
três dirigentes nacionais do PCdoB: Pedro Pomar, Ângelo Arroyo e
João Baptista Franco Drummond. Pelas fotos, constatou que Drummond
era o dirigente com quem havia mantido contato em Goiás e que –
graças ao seu comportamento revolucionário frente às torturas, o
“ponto” marcado com ele não havia sido denunciado.
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A Chacina da Lapa, que em
1976, vitimou, entre outros, João Batista Drummond.
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Sem qualquer outro contato em Goiás ou com o Comitê Central, Carrion
ficou completamente isolado do Partido. Buscou, então, retomar o
contato com o PCdoB através de Elvira – que permanecia na Argentina
e tinha contato direto com Dynéas Aguiar –, através do sistema
indireto de correspondência acertado.
Em fevereiro de 1977, Elvira viajou com Maria Victória para Porto
Alegre, onde permaneceu por alguns dias e teve contato com a família
de Carrion. Em julho de 1977, Carrion viajou até Curitiba para
encontrar-se com Elvira – que veio diretamente de Buenos Aires –,
com sua mãe e sua irmã Otília. Após esse encontro em Curitiba – que
serviu para restabelecer os contatos com a família e, de forma
indireta, com o partido – Carrion viajou com Elvira para o Rio de
Janeiro, onde passaram alguns dias juntos. Depois, foram até São
Paulo, de onde Elvira seguiu para Buenos Aires e Carrion regressou a
Goiânia.
Em Goiânia, Carrion filiou-se ao sindicato dos metalúrgicos, ao
mesmo tempo que procurou aglutinar os técnicos eletrônicos,
organizando a Associação dos Técnicos em Eletrônica (ASTEC), a qual,
além de defender as reivindicações específicas dos técnicos
eletrônicos, realizava cursos e editava um Boletim.
Admirador, desde muito tempo da arte-luta-dança da capoeira, Carrion
aproveitou a sua estada em Goiânia para praticar capoeira na
Academia de Capoeira Regional Mestre Osvaldo de Souza – discípulo de
Mestre Bimba –, obtendo a graduação do Lenço Azul, em dezembro de
1977.
Através da empresa onde trabalhava, Carrion participou de um curso
da Philco e pouco depois foi convidado a assumir a direção técnica
da empresa. Para isso precisava, porém, comprovar o segundo grau
completo. Como não possuía qualquer documentação referente a
estudos, resolveu realizar o exame de madureza de 2º grau, fazendo
todas as matérias de uma só vez. Obteve a aprovação em todas as
disciplinas e recebeu o certificado de conclusão do 2º grau.
Poucos dias depois, quando se encontrava no trabalho. Carrion foi
informado pelo seu patrão que a Polícia Federal estava na empresa,
para entregar-lhe uma intimação. O primeiro que lhe passou pela
cabeça é que havia sido descoberto. Mas, depois, pensou melhor e
concluiu que nesse caso não teria sido intimado e sim preso sem
maiores explicações. Decidiu, então, receber a intimação – que não
esclarecia os motivos – e comparecer à Polícia Federal.
Como precaução, procurou lideranças do MDB em Goiás e explicou que
quando morava no Paraná havia-se envolvido em movimentos contra a
ditadura e temia que sua convocação pela PF tivesse algo a ver com
isso. Solicitou, então, que um advogado lhe acompanhasse no
depoimento à PF. Lá chegando, tomou conhecimento que havia ocorrido
uma fraude nos referidos exames e – como havia passado em todas as
provas de uma só vez – existia a suspeita de que tivesse participado
dessa fraude. Esclarecido a razão da intimação, Carrion conseguiu
provar a sua inocência, inclusive apresentando os cálculos e os
rascunhos que havia feito durante as provas. Assim, foi inocentado,
graças ao seu sangue frio.
Viagem à Buenos Aires para retomar o contato com o Partido
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Com Elvira e a irmã
Vera em Buenos Aires, 1978. |
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Em fins de 1977, Carrion recebeu carta cifrada de Elvira,
solicitando a sua ida até Buenos Aires para encontrar o “Careca” –
codinome pelo qual Dynéas Aguiar era conhecido. Pediu demissão do
emprego – alegando a necessidade de retornar ao Paraná para resolver
problemas familiares – e viajou para a Argentina, com sua nova
documentação, por terra, no início de 1978.
Em Buenos Aires, além de reencontrar Elvira e Maria Victória,
reuniu-se com Dynéas Aguiar e Sérgio Miranda que lhe informaram a
preparação da 7ª Conferência e trataram de como retomar o contato do
Comitê Central com o Partido no Rio Grande do Sul. Ficou acertado
que Carrion viajaria a Porto Alegre, para estabelecer um sistema de
“pontos” mensais, para a retomada do contato do CC com o PCdoB no
Rio Grande do Sul. Também foi acertada um sistema de “pontos”
mensais em Goiânia, para o Partido poder contatá-lo no Brasil.
Carrion viajou, então, para Porto Alegre onde contatou a direção
estadual do PCdoB através de José Freitas e estabeleceu a
sistemática de “pontos” acertada com Dynéas. Tomando todas as
precauções possíveis, aproveitou para rever os seus familiares em
Porto Alegre. Após, retornou a Goiânia, voltando a trabalhar na
empresa onde havia pedido demissão.
Era o início de 1978. Desde então, Carrion cobriu religiosamente o
ponto mensal combinado com Dynéas. Passou todo o ano de 1978 e “nem
sinal de vida”. No início de 1979, Carrion e Elvira decidiram que
era chegado o momento de retomarem a vida familiar e acertaram a sua
vinda e de Maria Victoria para Goiânia. Elvira pediu as contas no
emprego, entregou o apartamento, se desfez de todas suas coisas e
viajou com Maria Victória para São Paulo, em janeiro de 1979, onde
Carrion as encontrou. Depois de alguns dias juntos em Santos e em
São Paulo, seguiram para Goiânia – onde Carrion havia alugado uma
pequena casa – e retomaram a vida em comum, matriculando Maria
Victoria em uma escola pública.
Em julho de 1979, para obter um novo visto de turistas e
regularizarem a sua situação no Brasil, Elvira e Maria Victoria
tiveram que viajar até a Argentina, de lá retornando ao Brasil como
turistas.
Em setembro de 1979, já com a Anistia aprovada e sem qualquer
contato com o Partido há mais de um ano e meio Carrion e Elvira
decidiram retornar ao Rio Grande do Sul. Com os devidos cuidados,
Carrion acertou com a família a sua volta a Porto Alegre.
Em outubro de 1979, já com tudo acertado para a viagem, Dynéas
Aguiar apareceu no ponto combinado, “de mala em punho”,
transgredindo as mais elementares normas de segurança. Diante da
proposta de Dynéas de permanecer em Goiás, Carrion ponderou que não
tinha militância política em Goiás nem era pessoa conhecida e que o
sindicato a que pertencia era inoperante; portanto, o mais lógico
era retornar a Porto Alegre, onde tinha raízes e era conhecido. Além
do mais, o seu retorno já estava encaminhado e já não havia como dar
volta atrás.
O retorno a Porto Alegre e a militância na categoria metalúrgica
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De volta a Porto Alegre, Carrion logo conseguiu emprego na
ELETRÔNICA OWADA e filiou-se ao Sindicato dos Metalúrgicos de Porto
Alegre, onde o PCdoB tinha uma forte atuação, tendo como principal
liderança José Ouriques de Freitas, antigo companheiro de AP.
Carrion teve, então, que optar entre duas alternativas: permanecer
trabalhando na categoria metalúrgica e contribuir na construção do
PCdoB entre os metalúrgicos e a classe operária; ou retomar os
estudos e envolver-se na luta política institucional. Diante da
opinião de Dyneas Aguiar de que devia continuar atuando no movimento
operário, Carrion não retomou os estudos e continuou trabalhando
como técnico eletrônico na categoria metalúrgica.
Depois de algum tempo na ELETRÔNICA OWADA, Carrion passou a
trabalhar na CGR-CBR – multinacional francesa da área de
eletro-medicina – que mantinha uma pequena filial em Porto Alegre,
para instalar e dar manutenção aos Tomógrafos Computadorizados e
aparelhos de Raios X e Ultrassom por ela vendidos.
Em dezembro de 1981, tendo em vista as próximas eleições para o
sindicato, Carrion pediu demissão na CGR e passou a trabalhar (com
um salário menor) na MULTIDIGIT – empresa de porte médio, localizada
no Distrito Industrial de Gravatai, junto à DIGICON. Na MULTIDIGIT,
Carrion implantou a linha de produção do primeiro disco rígido
(Winchester) fabricado no Brasil e coordenou a sua produção. Logo
que pôde, organizou a Associação dos Funcionários da DIGICON e da
MULTIDIGIT e criou “O Olhão”, órgão de divulgação da AFDM. Em pouco
mais que três meses, 90% dos funcionários das duas empresas já
faziam parte da Associação, que realizava atividades sociais,
esportivas e culturais, fortalecendo a união e a integração entre os
funcionários. Da mesma forma, incentivou a sindicalização nessas
empresas.
Nas eleições de 1982 para o sindicato dos metalúrgicos, foi
candidato a Tesoureiro na chapa de oposição, que tinha como
candidato a presidente José Freitas (PCdoB) e como Secretário Geral
Jairo Carneiro (PT). Em um pleito extremamente acirrado, a chapa de
situação venceu no segundo turno, por uma diferença de apenas 180
votos, em uma categoria com mais de 50 mil trabalhadores.
Passadas as eleições, Carrion voltou a trabalhar na CGR-CBR,
retomando as suas antigas funções. Ali permaneceu até maio de 1984,
quando as atividades dessa empresa foram encerradas no Rio Grande do
Sul. Por decisão partidária, ficou em tempo integral ajudando no
trabalho da direção estadual.
Em 1985, Carrion passou a trabalhar na empresa NARCOSUL, no Bairro
Anchieta, que produzia equipamentos de eletro-medicina –, assumindo
a coordenação da produção na área eletrônica. Em pouco tempo, a
maioria dos trabalhadores foi sindicalizada e a NARCOSUL se tornou
uma das empresas mais mobilizadas da categoria. Nas eleições para a
Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), Carrion foi o
mais votado, tornando-se o seu Vice-Presidente (o Presidente é
sempre indicado pela empresa).
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Na chapa de
oposição ao Sindicato dos Metalúrgicos de POA em 1985. |
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Nas eleições de 1985 para o Sindicato, Carrion voltou a ser o
candidato à Tesoureiro na chapa de oposição liderada por José
Freitas. Infelizmente a oposição dividiu-se e a chapa de situação
foi vitoriosa.
Na greve de 1986 – em que metalúrgicos de Porto Alegre foram a
primeira categoria operária do Rio Grande do Sul a conquistar a
redução da jornada de trabalho – Carrion participou da Comissão de
Salários (pela quarta vez) e do Comitê de Greve. Nessa ocasião, a
NARCOSUL paralisou completamente, sem necessidade sequer de um
piquete e ainda foi essencial para a paralisação das demais
metalúrgicas do Bairro Anchieta.
Encerrada a greve com uma vitória parcial, a direção da NARCOSUL
passou a perseguir Carrion, situação que se acirrou ainda mais
quando a empresa foi acionada na Justiça pelo sindicato para pagar
os adicionais de insalubridade e periculosidade. Não podendo
simplesmente demiti-lo – devido à sua estabilidade como membro da
CIPA –, primeiro contrataram um ex-policial militar para vigiá-lo
ostensivamente. Após, o afastaram da produção e colocaram “de
castigo” na área administrativa, com a tarefa de elaborar a “ficha
técnica” dos equipamentos produzidos.
Por fim, em janeiro de 1987, lhe aplicaram uma “justa causa”
infundada e o afastaram da empresa. Todas as medidas legais foram
infrutíferas para conseguir o seu retorno.
Quando chegou a nova eleição da CIPA, Carrion obteve uma liminar
para retornar à empresa e poder concorrer, sendo novamente o mais
votado entre os trabalhadores, em eleição acompanhada pela
Superintendência Regional do Trabalho. A empresa, porém, registrou
como nulos os votos recebidos por ele e o afastou definitivamente.
Só dez anos depois a justiça do trabalho lhe deu ganho de causa e
declarou nula a referida “justa causa”. Perseguido e “marcado” pela
classe patronal, Carrion não conseguiu mais emprego na categoria
metalúrgica.
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Com Lula e Olívio
Dutra no Sindicato dos Metalúrgicos de POA em 1986. |
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Durante os anos 80, o PCdoB desenvolveu um forte trabalho entre os
metalúrgicos da Grande Porto Alegre e José Freitas, Raul Carrion e
João Carlos Moraes, entre outros, foram importantes lideranças da
Oposição Sindical, sendo inúmeras vezes eleitos para suas Comissões
de Salários – que negociavam o Dissídio junto com a Diretoria do
Sindicato –, Comitês de Greve, delegações a congressos sindicais,
etc.
Nesse período, Carrion participou ativamente das lutas e das
eleições sindicais de diferentes categorias – metalúrgicos de
Canoas, Caxias, Charqueadas e São Leopoldo; petroleiros e
petroquímicos; comerciários, municipários, vigilantes, bancários e
rodoviários de Porto Alegre, comerciários de Caxias do Sul e Ijuí;
trabalhadores do gás e combustíveis do RS; etc. Foi delegado a
inúmeros encontros estaduais e nacionais de trabalhadores (ENCLATs,
CONCLATs) e esteve presente nos congressos de fundação da Central
Geral de Trabalhadores e da Corrente Sindical Classista.
A construção partidária e a luta política e institucional
Na Conferência Estadual do PCdoB do RS, realizada na
clandestinidade, em 1981, Carrion foi eleito presidente do PCdoB de
Porto Alegre e membro do Comitê Estadual e do seu secretariado –
formado ainda por Edson Silva, José Freitas Deo Gomes e João
Pozenato.
Nos anos que se seguiram, teve ativa participação na Campanha das
“DIRETAS JÁ”, na luta pela legalização do PCdoB – sendo um dos
signatários do seu registro – e pela convocação da Assembleia
Nacional Constituinte.
Em 1986, nas primeiras eleições pós-ditadura para o Congresso
Nacional, Assembleia Legislativa e Governo Estadual, Carrion foi
lançado candidato do PCdoB ao Senado. Mas, como o seu suplente José
Loguércio ainda não havia completado 35 anos, a chapa não foi
aceita.
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Com Jussara Cony na
ocupação do Parque dos Maias, em 1987. |
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Em 1987, afastado da categoria metalúrgica por uma falsa “justa
causa”, Carrion foi indicado Chefe de Gabinete da então vereadora
Jussara Cony, que nessa ocasião assumiu a bancada do PCdoB na Câmara
Municipal. Junto com Jussara, Carrion participou ativamente das
lutas por moradia em dezenas de “ocupações” de toda a Região
Metropolitana de Porto Alegre, quando milhares de trabalhadores “sem
teto” ocuparam os imóveis dos conjuntos residenciais inacabados e
abandonados do BNH – na Cohab Rubem Berta, Jardim Leopoldina, Parque
dos Maias, Guapuruvu, Humaitá, Guajuviras, Umbu e tantos outros.
Em 1988, Carrion foi candidato do PCdoB à Prefeitura de Porto Alegre
– tendo como vice José Loguércio – disputando com Antônio Britto
(PMDB), Carlos Araújo (PDT), Guilherme Villela (PDS, PFL, PTB),
Olívio Dutra (PT), Fúlvio Petracco (PSB), Sérgio Jockymann (PL) e
Ecléa Guazelli (PSDB). Em uma campanha com forte participação cidadã
e incontáveis debates na sociedade. Raul Carrion – apesar da
absoluta falta de recursos para a campanha – chegou a pontuar 5% da
intenção de votos.
Na prática, Carrion, Fúlvio Petracco e Olívio Dutra faziam uma
“frente comum” contra os candidatos dos partidos conservadores. Na
reta final, o apelo ao “voto útil” e a polarização entre Olívio
Dutra, Carlos Araújo e Antônio Britto fez com que as votações de
Carrion e de Petracco caíssem muito. Com a vitória de Olívio Dutra,
teve início uma série de governos populares que governaram Porto
Alegre por 16 anos.
Em 1989, por decisão partidária, Carrion mudou-se para Canoas,
importante centro operário do Estado, onde assumiu a presidência do
PCdoB e passou a desenvolveu um amplo trabalho partidário e de
massas, em especial junto a metalúrgicos, rodoviários, petroleiros e
trabalhadores do gás. Da mesma forma, Carrion liderou inúmeras lutas
pela moradia nos bairros Mathias Velho, Santo Operário, Guajuviras,
Niterói, Rio Branco, e outros. Junto com Lígia Chiarelli (“Biloca”),
Geovani Machado, Antônio, Ituriel e outros camaradas –, foi
realizado um amplo trabalho de construção do PCdoB em Canoas e em
outros 10 municípios do Vale do Sinos.
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Em Encruzilhada
Natalino, acompanhando Lula na camapanha presidencial de
1989. |
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Ainda em 1989, nas eleições presidenciais, Carrion percorreu o Rio
Grande do Sul na campanha LULA PRESIDENTE, da Frente Brasil Popular,
acompanhando José Paulo Bisol – candidato a Vice-Presidente – e Luís
Inácio LULA da Silva.
Em 1990, Carrion percorreu novamente o Estado – agora como o
candidato do PCdoB à suplente de Senador, na Frente Progressista
Gaúcha, tendo Matheus Schmidt (PDT) como titular – junto com a chapa
ALCEU DE DEUS COLLARES GOVERNADOR, JOÃO GILBERTO LUCAS COELHO
VICE-GOVERNADOR, vencedora dessas eleições. Nessa ocasião, Carrion
representou o PCdoB na Coordenação de Campanha de Alceu Collares e
dirigiu a vitoriosa campanha de Edson Silva à Câmara dos Deputados e
Jussara Cony à Assembleia Legislativa.
A experiência à frente da FUNDASUL
Carrion assumiu, em 1991, a presidência da FUNDASUL, instituição com
mais de 1.000 funcionários, presente em cerca de 60 municípios,
através dos seus Centros Sociais Urbanos. A frente da FUNDASUL –
responsável pela promoção social em todo o Rio Grande do Sul –
Carrion desenvolveu a gestão “Vida e Cidadania”.
Assim que assumiu, Carrion “enxugou” e racionalizou a estrutura da
FUNDASUL. Deixou de preencher 49% dos CCs, valorizando os servidores
concursados. Da mesma forma, solicitou o retorno de 104 servidores
cedidos e direcionou o quadro funcional para suas atividades fim. Na
proposta de Reforma Administrativa encaminhada ao Governador Alceu
Collares, Carrion propôs a extinção de 103 CCs, 12 gerências
regionais, sete núcleos e três assessorias de diretoria.
Para democratizar a ação da FUNDASUL, Carrion estabeleceu que cada
Centro Social Urbano formasse um “Conselho Deliberativo”, com
representação das diversas organizações e entidades sociais
existentes em sua área de abrangência – associações de moradores,
entidades sindicais, clubes de mães, instituições religiosas,
esportivas, culturais, etc. –, com a tarefa de contribuir no
planejamento e na gestão dos CSUs.
Foi elaborado um novo organograma e a prática de ações
compartimentadas por programa – o que levava a múltiplas entradas na
mesma comunidade, com sobreposição de esforços desarticulados – foi
substituída por uma ação unificada em cada comunidade.
A inovadora “Gestão Vida e Cidadania” contou com a participação do
excepcional corpo técnico da FUNDASUL, sob a direção da Socióloga
Eridan Magalhães e da Assistente Social Jane Cruz Prates, ambas do
PCdoB – que em distintos momentos ocuparam a Diretoria Técnica da
FUNDASUL. Muitos outros camaradas cumpriram importante papel nesse
trabalho, entre eles Venina Pureza de Freitas, Diorge Konrad,
Glaucia, Paulo Wunsch, Arthur Bloise.
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Informe da FUNDASUL
na gestão de Carrion. |
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No “Informe FUNDASUL”, de agosto de 1991, Carrion explicitou sua
concepção de trabalho: “Sem descuidar das atividades assistenciais –
emergenciais ou não – mas rompendo com qualquer visão paternalista
ou clientelista, ampliamos nossa ação para o terreno da cidadania e
assim favorecemos a auto-organização popular, a descoberta das
causas da situação em que vive, a consciência de seus direitos e de
que só ele, povo, será capaz de alterar essa realidade. (...)
Queremos romper com a prática de “só dar o peixe” (paternalista) e
mesmo de “ensinar a pescar” (visão tuteladora), avançando para a
proposta de “propiciar ao povo que descubra como, onde e quando
pescar”.
Durante a sua Presidência, foram desenvolvidos importantes projetos,
como “Alimentos para o Povo”, “Vida Centro Humanístico”,
“Universidade do Trabalhador”, “Centro de Apoio à Mulher”,
“Vida-Vacina”, “Defesa do Consumidor”, “Assistência Jurídica
Gratuita”, etc.
No final de novembro, a FUNDASUL realizou o “Fórum Caminhos do
Brasil Popular”, com palestrantes de todo o Brasil para debater um
projeto para o país, em oposição ao projeto neoliberal de Collor de
Melo.
Na “Carta de Porto Alegre”, depois de três dias de debates, foram
aprovados questões que ainda hoje conservam atualidade: 1) “Defesa
Intransigente da Soberania Nacional e da Integridade Nacional”; 2)
“Defesa da Economia e da Produção Nacionais”; 3) “Desprivatização do
Estado”; 4) “Reforma Agrária Anti-latifundiária”; 5) “Profunda
Democratização e Reforma do Estado Brasileiro”; 6) “Avanços nos
Direitos e Conquistas dos Trabalhadores da Cidade e do Campo”; 7)
“Reforma Urbana”; 8) “Defesa do Meio-Ambiente e do Eco-sistema”; 9)
“Ensino Público, Laico e Gratuíto”; 10) “Acesso Universal,
Igualitário e Gratuito à Assistência à Saúde”; 11) “Democratização
dos Meios de Comunicação de Massas”; 12) “Fim de quaisquer
Discriminações”.
Em fins de 1991, tendo em vista a aprovação pela Assembleia
Legislativa de uma “reforma administrativa” que extinguia a FUNDASUL
a partir de 31.12.91, Carrion declinou do convite para participar da
Direção da nova fundação a ser criada e colocou o seu cargo à
disposição, deixando a presidência da instituição no último dia do
ano.
Vereador em Porto Alegre
(1993-1996)
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Em campanha para
vereador nas eleições de 1992 em Porto Alegre. |
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Ainda em 1991, por orientação partidária e depois de quase três anos
de atuação em Canoas, Carrion voltou a residir em Porto Alegre, para
ser candidato pelo PCdoB a vereador em 1992. Nessas eleições, o
PCdoB concorreu em aliança com o PMDB e elegeu Maria do Rosário
vereadora, tendo faltado 125 votos para a eleição de Carrion, que
ficou na 1ª suplência.
Como 1º suplente, Carrion ocupou a vereança em várias ocasiões e
protocolou vários projetos. Em outubro de 1993, promoveu Sessão
Solene em homenagem aos 40 anos da Petrobras e concedeu o Título de
Cidadão de Porto Alegre ao ex-deputado federal Euzébio Rocha Fº –
autor da emenda que em 1953 estabeleceu o Monopólio Estatal do
Petróleo. Da mesma forma, Carrion conseguiu que a “Torre de
Petróleo” – colocada em 1963, pelos estudantes gaúchos, na Praça da
Alfândega – fosse restaurada e reinstalada em um lugar de maior
visibilidade.
No início de 1996, Carrion assumiu de forma definitiva a
titularidade do mandato de vereador – devido ao afastamento do
Brasil de um dos vereadores do PMDB. Em apenas nove meses de mandato
Carrion aprovou 14 projetos, entre eles a proibição do transporte de
trabalhadores em veículos de carga; a moratória aos desempregados do
pagamento das prestações do DEMHAB; obrigatoriedade dos Centros
Comerciais (Shopping Centers) terem um clínico geral e um
ambulatório para atendimentos de urgência; proibição do
auto-abastecimento (self service) nos postos de combustível
(preservando a segurança dos usuários e o emprego dos frentistas);
adoção por particulares de praças e equipamentos de esporte, cultura
e lazer; autorização e regulamentação da doação dos materiais
descartados pela Prefeitura às entidades sociais.
Historicamente vinculado à luta pela moradia e pela Reforma Urbana,
Carrion transformou a CMPA uma trincheira em defesa das comunidades
ameaçadas de despejo, caso do Jardim Leopoldina, Parque dos Mayas,
Fernando Ferrari, Humaitá, Vila Esperança, A. J. Renner, Liberdade,
Cosme Galvão, Juliano Moreira, Beco da Solidão, Wenceslau Fontoura,
Motel dos Coqueiros, Cristal, Restinga. Para que houvesse recursos
para enfrentar esse grave problema, Carrion propôs e aprovou no
Orçamento do Município a obrigatoriedade da aplicação de pelo menos
4% em habitação popular.
Graduação em História pela UFRGS e luta no terreno das ideias
Tendo decidido envolver-se a fundo na “luta de idéias” Carrion
prestou vestibular em 1995 para o curso de História da UFRGS –
classificando-se em 1º lugar – e decidiu não concorrer à reeleição
em 1996. Ao concluir o curso em apenas três anos, Carrion graduou-se
em 1997 com a monografia “O Partido Comunista do Brasil no Rio
Grande do Sul - 1922-1929”, obtendo a nota máxima. Na formatura –
por sugestão de Carrion –, foi escolhido como paraninfo o Economista
João Pedro Stédile, dirigente nacional do MST.
Ainda em 1995, junto com intelectuais marxistas, de diferentes
orientações políticas – como Demétrio Ribeiro, José Fachel, Luiz
Roberto Lopez, Gervásio Neves, Luís Dario Ribeiro, Mário Maestri,
Florence Carboni, Robert Ponge, Marcus Vinicius Antunes –, Carrion
foi um dos fundadores e coordenadores do Centro de Estudos Marxistas
do Rio Grande do Sul (CEM-RS), que durante mais de sete anos travou
a luta de idéias contra o “pensamento único neoliberal”, hegemônico
no Brasil e no mundo, organizando dezenas de debates e publicando
quatro livros coletivos – “Luz e Sombras” (UFRGS), “Fios de
Ariadne”, “Os Trabalhos e os Dias” e “As Portas de Tebas” (os três
pela UPF).
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Seminário
Globalização neoliberalismo e privatizações em 1997 na
UFRGS. |
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Em 1997, Carrion organizou – junto com prestigiados intelectuais,
entre eles Paulo Visentini, Pedro Dutra Fonseca, Luís Dario Ribeiro
e Luiz Miranda – o Centro de Debates Econômicos, Sociais e Políticos
do Rio Grande do Sul (CEDESP-RS). Dele também faziam parte
sindicalistas e representantes de diferentes entidades culturais e
sociais.
Nos anos de 1997, 1998 e 1999, o CEDESP-RS realizou na UFRGS três
grandes Seminários Internacionais – “Globalização, neoliberalismo,
privatizações – quem decide este jogo?”, “Século XXI: Barbárie ou
Solidariedade – Alternativas ao neoliberalismo” e “A Crise do
Capitalismo Globalizado na Virada do Milênio”. Esses três seminários
– que confrontaram o pensamento neoliberal – contaram com mais de
dois mil inscritos e tiveram a participação de destacados
conferencistas do Brasil, Argentina, Chile, México, Cuba, França,
Inglaterra Espanha, Portugal, Bélgica, Índia e China. Essas
conferências foram reunidas em três livros homônimos, publicados
pela Editora da UFRGS, tendo como organizadores Raul Carrion e Paulo
Fagundes Vizentini.
Em 1999, o CEDESP-RS organizou na UFRGS o debate “Globalização e
neoliberalismo”, com o Professor e cientista social James Petras, da
Universidade do Estado de Nova York, ensejando o lançamento de seu
livro “Neoliberalismo - América Latina, Estados Unidos e Europa”.
Os seminários do CEDESP-RS prepararam o terreno para o Fórum Social
Mundial. Foi através desses seminários que Bernard Cassen e Ignácio
Ramonet – do Le Monde Diplomatique – vieram ao Rio Grande do Sul
pela primeira vez e estabeleceram contatos com a Prefeitura de Porto
Alegre e depois com o Governo Olívio Dutra, ponto de partida para a
articulação do 1º FSM.
Carrion não só fez parte do Comitê Local organizador do 1º FSM, como
– quando de sua viagem à Havana, em 2000, para participar do “II
Encontro Mundial de Amizade e Solidariedade com Cuba”, – manteve
contatos com diversos dirigentes cubanos, convidando-os a
participarem no FSM. Nessa ocasião, também foi ao México e manteve
contatos com esse mesmo objetivo na Universidade Autônoma do México.
Nos Fóruns Sociais Mundiais de 2001, 2002 e 2003, realizados em
Porto Alegre, o CEDESP-RS esteve presente através dos seminários
internacionais – “A Resistência à Globalização Neoliberal”, “Guerra,
Terrorismo e Ameaça à Democracia” e “O Novo Brasil no Contexto
Mundial”, respectivamente. Esses seminários contaram com mais de
1.000 inscritos e com a participação de prestigiados conferencistas
do Brasil, Argentina, Chile, Equador, Colômbia, Venezuela, Cuba,
Estados Unidos, Portugal, Bélgica, Egito, Índia e Vietnã.
Em janeiro de 2003, Carrion representou a Câmara Municipal de Porto
Alegre na Mesa de Abertura do III Foro de Autoridades Locais pela
Inclusão Social. Em seu pronunciamento, Carrion disse que “apesar
das afirmações dos ideólogos do capital de que com a vitória do
neoliberalismo a história havia acabado e que ingressaríamos em uma
nova época de paz, democracia e progresso para os povos, nunca como
hoje foram tão grandes os riscos à paz mundial, as restrições à
democracia e aos direitos civis, a estagnação econômica e o
retrocesso social.” E encerrou: “Por tudo isso, a defesa da PAZ, da
DEMOCRACIA, da AUTODETERMINAÇÃO DOS POVOS são nos dias de hoje
bandeiras de toda a humanidade.”
Em 2003 – durante o seu mandato – Carrion cursou na FAPA (Faculdades
Portoalegrenses) o Curso de Especialização em História
Afro-Asiática. O seu trabalho de conclusão – orientado pela Profª.
Analúcia Danilevicz – foi “A Construção do Socialismo na China e as
Reformas Econômicas Pós-Revolução Cultural”, no qual obteve a nota
máxima.
No primeiro semestre de 2004, Carrion organizou no Rio Grande do Sul
o Instituto Maurício Grabois (IMG-RS) e realizou o Seminário
“Avanços e impasses do Novo Brasil”, com a participação de
prestigiados pensadores do Rio Grande do Sul e do Brasil, entre os
quais o Darc Costa (Vice-Presidente do BNDES), Haroldo Lima, Paulo
Visentini e Pedro Fonseca, lotando o Plenarinho da Assembleia
Legislativa do RS.
Servidor concursado do MPE e
vereador de Porto Alegre
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Em campanha para
vereador nas eleições de 2000. |
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Em 1998, Carrion prestou concurso para o Ministério Público
Estadual. Aprovado, assumiu suas funções como servidor do MPE, em
janeiro de 1999. No final desse ano, foi cedido à Assembleia
Legislativa, a pedido da então deputada Jussara Cony, passando a
exercer no parlamento gaúcho a Coordenação da Bancada do PCdoB.
Nas eleições de 2000, Carrion foi candidato do PCdoB a vereador de
Porto Alegre, tendo sido eleito com 8.405 votos, a 8ª maior votação
da cidade. Na ocasião, a coligação PT-PCdoB-PSB-PCB elegeu Tarso
Genro Prefeito de Porto Alegre. Em fevereiro de 2001, Carrion
assumiu por segunda vez a Presidência do PCdoB de Porto Alegre.
Já no primeiro mês do seu mandato, Carrion foi eleito Presidente da
Comissão de Urbanismo, Transporte e Habitação (CUTHAB) e abraçou de
imediato, no que seria sua marca permanente, a defesa das
comunidades ameaçadas ou em situação de despejo – como o Parque dos
Maias, Vitória da Conquista, Ipê Glória, Jardim Marabá, Chácara da
Fumaça, Vila dos Ferroviários, Mariano de Mattos, Vila Maria,
Estrada dos Alpes, Unidão, Vila Athênis, São Judas Tadeu, Travessa
do Banco Central, Rua Malvina e Condomínio Weinstein.
Na CUTHAB, Carrion também teve de atender grande número de
comunidades que enfrentavam problemas de moradia, transporte e
carência de equipamentos públicos – como Vila Cruzeiro, Vila
Farrapos, Jardim das Colinas, Cohab Costa e Silva, Estaleiro Só, Foz
do Arroio Cavalhada, Túnel Verde, Guapuruvu, Condomínio Dom Pedro,
Santa Teresa, Vila dos Comerciários e Projeto Entrada da Cidade,
para citar só as principais.
Em 2001, Carrion participou em Brasília da III CONFERÊNCIA DAS
CIDADES – organizada pela Comissão de Desenvolvimento Urbano e
Interior da Câmara dos Deputados –, tendo sido Relator do Grupo
“Estatuto da Cidade e a gestão democrática”.
Outra importante ação de Carrion foi sua luta contra à lei que
autorizava a abertura indiscriminada do comércio aos domingos,
impondo à família comerciária uma situação de verdadeira escravidão.
Após a mobilização para que o Prefeito Tarso Genro a vetasse,
Carrion aprovou na CUTHAB um parecer comprovando a
inconstitucionalidade e a inconveniência dessa lei para toda a
sociedade. Na votação final, após um forte embate, o veto do
Prefeito Tarso Genro foi mantido pelo plenário da Câmara.
Entre as ações políticas mais importantes desse seu mandato, podemos
referir a luta contra a ALCA e contra a entrega da Base de Alcântara
aos EUA; pela Reforma Urbana; contra a privatização da água; contra
a redução da idade penal; em defesa da CLT; contra a privatização da
Petrobras; e a sua ativa participação na organização e na realização
dos Fóruns Sociais Mundiais de 2001, 2002 e 2003.
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Nas eleições de 2002, Carrion foi candidato do PCdoB a deputado
federal, em “dobradinha” com Jussara Cony, candidata à deputada
estadual. Após percorrer o Rio Grande do Sul na campanha LULA
PRESIDENTE - TARSO GOVERNADOR, Carrion obteve 54.415 votos –
aumentando em 110% à votação do PCdoB em relação a 1998 –, dando a
sua contribuição à eleição de LULA, mas não conseguindo ser eleito.
Jussara Cony, em contrapartida, elegeu-se deputada estadual com
consagradores 51.586 votos.
Passadas as eleições, Carrion retomou o seu mandato de vereador.
Eleito novamente Presidente da CUTHAB, logo teve de enfrentar
diversas ações de reintegração de posse em comunidades irregulares –
como a Ocupação da Atílio Superti, Beco Beira-Rio Otaviano Pinto,
Cooperativa Mário Quintana, Rua Liberal, Vila dos Coqueiros, Vila
Valneri Antunes, Motel da Eduardo Prado e Ocupação do Montepio dos
Servidores Municipais.
Entre os seus projetos aprovados nessa legislatura, destacamos o que
destinou às mulheres chefes de família um mínimo de 30% das vagas
dos projetos habitacionais da Prefeitura; a garantia de um local
para a associação de moradores, nos loteamentos e nos conjuntos
habitacionais do município; a disponibilização de banheiros públicos
nas feiras livres: o Fomento ao Cooperativismo Habitacional; a
proibição do transporte de valores em áreas de circulação de grande
público nos Bancos e Centros Comerciais (Shopping Centers); Semana
Municipal do Artesanato; Sessão Solene em homenagem ao Dia
Internacional dos Trabalhadores; além de conceder o Título de
Cidadão Emérito de Porto Alegre para Luís Fernando Veríssimo.
Defensor da comunidade negra e militante anti-racista, Carrion
aprovou a Lei de Preservação do Patrimônio Afro-Brasileiro, o Dia
Municipal de Controle da Anemia Falciforme, a Semana Municipal da
Capoeira, o Largo Zumbi dos Palmares, a Sessão Solene Comemorativa
do Dia da Consciência Negra e o Espaço Lanceiros Negros (no Parque
Farroupilha). Através dos seus esforços, o busto de João Cândido
Felisberto – o “Almirante Negro” – foi instalado no Parque Marinha
do Brasil (apesar das restrições da Marinha) e a Esplanada Carlos
Santos foi inaugurada na Avenida Ipiranga.
Carrion reeleito com a 4ª maior votação
de Porto Alegre
Em 2004, Carrion concorreu à reeleição para a Câmara Municipal de
Porto Alegre – junto com Manuela D'Ávila, Pedro Dias e Arthur
Bloise, em coligação com o PT. Nessas eleições, o PCdoB obteve uma
grande vitória, aumentando em 178% a sua votação, em relação a 2000,
elegendo Raul Carrion com 11.651 votos – o 4º mais votado da cidade
– e Manuela D'Ávila, com 9.498 votos – a 8ª mais votada da cidade.
Reeleito presidente da CUTHAB, Carrion logo teve que enfrentar a
ameaça de despejo de diversas comunidades, entre elas a Morada da
Colina, Santo Antônio, Ocupação Costa e Silva, Residencial Vitória,
Vila Anita, PAR Santa Mônica, Ocupação da Eduardo Prado, Vila da
Conquista, Ocupação Riacho Doce, Vitória da Conquista e Parque dos
Maias. Diversos outros conflitos também tiveram que ser mediados
pela CUTHAB, como a o reassentamento das Vilas Dique e Nazaré, a
regularização e urbanização do Túnel Verde, Vila Hípica, N. S. de
Belém, Vila da Amizade, Vila Amazônia, D. Pedro, Santa Fé, Recanto
da Lagoa e Morada do Sol.
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Carrion, Manuela e
os estudantes comemoram a aprovação da Lei da Meia
Entrada, em 2005. |
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Entre as ações mais gerais do seu mandato, podemos referir sua luta
permanente pela Reforma Urbana, pelos direitos da comunidade negra e
titulação dos Quilombos urbanos, pela efetivação do Centro de
Excelência em Tecnologia Avançada (CEITEC) – empresa pública
federal, dedicada à produção de chips – em defesa dos direitos dos
trabalhadores informais.
Entre 2005 e 2006, Carrion aprovou diversos projetos de interesse da
cidade, entre os quais a Lei da Meia-Entrada para Estudantes em
cinemas e atividades culturais e esportivas (através de substitutivo
com Manuela D'Ávila e Paulo Odone); obrigatoriedade da Colocação de
Obras de Arte em Prédios com mais de 2.000 m²; colocação de Caixa de
Correspondência na Parte Externa das Residências (para facilitar o
trabalho dos carteiros); Função Social do Solo Urbano; Afixação de
Alvará e de Plano Contra Incêndios nas casas de diversões públicas;
Dia de Luta dos Povos Indígenas; Semana de Combate ao Câncer de
Próstata e Semana da Anemia Ferropriva.
Representante dos Vereadores no CONCIDADES (2003-2006)
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1ª Conferência
Nacional das Cidades em 2003. |
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Em 2003, após a criação do Ministério das Cidades e a indicação de
Olívio Dutra para chefiá-lo, o Governo Federal convocou a 1ª
Conferência Nacional das Cidades, precedida de 3.457 Conferências
Municipais e 26 Conferências Estaduais, mais a Conferência do
Distrito Federal. Participaram dessas conferências em torno de 350
mil lideranças comunitárias, sindicais, profissionais e
empresariais, além de representações governamentais e parlamentares.
Tendo participado ativamente do processo, Carrion foi delegado do
segmento “Legislativo Municipal” nas Conferências Estadual e
Nacional e eleito membro do Conselho Nacional das Cidades, em
representação da União de Vereadores do Brasil (UVB).
No ConCidades, Carrion compôs o Comitê Técnico de Trânsito,
Transporte e Mobilidade Urbana, contribuindo na elaboração da nova
política nacional de mobilidade urbana. Colaborou, ainda, na
formulação do Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social e do
Sistema Financeiro de Habitação de Interesse Social. Ao ser formado
no RS o Conselho Estadual das Cidades, Carrion passou a representar
nele a União de Vereadores do Estado do Rio Grande do Sul (UVERGS).
Carrion também passou a fazer parte da Frente Nacional de Vereadores
pela Reforma Urbana (FRENAVRU), que representou na Mesa de Abertura
do “Seminário Internacional Legislação e Gestão Urbana”, realizado
em junho de 2005, na Câmara dos Deputados.
Na 2ª Conferência Nacional das Cidades, realizada em 2005, Carrion
fez parte de sua Comissão Organizadora no RS, sendo palestrante nas
Conferências Municipais de Porto Alegre, Caxias do Sul, Passo Fundo,
Cruz Alta e Novo Hamburgo. Nessa ocasião, foi reeleito membro do
Conselho Estadual das Cidades e do ConCidades.
Em sua segunda gestão no ConCidades, Carrion compôs o Comitê Técnico
de Planejamento e Gestão do Solo Urbano, contribuindo na elaboração
da Política de Regularização Fundiária para famílias de baixa renda,
da Política de Prevenção e Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos
e na Campanha “Planos Diretores Participativos”.
O primeiro Mandato de Carrion como Deputado Estadual
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Em 2006, por decisão partidária, Carrion concorreu à Assembleia
Legislativa, junto com outros seis candidatos do PCdoB – Júnior
Piaia, Juliano Roso, Deo Gomes, Júlio Martins, Dina Machado e
Pinheiro –, tendo sido eleito deputado estadual com 41.549 votos,
obtidos em 245 municípios. Em Porto Alegre, Carrion fez 23.822
votos. No total, o PCdoB conquistou 98.504 votos para a Assembleia
Legislativa. Nessas eleições, o PCdoB elegeu Manuela D'ávila como a
deputada federal mais votada, com consagradores 271.939 votos. A
então deputada estadual Jussara Cony concorreu a Vice-Governadora do
Estado, na chapa com Olívio Dutra, mas não venceram.
Deputado da Moradia Popular e da
Reforma Urbana
Ao iniciar o seu mandato de deputado estadual, Carrion foi eleito
membro titular de três Comissões Permanentes – de Economia e
Desenvolvimento; de Assuntos Municipais; e do Mercosul e Assuntos
Internacionais. Tendo em vista a inexistência de qualquer Comissão
voltada à temática da moradia e da Reforma Urbana, Carrion propôs a
criação de uma Comissão Especial de Habitação Popular e
Regularização Fundiária. Essa Comissão foi formada em abril de 2007,
tendo Carrion como Presidente.
Entre as principais atividades desenvolvidas pela CEHPRF podemos
destacar: 1) Pela urbanização e regularização da Nova Santa Marta,
em Santa Maria (24 mil moradores); 2) Pela regularização dos bairros
Getúlio Vargas, Santa Tereza, Mangueira, Barra Velha e Barra Nova,
em Rio Grande (35 mil moradores); 3) Pela regularização das
ocupações das ilhas Grande dos Marinheiros, das Flores, da Pintada e
do Pavão (17 mil moradores); 4) Pela regularização fundiária dos
imóveis da RFFSA em Porto Alegre (1.000 moradores) e Santa Maria
(1.000 moradores).
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Presidindo reunião
da Comissão Especial de Habitação em 2007. |
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A CEHPRF também negociou a regularização de áreas da RFFSA em Cruz
Alta, Santo Ângelo e Montenegro; a regularização da Vila São Pedro,
em Porto Alegre; a aquisição dos 300 apartamentos ocupados, no
Parque dos Maias. Simultaneamente, na Comissão de Assuntos
Municipais, Carrion acompanhou a luta de 2.500 famílias, de 37
municípios, ameaçadas de despejo pela AES Sul, por morarem em baixo
de suas redes de Alta Tensão.
O seu Relatório final, além de fazer um relato pormenorizado das
questões enfrentadas, propôs três projetos de lei, visando adequar a
legislação estadual à legislação federal – Direito Real de Uso para
famílias de baixa renda; criação do Sistema, do Fundo Estadual de
Habitação de Interesse Social e do Conselho Estadual de Habitação;
destinação das Terras Públicas e Devolutas nas áreas urbanas para
projetos de habitação popular. O Relatório também propôs a alteração
do nome da Comissão de Assuntos Municipais para “Comissão de
Assuntos Municipais e Moradia Popular”, para que passasse a existir
uma Comissão Permanente com essa atribuição. O que, infelizmente,
não foi aprovado.
Assim que a CEHPRF encerrou o seu prazo regimental de funcionamento,
Carrion requereu a criação de uma Sub-Comissão de Habitação Popular
e Regularização Fundiária, para prosseguir o trabalho, e assumiu a
sua Relatoria. A Sub-Comissão, além de dar continuidade ao
atendimento às comunidades já citadas, buscou soluções para milhares
de famílias de outras comunidades – como a Vila Izabel, Ocupação
José Alexandre Zachia e Beira Trilho, em Passo Fundo; Beira Trilho,
em Erechim; Jardim Castelo, em Viamão; Ocupação Dona Augusta em
Campo Bom; comunidades “Beira Mar” em Cidreira e Pinhal; Vila Tio
Zeca e Areia, DAB-DAB, Jardim Marabá, São Judas Tadeu, Ocupação
Unidão, Vila da Conquista, Recanto do Sabiá, Vila dos Coqueiros,
Vila Unidos, Riacho Doce, Ocupação Morada do Sol, Ocupação Costa e
Silva, Juliano Moreira, Mariano de Matos, Vila Nova e Vila União,
todas em Porto Alegre.
Ao final dos trabalhos da Sub-Comissão, Carrion constituiu o Fórum
Permanente de Habitação Popular, com a participação de instituições
federais, estaduais e municipais – do executivo, legislativo,
judiciário e ministério público – e de representações comunitárias,
com o objetivo de buscar a mediação e prevenção dos conflitos
fundiários urbanos. Em agosto de 2009, o Fórum Permanente de
Prevenção e Mediação dos Conflitos Fundiários Urbanos realizou, sob
a coordenação de Carrion, o Seminário More Legal, no Auditório da
CEF-RS.
Para fortalecer a luta, Carrion também constituiu a Frente de
Parlamentares Estaduais pela Reforma Urbana – de abrangência
nacional, que teve a adesão de 45 deputados gaúchos – a qual
organizou o 1º Seminário Estadual sobre a Função Social da
Propriedade do Solo Urbano, em junho de 2008, no auditório do
Ministério Público do Rio Grande do Sul, ao final do qual foi
aprovada a “Carta de Porto Alegre”.
Em 2010, outra importante ação de Carrion foi a sua luta contra o
projeto da governadora Yeda Crusius que propunha vender, a preço
vil, uma área de 75 hectares – pertencente à FASE, no Morro Santa
Teresa, região nobre da cidade – para especuladores imobiliários
interessados na sua localização próxima ao Estádio Beira Rio, onde
seria realizada a Copa do Mundo. Caso essa venda acontecesse,
causaria a expulsão de 1.500 famílias que aí vivem há décadas e que
já fazem jus ao Direito Real de Uso para fins de Moradia. Depois de
uma grande mobilização, o governo foi obrigado a recuar e retirou o
seu projeto de pauta, para não ser derrotado.
Outras frentes de luta e projetos
aprovados
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Na Marcha Zumbi dos
Palmares de 2009. |
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Mas o mandato de Carrion não se limitou à luta pelo direito à
moradia e pela Reforma Urbana. Entre outras ações, se destacam a sua
luta contra o tarifaço do governo Yeda; pela extensão da linha do
TRENSURB até Novo Hamburgo; por um novo marco regulatório para o
Pré-sal; em defesa da REFAP; pela viabilização do CEITEC; em apoio
ao Movimento Mais Saúde dos hospitais filantrópicos; em apoio à
Indústria de Máquinas e Equipamentos; em defesa da carne brasileira
diante do embargo da União Européia; contra a privatização do
Banrisul; pelo fortalecimento da UERGS; contra o desmantelamento da
Emater; pela exigência de nível superior para os Técnicos do
Tesouro; fixação de subsídios para os Defensores Públicos;
valorização da comunidade negra e titulação das áreas Quilombolas;
contra a criminalização dos movimentos sociais; em defesa da Jornada
de 40 horas e pela valorização do Piso Regional.
Entre os 21 projetos aprovados por Carrion nesses quatro anos,
podemos citar a Meia-Entrada para Estudantes em Cinemas e
Espetáculos Culturais e Esportivos; a Preservação do Patrimônio
Histórico Cultural Afro-brasileiro; Cotas para PPDs nos estágios em
órgãos estaduais; Obrigatoriedade de Cardápio em Braile em Bares e
Restaurantes; redução em 80% nas taxas cobradas aos instrutores dos
CFCs; Prioridade para o Atendimento às Mulheres Vítimas de Violência
nas cirurgias plásticas reparadoras; Sítio Histórico de Porongos
como Patrimônio Histórico e Cultural do RS; Prêmio Zumbi dos
Palmares; Semana Estadual da Capoeira; Semana Farroupilha da ALERS;
Dia do Líder Comunitário; Semana Estadual de Artesanato.
No primeiro semestre de 2008, Carrion participou do processo da 3ª
Conferência Nacional do Meio Ambiente, sendo o único deputado
estadual eleito para a sua etapa nacional, realizada no inicio de
maio, em Brasília.
Em 2009, Carrion participou da obra coletiva “A Ditadura de
Segurança Nacional no Rio Grande do Sul (1964-1985), editada pela
ALERS – já com três edições publicadas – com o texto “A ditadura não
foi uma criação de homens maus”.
Como membro da Comissão de História do PCdoB, Carrion também
colaborou na elaboração da obra coletiva “Contribuição à história do
Partido Comunista do Brasil”, publicada em março de 2010 (com 2ª
edição em março de 2012), escrevendo o “Capítulo 2 – 1922-1929 – Os
primeiros passos do Partido Comunista do Brasil”.
Em 2010, Carrion participou, em Brasília, no Seminário Internacional
- Mudanças Climáticas – preparatório à Conferência Mundial da ONU
sobre Mudanças Climáticas no México – que debateu com cientistas e
estudiosos do Brasil e de outros países as graves mudanças
climáticas que vêm ocorrendo em todo o mundo.
Também em 2010, por ocasião das comemorações dos 100 anos da Revolta
da Chibata – que eliminou os castigos físicos na Marinha – Carrion
concedeu a Medalha do Mérito Farroupilha, In Memoriam, a João
Cândido Felisberto, o “Almirante Negro”, que a comandou.
Além de fazer parte de diversas frentes parlamentares, Carrion
propôs e presidiu as Frentes Parlamentares pela Reforma Urbana; por
Reparações, Direitos Humanos e Cidadania Quilombola; em Apoio à
Defensoria Pública; em Defesa dos Recursos do Pré-sal para todos os
Brasileiros; em Apoio à Indústria de Máquinas e Equipamentos; e em
Solidariedade ao Povo Cubano.
Carrion também propôs e coordenou a Sub-Comissão Mista sobre os
Impactos da Construção de Barragens e Usinas Hidroelétricas no RS,
publicando o Relatório aprovado, e teve destacada participação nas
CPIs dos Pedágios (2007), do DETRAN (2008) e da Corrupção (2009).
Carrion reeleito para a Assembeia
Legislativa do RS
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Nas eleições de 2010, o PCdoB lançou Carrion como candidato à
Assembleia Legislativa, em coligação com o PSB, junto com outros 24
candidatos do PCdoB – entre eles Jussara Cony, Guiomar Vidor, Volnei
Campagnoni, Rosane Simon, Todson Marcelo e Sandra Padilha. Apesar do
PCdoB ter aumentado em quase 60% a sua votação para a Assembleia
Legislativa – fazendo 156.400 votos – o único eleito foi Raul
Carrion, com 34.791 votos, faltando em torno de 1.000 votos para a
eleição de Jussara Cony.
Na eleição para a Câmara dos Deputados, o PCdoB elegeu Manuela
D'Ávila, com expressivos 482.590 votos – fazendo dela a deputada
mais votada do país –, e o metalúrgico Assis Melo, com 47.141 votos.
No total, o PCdoB fez 544.773 votos para a Câmara dos Deputados,
aumentando em 103% a sua votação.
Abgail Pereira, a candidata do PCdoB ao Senado, totalizou 1.551.151
votos, sendo a quarta mais votada no Estado, mas não alcançando
eleger-se. Para o Governo do Estado, o PCdoB apoiou eleger Tarso
Genro – eleito no primeiro turno – e, para a Presidência da
República, Dilma Roussef – eleita no segundo turno.
Tão logo foram proclamados os resultados, Carrion comunicou ao
Partido a sua decisão, em caráter irrevogável, de não mais concorrer
a mandatos parlamentares, do que manteve a mais estrita reserva
durante toda a legislatura. O objetivo dessa comunicação foi
permitir que o Partido preparasse nomes alternativos para as
eleições de 2014, inclusive utilizando-se para isso do seu mandato.
Carrion tomou essa decisão por entender que desde a derrota do
socialismo na URSS e no Leste Europeu, o marxismo passou a viver uma
crise que precisa ser enfrentada através de uma acirrada luta
teórica, tendo como ponto de partida um rigoroso balanço das
experiências históricas de construção socialista. Como afirmou João
Amazonas: “instalou-se uma crise de certa profundidade no movimento
marxista-leninista. Crise no campo da teoria, da Filosofia, da
própria concepção de socialismo. (...) sem superar essa crise, não
haverá revolução socialista, proletário-revolucionária, em nenhuma
parte do mundo. (...) O combate pela superação da crise do marxismo
é a grande tarefa histórica da atualidade. (...) a frente teórica
adquire importância sobressalente, de primeiro plano.”
Para Carrion, esse é o terreno onde melhor poderá ajudar o Partido e
a luta, o que exige uma dedicação integral, impossível de ter no
exercício de um mandato parlamentar. Somou-se a isso o fato de já
estar atuando na frente institucional há 20 anos e de completar
setenta anos em 2015 – quando encerraria o seu mandato –, sendo hora
de abrir espaço para novas lideranças partidárias, desejosas de
atuarem na frente institucional. Essa decisão não significou, porém,
qualquer esmorecimento em sua atuação como deputado, função a que
dedicou-se integralmente até o último dia do seu mandato.
Comissão e Sub-Comissão de Habitação Popular e Regularização
Fundiária
Inexistindo na Assembleia Legislativa qualquer comissão permanente
para tratar da questão habitacional, Carrion requereu uma vez mais a
criação de uma Comissão Especial de Habitação Popular e
Regularização Fundiária. Assim que ela foi constituída, no início de
2011, Carrion passou a acompanhar as comunidades em situação de
conflito, entre elas as Vilas Gaúcha, Ecológica, União, Figueira e
Padre Cacique (Morro Santa Teresa), Grande Cruzeiro (obras da Copa
do Mundo), Ilhas do Delta do Jacuí (30 ilhas, de 6 município,
abrangendo cerca de 20 mil moradores), Vila dos Ferroviário de Porto
Alegre, São Judas Tadeu, São Pedro, Salvador França, Vila
Chocolatão, Núcleo Esperança do Campo Novo e Loteamento Cristiano
Kraemer e, todas em Porto Alegre. Na Grande Porto Alegre, podemos
citar Ocupação Resistência e Luta, em Campo Bom, e a Vila Pica-Pau,
em Novo Hamburgo. No litoral, as áreas de Marinha em Cidreira e
Pinhal.
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Abertura do 2º
Seminário em 2011. |
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No contexto de suas atividades, a CEHPRF realizou, em junho de 2011,
no Auditório da CEF, em Porto Alegre, o “2º Seminário Estadual sobre
a Função Social da Propriedade do Solo Urbano e os 10 Anos do
Estatuto da Cidade”.
Concluídos os trabalhos da CEHPRF, o seu Relatório expôs a situação
de cada comunidade, sugerindo soluções concretas, e apresentou
orientações gerais a serem seguidas. Nesse sentido, além da
necessidade dos municípios se adequarem à legislação federal,
indicou a urgência da regularização – com base no Estatuto da Cidade
– das áreas públicas municipais, estaduais e federais, ocupadas no
nosso Estado por centenas de milhares de moradores de baixa renda.
Sem que isso significasse deixar de lado a necessária ação dos
Poderes Públicos para mediar e solucionar os conflitos decorrentes
da ocupação de vazios urbanos privados por famílias sem-teto, para o
que também há uma ampla base legal utilizável.
Em seguida, Carrion requereu a constituição de uma Sub-Comissão de
Habitação Popular e Regularização Fundiária, para prosseguir o
trabalho da CEHPRF. Além de dar continuidade às tratativas junto às
comunidades do Morro Santa Teresa, São Judas Tadeu, São Pedro,
Salvador França, Vila dos Ferroviários – todas em Porto Alegre – e
Resistência e Luta, em Campo Bom, a Sub-Comissão foi demandada por
diversa outras comunidades, como a Quinta do Portal, 4 de Junho,
Santo Antônio (Lomba do Pinheiro), Morada da Colina, Pinheiros,
Chácara das Bananeiras, Vila João Pessoa, Clareu, São Miguel,
Chácara dos Bombeiros, Linha de Tiro, Campo da Tuca, Jardim Marabá,
Túnel Verde, Túnel Verde II, Vila Amazônia, Ponche Verde Jardim da
Amizade, Vila das Laranjeiras, Loteamento Dom Pedro, Vila Dique
Velha, Nova Vila Dique, Vila Nazaré e Beco X – também em Porto
Alegre –, além da Beira Trilho em Cruz Alta e as áreas de Marinha de
Cidreira, Pinhal e Costa do Sol.
O Relatório final aprovado reiterou a necessidade da regularização
fundiária e urbanística de das áreas públicas e privadas ocupadas de
forma consolidada por dezenas de milhares de famílias de baixa
renda, através dos novos mecanismos criados pelo Estatuto da Cidade
e com recursos do Ministério das Cidades.
Outras frentes de luta e propostas do mandato
Em seu segundo mandato como deputado estadual, Carrion foi eleito
para a Comissão de Constituição e Justiça – onde todos os projetos
precisam ser apreciados, antes de tramitar nas demais comissões –,
de Serviços Públicos e Segurança e de Ética. Na segunda metade do
seu mandato, Carrion foi reeleito para a Comissão Constituição e
Justiça e eleito para a Comissão de Economia e Desenvolvimento
Sustentável, além de ser indicado Coordenador da Comissão de Reforma
do Regimento Interno da ALERS.
Nos quatro anos de mandato, Carrion aprovou 20 projetos, entre os
quais destacamos o Estatuto Estadual da Igualdade Étnico-Racial e
Combate à Intolerância Religiosa; a Emenda Constitucional que
destina os Royalties do Petróleo para a Saúde e a Educação;
Assistência Técnica Gratuita para a Construção de Habitações de
Interesse Social; Cotas para Negros nos Concursos Públicos
Estaduais; Cotas para Negros e Indígenas na UERGS; Obrigatoriedade
de Tradução de Palavras Estrangeiras nas peças de propaganda e
divulgação; Anulação da Cassação, ocorrida em 1948, dos Mandatos dos
Deputados Estaduais Comunistas; Dia Estadual de Solidariedade ao
Povo Palestino; Política Estadual de Inclusão Digital; Dia Estadual
contra a Homofobia.
Carrion também participou de forma ativa na luta pela repactuação da
dívida do Estado com a União; na defesa da manutenção dos postos de
fiscalização e das turmas volantes da Secretaria da Fazenda, para
coibir o contrabando; por concursos públicos para Técnicos do
Tesouro; por uma política permanente de valorização do Piso
Regional.
Além das seis frentes parlamentares formadas no primeiro mandato –
que permaneceram atuando – Carrion propôs e presidiu a Frente
Parlamentar Gaúcha pela Ampliação e Qualificação das Ferrovias
(FPGAQF) e a Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos dos
Comerciários.
A luta pela ampliação e qualificação do transporte ferroviário
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Em
2013, Carrion apresentou no Palácio Piratini – ao
governador Tarso Genro, ao ministro dos Transportes,
César Borges, ao DNIT, à ANTT, à VALEC e ao Departamento
do Fundo da Marinha Mercante (DFMM) – a defesa sobre a
extensão da Ferrovia NORTE-SUL até o Rio Grande do Sul. |
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A Frente Gaúcha pelas Ferrovias, instalada em julho de 2011,
desenvolveu um amplo trabalho de conscientização da sociedade gaúcha
em relação à necessidade do fortalecimento do modal ferroviário –
seja no transporte de cargas, seja no transporte de passageiros – e
pela extensão da Ferrovia Norte-Sul até o Porto de Rio Grande, como
era previsto no Projeto original. Igualmente, denunciou o
sucateamento da rede ferroviária pelas concessionárias privadas e
cobrou a retomada das linhas que haviam sido desativadas, com
prejuízos para a economia gaúcha.
Em seu trabalho, a FPGAQF organizou audiências públicas e debates em
15 cidades – Passo Fundo, Erechim, Santa Rosa, Cruz Alta, Cachoeira
do Sul, Santa Maria, Cacequi, Uruguaiana, Santa Cruz do Sul,
Venâncio Aires, Estrela, Caxias, Canguçu, Rio Grande e Porto Alegre.
Em agosto de 2011, promoveu na ALERS o “Seminário Diagnósticos e
Estratégias das Ferrovias no Sul do País”, com a participação de
representantes dos três Estados do Sul.
Além de várias viagens a Brasília para reuniões com a VALEC, EPL,
ANTT, DNIT, SEINFRA e com a bancada federal do RS, Carrion
participou no “1º Seminário de Chapecó da Ferrosul”, no Seminário da
Federação das Indústrias de SC, no “Seminário Nacional
Desenvolvimento e Ferrovias” – organizado em 2011 pela Frente
Parlamentar Mista das Ferrovias (FPMF), e no “Seminário V Brasil nos
Trilhos-2012”, promovido pela ANT. Em 2012, foi publicado pela FPMF
o livro “FERROVIA E DESENVOLVIMENTO – ESSE É O CAMINHO”, no qual
Carrion escreveu o texto “As Ferrovias têm de estar a serviço do
Desenvolvimento Nacional”.
Com o avanço das tratativas entre o Chile e a Argentina para a
construção de um túnel ferroviário-rodoviário nos Andes –
estabelecendo um CORREDOR BIOCEÂNICO entre a Argentina e o Chile – a
FPGAQF passou a defender a criação de um ramal entre Porto Alegre e
Uruguaiana, com o objetivo de conectar a Ferrovia Norte-Sul ao
MERCOSUL e viabilizar a ligação da Região Sul ao Oceano Pacífico por
ferrovia.
Por ocasião da reunião da Mesa Diretora da União de Parlamentares
Sul Americanos e do Mercosul (UPM) – realizada em março de 2013, em
Buenos Aires –, Carrion participou do debate desse importante
projeto de interligação ferroviária e rodoviária entre os países do
Cone Sul.
Atuação na UNALE no CONCIDADES
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Participando da mesa de abertura da 18ª Conferência
UNALE em 2012. |
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Tão logo assumiu o seu primeiro mandato de deputado estadual,
Carrion passou a participar da União Nacional de Legisladores e
Legislativos Estaduais (UNALE) – entidade que congrega os 1059
deputados das 27 Unidades Federativas do país – e desenvolveu
esforços para que ela colocasse em sua pauta a temática da Reforma
Urbana e da Moradia Popular.
Com esse objetivo, Carrion trabalhou para que a UNALE participasse
no ConCidades, onde os Executivos Estaduais haviam monopolizado toda
a representação dos Estados e não havia uma única representação dos
Legislativos Estaduais.
Em 2007 – através de um forte embate na 3ª Conferência Nacional das
Cidades –, a UNALE conquistou uma vaga no ConCidades e Carrion foi
indicado para essa representação, passando a compor o seu Comitê
Técnico de Habitação e a participar do seu GT de Conflitos
Fundiários.
Em abril de 2009, frente à crise econômica internacional, o Governo
Federal – com base nas diretrizes habitacionais estabelecidas pelo
ConCidades – criou o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), com o
objetivo de enfrentar o enorme déficit habitacional das famílias de
baixa renda e como um política econômica anti-cíclica. Em fins de
2009, o Ministério das Cidades aprovou o Plano Nacional de Habitação
(PLANHAB 2009-2023) – fruto de quase seis anos de trabalho do
Ministério das Cidades e do ConCidades.
Em 2010, Carrion criou na UNALE a Secretaria Especial das Cidades,
assumindo a sua Presidência. Nesse mesmo ano, Carrion fez parte da
Coordenação Executiva da 4ª Conferência Nacional das Cidades, sendo
reeleito tanto para o Conselho Estadual das Cidades, quanto para o
ConCidades, onde continuou trabalhando no Comitê Técnico de
Habitação. Nessa ocasião, a UNALE conquistou uma segunda vaga no
ConCidades, que passou a ser ocupada pelo Deputado Luciano Siqueira,
ex Vice-Prefeito de Recife.
Da mesma forma, Carrion foi membro da Comissão Organizadora da 5ª
Conferência Nacional das Cidades, realizada em 2013, inclusive
propondo que o seu “lema” fosse “QUEM MUDA A CIDADE SOMOS NÓS:
REFORMA URBANA JÁ!” Nessa 5ª Conferência das Cidades, Carrion voltou
a ser eleito para o Conselho Estadual das Cidades e para o
ConCidades.
Por seu trabalho no ConCidades, Carrion foi convidado a fazer a
palestra de Abertura na 1ª reunião do Conselho Estadual das Cidades
do Estado da Paraíba, em fevereiro de 2014.
No início de 2014, Carrion assumiu a Presidência da UNALE – na
condição de Presidente do Comitê de Representação
Político-Administrativo-Institucional da entidade – cabendo-lhe
presidir a sua 18ª Conferencia Nacional, que ocorreu em maio, em
Brasília. Em sua saudação aos mais de 1.000 participantes na 18ª
Conferência, Carrion destacou a luta da UNALE pelas Reforma Política
e Tributária, por um Novo Pacto Federativo, em Defesa da Amazônia,
pela integração Latino-Americana e pelo fortalecimento do MERCOSUL,
em Defesa da Reforma Urbana e pela saúde e educação públicas e de
qualidade.
Em fins de 2014, tendo em vista sua decisão de não mais concorrer à
Assembleia Legislativa, deixou a Presidência da UNALE e a sua
representação no ConCidades, onde atuou durante doze anos
consecutivos.
Carrion assume a Presidência do PCdoB-RS
Na Conferência Estadual que se realizou no segundo semestre de 2011,
Carrion foi eleito Presidente do PCdoB do Rio Grande do Sul, para um
mandato de dois anos, em substituição a Adalberto Frasson.
Em 2012, lhe coube coordenar os festejos dos 90 anos do PCdoB,
organizando na Assembleia Legislativa um Grande Expediente em
homenagem à data, ocasião em que foi entregue ao Presidente Nacional
do PCdoB – Renato Rabelo – a Medalha do Mérito Farroupilha e uma
placa comemorativa dos 90 anos do Partido.
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José
Freitas - já falecido - antigo companheiro de AP de
Carrion, foi um dos agraciados com a medalha da 53ª
Legislatura da ALERGS. |
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Além desse Grande Expediente, foram concedidas medalhas da 53ª
Legislatura In Memoriam, a personalidades históricas do PCdoB-RS já
falecidas – como Abílio Nequete, Dyonélio Machado, Lila Ripoll,
Bruno Segalla, João Carlos Haas e Pedro Alvarez –, entregues a seus
familiares. Da mesma forma, foram entregues medalhas da 53ª
Legislaturas a lideranças comunistas presentes de diversas gerações,
como Danúbio Gonçalves, Lauro Hagemann, Venina Pureza de Freitas,
José Ouriques de Freitas, Deo Gomes, Juliano Roso, Sandra Padilha e
Bruna Rodrigues.
À noite, no Auditório Dante Barone da ALERS, foi realizado o grande
Ato Comemorativo dos 90 anos, com a presença do Presidente Nacional
do PCdoB Renato Rabelo e as principais lideranças do PCdoB no
Estado, o Governador Tarso Genro, o Presidente de Honra do PT Olívio
Dutra, o Presidente do PMDB Ibsen Pinheiro, o Presidente do PSB Beto
Albuquerque e outras lideranças políticas e sociais do Rio Grande do
Sul.
Carrion conduziu o PCdoB nas eleições municipais de 2012 e no
complexo período das chamadas “manifestações de junho de 2013”,
quando – através de um processo de “guerra híbrida” – as forças de
direita e de ultra-direita buscaram desestabilizar os governos Dilma
e Tarso Genro. Nesse período, Carrion fez parte da Coordenação
Política do Governo Tarso Genro – formada pelos Partidos que
compunham a base do governo – e foi um aguerrido defensor do Governo
Popular nos embates que se deram no parlamento gaúcho.
Também coube a Carrion enfrentar com firmeza e sem vacilações a
armação montada contra o PCdoB no primeiro semestre de 2013, quando
a Polícia Federal prendeu sob falsas acusações o camarada Carlos
Fernando Niedersberg – então Secretário Estadual do Meio Ambiente –
em uma trama que fez lembrar o “Plano Cohen”, urdido em 1937 contra
os comunistas para justificar a implantação da ditadura do Estado
Novo. Libertado pela Justiça pela inexistência de qualquer
fundamento para a sua prisão, Carlos Fernando nunca foi indiciado ou
acusado de qualquer irregularidade, mas teve a sua honra atacada por
essa prisão arbitrária, realizada pela PF do RS.
Em 2013, Carrion – então Presidente do Conselho Deliberativo do
Movimento de Ex-Presos e Perseguidos Políticos do RS (MEPPP-RS) –
participou representando a ALERS no ato de criação pelo Governador
Tarso Genro da “Comissão Estadual Memória e Verdade”, assim como de
várias atividades de denúncia dos crimes da ditadura militar,
inclusive prestando o seu depoimento a essa Comissão.
Presidência da FMG-RS
Na Conferência Estadual realizada no segundo semestre de 2013,
Manuela D'Ávila foi eleita Presidenta do PCdoB, para um mandato de
dois anos, substituindo Carrion, que permaneceu na Comissão Política
e assumiu a Presidência da Fundação Maurício Grabois-RS.
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Abrindo
o semináio sobre os 50 anos do golpe militar no Brasil. |
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Em abril de 2014, quando se completaram 50 anos do golpe militar de
1º de abril de 1964, a FMG-RS organizou na UFRGS, em parceria com
diversas entidades, o Seminário “50 anos do Golpe Militar no
Brasil”, com cinco Mesas de debates e a participação de prestigiados
intelectuais gaúchos e de todo o Brasil, entre os quais Pedro Dutra
Fonseca, Luis Augusto Fischer, Diorge Konrad, Celi Pinto, Juremir
Machado, Carlos Fico, João Quartim de Moraes, Aldo Arantes, Augusto
Buonicore, Altamiro Borges, Laurindo Lalo Leal e Bernardo Joffily.
Em maio de 2014, tendo em vista o transcurso dos 90 anos da Coluna
Prestes, que iniciou no nosso Estado e percorreu em dois anos mais
de 25 mil Km, em constantes combates, sem nunca ser derrotada,
Carrion organizou – em conjunto com a Fundação Maurício Grabois
Nacional e com a participação de Maria Prestes e seus filhos Luiz
Carlos e Mariana – uma caravana que percorreu o Rio Grande do Sul
para rememorar esse acontecimento histórico.
Nessa ocasião, Carrion publicou um relato histórico sobre esse
acontecimento e concedeu – em solenidade realizada na Assembleia
Legislativa – a Medalha do Mérito Farroupilha, In Memoriam, a Luiz
Carlos Prestes, entregue a seus familiares. Após, a comitiva seguiu
para as atividades comemorativas em Passo Fundo, Santo Ângelo, São
Luiz Gonzaga, Ijui, São Miguel das Missões e Santa Maria, retornando
depois para Porto Alegre. Posteriormente, a FMG editou um livro e um
DVD, com a cobertura desse périplo.
Em 31 de janeiro de 2015, Carrion concluiu os seus dois mandatos
pelo PCdoB na Assembleia Legislativa – sendo sucedido por Manuela
D'Ávila e Juliano Roso –, com um saldo de 41 projetos aprovados e
uma extensa pauta de lutas pelas Reformas Urbana e Agrária, contra
todo tipo de discriminação ou opressão – de gênero, raça, opção
sexual, idade ou condição econômica –, em defesa da soberania
nacional, das liberdades democráticas e dos direitos sociais do
nosso povo.
O retorno ao Ministério Público-RS
Retomou, então, as suas funções no Ministério Publico Estadual e –
tendo completado 36 anos e oito meses de contribuição e 69 anos de
idade – solicitou a sua aposentadoria. Para sua surpresa, o MPE/RS
lhe negou a aposentadoria, exigindo que completasse o “estágio
probatório”, em que pese a Constituição Federal dispor em seu art.
38 que “ao servidor público (...) em qualquer caso que exija o
afastamento para o exercício de mandato eletivo, seu tempo de
serviço será contado para todos os efeitos legais, exceto para a
promoção por merecimento.” De nada serviram os diversos recursos
administrativos feitos, todos eles negados.
Não bastasse o desconhecimento da norma constitucional, Carrion
ainda teve os seus períodos de férias, licença prêmio ou recesso –
quando ultrapassaram 45 dias seguidos – descontados para efeito do
estágio probatório, ainda que o “Estatuto e Regime Jurídico Único
dos Servidores Públicos Civis do Rio Grande do Sul“ disponha, de
forma explicita, que os períodos de férias e licença prêmio devem
ser considerados, para todos os efeitos, de “efetivo exercício.”
Isso fez com que Carrion tivesse que cumprir, na prática, quatro
anos de “estágio probatório...
Como em 22 de dezembro de 2015 Carrion completaria 70 anos, caindo
na aposentadoria compulsória, ele optou por não ingressar com uma
ação judicial contra o MPE/RS. Mas, poucos dias antes de completar
70 anos, foi promulgada uma Emenda Constitucional – a “PEC da
bengala” – que alterou para 75 anos a aposentadoria compulsória.
Havendo perdido os prazos para ingressar com um Mandato de Segurança
e sabedor da demora de uma ação normal no nosso judiciário, não
restou a Carrion outra opção senão cumprir esse seu surreal “estágio
probatório”, aos 70 anos de idade!
Começou, então, a trabalhar como Historiador no Memorial do
Ministério Público Estadual, com uma jornada semanal de 44 horas, a
qual – para quem estava acostumado a uma jornada semanal de mais de
70 horas como deputado – não foi nada extenuante, mas lhe impediu de
dedicar-se ao trabalho de investigação e pesquisa histórica a que se
havia proposto, ao deixar o mandato de deputado. Ao seu trabalho no
MPE, somou-se a atuação na Comissão Política Estadual do PCdoB e na
Presidência da Fundação Maurício Grabois do RS.
Apesar de desrespeitado em seus direitos, Carrion trabalhou com o
profissionalismo de sempre e foi aprovado com louvor no seu surreal
“estágio probatório”. No período em que trabalhou no Memorial do
MPE, afora as atividades normais, Carrion elaborou um prospecto
sobre a história do “Palácio do Ministério Público” (mais conhecido
como “Forte Apache”) – que já abrigou a sede do Governo Estadual –,
um DVD sobre a evolução histórica da Praça da Matriz e organizou–
junto com sua colega historiadora Cíntia Vieira Souto – o livro “A
atuação do Ministério Público na área ambiental”, lançado no
primeiro semestre de 2017. Assim, Carrion só conseguiu aposentar-se
em janeiro de 2018, aos 72 anos de idade, após 39 anos e sete meses
de trabalho.
A FMG-RS na luta teórica
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Participando da marcha do Fórum Social Mundial Temático,
Porto Alegre, 2016. |
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No segundo semestre de 2015 – no contexto do golpe que afastou Dilma
Roussef da Presidência –, Carrion engajou-se ativamente na
organização em Porto Alegre do Fórum Social Mundial Temático de
janeiro de 2016, buscando que ao invés de um “caleidoscópio”
dispersivo de múltiplas mesas e oficinas, ele tivesse um foco maior
na conjuntura nacional e internacional. Com esse objetivo, a FMG-RS
articulou algumas mesas de caráter mais geral, com destaque para a
Mesa “Desenvolvimento em tempos de crise e golpismo” – organizada
conjuntamente pelas fundações Maurício Grabois, Perseu Abramo e
Leonel Brizola-Alberto Pasqualini – que trouxe Walter Sorrentino
(PCdoB), Ruy Falcão (PT), Roberto Requião (PMDB), Roberto Amaral
(ex-Presidente do PSB) e Carlos Michaelis (PDT), reunindo cerca de
mil pessoas no Auditório Araújo Vianna.
Em abril de 2016 – por ocasião da “Semana Internacional contra o
Apartheid Israelense” – a FMG-RS organizou na ALERS a Mesa “Conflito
Palestino-Israelense – ontem hoje e amanhã”. Em maio, a FMG-RS
realizou, junto com a Fundação Perseu Abramo e a Fundação do PSD
alemão, a mesa “Mobilidade Urbana”. Ainda no 1º semestre, a FMG-RS
realizou na UFRGS um debate sobre a Reforma Política, com a
participação de Aldo Arantes, da Comissão Nacional da OAB sobre a
Reforma Política. No 2º semestre, a FMG-RS realizou o seu 3º
seminário interno sobre o neoliberalismo, a partir da análise de
Marx sobre o “capital produtor de juros” e o “capital fictício”. Em
fins de novembro, foram desenvolvidas diversas atividades para
comemorar o “Dia Estadual de Solidariedade ao Povo Palestino” (lei
de iniciativa de Carrion), destacando-se o Ato em Solidariedade ao
povo Palestino e uma palestra do Sociólogo Lejeune Mirhan.
Os 100 Anos da Revolução Russa e a
luta por um Socialismo Renovado
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Seminário 100 Anos da Revolução Russa. |
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No final de março de 2017, a FMG realizou em SP um Seminário sobre
os 100 anos da Revolução Russa, do qual Carrion participou, sendo um
dos debatedores. Na ocasião, foi lançada a obra coletiva “100 anos
da Revolução Russa – legados e lições”, no qual Carrion colaborou
com o texto “A Grande Guerra Patriótica soviética”.
Pouco depois, entre 8 de maio e 12 de junho de 2017, a FMG-RS
realizou em Porto Alegre o Seminário “100 anos da Revolução Russa”,
tendo como co-promotoras 17 instituições e entidades, entre elas a
FMG, IFCH-UFRGS, IHGRGS, CEBRAPAZ e ADUFRGS. Previsto para ocorrer
no auditório do IHGRGS, com 150 lugares, a demanda de participação
no seminário foi tanta que o evento teve de ser transferido para o
auditório da FETRAFI, com capacidade para 450 pessoas. O Seminário
contou com seis mesas de debate, com conferencistas de cinco
Estados, mais Cuba, e de sete universidades. A ultima mesa,
intitulada “A luta pelo socialismo no século XXI”, contou com a
presença dos ex-presidentes do PCdoB, PT e PSB – respectivamente
Renato Rabel, Tarso Genro e Roberto Amaral – e foi coordenada pela
cientista política Celi Pinto.
As palestras desse seminário deram origem ao livro “100 anos da
Revolução Russa” – organizado pelo Jornalista Walmaro Paz –, que
contou com textos dos 19 palestrantes presentes no seminário.
Carrion participou do livro com o texto “Vietnã: economia de mercado
de orientação socialista”, tema que abordou no seminário.
Em setembro de 2017, a FMG-RS promoveu, junto com outras 26
instituições e entidades, o Seminário “O Capital - 150 anos
(1867-1917)”, que teve quatro mesas e contou com palestrantes de
seis universidades. O evento se realizou também no auditório da
FETRAFI, contando sempre com um grande público.
A luta por um Projeto para o Brasil e o Bicentenário de Marx
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Abertura do Seminário Desenvolvimento Nacional - Dilemas
e Perspectivas, em 2018. |
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Em março de 2018, a FMG-RS abriu as suas atividades no ano como o
debate “Conjuntura Mundial e Projeto Nacional”, realizado na ALERS,
com a participação dos Professores Marco Cepik (UFRGS), Lucas Kerr
(UNILA) e Ricardo Alemão Abreu (PROLAM-USP), com a mediação do Prof.
Diego Pautasso (CMPA)
Entre 2 de abril e 8 de maio desse ano, a FMG promoveu no Auditório
Dante Barone da ALERS – junto com as fundações do PT, PDT, PSB e
PSOL, IHGRGS, SOCECON, SINDICON e mais 25 entidades – o Seminário
“Desenvolvimento Nacional – Dilemas e Perspectivas”, com o objetivo
de construir uma aproximação programática entre as principais forças
do campo democrático e popular, tendo em vista as eleições
presidenciais.
O evento teve seis mesas de debate e lotou o Auditório Dante Barone
da ALERS, trazendo importantes lideranças políticas e intelectuais
de todo o Brasil. No dia 9 de abril, diante da prisão de Luís Inácio
LULA da Silva, os organizadores do evento convocaram, antes da Mesa
de Debates, um ato em solidariedade à Lula e de repúdio à sua prisão
arbitrária. Coube a Carrion coordenar esse importante ato.
Tendo em vista que em 2018 se comemoraram 200 anos do nascimento de
Karl Marx, a FMG Nacional organizou uma obra coletiva para marcar
essa data, intitulada “Karl Marx – Desbravar um Mundo Novo no Século
XXI”. Carrion colaborou nessa obra com o texto “Concepção
materialista e dialética da história”.
Em junho, a FMG-RS realizou junto com outras nove instituições e
entidades o painel “Karl Marx 200 anos: 1818-2018”, que deveria
ocorrer na Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS, mas que na
última hora teve de ser transferido para o DCE-UFRGS, devido a um
problema na rede elétrica do Campus Central. Apesar disso, o evento
foi um êxito de público e na qualidade do debate, que teve a
participação da Economista Leda Paulani (USP), do Historiador Júlio
Velloso (Mackenzie e FADISP) e do Filósofo João Carlos Brum Torres
(UCS e UFRGS).
Em julho, a FMG-RS fez uma parceria com outras entidades para
promover no Auditório da FCE-UFRGS o Painel “Rússia: da Revolução
Soviética à era Putin” quando foi lançado o livro “Outubro Vermelho:
100 anos (1917-2017)”, de José Reinaldo Carvalho.
As atividades do ano foram encerradas no dia 29 de novembro, com a
realização de um Ato em Solidariedade ao Povo Palestino, seguido do
debate “71 Anos da Partição da Palestina e a questão de Jerusalém”,
com palestras da Profª Sílvia Feraboli (UFRGS) e do Embaixador da
Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben.
Os 60 anos da Revolução Cubana e os
70 anos da revolução Chinesa
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Seminário sobre os 70 anos da Revolução Chinesa, 2019. |
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Em 2019, a FMG-RS organizou três atividades fundamentais.
A primeira delas, realizada no início de setembro, no Auditório da
Faculdade de Farmácia da UFRGS – em parceria com outras 16
entidades, entre elas a ACJM-RS, a ADUFRGS, a ASSUFRGS e a SOCECON
–, foi o painel “¨60 Anos da Revolução Cubana”, que teve como
palestrantes o Embaixador Pedro Monzón, Cônsul Geral de Cuba no
Brasil, o Dr. João Marcelo Goulart – neto de João Goulart e médico
formado em Cuba –, e o Dr. Alcides de Miranda, Professor da UFRGS.
Além de tratar da Revolução Cubana, a Mesa debateu a ação
internacionalista de Cuba na área da saúde e o desmonte do Programa
“Mais Médicos” pelo governo federal.
A segunda iniciativa, organizada por junto com outras 15 entidades,
foi a mesa “80 Anos do início da Segunda Guerra Mundial”, no final
de setembro, na Escola de Engenharia da UFRGS, tendo como
palestrantes os Historiadores Paulo Visentini, Luís Dario e Daniel
Sebastiani. O painel abordou a ascensão do nazi-fascismo, a
diplomacia e a estratégia do III Reich e a vitória dos aliados na
guerra, tendo como força decisiva a URSS. Essa mesa foi coordenada
por Carrion.
A terceira atividade da FMG-RS foi o Seminário “China: 70 anos de
Profundas Transformações”, realizada entre os dias 1º e 10 de
outubro, na UFRGS e organizado em conjunto com outras 20 entidades,
entre elas o ILEA-UFRGS, a FCE-UFRGS, o IHGRGS, o Instituto Confúcio
e a FPBC-ALERS. O seminário contou com quatro mesas – “A Cultura
Milenar da China”, “A Revolução Chinesa”, “As Reformas Econômicas
Pós Década de 70” e “China hoje- o BRICS e a Rota da Seda” – com
palestras de renomados estudiosos da experiência chinesa. Carrion
foi palestrante na Mesa “As Reformas Econômicas Pós Década de 70”.
A ação internacionalista e a
solidariedade internacional
Tendo vivido cinco anos no exílio, buscando a solidariedade
internacional à luta do povo brasileiro contra o regime militar e
convivendo com exilados de toda a America Latina – Carrion assimilou
profundamente o caráter internacional da luta e a importância da
solidariedade internacional, desprezando todo e qualquer
nacionalismo estreito. Compreensão que sempre o acompanhou, tanto no
parlamento, quanto fora dele.
Por isso, sempre esteve presente nas mais variadas ações
internacionalistas, seja em defesa dos países socialistas – Cuba,
China, Vietnã, Coreia, Laos –, seja em solidariedade às lutas dos
povos de todo o mundo, especialmente a Palestina e a América Latina.
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O II
Seminário Internacional, em 1998. |
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A realização em 1997, 1998 e 1999 de três seminários internacionais
contra o neoliberalismo foi a expressão concreta de sua preocupação
permanente em construir internacionalmente uma crítica teórica ao
pensamento único neoliberal – hegemônico no ocidente –, na busca de
um rumo revolucionário para a luta dos povos. No início do novo
milênio, Carrion organizou outros três seminários internacionais nos
Fóruns Sociais Mundiais de 2001, 2002 e 2003, em Porto Alegre.
Em setembro de 2001, a pedido do então Secretário de Relações
Internacionais do PCdoB, José Reinaldo de Carvalho, Carrion
participou em Montevideu do Encontro Internacional “Vigencia y
Actualización del Marxismo en el Pensamiento de Rodney Arismendi”,
organizado pela Fundação Rodney Arismendi, usando da palavra no ato
de Abertura – realizado na Universidade da Republica – e
contribuindo nos debates das diversas mesas.
Entre 10 e 12 de dezembro de 2007, Carrion esteve do Encontro
Mundial “Democracia Participativa - para qual Desenvolvimento?”,
realizado em Lyon e em Grenoble, na França, representando a CMPA. Na
ocasião, Carrion interveio em diversas mesas de debate, abordando a
experiência do Orçamento Participativo de Porto Alegre.
Em novembro de 2009, por solicitação do CC do PCdoB, Carrion
acompanhou o 2º turno das eleições presidenciais no Uruguai – quando
José Mujica venceu com 52% dos votos, contra 44% do seu opositor –,
acompanhando a votação e participando da grande festa da vitória.
No final de maio de 2013 – enquanto aconteciam em Havana as
negociações de paz entre o Governo da Colômbia e as FARC-EP –
realizou-se em Porto Alegre o “Fórum Pela Paz na Colômbia”, com a
participação de mais de mil pessoas de diversos países. Por
solicitação de Carrion – que fez parte do Comitê Organizador do
evento– a ALERS cedeu suas dependências para a realização do Fórum
pela Paz. Nele, Carrion organizou um encontro de parlamentares –
intitulado “Parlamentares e Paz” – que aprovou uma DECLARAÇÃO PELA
PAZ, a qual obteve em poucos dias a adesão de centenas de
assinaturas de parlamentares de todo o mundo e foi enviada para a
Colômbia.
Em abril de 2014 – a convite da Secretaria de Relações
Internacionais da Frente Guasu, do Paraguai e por solicitação da
Secretaria de Relações Internacionais do PCdoB, Ricardo Abreu de
Melo (“Alemão”) –, Carrion viajou à Assunção, representando a
Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da ALERS, com o objetivo de
acompanhar o caso dos cinco líderes camponeses presos há mais de
dois anos e em greve de fome há 55 dias, que corriam risco iminente
de morte.
Em Asuncion, Carrion cumpriu uma intensa agenda, visitando os presos
no Hospital Militar, participando de atos públicos, reuniões no
Senado da República, encontros com entidades sociais e de Direitos
Humanos e entrevistas aos meios de comunicação, culminando com uma
audiência com o Procurador Geral da República Javier Dias Veron, em
11 de abril, seguida de uma entrevista coletiva na própria sede do
Ministério Público. Na ocasião, Carrion afirmou que se algum dos
presos viesse a morrer, o Estado e o Governo Paraguaio seriam
responsabilizados.
No dia seguinte, o Judiciário paraguaio – tendo em conta “o exame
médico forense e a recomendação do Ministério Publico” – revogou a
prisão preventiva dos cinco presos, substituindo-a por prisão
domiciliar. Com essa vitória, a greve de fome desses camponeses foi
suspensa e as suas vidas foram salvas.
Em agosto de 2014, Carrion participou enquanto Presidente da UNALE
no Encontro da Confederação Parlamentar das Américas (COPA),
realizado no México, compondo a sua Mesa de Abertura e fazendo parte
de diversos painéis de debate.
Entre os dia 13 e 15 de novembro de 2014, a convite do Secretário de
Relações Internacionais do PCdoB, “Alemão”, Carrion acompanhou o 16º
Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários (16º
EIPCO), realizado em Guaiaquil, Equador, que teve a participação de
85 delegados, de 53 partidos e organizações dos cinco continente,
entre os quais os PCs da China, Cuba, Vietnã, Coréia e Laos.
Ao final do Encontro, os delegados participaram da marcha realizada
todos os anos em Guayaquil, reverenciando 300 operários mortos em
novembro de 1922, a mando do então Presidente José Luis Tamayo, que
antes de serem jogados no Rio Guayas, tiveram os seus abdomes
rasgadas com baionetas, para que os seus corpos não voltassem à
tona!
De 12 a 14 de março de 2015, Carrion participou – a convite da
Secretaria de Relações Internacionais do PCdoB – do XIX Seminário
Internacional “Los Partidos y uma Nueva Sociedad”, promovido pelo
Partido del Trabajo de México, na Cidade do México. Participaram do
evento um grande número de PCs e partidos da esquerda mundial,
debatendo a contra-ofensiva imperialista contra os governos
progressistas, através de “Golpes de Novo Tipo”.
No dia seguinte ao término do Seminário, Carrion acompanhou junto
com “Alemão” a reunião do Grupo de Trabalho do Foro de São Paulo,
que tratou da organização do 21º Encontro do FSP.
Cuba: o socialismo que não se rende e desafia o império
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Visita
a Cuba de deputados e lideranças em 2008. |
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Em 2000, Carrion – militante da solidariedade à Cuba desde os tempos
da ditadura militar e membro ativo da Associação Cultural José Marti
– visitou pela primeira vez a Ilha Revolucionária, com o objetivo de
participar do “II Encontro Mundial de Amizade e Solidariedade com
Cuba”, que ocorreu no Centro de Eventos Karl Marx, em Havana.
Em Havana, acompanhado do jornalista comunista português Miguel
Urbano Rodrigues e do dirigente estudantil brasileiro Rubens Diniz –
que atuava na OCLAE – Carrion manteve contatos com diversos
intelectuais e dirigentes cubanos, para melhor conhecer a realidade
cubana, convidando-os a participarem do 1º Fórum Social Mundial de
Porto Alegre.
Oito anos depois, em novembro de 2008, Carrion organizou a ida de
uma delegação oficial da Assembleia Legislativa/RS a Cuba. Além
dele, participaram os deputados Daniel Bordignon (PT), Miki Breier
(PSB), Adroaldo Loureiro (PDT), Iradir Pietroski (PTB), Álvaro
Boésio (PMDB) e Luiz Fernando Záchia (PMDB). Diversas lideranças
políticas e sociais acompanharam essa delegação parlamentar, como a
ex-deputada Jussara Cony, Superintendente do GHC, Lúcio Vieira, da
SEC-RS, Abgail Pereira, da UBM e da CTB e Oscar Plentz, Presidente
da POA-TV.
Depois de conhecer de perto as conquistas da Revolução Cubana e
conviver com o seu povo, a delegação retornou a Porto Alegre e fez
um Relatório de viagem – do qual já foram publicadas duas edições –,
que foi amplamente distribuído. Posteriormente, Carrion criou a
Frente Parlamentar em Solidariedade ao Povo Cubano, que obteve a
adesão de 47 dos 55 deputados e realizou inúmeras atividades de
solidariedade a Cuba.
Em novembro de 2014, os deputados Raul Carrion e Gerson Burmann
(PDT) viajaram a Havana, para uma visita a Cuba, em companhia da
Cientista Política Mercedes Canepa, da UFRGS, e do Jornalista Pedro
de Oliveira. Entre os dias 17 e 24 de novembro, realizaram uma
intensa agenda em Havana, Santa Clara e Varadeiro, visitando
universidades, centros de investigação, instituições governamentais,
entidades sociais e populares, centros esportivos, museus,
monumentos e complexos turísticos. Na volta, Carrion publicou e
divulgou o Relatório detalhado dessa viagem, acompanhado de um breve
histórico de Cuba.
China: a comprovação de que o
socialismo dá certo
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Representado o PCdoB em seminário na China sobre o
socialismo na América Latina. |
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A primeira visita da Carrion à China se deu em novembro de 2008,
quando ele fez parte da delegação do Conselho das Cidades ao 4º
Fórum Mundial Urbano – promovido pelo Programa das Nações Unidas
para Assentamentos Humanos (UN-HABITAT) –, em Nanjing, na China, que
contou com a participação de 7.755 representantes de 157 países.
Após o Fórum, Carrion viajou a Pequim para retornar ao Brasil, tendo
a possibilidade de conhecer a moderna capital chinesa e adquirir
extensa literatura histórica, política e econômica sobre a China.
Nessa viagem, além de participar de um importante evento mundial
sobre a temática habitacional, Carrion pôde adquirir um conhecimento
direto da realidade chinesa.
Em fins de 2009, início de 2010, Carrion fez outra viagem à China,
em caráter pessoal, visitando Pequim, Xian, Guilin, Hangzou, Suzhou
e Shangai. Através dela, além de aprofundar o seu conhecimento da
milenar cultura chinesa, Carrion pôde ter uma visão mais ampla da
realidade do país, da maneira de viver do seu povo e a pujança da
que hoje é a maior e mais dinâmica economia do mundo.
Entre 28 de novembro e 9 de dezembro de 2013, Carrion – junto com as
deputadas Marisa Formolo (PT) e Mirian Marroni (PT) – visitou a
República Popular da China, acompanhando o Governador Tarso Genro e
uma comitiva de quase 70 pessoas, formada por secretários de Estado,
prefeitos, empresários, universidades e meios de comunicação, com o
objetivo de estreitar laços econômicos, sociais e políticos com a
China. Nesses dez dias, a Delegação Gaúcha esteve em Pequim, Shangai
e Wuhan (capital de Hubei, província irmã do Rio Grande do Sul),
visitando universidades, centros tecnológicos, indústrias de ponta e
instituições governamentais, prospectando oportunidades de negócios
e de cooperação. Da mesma forma, assistiram palestras sobre a China,
recolhendo valiosas informações. Após o retorno a Porto Alegre,
Carrion elaborou um Relatório minucioso sobre a viagem, que foi
publicado e amplamente divulgado.
A quarta viagem à China aconteceu em julho de 2014, quando a
delegação que viajava a República Popular e Democrática da Coréia,
liderada por Carrion, fez escala em Pequim, antes de seguir para
Pyongyang. Na ocasião, Carrion e os demais membros da delegação
aproveitaram essa escala de um dia para ter uma reunião com o
Departamento de Relações Internacionais da China e com a Embaixada
Brasileira em Pequim, trocando idéias sobre as realidades chinesa,
brasileira e mundial.
Entre 20 e 30 de junho de 2016, por delegação do então Secretário de
Relações Internacionais do PCdoB, José Reinaldo de Carvalho, Carrion
viajou novamente à China, para representar o PCdoB no “Seminário
sobre o Socialismo na América Latina”, no qual estiveram presentes
delegações de Cuba, Brasil, Uruguai, Equador, Bolívia, Chile,
Nicarágua, El Salvador e México. Em um primeiro momento, os
participantes estiveram em Guagzhou, Província de Cantão, indo em
seguida para Jinggangshan, na Província de Jiangxi – onde teve
início a luta armada na China. Ali, ficaram alojados até 26 de
junho, na China Executive Leadership Academy of Jinggangshan
(CELAJ), assistindo palestras e debates sobre a realidade chinesa e
visitando locais históricos da luta revolucionária.
Em 26 de junho, a delegação seguiu para Pequim, onde fez visitas a
empresas de alta tecnologia e a órgãos governamentais e partidários.
O dia 29 foi inteiramente dedicado ao seminário, no qual Carrion
apresentou a intervenção “O Socialismo é o rumo, o fortalecimento da
nação é o caminho”. No dia 30, assistiram uma palestra sobre a
economia chinesa no Instituto de Estudos Macroeconômicos. A seguir,
reuniram com o Vice-Ministro Zhou Li, do Departamento de Relações
Internacionais do CC do PC da China,onde conversaram sobre a
política externa chinesa e a realidade internacional. No dia
seguinte, Carrion iniciou o seu retorno ao Brasil.
Vietnã: o socialismo heróico que
derrotou três imperialismos
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Com o
Vice-Presidente da Comissão Legal da Assembleia Nacional
do Vietnam. |
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Em sua preocupação de conhecer as experiências socialistas vigentes,
Carrion – recém eleito para o seu segundo mandato na ALERS –
realizou uma viagem de caráter pessoal ao Vietnã em janeiro de 2011,
ocasião em que visitou Hanói, Halong, Hoi An, Hué, Ho Chi Minh
(ex-Saigon) e Cuchi. Em Hanói, Carrion teve uma reunião com
representantes do Departamento de Relações Internacionais do PC do
Vietnã, para combinar a ida de uma Delegação da Assembleia
Legislativa do RS ao Vietnã.
De volta a Porto Alegre, Carrion organizou essa Delegação, da qual
participaram, além dele, os deputados Heitor Schuch (PSB), Alceu
Barbosa (PDT) e Marcelo Morais (PTB). Também acompanharam essa
delegação o coordenador da bancada do PT, João Ferrer, o Presidente
do IRGA, Cláudio Pereira, o Assessor do Governador Tarso Genro,
Federico Fornazieri e o Professor Paulo Visentini, da UFRGS. Durante
nove dias, a delegação realizou uma intensa agenda em Hanói e Ho Chi
Minh, visitando a Assembleia Nacional, instituições governamentais,
universidades, museus, centros de pesquisa e empresas de alta
tecnologia, constatando os grandes avanços e o desenvolvimento
acelerado da República Socialista do Vietnã.
Como resultado dessa viagem, ampliaram-se as relações entre o Rio
Grande do Sul e o Vietnã e foi criada, em abril de 2012, a Secção
Gaúcha da Associação de Amizade Brasil-Vietnã (ABRAVIET-RS),
presidida por Carrion até o inicio de 2016, quando assumiu a
presidência o Historiador Daniel Sebastiani.
RPD da Coreia: o socialismo sitiado e ameaçado
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Com o
Vice-Diretor do Depto. Internacional do Partido do
Trabalho da Coréia. |
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Em julho de 2014 – em articulação com a Secretaria de Relações
Internacionais do PCdoB –, Carrion organizou a visita de uma
delegação brasileira à República Popular Democrática da Coreia.
Participaram dessa delegação, além de Carrion, o Prof. Paulo
Visentini e a Profª. Analúcia Danilevicz (ambos da UFRGS), o
Subsecretário de Esportes do Espírito Santos, Anderson Falcão, e o
Presidente da UJS de Goiás, Lucas Ribeiro Marques.
Na RPDC, em apenas sete dias, a delegação fez mais de 40 agendas,
visitando monumentos, museus, centros culturais, esportivos e de
lazer, indústrias e cooperativas agrícolas, além de uma
esclarecedora reunião com Pac Gun Kwang, Vice-Diretor do
Departamento Internacional do Partido do Trabalho da Coréia.
A Coreia que conheceram, convivendo com o seu povo, dista muito da
imagem deturpada que a mídia internacional – a serviço do
imperialismo estadunidense e de seus aliados – apresenta. Conheceram
um país onde não existe miséria; os impostos foram abolidos há mais
de 40 anos e o Estado assegura a todos o acesso à alimentação,
vestuário e moradia. Uma nação moderna, de alta tecnologia,
orgulhosa de seus feitos e de sua resistência ao maior e mais longo
bloqueio econômico, diplomático e midiático que qualquer país já
sofreu até os dias de hoje. Daí a sua determinação em basear-se em
suas próprias forças e não depender de ninguém, mais por já haver
experimentado na carne as conseqüências de depender dos outros, do
que por qualquer visão “autárquica” ou “nacionalista estreita”.
Aliás, ao contrário do que muitos pensam, a RPDC permite os
investimentos estrangeiros desde 1984 e – mantendo a predominância
das formas socialistas de produção – estimula a associação das
empresas coreanas com pessoas naturais e jurídicas estrangeiras e os
investimentos estrangeiros nas Zonas Econômicas Especiais. A
experiência melhor sucedida é o Complexo Industrial de Kaesong,
gerido pela Hyundai sul-coreana, na fronteira entre os dois países,
que em seu terceiro estágio englobará cerca de duas mil empresas e
300.000 trabalhadores.
Foi a sua intrepidez frente às graves ameaças estadunidenses que
obrigou o destemperado governo Trump a abrir negociações com a RPDC
e, inclusive, solicitar autorização para uma visita à região
desmilitarizada de Panmunjon para encontrar-se com o Kim Jong Un, o
líder da nação norte-coreana.
De volta ao Brasil, Carrion publicou pela ALERS o relato dessa
viagem – ao que agregou um alentado estudo sobre a Guerra da Coreia
e sobre a construção socialista na RPDC. Carrion também organizou na
ALERS uma exposição de fotos, livros, revistas, peças de artesanato
e promoveu um debate sobre a RPDC, com a participação da Embaixada
norte-coreana no Brasil.
A Federação Russa e as ex-Repúblicas Socialistas da extinta URSS
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Presença nas comemorações dos 100 anos da revolução
russa em Moscou, 2017. |
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Em 2013, Carrion visitou em caráter particular as três ex-Repúblicas
Socialistas do Báltico – Estônia, Lituânia e Letônia –, que sempre
tiveram uma relação complexa com a extinta URSS, onde observou uma
política governamental de clara animosidade em relação à numerosa
população de origem russa que aí vive, inclusive abolindo o ensino
do russo em suas escolas. São países muito dependentes da indústria
do turismo, com uma forte influência da ideologia burguesa
reacionária, nos quais – desde a sua separação da URSS – boa parte
da sua população precisa emigrar a outros países europeus para
conseguir trabalho.
Após visitar esses países, Carrion foi a Berlim, tanto à sua região
ocidental, como à ex- República Democrática da Alemanha. Nesta, é
onde se encontra mais preservada a Berlim histórica e estão os
monumentais museus alemães. Nesses museus, quando tratam da época
contemporânea, se percebe o esforço para eliminar qualquer vestígio
do período socialista e minimizar os crimes do nazismo.
Em abril de 2015, Carrion esteve pela primeira vez na Federação
Rússia – visitando Moscou e São Petersburgo (ex-Leningrado) –, indo
após à Bielo-Rússia, ex-República Socialista da extinta URSS.
Em Moscou, Carrion reuniu-se com Tatiana Deciatova – do Departamento
de Relações Internacionais do CC do PC da Federação Russa – e com
Leo Plaza, comunista chileno radicado em Moscou, que ajudou como
tradutor nas diversas agendas que Carrion teve na capital Russa.
Além de conhecer a belíssima capital russa, Carrion visitou o
Parlamento Nacional – onde reuniu-se com a Deputada Olga Alimova do
PCFR – e o Parlamento de Moscou – onde reuniu-se com o Deputado
Leonid Ziuganov e com o Coordenador da Bancada do PCFR, Serguéi
Tomojov. Em todas essas agendas, Carrion contou com a atenciosa
companhia de Tatiana Deciatova e de Leo Plaza. Posteriormente, o
portal do PCFR estampou com destaque a noticia da visita de Carrion
à Moscou.
Essa visita permitiu a Carrion conhecer a realidade atual do país
que realizou a primeira revolução socialista – transformando um país
medieval em uma potência mundial –, construiu a União das Repúblicas
Socialistas e salvou a humanidade – ao custo de milhões de vidas –
da escravidão nazi-fascista. Pátria do socialismo que – pela ação de
traidores como Gorbachov, Yeltsin e outros – foi desmantelada,
mergulhada em uma profunda crise e transformada em uma nação de
segunda categoria. Mas que hoje renasce como potência mundial, ainda
que não mais socialista, e volta a jogar um importante papel na
arena internacional, enfrentando os EUA em seu projeto de dominar o
mundo e submeter pela força os que ousarem resistir.
Apesar da destruição de grande parte dos avanços sociais, políticos
e econômicos da antiga URSS e a tentativa de apagar da memória do
povo essa gloriosa experiência – como ocorre em seus atuais museus
que glorificam o período czarista e desprezam a experiência
socialista – ainda são perceptíveis as suas grandes conquistas. A
própria força do PCFR, como cerca de 100 deputados nacionais,
expressa isso. E as pesquisas indicam que a cada ano cresce a
nostalgia em relação à antiga URSS.
Da Rússia, Carrion foi à Bielo-Rússia, onde se reuniu com o 1º
Secretário do PC da Bielo-Rússia e Prefeito de Minsk, Igor Karpenko
– a quem havia conhecido no XIX Seminário Internacional do Partido
del Trabajo de México –, com os deputados da Assembleia Nacional da
Bielo-Rússia Aleksei Kuzmich, Viktor Fesak e Valiantsina Zhurauskaya
e com outros dirigentes do PC da Bielo-Rússia. Nessas reuniões foi
realizado um valioso intercâmbio de idéias e informações.
Nos dias em que esteve em Minsk, Carrion – na companhia de
dirigentes do PC da Bielo-Rússia – cumpriu uma intensa agenda para
conhecer a realidade do país, visitando o Museu da Guerra, o
Complexo Esportivo Nacional, o Hospital nº 10 de Minsk, a maior
fábrica de tratores do país e assistiu um belíssimo espetáculo de
Balé no Teatro Nacional. Também visitou – acompanhado pelo
Embaixador brasileiro Paulo Antônio Pereira Pinto – a Universidade
Estatal da Bielo-Rússia.
Carrion – que muito pouco conhecia sobre a Bielo-Rússia – constatou
que apesar do sistema socialista soviético não mais existir,
persiste nesse país uma forte economia estatal, planejada,
convivendo com setores privados, com uma forte influência do Partido
Comunista, o qual tem uma relação muito próxima com o Presidente
Aleksandr Lukashenko. Pôde compreender, então, porque o governo da
Bielo-Rússia, e o seu presidente, são tão atacados pela mídia
internacional, que os caracteriza como “conservadores” e “não
democráticos”.
Em outubro e novembro 2017, por ocasião das comemorações do
centenário da Revolução Russa, Carrion percorreu as ex-Repúblicas
Socialistas da Ásia Central – Cazaquistão, Quirguistão,
Tadjiquistão, Uzbequistão, Turcomenistão – além da Ucrânia e da
Rússia (esta pela segunda vez).
Na Ásia Central, Carrion pôde constatar – apesar de terem passado
tantos anos da restauração capitalista – os avanços decorrentes da
edificação do socialismo nesses países, transformando povos ainda
nômades em sociedades modernas. Também foi possível perceber os
primeiros efeitos nesses países da “Nova Rota da Seda”, impulsionada
pela China. Conversando com algumas pessoas desses países, escutou
que os mais velhos (as gerações que viveram a experiência do
socialismo) têm “saudades” dos tempos da URSS. Já os mais jovens
tendem a idealizar a realidade atual.
Da Ásia Central, Carrion viajou para Kiev, capital da Ucrânia, onde
vigora atualmente um regime de caráter neo-fascista, que criminaliza
e persegue os comunistas e a esquerda. Cidade histórica da Grande
Rússia – que foi ocupada e destruída pelos nazistas durante a
Segunda Guerra Mundial, sendo reconstruída pelos soviéticos –, Kiev
ainda conserva uma imponente arquitetura e importantes museus, entre
os quais se destaca o seu impactante Museu da Segunda Guerra.
Havendo estado em Kiev na semana em que era comemorada a revolta de
2013 – na qual atuaram, de forma organizada e com grande violência
forças de ultra-direita, derrubando o governo de então, Carrion pôde
observar na Praça Maidan, epicentro dos confrontos, uma forte
propaganda neofascista em nome da “Liberdade”...
De Kiev, Carrion seguiu para Moscou, para participar dos grandes
atos comemorativos dos 100 anos da Revolução Russa – na Praça
Vermelha e na Praça da Revolução –, que reuniram milhares de
comunistas russos e de todo o mundo, entre os quais cerca de 300
brasileiros, incluindo militantes e dirigentes do PCdoB. Da mesma
forma, aproveitou para rever lugares históricos e museus que não
visitara em sua primeira viagem a Moscou, entre eles o da Segunda
Guerra Mundial.
Leste Europeu: regressão a um
capitalismo periférico e fornecedor de mão de obra
A primeira viagem de Carrion ao Leste Europeu, com o objetivo de
conhecer os efeitos da restauração capitalista nesses países,
ocorreu em julho de 2011, quando visitou em caráter pessoal a
Polônia - onde retornou em 2015 -, Eslováquia, República Tcheca e
Hungria.
Em 2015, Carrion visitou a Romênia, Bulgária, Sérvia e Croácia –
onde reuniu com dirigentes de seus Partidos Comunistas, debatendo os
processos contra-revolucionários que neles ocorreram e a situação
atual dos seus países. Nessa mesma ocasião, Carrion esteve na
Eslovênia, Bósnia e Montenegro – ex-Repúblicas da Yugoslávia –, mas
não teve a possibilidade de reunir com a direção dos seus Partido
Comunistas.
Em 2016 voltou a visitar à Eslováquia, República Tcheca, Hungria e
Polônia.
Em todas essas ocasiões, foi possível perceber a desindustrialização
e a subalternização das economias desses países, que se
transformaram em mercados consumidores de bens produzidos na Europa
Ocidental e fornecedores de mão-de-obra barata – ainda que
qualificada – para as empresas ocidentais.
A sua beleza arquitetônica – resultado do cuidado dos governos
socialistas com a conservação de seus monumentos históricos,
inclusive realizando vultuosos investimentos na sua restauração,
como na “cidade antiga” de Varsóvia, que havia sido completamente
destruída pelos nazistas – é um desmentido da ladainha dos
reacionários de todo o mundo de que “os comunistas não preservam os
monumentos do passado”.
Também foi perceptível a verdadeira “lavagem cerebral” feita a boa
parte de seus guias turísticos que não enrubecem quando afirmam que
os soviéticos – e não os nazistas – são os grandes responsáveis pelo
massacre de seus povos durante a Segunda Guerra Mundial!
Infelizmente, ainda não se percebe o surgimento nesses países de uma
alternativa revolucionária, a curto ou médio prazo.
A solidariedade à Palestina ocupada e
martirizada
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Junto
ao "muro da vergonha", quando da visita à Palestina em
2012. |
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Todos os povos do mundo merecem a solidariedade de quem almeja um
mundo mais justo e humano, mas povo palestino – que teve a sua
pátria ocupada à força por imigrantes estrangeiros e que há mais de
70 anos luta pelo seu direito a um Estado Nacional, sofrendo todo o
tipo de violências e massacres – necessita dessa solidariedade em um
grau superior. Por isso, Carrion sempre teve essa bandeira como
central. Afora múltiplas atividades de solidariedade ao povo
palestino, podemos destacar que em 2010, Carrion protocolou na
Assembléia Legislativa um projeto criando o Dia Estadual de
Solidariedade ao Povo Palestino, transformado na Lei n.º 13.725, de
16 de maio de 2011
Em 30 de novembro de 2012 – quando da realização em Porto Alegre do
Fórum Social Mundial Palestina Livre – Carrion organizou na ALERS o
Fórum Parlamentar Mundial Palestina Livre, com a participação de
parlamentares da América Latina, Europa, África e Ásia. A Mesa de
Abertura do FSM-PL – presidida por Carrion – contou com a presença
de Tarso Genro, Governador do Rio Grande do Sul, Nabil Shaath,
representante da Autoridade Nacional Palestina, Fayez Saqqa,
representante do Parlamento Palestino, e Ibrahim Al Zeben,
Embaixador da Palestina no Brasil. Ao final do Fórum, foi aprovada a
Carta de Porto Alegre, em apoio à luta do povo palestino pelo seu
Estado Nacional e contra a opressão israelense, traduzida para o
inglês, o espanhol e o árabe e amplamente divulgada.
Em março de 2013, Carrion se fez presente ao Fórum Social Mundial da
Tunísia – que teve como uma de suas marcas a solidariedade ao povo
palestino – e ao simultâneo Fórum Parlamentar Mundial. No FSM,
Carrion fez uma palestra na Mesa “Apartheid de Israel contra a
Palestina”, onde relatou o Fórum Social Mundial Palestina Livre de
Porto Alegre, e divulgou a Carta nele aprovada. Nesse FSM, Carrion
também participou da Oficina “Pelo Direito ao acesso universal dos
bens comuns sobre Habitação, Saneamento, Energia e Água”, organizada
pela CONAM.
Já no Fórum Parlamentar Mundial da Tunísia, Carrion compôs a Mesa de
Encerramento, junto com o Deputado Ahmed Essefi, da Frente Popular
da Tunísia, a Deputada do Parlamento Europeu Karima Delli, do
Partido Verde, e a Deputada Marie Christine Vergiat, do GUE/NGL,
defendendo entre outras questões a solidariedade à luta do povo
palestino
Entre 26 de abril e 2 de maio de 2013, Carrion acompanhou o
Governador Tarso Genro e uma comitiva de mais de 80 pessoas –
incluindo órgãos do governo, universidades, empresários, prefeitos e
veículos de comunicação – em sua viagem à Palestina e Israel,
visitando Ramallah, Tel Aviv, Jaffa, Hebron, Haifa e Jerusalém. Além
de Carrion, participaram da comitiva a deputada Marisa Formolo (PT),
o deputado Aldacir Oliboni (PT), o deputado Miki Breier (PSB) e o
deputado Gilmar Sossella (PDT).
Nessa viagem, os deputados puderam ver de perto o sistema de
apartheid contra a população palestina – confinada em áreas cercadas
por altos muros e vigiada dia e noite por soldados armados até os
dentes, com ordem para matar qualquer palestino “suspeito”. No seu
retorno, Carrion publicou e divulgou o Relatório da “Missão Oficial
da ALERS à Palestina e Israel”.
Carrion passa a fazer parte da Comissão Nacional de Relações
Internacionais e de sua Executiva
Em fins de 2018, a convite do novo Secretário de Relações
Internacionais do PCdoB – Walter Sorrentino –, Carrion passou a
fazer parte da Executiva da Comissão Nacional de Política e Relações
Internacionais, ficando responsável pelo Cone Sul.
Nessa condição, participou, em abril de 2019 – junto com Walter
Sorrentino e Ana Maria Prestes –, do Encontro de Partidos Comunistas
da América do Sul, realizado em Montevidéu, que contou com a
presença dos PCs do Uruguai, Argentina, Chile, Paraguai, Venezuela,
Colômbia, Peru, Bolívia e Brasil (PCdoB e PCB). Também se fez
presente o Embaixador de Cuba no Uruguai. Ao final do encontro –
marcado pela unidade – foi aprovada uma Declaração consensual dos
Partidos Sul-Americanos.
56 anos de atuação revolucionária e 50 de militância comunista
Em 2019, Raul Carrion completou 56 anos do seu ingresso na Ação
Popular (AP) e 50 anos de atuação ininterrupta no Partido Comunista
do Brasil (PCdoB).
Nessa caminhada, Carrion iniciou a sua militância política nas lutas
estudantis secundaristas e universitárias. Foi estudante de
Engenharia Química da UFRGS durante quatro anos. Suspendeu os
estudos para trabalhar como operário metalúrgico no Vale do Sinos,
com identidade falsa, e participar da luta dos trabalhadores
calçadistas. Após ingressar no PCdoB, retornou a Porto Alegre para
fazer o curso de Química na UFRGS. Foi Professor em diversas escolas
e cursinhos. Preso e barbaramente torturado em 1971, teve de
exilar-se no Chile e Argentina, onde realizou um trabalho de
solidariedade à luta do povo brasileiro contra a ditadura. Na
Argentina formou-se técnico em eletrônica.
Retornou clandestinamente ao Brasil para retomar a luta no momento
em que a Guerrilha do Araguaia havia sido aniquilada. Foi morar e
trabalhar em Goiânia. Com a “Queda da Lapa” e o assassinato sob
tortura do seu contato em Goiânia, ficou isolado do PCdoB. Viajou ao
exterior para refazer os contatos com o Partido, voltando após para
Goiânia. Com a Anistia retornou a Porto Alegre – agora com a esposa
e a filha –, trabalhando como metalúrgico e tornando-se uma
destacada liderança sindical.
Atuou no movimento comunitário, onde foi Vice-Presidente da
Associação de Moradores do Jardim Ipiranga, Presidente da Associação
de Moradores do Centro de Porto Alegre e duas vezes Presidente do
Conselho Deliberativo da UAMPA (União das Associações de Moradores
de Porto Alegre). Participou de grandes lutas pela Moradia e pela
Reforma Urbana. Foi eleito para o Conselho Nacional das Cidades e
para o Conselho Estadual das Cidades por cinco vezes, ali
permanecendo por 11 anos. Presidiu em 2014 a União Nacional de
Legisladores e Legislativos Estaduais (UNALE).
Anistiado, foi sócio fundador do Movimento dos Ex-Presos e
Perseguidos Políticos do Rio Grande do Sul (MEPPP-RS) e presidente
por três vezes do seu Conselho Deliberativo, sendo atualmente o seu
Vice-Presidente.
Na luta política institucional, foi oito vezes candidato do PCdoB –
à Prefeito de Porto Alegre, suplente de Senador, deputado federal,
deputado estadual e vereador. Cumpriu o mandato de vereador em três
legislaturas e de deputado estadual em duas legislaturas. Foi Chefe
de Gabinete da Vereadora Jussara Cony, na CMPA e Coordenador da
Bancada do PCdoB na Assembleia. No executivo estadual, foi
Diretor-Presidente da Fundasul, onde dirigiu mais de mil servidores.
Servidor concursado do Ministério Público Estadual, só aposentou-se
aos 72 anos de idade, após quase 40 anos de trabalho.
No PCdoB – além de compor o seu Comitê Estadual desde 1970 (salvo
quando esteve fora do país ou do Estado) e participar desde então do
seu Secretariado ou de sua Comissão Política –, presidiu por duas
vezes o Comitê Municipal de Porto Alegre, o Comitê de Canoas e o
Comitê Estadual do PCdoB. Atualmente, é membro da Comissão Política
Estadual e da Comissão Executiva da Secretaria de Relações
Internacionais do CC do PCdoB.
Sempre dedicado à luta de idéias, foi um dos fundadores do Centro de
Estudos Marxistas do RS e do Centro de Debates Econômicos, Sociais e
Políticos do RS. Participou da organização de diversos Fóruns
Sociais Mundiais. Foi o primeiro Presidente do Instituto Maurício
Grabois no RS e preside atualmente a seção gaúcha da Fundação
Maurício Grabois. Organizou mais de uma dezena de importantes
seminários de caráter nacional e internacional. É co-autor ou
organizador de 14 livros e dezenas de publicações.
Estudioso do socialismo esteve por diversas vezes na China, Cuba e
Vietnã, além de uma vez na RPD da Coreia e no Laos. Da mesma forma,
visitou a maioria das ex-Republicas Socialistas que faziam parte da
extinta URSS e viajou todo o Leste Europeu. Internacionalista
convicto, participou de mais de duas dezenas de encontros, missões
ou atividades internacionais. “Cidadão do mundo”, conheceu mais de
80 países e as mais distintas culturas.
Nos dias de hoje, quando impera no Brasil um governo
ultra-neoliberal que ataca as liberdades democráticas, realiza o
mais deslavado entreguismo e liquida com os direitos trabalhistas,
previdenciários e civis, Carrion conclama à construção de uma ampla
Frente Democrática, com o objetivo de barrar as ameaças
neo-fascistas. Segundo ele, "a esquerda precisa aprofundar a sua
união, para tornar-se o polo aglutinador de uma unidade mais ampla,
que supere as suas fronteiras. Só assim deteremos o fascismo que
ganha corpo!"
Esse livro busca relatar essa trajetória de 56 anos de lutas e de
vivências de Raul Carrion – 50 dos quais no Partido Comunista do
Brasil – na expectativa de que ela inspire os que dedicam a sua vida
ao progresso da humanidade e comprove que a luta pelo fim da
exploração do homem pelo homem e contra todo o tipo de opressão –
por mais difícil e sinuosa que seja – vale à pena e que o importante
é manter-se sempre do lado certo da História! |