Raul Carrion nasceu em 22 de
dezembro de 1945, em Porto Alegre, numa família de forte atuação
política e social. Seu pai Francisco Machado Carrion era advogado e
Professor das Faculdades de Economia e de Filosofia da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), das quais foi Diretor. Sua mãe
Erna Maria Kroeff Carrion também era professora. Tanto seu pai como
seu tio Cândido Machado Carrion foram suplentes de Deputado Estadual
na Constituinte de 1947, tendo ambos assumido por diversas vezes o
mandato. Francisco Machado Carrion também foi Secretário de Educação
do Porto Alegre e Presidente da Fundação Educacional Padre Landel de
Moura (FEPLAM).
Seu bisavô materno Jacob Kroeff Filho foi Deputado Estadual pelo
Partido Republicano, nas legislaturas de 1892/1896 e 1897/1900, e
seu avô materno Jacob Kroeff Neto elegeu-se deputado Estadual,
também pelo Partido Republicano, nas legislaturas de 1917/1920,
1921/1924 e 1925/1928, além de ter sido um dos líderes da
emancipação do município de Novo Hamburgo e seu primeiro Prefeito.
Seu irmão Francisco Machado Carrion Júnior – falecido em acidente
aviatório em 2001 – era Economista e Professor da Faculdade de
Economia da UFRGS. Foi Deputado Estadual na legislatura 1983/1986 e
elegeu-se Deputado Estadual Constituinte em 1986/1991. Na
legislatura 1991/1994 foi Deputado Federal, ocasião em que assumiu a
Secretaria de Administração e Planejamento do Estado do Rio Grande
do Sul.
Seu irmão Eduardo K. M. Carrion é advogado, Cientista Político e
Professor de Direito Constitucional, tendo sido Diretor da Faculdade
de Direito da UFRGS. Sua irmã Otília Beatriz Kroeff Carrion é
Economista e Professora universitária, tendo sido Diretora da
Faculdade de Economia da UFRGS. Sua irmã Vera Maria K. Carrion é
Engenheira Química, é funcionária concursada do Badesul e
Vice-Presidente do Sindicato dos Engenheiros do Rio Grande do Sul.
Seu primo Fernando Machado Carrion foi Prefeito de Passo Fundo e
Deputado Federal na legislatura 1991/1994.
O ingresso na Ação Popular
Raul Carrion fez o ensino
fundamental no Instituto Piratini, em Porto Alegre. A seguir, cursou
o primeiro ano do científico no Colégio Farroupilha e os dois
últimos anos no Colégio Anchieta.
Influenciado pelo Movimento da
Legalidade em 1961 e pelas mobilizações pelas Reformas de Base que
sacudiram o Brasil de Norte a Sul, iniciou sua militância política
aos 17 anos, em 1963, ingressando na Ação Popular (AP) – organização
revolucionária de origem cristã, que propunha uma “revolução
socialista de libertação nacional”. Nela atuou com seus colegas do
Colégio Anchieta José Luiz Fiori, Paulo Renato de Souza (futuro
Ministro da Educação), Roberto Motolla, e outros.
Quando ocorreu o
golpe de 1964, Carrion havia acabado de passar no vestibular de
Engenharia da UFRGS, obtendo o 13º lugar entre mais de 1500
candidatos. Tendo optado pelo curso de Engenharia Química, logo se
destacou como liderança universitária no combate à ditadura. Na
ocasião, as principais forças de esquerda na UFRGS eram o PCB – sob
a liderança de Flávio Koutzi, Marco Aurélio Garcia, Marcos Faermann
e Trajano –, o PCdoB e a AP.
Já em 1964, Carrion fez parte da chapa
da esquerda para o CEUE (Centro de Estudantes Universitários de Engenharia) que foi derrotada
pela direita por poucos votos. Vivia-se o momento das primeiras
lutas e confrontos contra o regime militar que havia colocado na
ilegalidade a UNE, a UBES, as UEEs e as Federações Universitárias, e
buscava impor uma estrutura estudantil, espúria, atrelada ao
Ministério da Educação, formada por um pretenso “Diretório Nacional
de Estudantes” (DNE), Diretórios Estaduais de Estudantes (DEEs),
Diretórios Centrais de Estudantes (DCEs) e Diretórios Acadêmicos
(DAs). Cabe registrar que, apesar de haver ganho as eleições para o
CEUE, a direita nunca conseguiu mudar a sua denominação para
“Diretório Acadêmico”, devido ao domínio da esquerda nas assembleias
gerais do curso de engenharia. Por isso, até hoje ele é o “CEUE”.
Na
mesma época foram convocadas eleições para o DCE da URGS (que
substituiu a antiga FEURGS). O PCB lançou a candidatura de Flávio
Koutzi, que teve o apoio da AP, em troca do apoio que o PCB lhe
havia dado nas eleições para o DEE. Carrion, apesar de ser da AP,
foi lançado pelo PCdoB e por lideranças da Engenharia e da Geologia,
como candidato alternativo a Koutzi. Na convenção da esquerda,
prevaleceu o nome de Koutzi que, no entanto, acabou derrotado pela
direita nas eleições para o DCE.
Não concordando a tática de
“hibernação” frente à ditadura – proposta pela maioria dos então
dirigentes da AP do Rio Grande do Sul – Carrion passou a participar
ativamente das lutas contra a ditadura e na organização da AP. Foi,
então, eleito para o seu Comando Regional, junto com José Ouriques
Freitas (ex-presidente nacional da JOC e liderança metalúrgica de
Porto Alegre), Hélio Corbellini, Gilberto Bossle e Hello Duclós.
Em
1965 – com 19 anos –, passou a representar o Rio Grande do Sul no
Comando Nacional da AP, participando de suas reuniões periódicas. Lá
conheceu Aldo Arantes, Haroldo Lima, José Herbert de Souza
(“Betinho”), Duarte Pereira, Paulo Whrigth e outros dirigentes
nacionais da Ação Popular.
A luta junto ao movimento
operário
Nessa época, além de acompanhar o
movimento estudantil secundarista e universitário – onde atuavam
José Loguércio, João Luís Santos, Carlos Lenglert, Carlos Augusto de
Souza, André Foster, entre outros – passou a participar no movimento
sindical da Região Metropolitana de Porto Alegre, junto às
categorias dos metalúrgicos, “alfaiates” (trabalhadores do
vestuário) e calçadistas. Em 1965, apoiou a luta pela retomada do
sindicato dos metalúrgicos de Porto Alegre, que foi impedida pela
negativa do DOPS em fornecer o “atestado ideológico” a diversos
candidatos da chapa de oposição. Pouco tempo depois, coordenou a
campanha da oposição ao Sindicato dos Sapateiros de Porto Alegre,
que acabou vitoriosa, colocando Adão da Graça na sua presidência.
Através de sua participação nessas lutas, Carrion conviveu com
inúmeras lideranças operárias da época, como José Freitas, Pedro
Machado Alves, Antônio Losada, Castilhos, Adão da Graça,
Rancheirinho, João de Deus Canha, Aldomiro Scherer, Agenor Castoldi
e Luís Carlos Xavier, entre outros. Nessa época, aproximou-se de
forma definitiva do marxismo, no que José Freitas teve importante
papel, pois era quem já tinha maior conhecimento do marxismo na
direção da AP.
A partir da vitória no Sindicato dos Calçadistas de Porto Alegre,
Carrion estreitou sua ligação com o movimento calçadista de Novo
Hamburgo e do Vale do Sinos em geral, passando a atuar em toda a
região. Em 1967, para poder dedicar-se integralmente ao trabalho de
direção da AP e à luta contra a ditadura, suspendeu o seu curso de
Engenharia Química. O núcleo executivo do Comando Regional da AP de
então passou a ser constituído por Carrion, José Freitas e Pedro
Calmon.
Nessa época, a Ação Popular aproximou-se do Partido Comunista da
China – que se encontrava em plena “Revolução Cultural Proletária” –
e teve início o chamado “processo de proletarização da AP”, sendo os
militantes convocados a integrar-se à vida do povo. Ao lado da justa
preocupação de direcionar o trabalho da AP prioritariamente para as
massas operárias e camponesas, surgiram orientações sectárias,
tipicamente pequeno-burguesas. De forma esquemática, foram
estabelecidas normas diferenciadas a serem seguidas pelos militantes
– segundo eles fossem de origem operária, camponesa ou
pequeno-burguesa – definindo o que cada um podia possuir, o estilo
de vida que devia ter, etc. Concepção sectária, que nada tinha a ver
com o marxismo. Nesse período, Carrion já havia deixado de
participar do Comando Nacional da AP.
Começaram, então, a surgir questionamentos – principalmente entre os
companheiros do Rio Grande do Sul que atuavam no movimento operário
– por entenderem que essa era uma visão equivocada, não marxista, de
caráter predominantemente religioso. Logo depois, surgiu – com base
no chamado “Esquema dos Seis Pontos” de Jair Ferreira de Sá, o
“Dorival” – a orientação de “integrar-se na produção”. Para Carrion,
Freitas e outros, isso não passava de uma tentativa da pequena
burguesia de tentar substituir e dirigir a classe operária e os
camponeses.
Partindo de uma concepção leninista, entendiam que o “Partido da
Classe Operária” era fruto da união da teoria marxista com o
movimento operário. O que ocorreria na medida em que os intelectuais
revolucionários – portadores da teoria revolucionária – se unissem
ao movimento operário e contribuíssem para a formação de lideranças
proletárias, sem tentar substituí-las. Portanto, até era aceitável a
integração na produção, como um caminho para a formação quadros
operários, para ajudá-los a assimilar o marxismo, visando a sua
transformação em “intelectuais revolucionários operários”. Nunca com
o objetivo de substituí-los.
A direção nacional da AP decidiu, então, deslocar para o Rio Grande
do Sul o dirigente Altino Dantas (que mais tarde viria a romper com
a AP e formar o PRT), com a tarefa de “enquadrar” a AP do Rio Grande
do Sul nas novas orientações. Altino travou, então, uma luta interna
contra a direção estadual da AP-RS, que resistia a essa visão
sectária. Esse processo foi sedimentando uma forte divergência entre
um conjunto de companheiros – especialmente os que atuavam no meio
operário – e o Comando Nacional da AP. O novo núcleo de direção
passou a ser hegemonizado por Altino Dantas e alguns militantes
cooptados por ele, como Pedro Calmon. Fruto dessas divergências,
Carrion e Freitas deixaram de fazer parte do Comando Regional da AP.
Em 1968, devido aos laços estabelecidos com lideranças operárias da
região calçadista do Vale dos Sinos, Carrion mudou-se para Novo
Hamburgo – principal polo da indústria calçadista no Rio Grande do
Sul –, com o objetivo de estender o trabalho da Ação Popular na
região e ajudar na organização dos trabalhadores na luta contra a
ditadura. Depois de alguns meses morando em Novo Hamburgo, Carrion
realizou um curso de “cortador” na escola do Sindicato, e
empregou-se em uma importante fábrica de calçados, utilizando uma
documentação falsa em nome de “Antônio Ferreira da Costa”. Passou
nos testes, trabalhou durante uma semana, mas não conseguiu
permanecer no emprego, por não possuir toda a documentação exigida.
Conseguiu, então, emprego como operador de máquina em uma fábrica de
componentes de calçados. Assim, “integrou-se na produção”, mas com
uma visão diametralmente oposta à pregada pela Ação Popular.
Rapidamente, estruturou a AP em Novo Hamburgo, atraindo importantes
lideranças calçadistas, principalmente da Juventude Operária
Católica (JOC), onde, entre outros, destacavam-se Renatinho,
Sebastião Velho, Nelson Sá e Astrogildo. A realização de cursos e a
difusão de materiais de formação política contribuíram para o
fortalecimento do trabalho nas fábricas. Pequenas lutas, em diversas
empresas, serviram para melhor preparar as forças.
O dissídio de 1969 dos calçadistas de Novo Hamburgo serviu como uma
prova de fogo para o trabalho realizado. Depois de debater a
situação, a direção da AP em Novo Hamburgo – com a participação de
Carrion – decidiu lançar uma ampla mobilização entre os calçadistas,
com a palavra de ordem "40% ou greve!". Panfletos foram impressos e
amplamente distribuídos nas fábricas de forma semiclandestina,
utilizando os mais variados métodos.
Apesar da direção pelega a frente do sindicato e da recente edição
do Ato Institucional Nº5 – causando um inevitável refluxo nas lutas
sindicais –, a categoria mobilizou-se. Temendo a greve, o DOPS,
auxiliado pelos patrões, prendeu nas fábricas, na véspera da
assembleia decisiva, 10 lideranças operárias, com o objetivo de
desarticular o movimento. Entre os presos, levados para o DOPS de
Porto Alegre, encontrava-se Renatinho, da direção da AP de Novo
Hamburgo. Em reunião da direção, realizada em Novo Hamburgo nessa
noite, Carrion se propôs e realizar uma panfletagem de carro,
durante a madrugada, nas portas das principais fábricas, conclamando
à participação na assembleia. Os panfletos foram impressos em um
mimeógrafo de tinta e Carrion arrancou, de carro, às 5h da manhã, do
Bairro Canudos em direção a Porto Alegre, percorrendo em torno de 20
fábricas, que amanheceram com suas calçadas cobertas de
convocatórias.
Na assembleia realizada nessa noite, mais de 700 trabalhadores
lotaram o Sindicato. A repressão policial foi generalizada. Em torno
de 30 trabalhadores – todos que usaram a palavra para defender a
paralização – foram detidos, desarticulando a greve. Finalizada a
mobilização e libertados os detidos, o balanço mostrou que a
estrutura organizativa do trabalho da Ação Popular não havia sido
detectada nem golpeada.
Na medida em que o trabalho crescia entre os trabalhadores e mais
operários ingressavam na AP, aumentaram as demandas organizativas e
tornou-se necessária a publicação regular de um pequeno jornal. Para
dar conta dessas e de outras tarefas, Carrion saiu da produção, para
dispor de mais tempo. Isso foi interpretado pela direção da AP como
um “recuo no processo de integração na produção” no Rio Grande do
Sul. Ou seja, era mais importante ter um militante de origem
pequeno-burguesa integrado na produção do que o ingresso e formação
de lideranças operárias na AP. Uma visão completamente equivocada!
Em meados de 1969, depois de algum tempo fora da produção, Carrion
retomou o trabalho fabril, agora em uma metalúrgica, como operador
de prensa, ao mesmo tempo que seguia realizando suas tarefas na
organização da AP. Nessa metalúrgica, depois de alguns meses, sofreu
um acidente de trabalho, perdendo a ponta de um dedo e tendo de ir
para o seguro. Com o dinheiro da indenização, adquiriu uma carabina
Itajubá, calibre 22, que depois – já no PCdoB – viria a servir para
o treinamento de tiro, em um processo incipiente de preparação
militar.
Justamente nessa época, ocorreram diversas reuniões com a direção da
AP, inclusive dirigentes nacionais, que tentavam “enquadrar os
rebeldes”. Nesse processo, ocorreu o rompimento definitivo. Assim,
junto com outras lideranças operárias – como José Freitas, Agenor
Castoldi, João de Deus, Pedro Machado Alves e os companheiros do
Vale do Sinos – Carrion desligou-se da Ação Popular no segundo
semestre de 1969.
A filiação ao Partido
Comunista do Brasil
Em fins de 1969, junto com diversas
lideranças operárias da Região Metropolitana de Porto Alegre,
ingressou no Partido Comunista do Brasil. Foi um ano de grandes
avanços, com a reconquista pela esquerda das principais entidades
estudantis da UFRGS – entre elas na Engenharia e na Economia –
culminando com a vitória para o Diretório Central de Estudantes da
UFRGS, então sob o controle dos apoiadores da ditadura.
Nesse mesmo ano de 1970, Carrion foi eleito para a direção estadual
do PCdoB, assumindo a sua secretaria de organização. O Secretariado
era composto, ainda, por “Nelson” – secretário político – e Agenor
Castoldi (“Gurjão”) – secretário de agitação e propaganda. Também
participavam da direção estadual, entre outros, Bruno Mendonça
Costa, Delfino Lobo, Delfino Reis e Pedro Machado Alves.
Em fins de 1970 – refletindo a hegemonia que o PCdoB havia alcançado
no movimento universitário gaúcho – Carrion foi escolhido como o
único delegado do Rio Grande do Sul ao Conselho Nacional da UNE,
realizado clandestinamente em Salvador, Bahia em 1971. A reunião foi
encerrada abruptamente, em plena madrugada, por problemas de
segurança. De volta a Porto Alegre, Carrion prestou vestibular para
o curso de Química da UFRGS, classificando-se em 2º lugar.
Entre 1966 e 1971, Carrion trabalhou em diversas ocasiões como
professor, lecionando matemática, geometria descritiva e desenho
geométrico em diversos pré-vestibulares e escolas, entre os quais o
Pré-Vestibular do DCE da UFRGS, o Colégio Israelita Brasileiro e o
IPV (Instituto Pré-Vestibular).
Prisão, torturas e exílio
No dia 28 de maio de 1971, à
noite, ao chegar à residência de João Flores da Silva – onde eram
digitados os jornais “A CLASSE OPERÁRIA” e “O PROLETÁRIO” – Carrion
foi preso e levado ao DOPS, no Palácio da Polícia. Ali, encontrou,
já sob tortura, além de João Flores e sua esposa Flávia Röessler,
diversos dirigentes partidários, entre os quais Bruno Mendonça
Costa, Delfino Lobo, Delfino Reis, Júlio Zancanaro e João Barbosa.
Acusado de ser o secretário de organização do PCdoB no Estado –
conhecendo, portanto, os contatos de todo o Partido no Estado – e de
haver entregue a João Flores da Silva pentes de balas calibre 45
encontradas em seu apartamento, foi submetido, durante dez dias, às
mais bárbaras torturas, sob o comando do Delegado Pedro Seelig e
seus sicários, entre eles o narcotraficante Nilo Hervelha.
No DOPS, foi dependurado nu e encapuçado, de cabeça para baixo, com
as mãos amarradas sobre os joelhos flexionados e com uma barra de
ferro passando entre as pernas, no chamado “pau-de-arara”. Nessa
situação, foi jogado, por diversas vezes, no chão, de forma a
golpear sua coluna vertebral e danificá-la. Por horas a fio, dia
após dia recebeu choques elétricos de até 400 Volts (com baixa
amperagem, para evitar a morte) nos pés, nas mãos, no crâneo, nos
ouvidos e nos órgãos genitais. Uma das formas mais sádicas de
aplicação dos choques elétricos era a chamada “bicicleta”, quando o
seviciado era colocado de bruços no chão, completamente nu, com os
braços amarrados nas costas e os fios presos nos dedos dos pés,
também voltados para traz; ao lhe serem aplicadas as descargas
elétricas, o resultado era um movimento convulsivo das pernas,
lembrando o pedalar de uma bicicleta, acompanhado de terríveis
dores.
Sofreu por diversas vezes a espancamentos generalizados – através de
socos, pontapés e porretes –, a qualquer hora do dia ou da noite.
Foi submetido à “palmatória” – violentos golpes com pedaços de
madeira nas palmas das mãos – e o chamado “telefone” – golpes
simultâneos nos dois tímpanos, com o objetivo de rompê-los.
Enfrentou execuções simuladas e sofreu todo tipo de agressões e
torturas psicológicas, na tentativa de desestruturá-lo psiquicamente
e destituí-lo de toda dignidade. Mais de uma vez ficou desacordado,
em consequência das torturas. Tudo em vão, pois Carrion resistiu sem
vacilar um único momento e sem fornecer qualquer informação que
pudesse prejudicar ao partido ou a seus camaradas.
Uma das questões que mais os preocupava os agentes do DOPS –
chefiados pelo Delegado Pedro Seelig – era onde estava e quem era o
secretário político do Partido, cujo nome-de-guerra era “Nelson”. O
problema é que, no dia anterior à sua prisão, Carrion havia marcado
um ponto de encontro com “Nelson”, no Parque Farroupilha, na parada
de ônibus em frente ao Instituto de Educação. O procedimento de
segurança que havia sido adotado era o seguinte: Carrion aguardaria
na parada; “Nelson” desceria do ônibus, não o abordaria e
continuaria caminhando. Carrion observaria se tudo estava em ordem e
o seguiria, abordando-o mais adiante, em plena caminhada. O detalhe
é que haviam acertado que se Carrion não estivesse no ponto,
“Nelson” deveria ir diretamente até a casa do João Flores (para
concluir o jornal), onde a polícia estava fazendo campana. Portanto,
se nada fosse feito, “Nelson” seria inevitavelmente preso. Enquanto
era torturado, Carrion matutou o que fazer para impedir que isso
acontecesse.
Tomou, então, uma decisão extremamente arriscada: fingir que estava
disposto a colaborar e levá-los até o ponto de encontro marcado.
Como, conforme combinado, Carrion não o seguiria, “Nelson”
perceberia que havia algo de errado e, ao dar-se conta disso, não
iria até a casa do João Flores. Assim, no meio da madrugada, Carrion
disse aos seus torturadores que tinha um ponto marcado com “Nelson”
e conseguiu convencê-los que estava disposto a colaborar. Descreveu
“Nelson” de uma forma bastante diferente da realidade e
comprometeu-se a indicar-lhes quem era, no momento em que ele lhe
abordasse. Ao tomar essa decisão, Carrion assumiu o maior risco de
toda sua vida, pois se algo desse errado e “Nelson” fosse preso, ele
seria visto como um delator, o pior que pode acontecer a um
comunista. Mas, aceitou correr esse risco, para preservar o Partido
da queda de seu secretário político e de outras eventuais prisões.
Foi conduzido para o local de encontro – onde circulava grande
número de colegas da UFRGS – alguns minutos antes e logo os agentes
do DOPS montaram a campana. Um pouco antes da hora marcada, passou
um conhecido, que veio falar com Carrion e logo seguiu caminhando.
Os agentes quiseram saber quem era e Carrion informou que era um
conhecido da universidade, pois naquele local havia muitas pessoas o
conheciam. Mas que ele avisaria quando fosse o “Nelson”.
Pouco depois o “Nelson” desceu do ônibus. Contrariando todas as
normas de segurança acertadas, ao invés de seguir caminhando, foi
até Carrion e o cumprimentou; como Carrion respondeu friamente,
seguiu caminhando. Por sorte os agentes não desconfiaram de nada e,
como Carrion não o seguiu, “Nelson” deu-se conta de que algo estava
errado e tratou de safar-se o quanto antes. Assim, não foi até a
casa de João Flores, escapando de ser preso. Mais por sorte do que
por juízo. Pois, se os agentes tivessem sido inteligentes, teriam
detido todos aqueles que abordassem Carrion, para depois esclarecer
quem era cada um. Como ninguém mais apareceu e passou a hora do
ponto, todos retornaram ao DOPS.
Nessa noite, “caiu a ficha” dos agentes. Carrion que estava
dormindo, depois de mais um dia de torturas, foi acordado por cinco
agentes enfurecidos, esbravejando que ele os tinha enganado, e
passaram a espancá-lo na própria cama. Apanhou que nem cachorro,
ficando quase sem condições de andar.
Como, durante 10 dias seguidos de torturas, não conseguiram
arrancar-lhe nenhuma informação, Carrion foi enviado no dia 6 de
junho – junto com o psiquiatra Bruno Mendonça Costa, tesoureiro do
Partido – para a Operação Bandeirantes (OBAN), em São Paulo,
principal centro clandestino de torturas do país, comandado pelo
famigerado Major Brilhante Ustra.
Mal conseguindo andar, coberto de hematomas, com costelas
fraturadas, um tímpano descolado e urinando sangue, Carrion foi
levado algemado até o Aeroporto Salgado Filho e embarcado – junto
com Bruno Costa – em um avião “DC3” da FAB. Ironicamente, foi sua
primeira viagem de avião. Tão logo chegou à OBAN – apesar de
encontrar-se em péssimas condições de saúde e sem qualquer atenção
médica – foi enviado diretamente para as câmaras de tortura e
submetido novamente ao “pau-de-arara” e a choques elétricos
generalizados. Permaneceu, da mesma forma que Bruno Costa, cerca de
45 dias na OBAN, submetido contínuos interrogatórios e torturas. Só
teve quebrada a sua incomunicabilidade em início de julho, através
de uma visita vigiada de seu irmão Eduardo Carrion à OBAN.
De volta a Porto Alegre, em meados de julho, foi imediatamente
enviado à sala de torturas, para uma acareação com o militante Nei
DeGrandi, que havia sido preso. Passados alguns dias, em 2 de
agosto, a 1ª Auditoria Militar da 3ªCJM negou de forma unânime o
pedido de sua prisão preventiva – por falta de provas – e determinou
a imediata libertação de Carrion e de Bruno Costa, sob a condição de
apresentarem-se todas as semanas na Auditoria Militar, na Rua
General Portinho, esquina com Duque de Caxias.
Vigiado e ameaçado pelos órgãos de repressão, sua única alternativa
para prosseguir a luta foi o exílio. Assim, na madrugada do dia 6 de
agosto, saiu de carro com seu irmão Francisco Carrion Júnior e sua
cunhada Rejane Xavier, em direção à Santana do Livramento, onde
basta atravessar uma rua para estar em Rivera, no Uruguai. Se alguém
nos detivesse no caminho, a desculpa é que íamos visitar uns
parentes da Rejane em São Gabriel, perto da Fronteira com o Uruguai.
Dali – depois de obter um visto de sua entrada em uma delegacia de
Rivera –, seguiu sozinho até Montevidéu e, logo, para Buenos Aires.
De Buenos Aires, seguiu de avião até Santiago do Chile, onde a
experiência do governo Allende despertava a admiração dos
progressistas de toda América.
A retomada da luta no Chile de
Allende
Tão logo chegou no Chile, procurou
Paulo Renato de Souza – seu ex-colega do Colégio Anchieta e
concunhado de seu irmão Carrion Júnior, que lá se encontrava
trabalhando na CLACSO – com quem morou durante alguns meses, até
regularizar sua situação no país.
Mais de cinco mil brasileiros viviam exilados no Chile e, com a
ajuda de Paulo Renato, Carrion recontatou o partido. Quem
representava o PCdoB no Chile era Amarílio Vasconcelos, um dos
participantes na Conferência da Mantiqueira que reorganizou o
partido em 1943. Ele e sua mulher Raquel haviam atuado durante
alguns anos na Rádio Pequim, colaborando com a transmissão para o
Brasil do seu programa radiofônico em português.
Depois de relatar-lhe detalhes sobre as prisões que haviam atingido
a direção do partido no Rio Grande do Sul, Carrion lhe informou de
sua determinação de retornar ao Brasil, logo que possível.
Como não havia um trabalho organizado do partido entre os exilados,
Carrion propôs a constituição de um organismo partidário, que, além
de um trabalho de solidariedade à luta do povo brasileiro contra a
ditadura, publicasse em espanhol o jornal “A Classe Operária” e os
principais documentos partidários, divulgando-os entre os exilados e
colocando-os nas livrarias que fosse possível. Assim, foi formada
uma organização de base do PCdoB em Santiago, que reunia os
comunistas exilados, debatia os documentos partidários e planejava
as ações de solidariedade ao povo brasileiro e de denúncia da
ditadura.
Nessa época, Carrion conheceu sua
esposa Elvira Ballester Laferti.
Através de Elvira e de sua família, Carrion conheceu os principais
dirigentes do PC do Chile – como Luis Corvalán, Volodia Teitelboim,
Mireya Baltra e tantos outros – o que muito contribuiu para o
trabalho de solidariedade internacional para com o povo brasileiro.
Conhecido como “Ruivo” (“Rúcio”, em castelhano), Carrion passou a
participar ativamente da luta do povo chileno e das atividades dos
exilados brasileiros e latino-americanos no Chile.
No começo de 1972, o Comitê Central do PCdoB enviou para o Chile
dois dirigentes – Diógenes Arruda e Dynéas Aguiar –, com o objetivo
de intensificar a luta no exterior contra o regime militar. Com a
sua chegada ao Chile, ficou estabelecido que Carrion deveria
permanecer no exterior para colaborar nesse trabalho de
solidariedade internacional, adiando seu retorno ao Brasil. Diversos
atos de denúncia da ditadura, alguns de grande repercussão, foram
realizados a partir desse trabalho e passou a ser publicado o jornal
“La Lucha Popular”. Era o momento do início da Guerrilha d Araguaia,
que passou a ser amplamente divulgada.
No final de 1972, Carrion viajou à Albânia, para representar a
juventude do PCdoB em um Congresso Internacional de Juventudes
Revolucionarias, passando quase um mês nesse país, onde conheceu e
estudou sua experiência de edificação do socialismo. Na Albânia,
Carrion encontrou um antigo companheiro da Ação Popular, a quem
havia ajudado a passar para o Uruguai, nos anos 60, e que trabalhava
nas transmissões em português para o Brasil da Rádio Tirana.
De volta ao Chile, Carrion retomou as atividades de denúncia da
ditadura militar e de solidariedade com a luta do povo brasileiro.
Vivia-se momentos difíceis, em que as forças de direita articulavam
abertamente o golpe contra Allende e sucediam-se as greves de
caminhoneiros e os boicotes empresariais. Em junho de 1973, ocorreu
o “Tancazo”, uma tentativa de golpe contra Salvador Allende, só
abortado devido à postura firme do Comandante do Exército – General
Prats –, que teve que percorrer os quartéis para reunir forças
suficientes para deter os golpistas. Ao final, porém, ninguém foi
punido e os golpistas conseguiram a renúncia do General Prats, no
dia 23 de agosto, sendo substituído por Pinochet no comando do
Exército. Estava aberto o caminho para o golpe!
O golpe de Pinochet e o exílio
na Argentina
Como Carrion havia deixado de
estudar, conseguiu uma declaração fictícia de que trabalhava no
jornal do Partido Socialista, para poder renovar o seu visto de
permanência no Chile. Foi marcado o dia 11 de setembro para buscar o
seu visto. Só que o dia amanheceu com o Palácio La Moneda sendo
bombardeado pelas militares. Poucas horas depois, Allende estava
morto, o golpe consumado e as prisões e os assassinatos começaram a
se suceder. Assim, no dia mesmo do golpe, Carrion ficou ilegal no
Chile.
Depois de permanecer alguns dias aguardando os acontecimentos, na
expectativa de que surgisse alguma resistência ao golpe, ao mesmo
tempo que tratavam de desfazer-se da grande quantidade de impressos
guardados no apartamento, foi tomada a decisão coletiva de buscar
asilo na Embaixada Argentina. Também contribuiu para essa decisão a
campanha aberta, em rádio e televisão, conclamando a população
chilena a denunciar os estrangeiros que conhecesse, em um verdadeiro
processo de delação coletiva.
Naquele momento, encontravam-se em Santiago Raul Carrion, Diógenes
Arruda, sua companheira Tereza Costa Rego, Amarílio Vasconcelos e
sua esposa Raquel. Dynéas Aguiar havia viajado recentemente para a
Buenos Aires, para acompanhar a nova situação criada na Argentina
com a vitória peronista nas eleições.
Foi decidido que Teresa Rego – conhecida artista plástica –
permaneceria em Santiago até que a “poeira baixasse”, ficando no
apartamento com Elvira. Poucos dias depois de Carrion, Diógenes,
Amarílio e Raquel terem-se asilado na Embaixada Argentina, o
apartamento de Elvira foi invadido por soldados armados e
vasculhado. Elvira e Teresa foram interrogadas, mas foram deixadas
em paz. É possível imaginar o que teria acontecido se Carrion
tivesse permanecido em Santiago.
Na Embaixada, encontravam-se mais de 400 asilados brasileiros,
número que aumentava a cada dia. Lá tiveram de permanecer durante
quase dois meses, em condições extremamente precárias, pois o
Presidente Héctor Cámpora, apesar de ser peronista, negou-se a
conceder asilo aos refugiados e só autorizou o seu ingresso na
Argentina – inicialmente em Empedrado, na Província de Corrientes, e
posteriormente em Buenos Aires – sob a condição de que o ACNUR (Alto
Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) garantisse o asilo
dos refugiados em outros países.
Só em fins de 1973, quando foi autorizado a ir até Buenos Aires,
Carrion conseguiu reencontrar-se com Elvira e Maria Victória, que
haviam permanecido em Santiago. Em Buenos Aires, Carrion, Diógenes
Arruda, Dynéas Aguiar, Amarílio, Raquel, Carlos e Loreta Valadares,
Osmar Terra e outros militantes que lá se encontravam, organizaram
uma base do PCdoB que, entre outras atividades, realizou um curso de
marxismo, ministrado por Diógenes Arruda.
Quando estava tudo acertado para a viagem de Carrion, Elvira e Maria
Victória para a França – que lhes havia concedido asilo político e
uma bolsa de estudos –, Carrion comunicou ao Partido a sua decisão,
apoiada por Elvira, de permanecer na Argentina, para poder mais
facilmente retornar ao Brasil e prosseguir na luta contra a
ditadura. Para poder implementar essa decisão, Carrion rompeu toda
relação com o ACNUR, abandonou o alojamento disponibilizado pelo
governo argentino e foi morar com Elvira e Maria Victória na casa de
amigos argentinos.
Mesmo em situação irregular, Carrion começou a trabalhar na Livraria
Hernandez, na Calle Corrientes, por recomendação de amigos
argentinos. Para dar cobertura à sua permanência no país, viajou até
Colônia de Sacramento, no Uruguai, retornando com um visto de
turista (que não lhe autorizava trabalhar na Argentina), válido por
três meses e renovável por mais três meses. A cada seis meses,
Carrion precisava fazer uma viagem até o Uruguai, retornando como
turista; e, depois de três meses, renovar o visto. Elvira começou a
trabalhar em tradução de textos técnicos russos e, pouco depois –
também por indicação de amigos –, conseguiu trabalho em uma
indústria química, com o que obteve um visto provisório de trabalho
na Argentina, o que lhes deu condições para alugarem um pequeno
apartamento para morar.
Junto com Dynéas Aguiar e outros militantes do PCdoB que
permaneceram na Argentina, foi organizada uma base partidária, que
prosseguiu a ação de denúncia da ditadura e de divulgação da
resistência ao regime militar. Visando criar melhores condições para
seu retorno ao Brasil, Carrion matriculou-se em um curso de
eletrônica nas Escuelas Técnicas Industriales - IADES, formando-se
como técnico eletrônico no início de 1976. A partir de então,
Carrion deixou de trabalhar na Livraria Hernandez e estabeleceu-se
com uma pequena oficina de consertos de eletrodomésticos, rádios e
TVs, inclusive para ganhar maior experiência e preparar-se para o
retorno ao Brasil.
O golpe do General Videla e o
retorno ao Brasil
A Argentina vivia um período de
grande instabilidade política. Em março de 1973, haviam sido
realizadas eleições diretas, com uma grande vitória peronista,
apesar de Juan Perón ter sido proibido de candidatar-se. Alguns
meses depois, o presidente Héctor Cámpora renunciou para forçar a
realização de novas eleições, nas quais Perón pôde concorreu e
venceu por ampla maioria, tendo sua esposa Maria Estela Perón como
vice. Com o falecimento de Perón, em julho de 1974, Maria Estela
Perón assumiu, com uma administração eivada de problemas econômicos
e políticos. Com a sua conivência, o terrorismo da AAA (Aliança
Anticomunista Argentina ceifou centenas de vidas. Em 24 de março de
1976, o golpe militar de Videla pôs fim ao seu governo.
A instauração da ditadura terrorista de Videla tornou impossível a
permanência de Carrion na Argentina, até pela situação de
irregularidade em que se encontrava. Em junho de 1976, Carrion
acertou com o Partido e com seus pais – que foram até Buenos Aires –
o seu retorno ao Brasil, de forma clandestina, que foi feito por Foz
de Iguaçu, permanecendo Elvira e Maria Victória em Buenos Aires, por
razões de segurança.
Como no Brasil qualquer viagem de ônibus exigia que o passageiro se
identificasse, e os únicos documentos que Carrion possuía eram os
originais – e tudo indicava que seu nome constava nos controles
policiais como “procurado” –, Carrion optou por fazer o trajeto
entre Foz de Iguaçu e Santos (onde tinha um “ponto” com o Partido)
por trem, o que lhe demandou vários dias. Só no trecho final, entre
Ourinhos e São Paulo, optou por tomar um ônibus. Felizmente, tudo
correu bem.
Depois de cobrir o “ponto” previamente combinado em Santos – onde
reencontrou o antigo companheiro de AP que havia encontrado na Rádio
Tirana – Carrion retomou o contato com o Comitê Central do PCdoB,
tendo mantido conversas com diversos dirigentes, entre eles Haroldo
Lima, Sérgio Miranda e Pedro Pomar. Nos meses em que permaneceu em
São Paulo, para providenciar uma documentação falsa, trabalhou em
Santos e em Campinas.
Nesse período, Carrion também fez algumas viagens ao Rio de Janeiro
e ao Paraná, para obter sua nova documentação. Em uma de suas
viagens à Curitiba – onde obteve a certidão de nascimento necessária
para iniciar a tramitação de sua nova identidade – Carrion encontrou
sua irmã Otília Beatriz, com quem havia marcado, ainda na Argentina,
um local fixo de encontro e um código para definir – por
correspondência e de forma cifrada – a data e o horário de futuros
“pontos”. Essa combinação foi essencial para Carrion conseguir
reatar o contato com a família e com o Partido quando isso se fez
necessário, em 1977.
Finalmente, em outubro de 1976, por orientação do Comitê Central,
deslocou-se para Goiânia, onde empregou-se como técnico eletrônico
em uma empresa de manutenção de equipamentos eletrônicos, agora como
o “paranaense” Sílvio Augusto Ferreira.
Poucos dias depois de chegar a Goiânia, Carrion foi ao “ponto”
previamente marcado, encontrando-se com João Batista Drummond – a
quem não conhecia –, membro do Comitê Central e dirigente do PCdoB
em Goiás. Depois de uma rápida conversa, marcaram um novo ponto
dentro de 30 dias, a ser repetido periodicamente se por algum motivo
aquele não se concretizasse.
A Queda da Lapa e a perda de
contato com o Partido
No mês de dezembro, no segundo
encontro marcado com o dirigente do PCdoB em Goiás, este não
compareceu ao “ponto”. Poucos dias depois, Carrion tomou
conhecimento – ao ler o jornal alternativo “Movimento” – da “Chacina
da Lapa” e do assassinato dos dirigentes comunistas Pedro Pomar,
Ângelo Arroyo e João Baptista Franco Drummond. Pelas fotos
divulgadas, constatou que Drummond era o dirigente com quem
mantivera contato em Goiás e que, graças ao seu comportamento
revolucionário diante das torturas, o ponto marcado não havia sido
entregue.
Sem qualquer outro contato em Goiás ou com o Comitê Central, Carrion
ficou completamente isolado do Partido. Procurou, então, retomar o
contato através da família e de Elvira, que permanecia em Buenos
Aires e mantinha contato direto com Dynéas Aguiar, na Argentina.
Havia sido estabelecido um complexo sistema de correspondência, com
o objetivo de driblar os riscos da censura postal.
Em fevereiro de 1977, Elvira viajou com Maria Victória para Porto
Alegre, onde permaneceu por alguns dias, mantendo contato com a
família. Em julho de 1977, Carrion encontrou-se, em Curitiba, com
sua mãe, com sua irmã Otília Beatriz e com Elvira, que viajou
diretamente de Buenos Aires. Esse encontro foi acertado por carta,
de forma cifrada, no local previamente acertado em 1976 com sua irmã
Otília Beatriz. Após o encontro em Curitiba – que serviu para
restabelecer os contatos com a família e, de forma indireta, com o
partido – Carrion viajou com Elvira até o Rio de Janeiro, onde
aproveitaram para passar uns dias, e, depois, até São Paulo, onde
ela embarcou para Buenos Aires. Carrion voltou, então, para Goiânia
Em Goiânia, Carrion filiou-se ao sindicato dos metalúrgicos –
categoria a que pertencia a empresa onde trabalhava – e organizou a
ASTEC (Associação de Técnicos em Eletrônica), que além de defender
as reivindicações dos técnicos, passou a realizar cursos de
eletrônica e a editar um pequeno Boletim. Participou de um curso da
Philco e pouco depois foi convidado para assumir a gerência técnica
da empresa onde trabalhava. Para isso, porém, precisava ter o
segundo grau completo. Como não possuía qualquer documentação
referente a estudos, decidiu, prestar os exames de madureza de 2º
grau, em todas as matérias. Feitas as provas, obteve aprovação em
todas as disciplinas, recebendo o certificado de conclusão do 2º
grau.
Poucos dias depois, quando encontrava-se no trabalho. Carrion foi
informado pelo seu patrão que a Polícia Federal estava na empresa,
para entregar-lhe uma intimação. O primeiro que lhe passou pela
cabeça é que havia sido descoberto. Mas, depois, pensou melhor e
concluiu que nesse caso não teria sido intimado e sim preso, sem
maiores explicações. Decidiu, então, receber a intimação – que não
esclarecia os motivos – e comparecer à Polícia Federal. Como
precaução, procurou lideranças do MDB em Goiás e explicou que quando
morava no Paraná havia-se envolvido em movimentos contra a ditadura
e temia que sua convocação pela PF tivesse algo a ver com isso.
Solicitou, então, que um advogado lhe acompanhasse no depoimento à
PF. Lá chegando, tomou conhecimento que havia ocorrido uma fraude
nos referidos exames e como havia passado em todas as provas, havia
a desconfiança de que tivesse participado das fraudes. Esclarecido a
razão da intimação, Carrion conseguiu provar a sua inocência,
inclusive mostrando os cálculos e rascunhos por ele feitos nas
diversas provas. Assim, foi salvo pelo seu sangue frio.
A viagem à Argentina para
recontatar o Partido
Em fins de 1977, recebeu carta
cifrada de Elvira, pedindo sua ida até Buenos Aires para encontrar o
“Careca” – codinome pelo qual Dynéas era conhecido. Pediu demissão
do emprego, alegando a necessidade de retornar ao Paraná para
resolver problemas familiares, e viajou para a Argentina, no início
de 1978.
Em Buenos Aires, além de encontrar Elvira (Maria Victória estava com
seus avós, na Venezuela), reuniu-se com Dynéas e Sérgio Miranda,
para tratar da 7ª Conferência, em preparação, e para discutir a
retomada do contato do Comitê Central com o partido no Rio Grande do
Sul. Ficou acertado que Carrion viajaria imediatamente para Porto
Alegre, com o objetivo de estabelecer um sistema de pontos mensais
que viabilizasse a retomada do contato do CC com os gaúchos. Também
foi acertada uma sistemática similar de pontos mensais em Goiânia,
para que o partido pudesse retomar o contato com ele, em Goiânia.
Carrion viajou, então, clandestinamente, para Porto Alegre e –
através de José Freitas – contatou a direção estadual do PCdoB,
estabelecendo a sistemática de pontos acertada com Dynéas. Tomando
todas as precauções possíveis, aproveitou para reencontrar seus
familiares em Porto Alegre. Após, retornou a Goiânia e voltou a
trabalhar na empresa de que havia-se demitido.
Era o início de 1978. Desde então, Carrion passou a cobrir
religiosamente o ponto mensal combinado com Dynéas. Passaram-se os
meses, e nem sinal de vida... No início de 1979, Carrion e Elvira
decidiram que era hora de retomar a vida familiar, e acertaram sua
vinda para Goiás. Elvira pediu as contas no emprego, entregou o
apartamento e viajou com Maria Victória, em janeiro de 1979, para
São Paulo, onde se encontrou com Carrion. Depois de aproveitarem
para passar alguns dias em Santos e São Paulo, seguiram para Goiânia
– onde Carrion havia alugado uma casa – e voltaram a viver juntos.
Em setembro de 1979, já com a Anistia aprovada e sem qualquer
contato com o partido há mais de um ano e meio – apesar de cobrir
religiosamente os pontos combinados – Carrion decidiu que era hora
de retornar ao Rio Grande do Sul. Com os devidos cuidados, combinou
com a família a sua volta a Porto Alegre e quando, em outubro, já
estava acertando os detalhes da viagem, apareceu Dynéas, no ponto
marcado, de mala em punho, transgredindo as mais elementares as
normas de segurança... Diante da proposta de Dynéas de permanecer em
Goiás, Carrion ponderou que não tinha militância política nem era
conhecido em Goiás e que o sindicato a que pertencia era inoperante;
portanto, o mais lógico era retornar ao Rio Grande do Sul, onde
tinha raízes e era conhecido. Além do mais, o seu retorno já estava
encaminhado e não havia como retroceder.
O retorno a Porto Alegre e a
atuação entre os metalúrgicos
De volta a Porto Alegre, em fins de
1979, Carrion logo conseguiu trabalho na Eletrônica Owada, e passou
a atuar no Sindicato do Metalúrgicos de Porto Alegre e região,
categoria onde o PCdoB já estava presente e tinha como principal
liderança José Freitas. Carrion tinha que optar entre duas
alternativas: permanecer trabalhando na categoria metalúrgica e
contribuir na construção do PCdoB entre os metalúrgicos e a classe
operária; ou retomar os estudos e envolver-se na luta política
institucional. Diante da opinião do Partido de que devia continuar
atuando no movimento sindical, Carrion não retomou os estudos e
continuou trabalhando como técnico eletrônico na indústria
metalúrgica. Assim, trabalhou na CGR – multinacional francesa na
área da eletro-medicina – na Multidigit – onde implantou a linha de
produção do primeiro disco rígido fabricado no Brasil –, novamente
na CGR e na Narcosul – também da área de eletro-medicina.
O PCdoB desenvolveu nessa época um forte trabalho entre os
metalúrgicos, onde José Freitas, João Carlos Moraes e Raul Carrion
tornaram-se importantes lideranças da “Oposição Sindical”,
sistematicamente eleitos para as Comissões de Negociação dos
Dissídios, Comitês de Greve, congressos sindicais, etc. Por sua
liderança na categoria, Carrion concorreu ao cargo de tesoureiro em
duas chapas de Oposição no Sindicato dos Metalúrgico da Grande Porto
Alegre, tendo José Freitas como candidato a Presidente.
Em 1987, devido à sua intensa atuação sindical, mesmo tendo
estabilidade como Vice-Presidente da CIPA, Carrion foi demitido da
Narcosul sob a alegação de “justa causa”, não mais conseguindo
emprego na categoria. Só dez anos depois teve os seus direitos
reconhecidos pela Justiça do Trabalho.
A luta política e institucional
No âmbito partidário, Carrion foi
eleito em 1981 presidente do PCdoB de Porto Alegre e passou a fazer
parte do Comitê Estadual e do seu secretariado. Participou
ativamente das “Diretas já”, da Campanha Pela Legalização do PCdoB e
da convocação da Assembleia Nacional Constituinte. Em 1986, na
primeira eleição, pós-ditadura, para o Congresso, Assembleias
Legislativas e Governos Estaduais, Carrion foi lançado candidato do
PCdoB ao Senado. Mas, como o seu suplente ao Senado ainda não tinha
completado 35 anos, a chapa não foi aceita.
Em 1987, foi indicado para a chefia de gabinete da então vereadora
Jussara Cony, que assumiu a bancada do PCdoB. Participou ativamente
das lutas pelo direito à moradia no Parque dos Maias, Jardim
Leopoldina, Cohab Rubem Berta, Humaitá e em toda Região
Metropolitana de Porto Alegre.
Em 1988, foi o candidato do PCdoB à Prefeito de Porto Alegre,
ocasião em que o PT elegeu Olívio Dutra para a Prefeitura da capital
gaúcha.
Em 1989, por decisão partidária, foi morar na vizinha cidade de
Canoas – importante centro operário –, onde assumiu a presidência do
PCdoB e desenvolveu um amplo trabalho partidário e de massas,
principalmente junto aos trabalhadores metalúrgicos, rodoviários e
do gás e junto aos bairros operários da Mathias Velho, Guajuviras,
Niterói e Rio Branco. Ainda em 1989, Carrion percorreu o Estado na
campanha LULA PRESIDENTE, da Frente Brasil Popular.
Em 1990, foi
candidato pelo PCdoB à suplência do Senado, na chapa da Frente
Progressista Gaúcha, que elegeu Collares governador do Estado.
Em 1991, Carrion voltou a Porto Alegre e assumiu em nome do PCdoB a
presidência da FUNDASUL – instituição com mais de 900 funcionários e
presença em cerca de 60 municípios –, coordenando toda a promoção e
assistência social no Rio Grande do Sul, na gestão “Vida e
Cidadania”. Durante sua gestão foram implementados importantes
projetos, como o Programa “Alimentos para o Povo”, “Vida Centro
Humanístico”, “Universidade do Trabalhador”, “Centro de Apoio à
Mulher”, Fórum “Caminhos do Brasil Popular”, etc
A atuação no terreno da luta de
ideias
Em 1995, Carrion prestou vestibular
para o curso de História da UFRGS, obtendo o primeiro lugar e
concluindo o seu curso em apenas três anos, graduando-se em 1997,
com a monografia “O Partido Comunista do Brasil no Rio Grande do Sul
- 1922-1929”, que obteve nota máxima. Em 2003, ampliou sua formação
como Historiador, realizando na FAPA um curso de pós-graduação em
“História Afro-Asiática”. Seu trabalho de conclusão de curso, também
com nota máxima, intitulou-se “A Construção do Socialismo na China e
as Reformas Econômicas Pós-Revolução Cultural”.
Ainda em 1995 – juntamente com
outros intelectuais marxistas, de diferentes correntes e
especializações –, Carrion fundou e foi um dos Coordenadores do
Centro de Estudos Marxistas do Rio Grande do Sul (CEM-RS), que
durante mais de sete anos desenvolveu o confronto de ideias com o
“pensamento único neoliberal”, que avassalava o Brasil e o mundo,
organizando dezenas de conferências e publicando, pela UFRGS e pela
UPF, quatro livros coletivos: “Luz e Sombras”; “Fios de Ariadne”;
“Os Trabalhos e os Dias”; e “As Portas de Tebas”.
Também foi o idealizador e criador
– junto com outros intelectuais, estudantes, sindicalistas e
representantes de diversas instituições e entidades – do Centro de
Debates Econômicos, Sociais e Políticos do Rio Grande do Sul
(CEDESP-RS), que realizou entre 1997 e 1999 três grandes seminários
internacionais intitulados – “Globalização, neoliberalismo,
privatizações – quem decide este jogo?”; “Século XXI: Barbárie ou
Solidariedade – Alternativas seminários contaram ao todo com mais de
duas mil inscrições e tiveram suas palestras reunidas em três livros
homônimos, publicados pela UFRGS, tendo por organizadores Raul
Carrion e o Paulo Fagundes Vizentini.
Esses seminários prepararam o
caminho e foram precursores do Fórum Social Mundial. Foi para
participar de um destes seminários que Bernard Cassen – Diretor
Geral do Le Monde Diplomatique – veio pela primeira vez ao Rio
Grande do Sul e estabeleceu contatos com a Prefeitura de Porto
Alegre e, posteriormente, com o Governo Olívio Dutra, ponto de
partida para a realização do 1º FSM. Após os três seminários
internacionais já referidos, o CEDESP-RS se fez presente nos três
Fóruns Sociais Mundiais realizados em Porto Alegre, participando de
sua programação através dos seminários “A Resistência à Globalização
Neoliberal”; “Guerra, Terrorismo e Ameaça à Democracia”; e “O Novo
Brasil no Contexto Mundial”, respectivamente em 2001, 2002 e 2003.
Alem dos livros já mencionados,
Carrion publicou diversos trabalhos sobre a história do Rio Grande
do Sul – como “Revolução Farroupilha, mais longa Revolta Republicana
enfrentada pelo Império Centralizador e Escravocrata” e “Os
Lanceiros Negros na Revolução Farroupilha”.Também é coautor da obra,
em quatro volumes, intitulada “A Ditadura de Segurança Nacional no
Rio Grande do Sul” – editada pela Assembleia Legislativa do Rio
Grande do Sul – e do livro “Ferrovias e Desenvolvimento: Esse é o
caminho” –, produzido pela Frente Parlamentar Mista das Ferrovias,
do Congresso Nacional.
A atuação como parlamentar comunista
Em 1992, Carrion foi candidato do
PCdoB a vereador de Porto Alegre, sendo eleito 1º suplente e
assumindo a titularidade por diversas vezes. Em 1996, assumiu a
vereança de forma definitiva conseguindo aprovar – em apenas nove
meses de mandato – 14 projetos de sua autoria. Entre estes, a
proibição do transporte de trabalhadores em veículos de carga; a
obrigatoriedade os Centros Comerciais terem um clínico geral e um
ambulatório para tendimentos de urgência; a moratória do pagamento
das prestações do DEMHAB para os desempregados; a proibição do
self-service (auto-abastecimento) nos postos de combustível
(preservando a segurança dos usuários e os empregos dos frentistas);
a doação a entidades sociais de materiais usados da Prefeitura; a
adoção por particulares de equipamentos de esporte, cultura e lazer;
etc.
Em 1998, Carrion passou em concurso
público para servidor do Ministério Público Estadual. Em 1999, foi
cedido para a Assembleia Legislativa, a pedido da deputada Jussara
Cony, assumindo a Coordenação da Bancada do PCdoB no parlamento
gaúcho. Nas eleições de 2000, foi candidato a vereador pelo PCdoB,
elegendo-se com a 8ª maior votação de Porto Alegre. Assumiu, então,
a presidência do PCdoB da capital. Em 2002, foi candidato a deputado
federal, obtendo 55 mil votos, mas ficando na suplência. Em 2004,
concorreu à reeleição e tornou-se o 4º vereador mais votado da
cidade. Entre seus principais projetos aprovados como vereador,
destacam-se a lei de Fomento ao Cooperativismo Habitacional, a meia
entrada para Estudantes em atividades culturais e esportivas, a
garantia de 30% das vagas para as mulheres chefes de família nos
projetos habitacionais, a garantia de um local para a associação de
moradores nos loteamentos e conjuntos habitacionais construídos em
Porto Alegre, a obrigatoriedade da colocação de obras de arte nos
prédios com mais de 2.000 m², a colocação de banheiros públicos nas
feiras livres, a proibição do transporte de valores nos Centros
Comerciais e Bancos, nas áreas de circulação do público.
Com forte atuação junto à
comunidade negra foi o autor da lei de Preservação do Patrimônio
Histórico e Cultural Afro-Brasileiro e das Leis que criaram o Dia
Municipal de Controle da Anemia Falciforme, a Semana Municipal da
Capoeira, o “Largo Zumbi dos Palmares” e o “Espaço Lanceiros
Negros”.
Em 2001, 2003 e 2005, Carrion
presidiu a Comissão de Urbanização, Transporte e Habitação da Câmara
Municipal, destacando-se por sua luta por moradia digna, em defesa
dos sem-teto, contra os despejos e por um transporte público de
qualidade. Em 2006, passou a fazer parte da Comissão de Defesa do
Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Urbana.
Em 2006, Carrion foi eleito
deputado estadual pelo PCdoB, com quase 42 mil votos, sendo reeleito
em 2010. Como deputado, Carrion já foi membro titular das Comissões
Permanentes de Assuntos Municipais,
de Economia e Desenvolvimento e do Mercosul e de Assuntos
Internacionais e é hoje titular da Comissão de Constituição e
Justiça e de Economia e Desenvolvimento Sustentável. Foi Presidente
da Comissão
Especial de Habitação Popular e Regularização Fundiária, além de ser
membro titular de diversas outras
Comissões Especiais. Também propôs e coordena as Frentes
Parlamentares pela Reforma Urbana; Por Reparações, Direitos Humanos
e Cidadania Quilombola; Em Apoio à Defensoria Pública; Em
Solidariedade ao Povo Cubano; Em Defesa do Pré-Sal para todos os
brasileiros; Em Apoio à Indústria de Máquinas e
Equipamentos; e Pela Ampliação e Qualificação das Ferrovias.
Delegado eleito para as quatro
Conferências Nacionais das Cidades já realizadas, Carrion faz parte
pela quarta vez do Conselho das Cidades – onde atualmente representa
a União Nacional de Legisladores e Legislativos Estaduais (UNALE).
Já compôs seus Comitês Técnicos de Mobilidade Urbana, de
Planejamento Territorial Urbano e faz parte, atualmente, de seu
Comitê Técnico de Habitação. Também é membro titular do Conselho
Estadual das Cidades – desde sua criação em 2004 – e preside a
Secretaria Especial das Cidades da UNALE. Foi o primeiro coordenador
no Rio Grande do Sul da “Frente Nacional de Vereadores pela Reforma
Urbana” e faz parte hoje da Comissão organizadora da 5ª Conferência
Nacional das Cidades.
Como deputado estadual, Carrion já
aprovou 38 projetos – entre os quais a Lei que estendeu para todo o
Rio Grande do Sul a meia-entrada para estudantes nas atividades
culturais e esportivas; o Estatuto Estadual da Igualdade Racial; a
Assistência Técnica Gratuita para Projeto e Construção de Habitações
de Interesse Social; a Preservação do Patrimônio Histórico e
Cultural Afro-brasileiro; Cotas para PPDs em estágios nos órgãos
estaduais; Patrimônio Histórico Imaterial; Dia Estadual de
Solidariedade ao Povo Palestino; Regime Especial para o atendimento
para as mulheres vítimas de violência; Prêmio Zumbi dos Palmares;
Política Estadual de Inclusão Digital; Dia Estadual contra a
Homofobia; Semana Estadual do Hip Hop e Semana de Prevenção do
Câncer de Próstata.
Carrion tem em tramitação outros 26
projetos, entre os quais o Estatuto da Juventude; o que cria um
Fundo para o Pré-Sal – destinando 75% para educação e 25% para
saúde; o que proíbe o corte de Água e de Luz aos Desempregados; o
que cria cotas para indígenas nos concursos públicos; o que cria
cotas para negros e indígenas na UERGS; o que garante o acesso aos
Serviços Públicos Essenciais aos cidadãos que vivem em áreas
irregulares consolidadas; e o que determina a colocação do nome do
passageiro nas passagens intermunicipais.
Militante por muitos anos do
movimento comunitário, Raul Carrion já foi vice-Presidente da
Associação de Moradores do Jardim Ipiranga, Presidente da Associação
de Moradores do Centro de Porto Alegre e duas vezes Presidente do
Conselho Deliberativo da UAMPA (União das Associações de Moradores
de Porto Alegre). É fundador do Movimento dos Ex-Presos e
Perseguidos Políticos do Rio Grande do Sul (MEPPP-RS) e presidente,
por três vezes, do seu Conselho Deliberativo. Faz parte do Conselho
Consultivo do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta
Pela Paz (CEBRAPAZ).
Atualmente, Raul Carrion é
Presidente do PCdoB-RS e Líder do partido na Assembleia Legislativa
do Rio Grande do Sul, além de membro do Comitê Estadual e do Comitê
Municipal de Porto Alegre. |