Neste estudo, analisaremos os acontecimentos do imediato
pós-guerra: a nova divisão do mundo – consagrada na “paz de
salteadores” de Versalhes –, a ascensão do nazi-fascismo – com a
conivência das democracias ocidentais que viram nele um dique à
“revolução bolchevique” – e a chamada política de
apaziguamento, que desembocou na hecatombe da 2ª Guerra
Mundial.
Essa política de apaziguamento adotada pelas
democracias ocidentais frente ao rearmamento alemão e às
agressões militares da Alemanha, Itália e Japão, só pode ser
compreendida no contexto das contradições inter-imperialistas e
das contradições entre o capitalismo e o socialismo.
Procuraremos fugir tanto das análises psicológicas –
que debitam o apaziguamento ao caráter pusilânime de tal
ou qual estadista – quanto das análises ingênuas, que vêem a sua
origem no louvável esforço das democracias ocidentais em evitar
a guerra, a qualquer custo.
Na verdade, a política de apaziguamento foi
uma estratégia consciente e premeditada da Inglaterra, da França
e dos Estados Unidos para “empurrar” a Alemanha nazista contra a
URSS, visando o enfraquecimento de ambas e a imposição de sua
hegemonia sobre o resto do mundo. Mas que acabou voltando-se
contra os seus próprios criadores.
Por fim, examinaremos o contexto em que foi assinado
o tratado germano-soviético de não-agressão, apresentado por
alguns como o “causador da II Guerra Mundial”. Apesar da
historiografia posterior à Segunda Guerra Mundial ter examinado
exaustivamente esse tema e ter concluído, de forma quase
unânime, pela responsabilidade principal das chamadas
democracias ocidentais que incentivaram as forças do Eixo
em suas aventuras guerreiras, percebe-se nos dias de hoje uma
tentativa de revisão histórica do que já era considerado como um
consenso, mesmo entre os historiadores ocidentais.
Nestes tempos de ofensiva contra o socialismo e de
“fundamentalismo de mercado”, tornou-se moda desqualificar toda
a experiência soviética – sem diferenciar os seus erros dos seus
acertos – mesmo que à custa da mistificação histórica.
Cabe-nos, como estudiosos da história – sem
dobrar-nos à avalanche do “pensamento único” dos dias de hoje –
procurar restabelecer a verdade histórica, analisando
criticamente os novos argumentos trazidos à discussão, sem medo
de corrigir interpretações que tenham envelhecido pela
descoberta de novos fatos e cientes de que todo o conhecimento,
inclusive o histórico (mas não somente ele), é um processo de
aproximação “assintótica” da verdade, com a qual nunca coincide.
Por isso mesmo, todo o conhecimento (e não só o histórico) é um
processo de permanente construção.
Desculpo-me pelo grande número de citações, mas o
grau de controvérsia que o tema adquiriu nos dias de hoje exige
um grande rigor documental no exame desses acontecimentos.
ANTECEDENTES
Para compreendermos a política de apaziguamento
das potências ocidentais – que contribuiu de forma decisiva para
a eclosão da Segunda Guerra Mundial – e o paradoxal Pacto
Germano-Soviético, é necessário que examinemos os seus
antecedentes, aqui incluídas a vitória da Revolução Socialista
na Rússia, a nova divisão do mundo após a Primeira Guerra
Mundial – através do sistema Versalhes-Washington – e o ascenso
do nazi-fascismo, resposta do grande capital ao crescimento das
lutas revolucionárias, principalmente dos povos da Europa.
O
Sistema de Versalhes
A 18 de janeiro de 1919, inaugurou-se em Versalhes a
conferência dos “vencedores”, para ditarem as condições da paz
no pós-guerra. Estavam representados 27 países que, de uma forma
ou outra, participaram da aliança contra a Alemanha, a
Áustria-Hungria, a Turquia e a Bulgária. Foram excluídas desta
conferência tanto a Alemanha e suas aliadas, quanto a Rússia
socialista, apesar dela haver participado da guerra ao lado dos
aliados. Na prática, três países decidiram sobre o destino da
futura paz: Inglaterra, França e Estados Unidos. Após quase
quatro meses de discussões, as duríssimas condições da paz foram
comunicadas à delegação alemã. Diante da insatisfação alemã e da
tentativa de amenizar as condições impostas, os aliados
ameaçaram com a ocupação militar. Pressionada, a Assembléia
Nacional Alemã autorizou a assinatura do Tratado, por 237 contra
138 votos.
O
tratado foi firmado em Versalhes, no dia 28 de junho de 1919.
Através dele, além de pesadas indenizações, a Alemanha foi
obrigada a renunciar a todas suas colônias, ceder a
Alsácia-Lorena à França, a zona de Eupen-Malmedy à Bélgica, o
Schleswig setentrional à Dinamarca. Além disso, a Alemanha
reconheceu a independência da Polônia e teve que lhe entregar
Poznam, a Prússia Ocidental e parte da Alta Silésia. Também
perdeu Memel, posteriormente anexado à Lituânia (1923).
Durante 15 anos, o Sarre passaria a ser administrado pela
Sociedade das Nações, a qual cedeu a exploração do seu carvão à
França. Mas, Dantzig não foi entregue à Polônia, sendo
transformada em “cidade livre”. A margem direita do rio Reno foi
dividida em três zonas de ocupação, a serem evacuadas no prazo
de 5, 10 e 15 anos, e a Alemanha perdeu o controle sobre seus
rios navegáveis. Foi obrigada a entregar todo o seu material de
guerra e a quase totalidade da sua esquadra, e ficou proibida de
possuir encouraçados e submarinos. O seu exército foi limitado a
100 mil homens, e foi proibido de manter um Estado Maior, ter
carros de combate, aviões militares, artilharia pesada e
antiaérea. As suas fortificações ao leste foram desmanteladas.
Em 10 de setembro de 1919, foi assinado o Tratado de
paz com a Áustria, em Saint Germain-en-Laye. O Império
Áustro-Húngaro foi desmembrado, devendo a Áustria reconhecer a
independência da Hungria. Pelo Tratado, a Áustria entregou a
Boêmia e a Morávia para a Checoslováquia. Perdeu a Dalmácia e a
Bósnia-Herzegóvina que – junto com a Sérvia e Montenegro, mais
os territórios perdidos pela Hungria – constituirão a
Iugoslávia. Entregou o Sul do Tirol, Triestre, Istria, e partes
da Dalmácia, Caríntia e Carniola, à Itália. Cedeu a Bucovina à
Romênia. Por fim, forneceu os territórios da Galícia ocidental
para formar o sul da Polônia do pós-guerra. Pelo mesmo tratado,
a Áustria – reduzida a 84 mil km2 e isolada do mar –
foi proibida de unir-se à Alemanha e teve o seu exército
limitado a 30 mil homens.
Em 27 de novembro de 1919, foi firmado o Tratado de
paz com a Bulgária, em Neuilly. A Bulgária teve que entregar o
sul da Drobudja à Romênia, a Macedônia ocidental à Iugoslávia e
os seus territórios Trácios à Grécia, perdendo a sua costa no
Mediterrâneo. O seu exército foi limitado a 20 mil homens.
Em 4 de junho de 1920 – depois do sufocamento do
Poder Soviético de Bela Kun por tropas francesas, romenas e
checoslovacas – foi assinado com a Hungria o Tratado de Trianon,
reduzindo o seu território a um terço da sua superfície de 1914
e isolando-a do mar. Por ele, a Hungria foi obrigada a ceder a
Eslováquia e a Rutênia à Checoslováquia, e a entregar a Croácia,
a Eslovênia e parte do Banato à Iugoslávia. Também teve que
ceder a Transilvânia e a outra parte do Banato à Romênia.
Proibida de unir-se à Áustria, teve o seu exército limitado a 35
mil homens.
Em 10 de agosto de 1920, foi assinado o Tratado de
paz de Sèvres com a Turquia (não ratificado pelo Parlamento
turco). A Turquia foi obrigada a ceder a Trácia oriental,
Esmirna e as Ilhas Egéias (exceto Rodes) à Grécia; Síria e
Cilícia à França; Iraque, Palestina, Chipre e Egito à Inglaterra
(que também obtém o protetorado da Arábia); Rodes e o Dodecaneso
à Itália. Ainda lhe foram impostas a independência da Armênia e
a autonomia do Curdistão. O seu exército foi limitado a 50 mil
homens.
O ex-Império Russo, derrotado pela Alemanha,
convulsionado pela revolução socialista de 1917 e em pleno
processo de guerra civil, também foi esquartejado pelos
“vencedores”. Em dezembro de 1917, a Romênia monárquica ocupou a
Bessarábia. Em 1917, com o decisivo apoio das potências
ocidentais e após esmagar pela força das armas o nascente poder
operário-camponês, a Finlândia separou-se da futura União
Soviética:
A
Finlândia moderna nasceu da vontade comum dos partidários do
“Ancien Régime” e da burguesia finlandesa e oeste-européia,
unidos num pedaço do antigo império do czar. Sem o apoio externo
no momento da guerra civil russa, a Finlândia não seria hoje
mais que provavelmente uma república socialista soviética como
as outras (...). No dia 19 de dezembro de 1917, a Dieta da
Finlândia adotara (...) uma declaração de independência. (...)
Colocado ante o fato consumado, o Conselho dos Comissários do
Povo adotou (...) um decreto confirmando a independência
política da Finlândia. (...) O Conselho Executivo Central da
Rússia ratificou o decreto de 4 de janeiro de 1918. (...) Stalin
(...) declarou então: “Vemos que o Conselho de Comissários do
povo deu, sem querer, a liberdade não para o povo, não para os
representantes do proletariado da Finlândia, mas à burguesia
finlandesa”. (...) Encorajada pelos bolchevistas russos (...)
rebentou uma revolução soviética nas zonas industriais do Sul da
Finlândia (meados de janeiro de 1918). (...) Os centros
importantes (como Helsinque e Viborg) não tardaram em ficar sob
controle total dos Sovietes. (...) Em maio de 1918, a
insurreição soviética finlandesa foi esmagada após quatro meses
e meio de guerra civil.[i]
E, em março de 1918, a Rússia revolucionária foi obrigada a
assinar a paz de Brest-Litovsk com a Alemanha, a Áustro-Hungria
e a Turquia:
Em Brest-Litovsk (...) os plenipotenciários da República dos
Sovietes viram-se constrangidos a renunciar não só a Livônia,
Curlândia, Estônia e Lituânia, mas também a uma Polônia, que
claramente extravasava dos seus limites étnicos, e a Ucrânia.
(...) Além de abandonar os territórios ocidentais acima
mencionados, o governo soviético renunciava igualmente, em
proveito da Turquia, a uma importante zona do Cáucaso, que
incluía Batoum, Kars e Ardahan. (...) No total, o tratado de
Brest-Litovsk implicava para o poder dos Sovietes a perda de
alguns milhões de quilômetros quadrados e de mais de quarenta
milhões de habitantes.[ii]
Na ocasião, polemizando com Bukharin, Trotsky e
outros, que em nome do internacionalismo proletário exigiam que
o governo soviético não assinasse a paz com a Alemanha, Lenin
afirmou:
No momento atual, uma guerra verdadeiramente revolucionária
seria a guerra da República Socialista contra os países
burgueses com o claro objetivo (...) de derrotar à burguesia de
outros países. Mas é evidente que no momento presente ainda não
podemos nos colocar esta finalidade. Objetivamente, lutaríamos
agora pela liberação da Polônia, Lituânia e Curlândia. Mas
nenhum marxista, sem apartar-se dos princípios do marxismo e do
socialismo em geral, poderia negar que os interesses do
socialismo estão acima dos interesses do direito das nações à
autodeterminação. Nossa República Socialista fez e continua
fazendo todo o possível para levar a prática o direito a
autodeterminação da Finlândia, Ucrânia, etc. Mas, se a situação
concreta é tal que a existência da República Socialista se acha
neste momento em perigo (...) se compreende que os interesses da
preservação da República Socialista devam prevalecer.[iii]
O
posterior desmoronamento dos exércitos centrais possibilitou, em
fins de 1918, a denúncia do acordo de Brest-Litovsk e a retomada
do poder pelos bolcheviques na Estônia, Lituânia, Letônia e
Ucrânia:
As tropas alemãs evacuam a Estônia, a Letônia, a Bielo Rússia, a
Lituânia, a Polônia e a Transcaucásia. Não mais existe Brest-
Litovsk e o Exército Vermelho, apertando as tropas germânicas,
atinge Narva, Pskov, Vilno, Kovno, Riga (3 de janeiro de 1919)
(...) Kharkov e Kiev são ocupadas pelos bolcheviques e na
Estônia, na Letônia e na Lituânia constituíam-se repúblicas
soviéticas.[iv]
Mas, mais uma vez, a intervenção militar das potências
capitalistas impôs ao Poder Soviético uma “paz de salteadores”.
Em fevereiro de 1919, os exércitos polacos apoderaram-se de
Brest-Litovsk, dando início a guerra russo-polonesa. Em abril de
1920, as tropas polonesas invadiram a Ucrânia e pouco depois
tomaram Kiev. Em sua contra-ofensiva, o Exército Vermelho
avançou até as portas de Varsóvia, que só foi salva pelas tropas
francesas do general Weygand.
Em julho de 1920, através da conferência de Spa, as potências
ocidentais propuseram como fronteira entre a Rússia e a Polônia
a “Linha Curzon”[v].
Em outubro de 1920 foi estabelecido um armistício e em março de
1921 o Estado Soviético foi obrigado a assinar a paz de Riga,
através da qual a Polônia avançou 250 km a leste de sua
fronteira étnica[vi]
e deslocou a sua fronteira com o Estado soviético 150 km para o
Leste, apossando-se da Galícia, da Ucrânia Ocidental, da
Bielo-Rússia ocidental e de Vilna, “no total, uma população
de 11 milhões de habitantes, dos quais quase dez milhões de
bielo-russos, russos ou ucranianos”[vii]
Em fins de 1920, o tratado de Dorpat – ao obrigar o governo
soviético a reconhecer a Estônia, a Letônia e a Lituânia como
estados “formalmente” independentes, mas sob a clara tutela
ocidental – “consagrou não somente a fixação das fronteiras
mais desfavoráveis que a região de Leningrado tivera algum dia,
como amputou também a Rússia setentrional do território de
Pétsamo, que nunca estivera incluído (nem antes de 1914, nem em
qualquer outra época) no Grão-Ducado ‘Histórico’ da Finlândia.”[viii]
Com os tratados de paz impostos, consolidou-se a
hegemonia francesa no continente europeu, através do
avassalamento da Alemanha e de seus aliados. Também foi
assegurado o papel dominante da Inglaterra no Oriente próximo e
sobre as comunicações marítimas.
Ao mesmo tempo que buscava esmagar as potências
centrais, o sistema de Versalhes teve uma orientação claramente
anti-soviética. Além da conferência de paz de Paris ter-se
tornado o Estado-Maior da intervenção armada contra o Estado
Soviético, os estados imperialistas procuraram formar um “cordão
sanitário contra o comunismo”, através da criação da Polônia e
dos pequenos estados bálticos e da anexação da Bessarábia à
Romênia. Em todos esses países foram instalados governos
francamente reacionários:
No tocante à Rússia, que a Conferência ignora oficialmente, os
aliados constituíram, para isolá-la, um cordão sanitário de
pequenas repúblicas: Finlândia (3.500.000 habitantes), Estônia
com 1.250.000 habitantes, Letônia com 1.900.000 indivíduos dos
quais 25% são alógenos, Lituânia (2 milhões com 17% de
alógenos), cuja organização deverá exigir muitos anos, e de
estados médios: Polônia (que conta um alógeno em três
habitantes) e Romênia, que compreendem territórios
autenticamente russos na Rússia Branca, na Ucrânia e na
Bessarábia.[ix]
Momentaneamente derrotadas em suas tentativas de liquidar o
Poder Soviético, as grandes potências ocidentais começaram de
imediato a armar o tabuleiro de xadrez para as suas futuras
jogadas. Em 1921, formou-se a aliança entre a Polônia e a
Romênia, contra a Rússia. Em 1922, foi constituída a Entente do
Báltico – entre a Polônia, a Estônia, a Letônia e a Finlândia –
também voltada contra a URSS: “A Rússia Soviética foi isolada
da Europa ocidental mediante um cordão de estados violentamente
anticomunistas, arrancados em parte do território russo”.
[x]
Diante das tentativas de cercá-lo e isolá-lo, o Estado Soviético
respondeu com uma aproximação da Alemanha, assinando em 1922 o
Tratado de Rapallo que restabeleceu as relações diplomáticas e,
através de um acordo secreto, permitiu a instalação na URSS de
fábricas alemãs, para a produção de armamentos proibidos pelo
Tratado de Versalhes[xi]:
Lloyd George (...) resolveu convocar uma nova conferência (...)
em Gênova em abril de 1922 (...) Os russos e alemães estiveram
presentes, mas com a suspeita não injustificada de que iam ser
lançados um contra o outro. Os alemães seriam convidados a
participar de uma expedição contra a Rússia, e os russos seriam
instados a pedir reparações da Alemanha. Ao invés disso, porém,
os representantes dos dois países se reuniram secretamente em
Rapalo e concordaram em não agir um contra o outro. O tratado de
Rapalo torpedeou a conferência de Gênova (....) É certo que
impediu uma coalizão européia para uma nova guerra de
intervenção contra a Rússia, e é certo também que impediu
qualquer renascimento da Tríplice Entente.
[xii]
Diante do agravamento da crise da economia alemã – assoberbada
pelo pagamento das indenizações de guerra – e do risco de uma
revolução social, as potências ocidentais decidiram fortalecer a
Alemanha, para opô-la ao “perigo vermelho” do Oriente:
Foi julgado essencial reconstruir e armar o imperialismo alemão
contra a União Soviética, ao mesmo tempo que se pretendia manter
o rival em cheque. (...) Chamberlain e Churchill (...)
representavam as duas metades contraditórias da política externa
imperialista britânica, durante este período. De um lado, o
desejo de construir (...) uma arma apontada contra a União
Socialista Soviética. De outro lado, levar a União Soviética a
uma aliança militar, como uma arma contra o imperialismo rival
da Alemanha. Ambas as estratégias partiam do princípio de que
uma (...) guerra germano-soviética enfraqueceria e destruiria,
simultaneamente, as duas principais potências consideradas pela
Inglaterra como ameaças ao seu imperialismo. (...) A estratégia
de rearmamento alemão de Chamberlain, Munique (...) terminaram
em desastre. (...) O objetivo básico muniquista de destruição
mútua de Hitler e da União Soviética, com o Ocidente como
espectador de primeira fila, para surgir depois como vencedor
final e estrangular a revolução na Europa (a explicação dada por
Hoare, como embaixador junto a Franco), foi, desse modo, seguida
por outros meios. (...) o então Senador Truman (...) proclamou:
“Se virmos que a Alemanha está ganhando a guerra, teremos de
ajudar a Rússia e, se a Rússia estiver a ganhar, teremos de
ajudar a Alemanha, e, entretanto, deixemos que eles se matem
tanto quanto possível”. (New York Times, 24 de julho de 1941).[xiii]
Um dos precursores dessa idéia foi o general alemão Max Hoffmann
que já em 1922 afirmou:
Nenhuma potência européia pode conceder a outra uma influência
preponderante sobre a futura Rússia. Este problema só pode ser
resolvido pela União dos grandes Estados europeus,
principalmente a França, a Inglaterra e a Alemanha. É preciso
que, por uma intervenção militar, essas potências aliadas
derrubem o poder soviético e restabeleçam a situação na Rússia,
no interesse das forças econômicas inglesas, francesas e alemãs.
A participação financeira e econômica dos Estados Unidos da
América seria preciosa.[xiv]
Para isso, foi criado em 1924 o Plano Dawes, investindo grande
quantidade de capitais – sobretudo norte-americanos (cerca de
70%), mas também ingleses – na Alemanha. O que,
contraditoriamente, pouco a pouco lhe permitirá recuperar e
ampliar o antigo potencial econômico-militar. A Conferência de
Locarno (1925) estabelece diversos acordos bilaterais com a
Alemanha, em uma tentativa de melhorar as suas relações com as
potências ocidentais. Em 1926, ela foi admitida na Sociedade das
Nações, inclusive no seu Conselho de Segurança. Começou a
desenhar-se no horizonte a futura tática de utilização da
Alemanha como um dique contra a URSS e a revolução socialista: “Toda
a história do tratado de paz de Versalhes, desde o momento da
sua assinatura até o início da Segunda Guerra Mundial,
constituiu na destruição gradual do sistema de Versalhes e no
incitamento da Alemanha, pelas potências ocidentais, à agressão
contra a URSS.”[xv]
Uma das cláusulas do Tratado de Versalhes estabelecia a criação
da Sociedade das Nações, sob o pretexto de defender a paz
e a segurança internacional, prevendo a aplicação de sanções
econômicas, financeiras e militares ao país que cometesse uma
agressão. Na realidade a Sociedade das Nações
transformou-se em um dos centros da luta militar e diplomática
contra o Estado Soviético e em um instrumento da política
imperialista e colonial das grandes potências, especialmente a
França e a Inglaterra.
Assim – sob o argumento de que os povos das colônias arrebatadas
à Alemanha e à Turquia eram incapazes de se autogovernarem – a
Sociedade das Nações entregou à França (sob mandato) a
Síria, o Líbano, o Togo e uma parte do Camerum; à Inglaterra, a
Palestina, a Transjordânia, o Iraque, Tanganica e outros
territórios; ao Japão, as Ilhas Marianas, Carolinas e Marshall.
Como o Senado dos Estados Unidos se negou a ratificar o Tratado
de Versalhes, estes não se incorporaram à Sociedade das
Nações. Na prática, ela nunca impôs, durante toda a sua
existência, qualquer sanção a um país agressor (em geral, alguma
potência imperialista) nem prestou qualquer ajuda a uma nação
agredida.
Os acordos de Washington
Durante a Primeira Guerra Mundial, o Japão havia
consolidado as suas posições na China, em detrimento dos
interesses dos outros países imperialistas, em especial os
Estados Unidos e a Inglaterra. Havia imposto à China acordos que
lhe proporcionavam grandes privilégios econômicos e políticos, e
assumira o domínio de Tsa-Chou, do porto de Tsing-Tao e das
concessões alemãs na península de Chantung. A ratificação desses
“direitos” pela conferência de paz de 1919, em Paris, foi uma
das razões da não ratificação do Tratado de Versalhes pelos
norte-americanos. Desde então, os Estados Unidos pressionaram
pela revisão das resoluções da conferência de paz de Paris,
quanto ao Extremo Oriente.
Na conferência de Washington, realizada entre novembro de 1921 e
fevereiro de 1922, participaram nove países, entre os quais os
Estados Unidos, a Inglaterra, a França, a China e o Japão. Mais
uma vez foi negado ao Estado Soviético a participação em suas
deliberações. Desta conferência resultaram quatro acordos que
complementaram os Sistema de Versalhes. O primeiro deles, o
Pacto Naval, determinou a tonelagem máxima de cada potência
e tinha por objetivo limitar a expansão da armada japonesa.
Fixou 525 mil ton. para as esquadras inglesa e norte-americana,
315 mil ton. para a japonesa e 175 mil ton. para a francesa e a
italiana. O Tratado de Chantung obrigava o Japão a
retirar-se da Sibéria soviética e das regiões de Chantung e
Kiaochow, na China.
O
Tratado das Quatro Potências – Estados Unidos,
Grã-Bretanha, França e Japão – mantinha o status quo no
Pacífico. Já o Tratado das Nove Potências, reconhecia a
independência e a inviolabilidade territorial da China, mas
impunha à China uma política de portas abertas para todas
as nações do mundo (o que interessava diretamente aos Estados
Unidos, que haviam chegado tarde à repartição da China e nela
não possuíam concessões). Os acordos de Washington representaram
um fortalecimento fundamentalmente dos Estados Unidos e um
debilitamento do Japão, complementando o sistema de tratados de
Versalhes.
A
ascensão do nazi-fascismo
A revolução russa de 1917, além de dar origem ao
primeiro Estado Socialista do mundo, acelerou enormemente os
processos revolucionários em todos os países e a luta
anti-colonial. As revoluções alemãs de 1918, 1919 e 1923; a
insurreição finlandesa de 1918; a criação da República Soviética
Húngara em 1919; a greve insurrecional de 1917 em Turim, e a
greve geral de 1920 em toda a Itália, seguida da ocupação das
fábricas; a revolta da armada francesa do Mar Negro, em 1919, o
aumento do movimento grevista na França e na Inglaterra; a
criação da Internacional Comunista em 1919 e o surgimento de
Partidos Comunistas nos principais países; enfim, a crescente
simpatia da classe operária e dos povos coloniais pela URSS
criou uma situação de profunda crise para o sistema capitalista.
Diante dessa crise – ao mesmo tempo econômica, política e social
– o grande capital, deixando de lado quaisquer veleidades
democráticas, optou por governos autoritários, de caráter
fascista.
Em 1922, Benito Mussolini – após a Marcha sobre
Roma – foi chamado pelo rei para formar o governo e
instaurou o fascismo na Itália, com o beneplácito do grande
capital, do Vaticano e das democracias ocidentais: “Quando o
sr. Mussolini organizou o fascio, o que ele tinha em vista,
antes de mais nada, era combater o comunismo. (...) Foi esta,
toda gente o sabe, a quintessência moral, a força motriz
política, a síntese social do fascismo. Assim ele se apresentou
à face da Itália, assim o compreendeu o mundo (...) O fascismo
existia como um antídoto do comunismo.”[xvi].
Três anos depois toda e qualquer oposição foi banida
na Itália, “não obstante, Ramsay MacDonald escreveu cartas
cordiais a Mussolini – no momento do assassinato de Matteotti.
Austen Chamberlain e Mussolini trocaram fotografias. Winston
Churchill o elogiou como salvador de seu país e grande estadista
europeu.”[xvii]
Em 1923, o general Primo de Rivera impôs uma
ditadura militar na Espanha, enquanto que na Bulgária se
instalou o governo Zankov, fruto de outro golpe militar. Na
Alemanha, Hitler e Lüdendorff conclamaram em Munique à Marcha
sobre Berlim, mas foram desbaratados. Em 1926, Polônia,
Portugal e Lituânia substituíram a democracia liberal por
regimes autoritários. Em 1929, a Iugoslávia sofreu o auto-golpe
de estado do rei Alexandre.
A
crise de 1929 – cujos efeitos viriam a se estenderam pelo menos
até 1933 – teve como conseqüência o acirramento das lutas
sociais e o reforço das tendências fascistas do grande capital
em todo o mundo, em especial na Europa:
Diante da amplitude sem precedentes da crise capitalista (crise
financeira, econômica, social e política), os grandes interesses
mundiais procuram soluções urgentes. O ponto mais ameaçado é a
Alemanha, segunda potência industrial do mundo, onde dez milhões
de desempregados deslizavam para os partidos de extrema
esquerda, preparando uma revolução proletária que viria a apoiar
a União Soviética (...) Certamente as teorias nebulosas,
medievais, místicas e anti-semitas de Adolf Hitler chocavam os
liberais, mas, diante do progresso dos partidos de esquerda, uma
Frente de Direita se cria no mundo e dentro de cada país. (...)
A ação política dos grupos Krupp, Thyssen (alemães), Schneider e
De Wendel (franceses) ultrapassa, e de longe, a dos partidos
políticos. O cartel decide apoiar o Partido Nazista (...).A
tomada do poder na Alemanha pelos nazistas, permitirá o
rearmamento de uma Alemanha frustrada, a absorção de dez milhões
de desempregados, a destruição dos partidos de esquerda e seus
sindicatos, a modernização de um novo exército alemão, o único
capaz de afrontar a União Soviética. (...) Na Inglaterra, o
grupo de Cliveden, dirigido por Lord e Lady Astor, Neville
Chamberlain e Lord Halifax, apoia os projetos do grupo
franco-alemão. (...) Na Suécia, na Suíça, na Bélgica, na
Holanda, na Dinamarca, apesar das reticências, os grupos do aço,
do carvão, se aliam.[xviii]
Em 1932, formou-se o governo Salazar em Portugal e a Lituânia
tornou-se um Estado autoritário, de partido único. Em 1933,
depois de uma vitória eleitoral, Hitler foi nomeado chanceler,
assumiu o poder e – em nome do nacionalismo e do anticomunismo –
implantou o nazismo na Alemanha. No mesmo ano, Dollfus deu um
golpe de estado e instaurou uma ditadura marcadamente fascista
na Áustria. Em 1934 foram instalados governos ditatoriais na
Estônia (Konstantin Paets) e na Letônia (Karlis Ulmanis).
Na França a tentativa de golpe fascista dos bandos armados dos
Croix de Feux e dos Cavaleiros do Rei foi derrotada pela
resistência popular. Em 1936, o general Franco - com o apoio da
Alemanha e da Itália - levantou-se contra o governo republicano,
dando início à guerra civil espanhola. Nesse mesmo ano, o
general Metaxas deu um golpe de estado na Grécia. Salvo a França
e alguns países Escandinavos, praticamente toda a Europa
continental ficou submetida a governos fascistas ou
filo-fascistas. Mesmo nos países onde a democracia liberal se
manteve, importantes setores das classes dominantes passaram a
olhar com simpatia o fenômeno fascista. No Japão, o primeiro
ministro Konoye Fuminaro proclamou em 1938 a instauração de uma
“Nova Ordem” na Ásia Oriental, fechou os partidos políticos e
criou o partido único em 1940.
A POLÍTICA DE
“APAZIGUAMENTO”
Considera-se o 1º de setembro de 1939 – dia do
início da invasão da Polônia pela Alemanha – como a data do
início da 2ª Guerra Mundial. Mas, pode-se dizer que, de certa
forma, esta já havia iniciado bem antes, através de uma série de
agressões pontuais, entre 1931 e 1939, só tendo se ampliado com
o ataque à Polônia.
O
primeiro elo dessa corrente de agressões ocorreu em setembro de
1931, quando o Japão invadiu a Mandchúria, no Nordeste da China
e na fronteira com a URSS. O governo de Chiang Kai-chek, em luta
contra os comunistas chineses, não ofereceu uma resistência
efetiva aos invasores japoneses, que criaram no território
ocupado a República “independente” do Mandchuko, colocando a sua
frente um governo fantoche. A China apelou à Sociedade das
Nações e às democracias ocidentais, que nada fizeram: “A
Grã-Bretanha, preocupada pela depressão econômica, se negou a
prestar o seu apoio às sanções contra o Japão.”[xix]
Os EUA, diretamente atingidos por essa expansão japonesa (que
contrariava frontalmente as resoluções da Conferência de
Washington), também aceitaram a ocupação japonesa. Na ocasião, o
Presidente norte-americano Hoover assim explicou a sua postura:
Se os japoneses nos tivessem declarado diretamente: “Não podemos
mais observar acordos [de Washington, G.D.] por que a ordem não
foi restabelecida na China. A metade da China foi bolchevizada e
colabora com a Rússia (…) Nossa existência estará ameaçada se
tivermos por vizinho, ao Norte, a Rússia bolchevista e, nos
flancos uma China que pode ser bolchevizada, (…) dêem-nos a
possibilidade de restabelecer a ordem na China e nós seremos
obrigados a fazê-lo para nossa defesa (…)” A esta proposta a
América não poderia, certamente, apresentar sérias objeções.[xx]
Ficava claro que tanto a Sociedade das Nações
(França, Inglaterra, Itália, Japão) como os Estados Unidos –
apesar do seu discurso em defesa da autonomia dos povos e em
defesa da paz – moviam-se unicamente em função de seus
interesses estratégicos e o grande inimigo a isolar era a URSS.
A ascensão de Hitler ao poder na Alemanha, em 1933,
também pode ser considerada como mais um passo no rumo da 2ª
Guerra Mundial. Apesar disso, contou com a decidida simpatia das
elites dirigentes e o apoio do grande capital das principais
democracias capitalistas que consideravam que “a Alemanha
deveria se tornar a potência dominante sobre o continente
europeu e que o nacional-socialismo era a única barreira contra
o comunismo.”[xxi]
Aliás, Hitler soube jogar magistralmente com a histeria
anticomunista da burguesia mundial, arrancando-lhe concessões
crescentes em nome do “combate ao bolchevismo”:
Quando Hitler pretendeu restabelecer as disposições de
Brest-Litovsk, pôde posar também como defensor da civilização
européia contra o bolchevismo e o perigo vermelho. Talvez suas
ambições estivessem realmente limitadas ao Leste (...) Contra
todas as expectativas, Hitler viu-se em guerra com as potências
ocidentais, antes de ter conquistado o Leste. Não obstante, a
expansão naquele sentido era a finalidade primordial, e talvez
única, de sua política.[xxii].
Já em 1924, no penúltimo capítulo de Mein Kampf
– intitulado “Orientação para leste ou política de leste” –
Hitler afirmara:
Nós, os nacionais-socialistas (…) Fazemos parar a eterna
corrente germânica em direção ao sul e ao ocidente da Europa e
lançamos a vista para as terras de leste. (…) Quando, hoje em
dia, falamos, na Europa, de nosso solo, pensamos, em primeira
linha, somente na Rússia e Estados adjacentes, a ela
subordinados. O próprio destino parece querer nos indicar a
direção. O destino ao abandonar a Rússia ao bolchevismo, roubou
ao povo russo a classe educada que criara e garantira a sua
existência como Estado. (…) Devemos enxergar no bolchevismo
russo a tentativa do judaísmo, no século vinte, de apoderar-se
do domínio do mundo. (…) Não é a orientação para o Ocidente e
para o Oriente que deve ser o futuro objetivo de nossa política
externa e, sim, a política do Oriente necessária ao nosso povo.[xxiii]
Deixando claro o sentimento das democracias
ocidentais em relação ao nazismo, o primeiro ministro inglês
Baldwin diria na época: “Todos nós temos conhecimento do
desejo da Alemanha de avançar em direção ao Leste, exposto por
Hitler no seu livro. Se avançasse para o Leste, o meu coração
não se partiria... Se na Europa surgisse uma disputa, eu
gostaria que fosse entre os bolcheviques e os nazistas.”
[xxiv]
O
rearmamento alemão
Em março de 1935, a Alemanha declarou formalmente
que não reconhecia mais as restrições militares do Tratado de
Versalhes, ampliou as suas forças terrestres para 12 corpos de
exército e 36 divisões, criou a sua Força Aérea e restabeleceu o
serviço militar obrigatório. As “potências” ocidentais e a
Sociedade das Nações, afora tímidas notas formais de
protesto, nada fizeram. Na Inglaterra, essa política de
fortalecimento militar da Alemanha correspondia à política do
chamado grupo de Cleveden – organizado por Neville Chamberlain,
Lord Halifax e o casal Astor – que considerava ser “necessário
criar uma frente das potências capitalistas, onde o Império
Britânico e a França exerceriam seu poder nos impérios
coloniais, e à Alemanha caberia a tarefa de dominar a Europa
centro-oriental, destruindo o Estado Soviético e o movimento
operário no continente.”[xxv]
Como anotaria em suas Memórias Ernst Heinkel, o
construtor de aviões nazista:
Os políticos desses países, que de início haviam condenado o
armamento da Alemanha, incentivaram-na, eles próprios, a
armar-se, e (…) alguns anos mais tarde, engenheiros e militares
desses países vieram consultar os técnicos alemães sobre a forma
de acelerar a participação da Alemanha no armamento da Europa,
afastando as restrições impostas.[xxvi]
Explorando o anticomunismo, Hitler assinou em
janeiro de 1934 um pacto de não-agressão com a Polônia de
Pilsudski (que tinha o general Beck como Ministro do Exterior):
Tudo o que se conhece do pacto firmado entre a Polônia e a
Alemanha demonstra que se trata de um pacto de agressão que
serve aos fins da preparação da guerra. (...) ao firmar este
pacto, o fascismo polaco adere ao plano criminoso de invasão e
de colonização da Ucrânia Soviética. (...) Este acordo teve como
conseqüência direta um agravamento da ameaça contra as
fronteiras checas, contra a independência da Checoslováquia e
tornou mais aguda a agressividade do fascismo alemão em sua luta
para por fim à independência dos países bálticos. Aguçou,
igualmente, até o extremo a questão austríaca. Depois de haver
destruído a aliança franco-polaca (...) quer obter a
desagregação da pequena Entente e substituí-la na Europa central
por um novo bloco de potências fascistas, cujo eixo o formariam
a Polônia, a Hungria e a Bulgária. Os fascistas alemães tratam,
também, de atrair para esse bloco a Iugoslávia, prometendo-lhe
uma parte dos territórios austríacos, assim como se esforçam em
modificar a orientação da política exterior da Rumânia.[xxvii]
Em 2 de maio de 1935, com o objetivo de satisfazer a
opinião pública francesa, Pierre Laval assinou um pacto
franco-soviético, mas não demonstrou a mínima vontade de
concretizá-lo: “Foi necessário mais de um ano ao Governo
francês para conseguir a ratificação do tratado de 1935 e depois
o mesmo governo evitou a elaboração de uma convenção militar,
que seria a conseqüência lógica do tratado.”
[xxviii] Na verdade, “o que [Laval]
desejava era uma aliança com a Itália fascista (...) e uma
espécie de entendimento com a Alemanha nazista, para poupar à
França nova agressão vinda da outra margem do Reno, e ainda
fazer Hitler voltar seus anseios de agressão para leste, isto é,
para Rússia.”[xxix]
Em junho de 1935, depois de intensas negociações
secretas, à revelia da França e transgredindo o Tratado de
Versalhes, foi assinado o Acordo Naval Anglo-Germânico, pelo
qual a Alemanha obteve o direito de quadruplicar a sua frota,
até atingir 35% do poderio marítimo inglês, e de construir
submarinos:
A
limitação da frota alemã a um terço da inglesa permitia à
Alemanha empreender um programa de novas construções que fariam
trabalhar os seus estaleiros com máxima atividade pelo menos
durante dez anos. (...) Se autorizou a Alemanha a lançar cinco
couraçados, dois porta-aviões, 21 cruzadores e 64 destróiers.[xxx]
O objetivo de fortalecer militarmente a Alemanha
para torná-la um dique contra a URSS não podia ser mais claro e
“o embaixador americano em Berlim considerou o pacto
anglo-alemão como um passo a mais na política de cerco à União
Soviética.”[xxxi]
Nesse mesmo ano, o Sarre, com seus imensos recursos,
foi reincorporado à Alemanha, reforçando o seu poderio
econômico-militar.
Em agosto de 1935, Jorge Dimitrov, em seu Informe ao
VII Congresso da Internacional Comunista, afirmou: “a chegada
ao poder do fascismo não é uma simples mudança de um governo
burguês por outro, mas a substituição de uma forma estatal de
dominação de classe da burguesia – a democracia burguesa – por
outra forma, a ditadura terrorista declarada”.[xxxii]
Para enfrentar essa ameaça, conclamou à formação de frentes
únicas operárias e – tendo estas por base – de frentes populares
antifascistas. Da mesma forma, definiu a Alemanha como o
principal inimigo da paz, junto com o Japão e a Itália.
Tendo em vista que a agressão fascista ameaçava
outros países, além da URSS, o VII Congresso concluiu que “a
guerra que a burguesia desse país travar para repelir esse
ataque pode tomar o caráter de uma guerra de libertação, na qual
não podem deixar de intervir a classe operária nem os comunistas
do país em questão.”[xxxiii]
Agressão à Abissínia, militarização da Renânia, Guerra Civil
Espanhola, ocupação da Mandchúria
Encorajada por tanta impunidade, a Itália lançou as
suas tropas, em outubro de 1935, contra a Abissínia, violando os
Estatutos da Sociedade das Nações. Esta – após o plano
Hoare-Laval que entregou a metade da Abissínia para a Itália –
determinou unicamente um embargo comercial parcial, autorizando
a venda à Itália de petróleo e outros produtos vitais para a sua
ação militar:
se elaborou um imponente quadro de proibições. Mas o petróleo,
necessário para atuar na Abissínia, continuou sendo enviado.
(...) Se proibiu a exportação de alumínio à Itália, mas, por
casualidade, este era o único metal produzido pela Itália em
quantidades superiores às suas necessidades. (...) se impediu o
envio à Itália de limalha e mineral de ferro (...) não se vedou
o envio de lingotes de ferro e aço. A Itália não sofreu nenhum
estorvo. De forma que as aparatosas sanções não tinham por
objetivo paralisar o agressor, mas de fato o estimulavam a agir.[xxxiv]
Em maio de 1936, depois de massacrar a população
abissínia, inclusive com o uso de gases tóxicos, as tropas
italianas entraram em Addis-Abeba e proclamaram Victor Emmanuel
III imperador da Etiópia.
Em março de 1936 – transgredindo abertamente o
tratado de Versalhes – a Alemanha ocupou a Renânia
desmilitarizada, com somente três batalhões, chegando até a
fronteira franco-alemã. A França esboçou a mobilização de 12
divisões, mas antes consultou se a Inglaterra também agiria.
Diante da resposta negativa, nada fez, apesar da superioridade
absoluta de forças que tinha sobre a Alemanha. Também os Estados
Unidos deram o seu beneplácito a mais essa investida nazista.
Atemorizada, a Bélgica retirou-se do Pacto de Locarno e da
aliança com Grã-Bretanha e França, e declarou-se neutra. No
mesmo ano, a Alemanha deu início à construção na Renânia da
Linha Sigfried.
Em julho de 1936, o general Franco colocou-se à
frente de um levante de caráter fascista contra o governo
republicano da Espanha, com total apoio da Itália e da Alemanha:
Em 28 de julho de 1936, no início do conflito, quando parecia
que Franco não poderia transportar seus mouros e legionários de
Marrocos à península, Hitler lhe enviou 30 aviões Junker de
transporte para cruzar o estreito. Esta ajuda foi seguida por um
rio de munições, canhões, tropas, aviões, pilotos e mecânicos,
enviados com o beneplácito de Hitler e Mussolini. Em 1937,
Franco tinha sob o seu mando 30.000 soldados italianos e 12.000
alemães. Chegou a ter até 100.000 soldados italianos. O Papa
também prestou a sua ajuda espiritual a Franco “este leal filho
da Igreja”. As tropas italianas que embarcavam para a Espanha
recebiam a benção papal antes de abandonar o solo italiano.[xxxv]
Tão logo iniciou a guerra civil espanhola, a França,
a Inglaterra, a Alemanha e a Itália criaram um hipócrita
Comitê de Não Intervenção – que colocava em pé de igualdade
o legítimo governo da República e os militares rebelados – e que
fazia “olhos de mercador” à intervenção aberta da Alemanha e da
Itália em favor dos fascistas espanhóis. Enquanto estas duas
potências do Eixo inundavam a Espanha com suas armas e tropas, a
França, a Inglaterra e os Estados Unidos se negavam a vender
armas ao governo republicano, sob o pretexto de “não
intervenção”, e ainda impunham esse embargo ao resto do mundo.
Só a União Soviética – apesar do seu isolamento, e
dos riscos que isto envolvia – ousou romper esse bloqueio que as
“democracias liberais” e o nazi-fascismo impuseram ao governo
republicano da Espanha, fornecendo-lhe apoio material e
político: “De 1936 a 1937, a União Soviética forneceu ao
governo legítimo da Espanha 806 aviões de guerra, 362 carros de
combate, mais de 100 veículos blindados, 1.555 peças de
artilharia, 15.113 metralhadoras, cerca de 500.000 fuzis, mais
de 4.000.000 projéteis e outros equipamentos de guerra.”[xxxvi]
Depois de longos três anos de luta – durante os
quais antifascistas de todo o mundo combateram lado a lado com o
povo espanhol nas famosas brigadas internacionais – a Republica
Espanhola foi derrotada em março de 1939.
Em outubro de 1936, a Alemanha e a Itália criaram um
bloco militar denominado “Eixo Berlim-Roma”:
se concretizou (...) o “eixo” Roma-Berlim, ostensivamente
destinado à luta contra o bolchevismo (...) colocando a URSS
como objetivo capaz de justificar todas as concessões. Os
estadistas franceses e ingleses vislumbraram no fantasma do
comunismo o pretexto para explicar a tolerância com que admitiam
o fortalecimento dos dois ditadores, na esperança de que eles
chamariam a si a tarefa de opor uma barreira à expansão
soviética.[xxxvii]
Em novembro do mesmo ano, a Alemanha e o Japão
assinaram o Pacto Anticomintern que – para ganhar a simpatia dos
círculos dirigentes da Inglaterra e da França – conclamava à
luta comum contra as atividades da Internacional Comunista,
dentro e fora dos seus países. Em 1937, a Itália aderiu a ele.
Em abril de 1939, um mês após a sua vitória, Franco fez o mesmo:
Os jornais reacionários franceses, desde o cauteloso Le Temps ao
viperino Gringoire, saudaram o pacto Anticomintern dizendo que
era “um elemento poderoso para a segurança da França”. Logo que
o bolchevismo – era assim que designavam a Frente Popular
espanhola – fosse esmagado na Espanha, o Führer voltar-se-ia
para a Rússia Soviética.
[xxxviii]
Quando o pacto Anticomintern levantou as idéias políticas (...)
personalidades dos dois países democráticos também sentiram a
atração do anticomunismo. Inclinavam-se à neutralidade entre o
fascismo e o comunismo ou, talvez, mesmo para o lado fascista
(...) Quando um governo de Frente Popular se organizou, os
franceses conservadores e ricos não disseram apenas: “Melhor
Hitler do que Stalin”, mas “Melhior Hitler que León Blum”
[xxxix]
Em julho de 1937, o Japão – que já ocupara
impunemente a Mandchúria – lançou-se sobre o resto da China. Uma
a uma, foram caindo as principais cidades chinesas: Nanquim
(dezembro de 1937), Cantão (outubro de 1938), Hankow (outubro de
1938). Virtualmente derrotada a resistência de Chiag-Kai-chek,
os japoneses impuseram o governo fantoche pró-japonês de Wang
Ching-Wei.
Em fevereiro de 1939, foi tomada a ilha de Hainan,
posição estratégica para um posterior assalto à Indochina
francesa. Washington e Londres se limitaram a enviar notas
formais de protesto a Tóquio, enquanto na prática contribuíam
para o esforço de guerra japonês. Segundo Herrera, “as
estatísticas revelam que 60% do petróleo, sucata, aviões,
viaturas e outros equipamentos militares utilizados pelo Japão
contra a China eram oriundos dos Estados Unidos, cabendo a
Inglaterra contribuir com mais 20%.”[xl]
Mais uma vez, a URSS foi o único país a opor-se a
essa agressão: “Entre 1938 e 1939, a URSS concedeu à China
créditos totalizando uns 250 milhões de dólares
norte-americanos, fornecendo-lhe, por conta desse valor, em
torno de 900 aviões, 82 tanques, cerca de 1.200 canhões e
obuses, mais de 9.500 metralhadoras, etc.”[xli]
Na verdade, as “aspirações expansionistas do Japão não
encontraram resistência por parte dos círculos imperialistas dos
EUA, da Inglaterra e da França, que contavam aproveitar a
possibilidade que se lhes oferecia para reprimir o movimento
revolucionário na China e atacar a União Soviética.”[xlii]
Dando razão a esses círculos, em 1938 o Japão empreendeu um
ataque armado direto à URSS, a partir da Mandchúria, na região
do lago Khassan, mas foi contido e derrotado.
A
anexação da Áustria
Dentro da estratégia das democracias ocidentais de incentivar a
expansão da Alemanha nazista para o leste e de lançá-la contra a
União Soviética, a França e a Inglaterra passaram a sinalizar o
seu beneplácito em relação às pretensões de Hitler quanto à
Áustria, à Checoslováquia e a Dantzig, desde que não fosse usada
a violência. Em novembro de 1937, Lord Halifax entrevistou-se
com Hitler:
Halifax disse tudo o que Hitler esperava ouvir. Elogiou a
Alemanha nazista “como o baluarte da Europa contra o
bolchevismo”, e evidenciou simpatia para com as reivindicações
alemãs. Deteve-se particularmente em certas questões onde
“alterações possíveis poderiam estar destinadas a se resolverem
com o passar do tempo.” Eram Dantzig, Áustria a Checoslováquia.
“A Inglaterra está interessada em que qualquer alteração se faça
por meio da evolução pacífica e se evitem métodos que possam
causar perturbações de longo alcance.” (...) As observações de
Halifax (...) eram um convite a Hitler para promover a agitação
nacionalista alemã em Dantzig, Checoslováquia e Áustria, e uma
garantia de que a agitação não encontraria resistência externa.
Tais insinuações não foram feitas apenas por Halifax. Em
Londres, Eden disse a Ribbentrop: “O povo da Inglaterra
reconhece que uma maior aproximação entre a Alemanha e a Áustria
terá de ocorrer algum dia”. As mesmas notícias vinham da França.
Papen, numa visita a Paris, “surpreendeu-se ao notar” que
Chautemps, o ‘premier’, e Bonnet, então Ministro das Finanças
(...) não tinham objeções a uma acentuada ampliação da
influência da Alemanha na Áustria”, obtida através de “meios
evolucionários”, nem na Checoslováquia “na base da reorganização
numa ação de nacionalidades”.[xliii]
Estavam preparadas as condições para que o ano de
1938 ficasse gravado na história como o ano da anexação da
Áustria e da capitulação de Munique. Essas ações foram precedida
de uma intensa atividade diplomática por parte de Hitler:
Já em novembro de 1937, recebera da Inglaterra garantias nesse
sentido. Elas foram confirmadas por Henderson, embaixador
britânico em Berlim. A 3 de março de 1938, Henderson informou a
Hitler, em caráter estritamente confidencial, que era favorável
ao Anschluss [V. Documentos e Materiais das Vésperas da Segunda
Guerra Mundial, t.. I, Moscou 1948, p. 70]. Em começos de 1938,
durante suas entrevistas em Berlim com o ex-presidente dos
Estados Unidos Herbert Hoover, Hitler recebera as mesmas
garantias. (…) em setembro de 1937 Hitler obtivera o
consentimento de Mussolini para essa operação. (…) A Áustria
estava entregue aos nazistas.[xliv]
Agora só faltava o golpe de misericórdia. Depois de
ordenar a Seyss-Inquart, chefe dos nazistas austríacos que
intensificasse as agitações pró-Alemanha na Áustria, Hitler
mandou chamar o chanceler Schuschnigg, a quem ameaçou com uma
imediata invasão do país e apresentou um ultimato:
todos os austríacos tinham que aceitar a doutrina do
nacional-socialismo; os nazistas austríacos poderiam se dedicar
sem impedimento algum a suas “atividades legais”; todos os
nazistas encarcerados, inclusive os assassinos de Dollfuss,
tinham que ser postos em liberdade; havia que nomear
Seysss-Inquart ministro do Interior, e o exército austríaco
tinha que aceitar imediatamente no seu seio a uma centena de
oficiais do exército alemão. Depois de dez horas (…) Schuschnigg
aceitou a maioria das exigências, acrescentando que desejava
esclarecer alguns pontos com o presidente Wilhelm Miklas.[xlv]
De volta à Áustria, Schuschnigg convocou um
plebiscito para 13 março de 1938 para decidir sobre o futuro da
Áustria. Furioso, Hitler exigiu que o plebiscito fosse suspenso
e ordenou a Wehrmacht que se mantivessem pronta para
invadir a Áustria. Abandonado pelas democracias ocidentais,
Schüschnigg capitulou, afirmando na radio que “tivemos que
inclinar-nos ante a força, pois não estamos dispostos, sequer
nesta terrível situação, a derramar sangue alemão. Ordenamos ao
exército austríaco que se retire, sem oferecer resistência.”[xlvi]
A meia noite do dia 11 de março de 1938,
Seyss-Inquart foi nomeado chanceler da Áustria, momento em que
as primeiras unidades alemãs já estavam cruzando a fronteira. Ao
meio dia Viena foi ocupada pelas tropas da Alemanha. O
presidente Miklas se demitiu. Schuschnigg foi mantido
encarcerado durante 17 meses. Hitler declarou a Áustria nova
Land (província) do Reich sob o nome de Ostmark,
tendo Seyss-Inquart como regente:
País capitalista algum protesta, nem mesmo pró forma, contra
este ato de agressão A Inglaterra e a França reconhecem
imediatamente a anexação. Os Estados Unidos fecham a embaixada
em Viena e a substituem por um Consulado. O Vaticano tampouco se
opõe à ocupação da Áustria católica.[xlvii]
Diferentemente das democracias liberais, a URSS
condenou a agressão e conclamou todos a se oporem aos invasores.
A resposta foi a contemporização com o agressor:
Quando em 18 de março, a União Soviética solicitou que se
adotasse uma ação coletiva contra aquela evidente agressão, o
primeiro-ministro Neville Chamberlain, replicou timidamente que
ele não queria estabelecer “um grupo exclusivo de nações que
torpedeasse as perspectivas de paz na Europa.” As sombras do
apaziguamento começaram a estender-se sobre a Europa.[xlviii]
Com a ocupação da Áustria, a Alemanha dava mais um
importante passo para a guerra. Além de aumentar sua “Grande
Alemanha” em mais de 6.500.000 habitantes, no terreno
estratégico Hitler havia tomado a chave do sistema de
comunicações do Danúbio, estabeleceu fronteiras com a Itália e
cercou a Checoslováquia. Como expôs Jodl, chefe do Gabinete de
Operações do Grande Quartel-General Alemão:
A
Anschluss permitiu, por sua vez, atingir não somente um antigo
objetivo nacional, mas teve como resultado um crescimento de
nossa capacidade de combate e um melhoramento notável de nossas
posições estratégicas. Se até então o território da
Checoslováquia avançara ameaçadoramente dentro da própria
Alemanha, (“Ferrão de vespa” em direção da França e base aérea
para os aliados, sobretudo para a Rússia), agora a
Checoslováquia se acha presa nos dentes de uma tenaz.[xlix]
A
capitulação de Munique
Os círculos mais reacionários da Inglaterra –
tomados pela miopia, e preocupados somente em dirigir o avanço
alemão para o Leste – passaram a incentivar novos atos de
agressão da Alemanha. Já no dia 14 de março de 1938, o jornal
britânico The Daily Express afirmava: “A ocupação da
Áustria pela Alemanha não muda nada. Afinal de contas a Áustria
era um país germânico mesmo antes de Hitler enviar para lá suas
tropas. Devemo-nos ocupar de nossos próprios negócios. A
Checoslováquia não nos interessa.”[l]
Em 16 de abril de 1938, foi firmado o acordo anglo-italiano,
dando carta branca aos italianos na Abissínia e total liberdade
para agirem em favor de Franco na Espanha, em troca dos bons
ofícios italianos na Europa Central. Em carta a Eden, Churchill
comentaria:
O
pacto italiano é, desde logo, um completo triunfo para
Mussolini, já que aceitamos (...) que consolide a sua conquista
da Abissínia e que execute violências na Espanha. (...) Eu creio
que o pacto anglo-italiano seja só um primeiro passo, e que o
segundo consistirá em uma tentativa de barganhar com Alemanha um
tratado ainda mais enganador que adormeça ao público britânico
enquanto permite crescer as forças armadas alemãs e
desenvolverem-se os planos da Alemanha no Leste da Europa. Na
semana passada, Chamberlain disse em segredo (...) que “não
abandonava a esperança de alcançar acordos semelhantes com
Alemanha”.[li]
Estava aberto o caminho para a agressão à
Checoslováquia. Em maio de 1938, alegando perseguição aos
alemães que viviam nos Sudetos, Hitler faz ameaças e deslocou
tropas para a fronteira checa. Estes respondem concentrando
400.000 homens na fronteira e receberam o apoio da União
Soviética, da Inglaterra e da França. Hitler recuou
momentaneamente, mas orientou Henlein, o chefe nazista nos
Sudetos, a intensificar as ações dos seus seguidores. Ao mesmo
tempo, intensificou as pressões diplomáticas sobre a França e a
Inglaterra. Temeroso, Chamberlain – em acordo com a França –
enviou Lord Runciman a Praga, na qualidade de árbitro oficioso.
Pressionados por Runciman, os checos fizeram grandes
concessões: concordaram em dividir a Checoslováquia em cantões
(como a Suíça), garantir a participação proporcional de todas as
nacionalidades no governo e na direção das empresas do Estado,
conceder de empréstimos aos Sudetos para melhorar a sua situação
econômica. Mas quanto mais cediam, mais Hitler ameaçava e
intensificava a agitação nos Sudetos, a ponto do presidente
Benes ser obrigado a proclamar a lei marcial.
Apavorado, Chamberlain tomou um avião em Londres e aterrizou em
Berchtesgaden no dia 15 de setembro de 1938. Era a primeira das
três humilhantes viagens feitas por ele à Alemanha, na tentativa
de apaziguar Hitler. Este foi enfático: os Sudetos deviam ser
imediatamente incorporados ao Terceiro Reich, senão
estalaria a guerra geral: Chamberlain afirmou que se Hitler não
queria nada mais que os Sudetos alemães a Inglaterra não se
oporia a isso[lii],
e só pediu alguns dias para consultar o seu ministério.
De regresso a Londres, conferenciou com os membros do seu
gabinete e com o presidente do Conselho Francês Eduardo Daladier
e seu ministro de Assuntos Exteriores George Bonnet.
Entrementes, Hitler buscava o apoio da Polônia para a sua
agressão à Checoslováquia. Aproveitando-se da situação difícil
em que esse país se encontrava, o reacionário governo de
Varsóvia reivindicou a região de Teschen, rica em carvão, e
assegurou que não vacilaria em usar a força para conquistá-la.
No dia 20 de setembro, sem qualquer consulta a Praga, a
Inglaterra e a França comunicaram à Checoslováquia que para
evitar a guerra ela deveria entregar todas as regiões habitadas
por maiorias alemãs a Hitler, anular o Tratado
soviético-checoslovaco de assistência mútua, assinar um acordo
econômico com a Alemanha (francamente desfavorável) e proibir
toda propaganda antifascista. Se aceitasse essas condições, a
Inglaterra e a França se comprometiam em garantir a sua
independência. Caso contrário, retirariam suas garantias:
Se a guerra estalar por causa da atitude negativa do governo
checo, a França não entrará em ação e, em tal hipótese,
Checoslováquia seria feita responsável por ter provocado uma
guerra. Se os checos se unirem com os russos, a guerra poderia
tornar-se uma cruzada antibolchevique, da qual seria muito
difícil aos governos francês e inglês desassociarem-se.[liii]
O
gabinete checo decidiu ceder e apresentou a sua demissão. No dia
22 Chamberlain foi ao encontro de Hitler em Godesberg para
entregar-lhe os Sudetos. Mas Hitler declarou que agora não
bastavam essas condições, que a Alemanha exigia a imediata
ocupação de todas as regiões de fala alemã no país e dava o
prazo até 1º de outubro para que os checos aceitassem.
Atordoado, o chanceler britânico voltou a Londres, para novas
tratativas com os franceses. Indignados, os checos rechaçaram o
ultimato de Godesberg:
Mal a nota de rejeição havia sido recebida pelos enviados inglês
e francês em Praga, às cinco da tarde do dia 19, já o ministro
britânico, Sir Basil Newton, avisou o Ministro do Exterior
checo, Dr. Kamil Krofta de que se o governo checo a ela se
apegasse a Inglaterra se desinteressaria do destino do país. M.
De Lacroix, o embaixador francês, associou-se a essa declaração,
em nome da França.[liv]
A
Inglaterra sinalizava conceder tudo o que Hitler exigia:
Os ingleses também estavam se movendo: se sabe que a FA
interceptou a chamada que Chamberlain havia feito à sua
Embaixada em Berlim às 11h30 anunciando que estava pronto para
ir outra vez à Alemanha. Às 12h30, enquanto François-Poncet se
ia, chegou Henderson com a proposta oficial de Chamberlain de
que as cinco potências celebrassem uma conferência: “Estou
pronto para ir eu mesmo a Berlim.” (…) O embaixador Attolico
voltou às 2h40 (…) Durante a tarde se convidou as outras duas
potências, Grã-Bretanha e França, à conferência. As duas
aceitaram, Checoslováquia não recebeu o convite. (…) Hitler
explicou que não estava disposto a perder tempo com plebiscitos
nas zonas em litígio. (…) Já que só pedia as zonas de fala alemã
e as outras três potências estavam de acordo com isso, o único
que restava por tratar era o modo de levar a cabo a cessão. (…)
o único obstáculo era a evacuação imediata dos territórios por
parte dos checos. (…) Às primeiras horas da madrugada se firmava
o acordo de Munique. (…) Chamberlain pediu a Hitler a garantia
de que – supondo que os checos fossem tão arrogantes como para
rechaçar os acordos de Munique – a aviação não bombardearia
alvos civis. Hitler prometeu.[lv]
Formalizando a capitulação, o Acordo de Munique foi assinado
junto com um tratado de amizade anglo-germânico que teve como
signatários Hitler e Chamberlain:
As deliberações adotadas em Munique representaram (...) uma
vitória decisiva da estratégia hitleriana (...) solapava a
confiança das nações menores e provocava o retraimento da URSS,
principalmente porque já então Stalin se certificara dos
secretos desígnios de Paris e Londres: desviar para Leste a
direção de ataque da máquina nazista.[lvi]
Segundo Schirer, “em 4 de outubro, após breve debate, durante
o qual Daladier defendeu veementemente o Acordo de Munique, este
foi aprovado pela Câmara por 535 votos a 75. Além de 73
comunistas, somente 2 deputados (...) votaram contra.”[lvii]
Além de entregar os Sudetos e seus 3.100.000 habitantes à
Alemanha, o acordo impunha que a Checoslováquia resolvesse o
problema das minorias nacionais polonesa e húngara. Autorizava
os exércitos alemães a entrarem na Checoslováquia no dia 1º de
outubro e exigia que os checos abandonassem nas regiões ocupadas
toda a classe de bens, em especial as munições. Além de entregar
as suas defesas naturais, os checos estavam proibidos de
destruir as fortificações que haviam construído.
Cinco semanas depois, Hitler se vangloriava: “Só vim a
compreender a magnitude de tudo aquilo no momento em que me vi
pela primeira vez no meio da linha fortificada checa: me dei
conta do que significava ter tomado toda uma frente de quase
dois mil quilômetros de fortificações sem haver disparado nem um
só tiro.”[lviii]
O Acordo ainda previa a realização de plebiscitos em outras
partes da Checoslováquia. Assinado o acordo, os representantes
do governo checo foram convidados a comparecer na sala de
sessões, sendo-lhes dito pelo representante francês que era um
veredicto sem apelo e sem correções possíveis. Nos círculos
dirigentes de todas as potências capitalistas o júbilo foi
enorme. Dava-se mais um passo no sentido de empurrar a Alemanha
para o leste:
Constituía um retorno ao pacto das Quatro Potências, à idéia de
remodelar a Europa sem consultar a Rússia, sob a égide de uma
Alemanha e uma Itália agressivas e de uma Inglaterra e uma
França (...) preocupadas por aplacar aos ditadores, distraindo a
sua atenção para o Leste.[lix]
Para ele [Hitler] o essencial é que a França e a Inglaterra
tenham aceitado suas exigências, o que significa que estão
tacitamente de acordo para deixar-lhe, de agora em diante, com
“as mãos livres a leste”, sob a condição de que ele renuncie a
qualquer pretensão a oeste.[lx]
Sumner Welles, Sub-Secretário de Estado dos Estados Unidos assim
caraterizou o ponto de vista desses círculos:
Naquele anos de pré-guerra, os grandes grupos financeiros e
comerciais das democracias ocidentais, inclusive numerosos
grupos dos Estados Unidos, estavam persuadidos que a guerra
entre a União Soviética e a Alemanha só podia ser favorável a
seus próprios interesses. Estimavam que a Rússia sofreria uma
derrota inevitável e que o comunismo seria aniquilado. Mas, em
conseqüência do conflito, a Alemanha ficaria tão enfraquecida
que, por longos anos, seria incapaz de apresentar um perigo real
para o resto do mundo.[lxi]
É
preciso registrar que durante todo o período em que a Inglaterra
e a França planejaram a entrega da Checoslováquia, o alvo era a
União Soviética, que foi mantida a margem de qualquer
negociação:
Os governos francês e britânico (...) estavam muito distraídos
com o problema alemão para examinar o que ocorreria quando a
Alemanha se tornasse a potência dominante na Europa oriental.
Naturalmente preferiam que ela marchasse para o leste e não para
o oeste (...) Observadores argutos esperavam que seu passo
seguinte seria na direção da Ucrânia – passo esperado pelos
estadistas ocidentais com certa satisfação (...) Se Hitler
realmente pretendia atacar a Ucrânia, teria de fazê-lo através
da Polônia (...) Alemanha e Polônia poderiam agir juntas na
Ucrânia. A 24 de outubro, Ribbentrop insinuou essas propostas a
Lipski, o embaixador polonês. (...) poderia haver então uma
“política conjunta em relação à Rússia, tendo por base o Pacto
Anticomintern. (...) Beck não guardou segredo sobre o fato de
que a Polônia tinha aspirações em relação à Ucrânia Soviética”
quando Ribbentrop visitou Varsóvia (...) considerava-se como
iminente uma campanha conjunta na Ucrânia.[lxii]
Mesmo assim, a URSS reafirmou a sua firme disposição de honrar
os compromissos que havia assumido em relação à Checoslováquia,
inclusive através de um pronunciamento público de Litvinov da
tribuna da Sociedade das Nações, em 21 de setembro de 1938:
O
texto do tratado continha uma cláusula que fora introduzida às
instâncias de Benes. Estabelecia que os compromissos do tratado
soviético-checoslovaco eram válidos somente se a França
executasse os seus, assumidos diante da União Soviética ou da
Checoslováquia. No momento mais critico da luta em torno do
problema, quando tornou claro que a França não cumpriria os
compromissos assumidos, a União Soviética recusou-se a “tirar
vantagens” desta cláusula. O Governo soviético declarou
oficialmente que estava disposto a levar uma ajuda militar à
Checoslováquia mesmo que a França não o fizesse e mesmo que a
Polônia ou a Romênia impedissem a passagem das tropas
soviéticas. Mas ressaltava que a ajuda seria concedida com a
condição de que “a Checoslováquia se defendesse e solicitasse a
ajuda soviética”.[lxiii]
Para as fronteiras ocidentais da URSS foi deslocado um grande
agrupamento de tropas. Em 28 de setembro estavam preparadas para
serem expedidas para a Checoslováquia 4 brigadas de aviação (548
aviões de combate), o que foi comunicado ao adido militar
francês na URSS, Pallasse, e ao governo checoslovaco. Contudo, o
governo Benes-Hodza tomou pela via da traição nacional e
preferiu capitular, o que não permitiu à URSS ajudar em 1938 o
povo checoslovaco e abriu aos hitlerianos o caminho para a
completa ocupação e desmembramento do país.[lxiv]
Depois de adonar-se da terceira parte do país e de
quase um terço da sua população, Hitler apresentou novas
demandas: a construção de uma estrada de caráter militar através
do país, o direito de arbitrar a sorte da Eslováquia e da
Rutênia e a fixação dos territórios que caberiam à Hungria e à
Polônia. Assim, no início de novembro Hitler obrigou os checos a
cederem Teschen aos polacos e as áreas fronteiriças da
Eslováquia e da Rutênia à Hungria.
A vitória de Hitler foi total:
Imediatamente depois do acordo de Munique, o governo polaco
enviou ao checo um ultimato exigindo a entrega do distrito
fronteiriço de Teschen em vinte e quatro horas. (...) Assim, ao
mesmo tempo que o poderio alemão ameaçava aos polacos, esses se
apressavam a compartir a pilhagem da Checoslováquia.[lxv]
A
Polônia (...) tomou cerca de 650 milhas quadradas de Teschen,
abrangendo uma população de 228.000 habitantes, dos quais
133.000 checos. A Hungria obteve um pedaço maior (...): 7.560
milhas quadradas, com uma população de 500.000 magiares e
272.000 eslovacos.[lxvi]
O
ajuste definitivo de 20 de novembro de 1938 forçou a
Checoslováquia a entregar à Alemanha 11.000 milhas quadradas de
território, onde viviam 2.800.000 sudetos alemães e 800.000
checos. Nessa área estavam todas as imensas fortificações checas
que constituíam até então a mais formidável linha defensiva na
Europa, com a possível exceção da linha Maginot, na França. Mas
não era tudo. Todo o sistema ferroviário, rodoviário,
telegráfico e telefônico de comunicações foi destruído. Segundo
os algarismos alemães, o país desmembrado perdeu 66% de seu
carvão, 80% de sua linhita, 86% de suas substâncias químicas,
80% de seu cimento, 80% de seus têxteis, 70% de seu ferro e aço,
70% de seu potencial elétrico e 40% de suas florestas.[lxvii]
Esquartejada a Checoslováquia, Ribbentrop viajou
para a França, em dezembro de 1938, para assinar com Bonnet um
pacto franco-alemão que – em troca do reconhecimento por Hitler
do status quo na Alsácia-Lorena – deixava livres as mãos
da Alemanha no Leste:
Não há dúvidas que a atitude dos estadistas ocidentais, que
foram tão longe no apaziguamento a Hitler em Munique, encerrava
a esperança de que ele lançaria suas forças contra os russos,
mais que contra o Ocidente, nem de que estavam dispostos
inclusive a alentá-lo nesta política que parecia a muitos deles
o resultado natural do pacto Anticomintern.[lxviii]
Poucos dias depois da assinatura desse acordo,
Bonnet foi interrogado no Comitê de Relações Exteriores da
Câmara “se a França cumpriria suas obrigações pelos pactos
franco-polonês e franco-soviético, se esses países fossem
atacados. Bonnet respondeu que não acreditava que qualquer
desses dois países fosse capaz de se defender contra a Alemanha
nazista. Acrescentou que novos movimentos alemães no leste não
alterariam a posição estratégica da França.”[lxix]
O recado era claro. Coulondre, embaixador francês em Berlim,
escreverá a Bonnet:
Com efeito, o desejo de expansão para o Leste por parte do III
Reich parece-me tão certa como a sua renúncia, pelo menos de
momento, a qualquer conquista no Ocidente (...) quer-me parecer
que se vê desenhar pouco a pouco (...) as formas do grande
empreendimento alemão: tornar-se senhor da Europa Central,
tornando seus vassalos a Checoslováquia e a Hungria, e criar
depois a grande Ucrânia sob hegemonia alemã (...). Para tanto,
seria necessário dominar a Romênia, convencer a Polônia,
espoliar a URSS (...) nos meios militares já se fala da
cavalgada até ao Cáucaso e a Baku.[lxx]
Analisando esses acontecimentos em outubro de 1938,
quase um ano antes do ataque à Polônia, um atilado e
privilegiado observador registrou: “a guerra é hoje mais
provável do que nunca (...) deverá irromper depois das próximas
colheitas (...) a Polônia é, sem dúvida alguma a próxima vítima
da lista de Hitler (a estupidez cega dos poloneses durante a
recente crise, auxiliando a destruição da Checoslováquia)”[lxxi].
A
destruição final da Checoslováquia
Nos primeiros dias de março de 1939, instigados por Hitler, os
separatistas da Eslováquia e da Rutênia proclamaram a sua
independência. Em 6 de março, o governo checoslovaco demitiu o
governo autônomo da Rutênia e no dia 9 de março o seu similar
eslovaco, decretando a lei marcial. Hitler convocou, então, o
presidente Emil Hacha (Benes se refugiara nos EUA) a Berlim,
comunicando-lhe que a Wermacht ia invadir a Bohemia e a
Morávia, mas se ele assinasse a capitulação não haveria
derramamento de sangue. Shirer registra a vilania da França e da
Inglaterra frente a mais essa agressão de Hitler:
A
França não mexerá um dedo. Na verdade, ainda hoje, Georges
Bonnet declarou à Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos
Deputados que as garantias de Munique “ainda não tinham sido
efetivadas” e que, portanto, a França não estava obrigada a
tomar nenhuma iniciativa. Ed Murrow telefona-me de Londres
dizendo que, por lá, a reação é a mesma – que Chamberlain,
falando esta tarde perante os Comuns, avançou tanto que chegou a
afirmar que se recusava peremptoriamente a associar-se a
qualquer acusação de quebra de compromisso por parte de Hitler.[lxxii]
Na madrugada do dia 15 de março de 1939, sem esperança de
qualquer apoio da Inglaterra ou da França, Hacha assinou a
rendição:
O
acordo principal se assinou pouco antes das 4 da manhã. Em um
segundo documento, Hacha aprovava a entrega imediata aos alemães
da aviação e do armamento checo. (…) Enquanto iniciava a sua
invasão da Checoslováquia, as 8h02 da manhã o trem especial de
Hitler saía da estação de Anhalt. (…) Keitel mantinha Hitler
informado sobre o avanço do exército. As 9 da manhã, este já se
encontrava nas ruas de Praga. Não houve derramamento e sangue.
(…) Às 4 da tarde, levantaram a barreira da fronteira para que
Hitler entrasse na Checoslováquia (…) Chegou a Praga ao
entardecer. (…) Começou a ditar uma lei que estabelecia um
sistema de “Protetorado” alemão sobre a Bohemia e a Morávia. (…)
A primeira reação procedente de Londres foi a de tomar o assunto
como se não fosse de sua incumbência (…) uma semana depois,
Chamberlain se serviu de um intermediário para assegurar a
Hitler que estava a favor da ação que a Alemanha havia levado a
cabo, ainda que não pudesse dizê-lo de público, por encontra-se
a mercê de airados ataques de Churchill e companhia. (…) o
controle de Praga pôs a disposição de Hitler as reservas de ouro
que necessitava para superar o enorme déficit orçamentário do
Reich; lhe proporcionava, ainda, aeroportos com que ameaçar a
Polônia e a Rússia; e uma redução de mil e seiscentos
quilômetros de frente para defender. Lhe proporcionava tanques,
artilharia e aviação checas; além disso, colocava a Romênia e a
Iugoslávia em suas mãos, pois os exércitos desses países se
equipavam em grande parte graças à fábrica de armas Skoda de
Pilsen.[lxxiii]
Depois de ocupar toda a Checoslováquia e anexar a Bohemia e a
Morávia, Hitler transformou a Eslováquia em um domínio dirigido
por um governo fantoche. A imprensa reacionária dos EUA,
Inglaterra e França aconselhava Hitler a unir a Ucrânia
Soviética à Ucrânia Subcarpática, induzindo a Alemanha a uma
guerra com a URSS. Bullit, embaixador dos EUA em Paris, informou
o seu governo:
A
Alemanha tentará apoderar-se da Ucrânia, que é o celeiro da
União Soviética. Ao fazê-lo, a Alemanha se extenuará de tal
maneira que não poderá sustentar o esforço e acabará se
esfacelando. O Japão ocupará ou tentará ocupar a Sibéria e
desmoronará igualmente em conseqüência de um esforço demasiado
grande. Abandonando a Rússia à sua sorte, a Inglaterra e a
França afastarão a ameaça de seus próprios países.[lxxiv]
Mais prudente, a Alemanha entregou a Ucrânia Subcarpática à
Hungria, evitando um conflito com a União Soviética. O que as
democracias ocidentais ainda não haviam percebido é que a
Alemanha considerava a guerra com a URSS uma prova muito difícil
e entendia necessário – antes de atacá-la – fortalecer-se no
ocidente, principalmente pela derrota da França que podia
ameaçar-lhe o flanco, na região estratégica do Rhur, maior
centro industrial do país.
A União Soviética foi a única a protestar e não
reconhecer a ocupação da Checoslováquia: “Nem a Inglaterra
nem a França fizeram o menor gesto para salvá-la, embora em
Munique tivessem solenemente garantido à Checoslováquia contra a
agressão”.[lxxv]
Ao contrário, “os britânicos reconheceram as autoridades
alemãs na Boêmia, e o Banco da Inglaterra entregou-lhe seis
milhões de libras em ouro checo (...) Um entendimento geral com
Hitler continuava sendo o objetivo britânico.”[lxxvi]
A
ocupação de Memel, o ataque à Mongólia, a ocupação da Albânia
Aproveitando-se da cumplicidade das potências ocidentais, a
Alemanha prosseguiu a sua marcha para o leste. A 22 de março,
arrebatou Memel à Lituânia mediante um “acordo”. No dia
seguinte, firmou um tratado germano-romeno, fazendo daquele país
um apêndice da economia alemã e uma base militar da Alemanha. A
7 de abril de 1939, a Itália ocupou a Albânia. Nesses dias, a
Alemanha denunciou o acordo naval com a Inglaterra e o Tratado
de não agressão à Polônia.
Em maio, o Japão atacou a República Popular da Mongólia – a quem
a URSS estava unida por um tratado de assistência mútua – nas
proximidades do rio Calquin-Gol, com o objetivo de ocupá-la e
chegar até as fronteiras soviéticas na região do lago Baikal.
Mas foi contido e derrotado pelas Forças Armadas conjuntas da
URSS e da Mongólia. Era cada vez mais evidente o cerco que se
fechava em torno da URSS:
Mesmo após o Anschluss, Londres e Paris não descreram das
possibilidades de uma paz duradoura com Berlim. (...) a escolher
entre a URSS e o Terceiro Reich, os estadistas britânicos e
franceses preferiam orientar a sua política de bom entendimento
em direção ao eixo Roma-Berlim. (...) Os caminhos de Berlim se
alongavam em direção da Romênia, do Mar Negro, do Egeu, da
Ucrânia, do Oriente Próximo. É lá que estão os celeiros de
trigo, as minas de petróleo, os campos das matérias primas de
que a Alemanha necessita. Os países mais ameaçados, a partir do
início dessa etapa, são a Polônia, a Romênia, a Grécia, em
primeiro lugar; logo depois a URSS, a Turquia, o Iraque.[lxxvii]
Em março de 1939, referindo-se a política das democracias
ocidentais de não deter os agressores, Stalin alertava em seu
Informe ao XVIIIº Congresso do Partido Comunista (bolchevique)
da URSS:
A
política de não-intervenção eqüivale a tolerar a agressão, a
desencadear a guerra e, conseqüentemente, a transformá-la em
guerra mundial. Na política de não intervenção ressalta a
aspiração, o desejo de não impedir aos agressores que realizem
sua obra tenebrosa: de não impedir, por exemplo, que o Japão se
envolva na guerra com a China e, melhor ainda, com a União
Soviética; de não impedir a Alemanha, principalmente, de se
imiscuir nos assuntos europeus, de se lançar numa guerra contra
a União Soviética; de permitir a todos os beligerantes que se
atolem até a cabeça no pântano de guerra, de encorajá-los
dissimuladamente nesse sentido; de enfraquecê-los mutuamente e,
em seguida, quando estiverem suficientemente débeis, aparecer em
cena com forças frescas, de intervir, naturalmente “no
interesses da paz” e de ditar condições aos beligerantes
enfraquecidos.[lxxviii]
Em julho de 1939 – exatamente quando se travavam os combates às
margens do Calquin-Gol – a Inglaterra assinava em Tóquio o
acordo nipo-inglês – conhecido como o “Munique do Leste” pelo
seu abandono da China – onde a Inglaterra declarava “reconhecer
a situação atual da China e as necessidades particulares das
forças armadas japonesas que operavam na China” e “a não
encorajar atos ou medidas que pudessem trazer embaraços ao
exército japonês na China”.[lxxix]
O FRACASSO DAS
NEGOCIAÇÕES TRIPARTITES E O ACORDO GERMANO-SOVIÉTICO
É nesse contexto que têm início as conversações da
União Soviética com a França e a Inglaterra. Diante dos rumores
de uma próxima agressão à Romênia, rica em petróleo, no dia 18
de março o embaixador inglês em Moscou entrevistou-se com
Litvinov para saber da atitude soviética no caso de uma agressão
de Hitler à Romênia. Este, em nome do Governo Soviético, propôs
a imediata convocação de uma conferência de representantes da
Inglaterra, França, URSS, Romênia, Turquia e Polônia para tomar
medidas eficazes contra a ameaça. No dia seguinte, o Governo
inglês respondeu negativamente à proposta.
No dia 21 de março, a França e a Inglaterra
propuseram a assinatura de uma declaração, junto com a URSS e a
Polônia, pela qual, no caso de um novo ato de agressão, esses
países se consultariam urgentemente para examinar as medidas a
tomar. Embora considerando a medida pouco eficaz, o Governo
Soviético se prontificou a assiná-la. Mas a Polônia,
profundamente reacionária e anti-soviética, negou-se a firmar a
declaração se a URSS o assinasse. Ao mesmo tempo em que se
negava a realizar tratativas concretas com a URSS, Chamberlain
ofereceu garantias unilaterais – que não tinha condições de
cumprir – à Polônia. Mas nada fez de concreto:
os poloneses pediam um empréstimo de 60 milhões de libras em
dinheiro e eles respondiam não ter dinheiro e só poder oferecer
créditos. Em seguida, insistiam que os créditos deviam ser
empregados na Grã-Bretanha e, finalmente, tendo reduzido a cifra
para 8 milhões, explicaram que como as fábricas de armas
inglesas estavam cheias de encomendas o crédito não poderia ser
utilizado. Nenhum crédito fora posto em prática quando a guerra
irrompeu, nenhuma bomba ou fuzil inglês fora para a Polônia.[lxxx]
A França também deu garantias à Polônia. Ambas
tentaram arrastar a União Soviética a oferecer as mesmas
garantias, sem qualquer contrapartida. Na verdade, coerentes com
a sua estratégia, incentivavam o confronto entre a Alemanha e a
URSS. Como nos diz Herrera,
“nem
a França nem a Inglaterra estavam dispostas a participar de
qualquer acordo que contrariasse seus objetivos imediatos, isto
é, desviar para Leste a expansão do Lebensraum hitlerista. A
contraproposta de Chamberlain (...) admitia apenas a previsão de
consultas recíprocas em caso de ataque.”[lxxxi]
Negociações políticas para acalmar a opinião pública
Mas, a única alternativa capaz de deter a agressão nazi-fascista
– e, portanto, evitar a Segunda Guerra Mundial – era uma união
militar entre a França, a Inglaterra e a URSS. Por isso, em 17
de abril de 1939, o Governo Soviético voltou a propor a
assinatura de um pacto de assistência mútua e de um convênio
militar entre a União Soviética, a Inglaterra e a França, além
da concessão de garantias a todos os países fronteiriços à URSS,
do Báltico ao Mar Negro:
Sustentam os russos que a frente de resistência contra os
agressores, para ser eficiente e evitar a guerra, há de ser um
sistema compacto e sem frestas. Desde que um dos trechos
territoriais mais imediatamente consideráveis como ‘espaço
vital’ do Reich não seja incluído nas garantias do tratado, que
significaria isto senão uma convite a que as vistas de Berlim se
lançassem sobre ele? E tomando-se em atenção que a existência
dos Estados Bálticos é uma condição imprescindível à
tranqüilidade de Moscou, bem se compreende a sua insistência
nesse particular.[lxxxii]
Recém em 8 de maio a Inglaterra e a França se dignaram dar uma
resposta à URSS, mais uma vez negativa, onde alegavam que isso
podia ser interpretado pela Alemanha como uma agressão.
Contraditoriamente, nesses mesmos dias A França e a Inglaterra
assinaram com a Turquia um tratado de assistência mútua.
Enquanto isso, “a Polônia, e a Romênia (...) se recusavam a
aceitar a garantia russa ou mesmo a admitir que tropas
soviéticas atravessassem seus territórios para enfrentar um
ataque alemão. A Letônia, a Estônia e a Finlândia também se
negavam sistematicamente a aceitar qualquer garantia russa.”[lxxxiii]
Mas, a Inglaterra e a França continuaram insistindo para que a
URSS desse garantias unilaterais à Polônia e à Romênia, sem
contrapartida. A URSS respondeu que só seria negociado um pacto
com compromissos recíprocos.
Estimulado por essa conduta de Chamberlain e Daladier de abortar
qualquer acordo sério com a URSS, Hitler iniciou uma intensa
campanha contra a Polônia, exigindo a devolução de Dantzig e o
livre trânsito alemão pelo corredor polonês. A tensão chegou ao
seu ponto máximo. No dia 19 de maio, na Câmara dos Comuns,
Churchil fez um pronunciamento onde criticou a política externa
inglesa e lembrou que “as propostas apresentadas pelo Governo
da URSS prevêem uma tríplice aliança da Inglaterra, França e
União Soviética, de cujos benefícios podem aproveitar-se também
outros países.”[lxxxiv]
Lloyd George também defendeu o tríplice pacto: “Sem a ajuda
da URSS não poderemos cumprir nossos compromissos com a Polônia
e a Romênia. Por que não firmou ainda o Governo acordo de
assistência mútua com a URSS?”[lxxxv]
No mesmo sentido pronunciou-se Eden.
Pressionado pela opinião pública, Chamberlain manobrou e no dia
25 de maio propôs ao Governo soviético um pacto tripartite
genérico, vinculado à Sociedade das Nações, sem nenhum
convênio militar concreto. A contraproposta soviética,
apresentada no dia 2 de junho, independizava o pacto de qualquer
procedimento estabelecido na Sociedade das Nações,
discriminava os Estados que receberiam garantias e determinava
que o pacto e o convênio militar entrariam em vigor
simultaneamente.
Depois de muitas discussões, a questão da desvinculação do pacto
da Sociedade das Nações foi aceita. Já as negociações em
torno dos Estados que receberiam garantias – principalmente no
que se refere às antigas províncias bálticas – começaram a
arrastar-se em torno das mais absurdas polêmicas. Segundo
Lindolfo Collor:
Em nenhuma delas, rigorosamente, funciona um governo de
estrutura democrática. (...) Na Estônia (...) domina
ditatorialmente o sr. Constantin Paets; na Letônia (...) o
presidente Karlis Ulmanis exerce com os chefes militares um
poder absoluto; na Lituânia (...) o presidente Antanas Smetana,
que tomou o poder por ocasião da queda do ditador Waldemaras,
também é depositário de poderes excessivamente extensos (...)
Que mais seria necessário acrescentar para deixar assinalada a
simpatia desses homens de Estado pelo regime alemão? (...) Eles
querem viver em boa paz com Berlim e repelem liminarmente toda e
qualquer garantia provinda de Moscou. (...) Os países bálticos
sempre figuraram no programa das reivindicações alemãs. (...) O
que esses minúsculos Estados representam para o expansionismo
germânico nem precisaria ser explicado o Baltikum foi, em todos
os tempos, considerado pela Prússia como o seu ‘espaço vital’
mais lógico e sob todos os aspectos mais preciosos. Senhora de
Riga, de Tallin e de Dantzig, a Alemanha imperaria entre a
Escandinávia e a Rússia. Gdinia viveria à mercê de sua boa
vontade, o corredor deixaria de existir. A Finlândia estaria
bloqueada. (...) A Rússia teria definitivamente barradas as suas
comunicações imediatas com o Ocidente, obrigada a recorrer às
longínquas vias de Arkangel e Odessa. (...) A existência do
Estados Bálticos de hoje (...) representa uma necessidade por
muitos aspectos vital para a Rússia.[lxxxvi]
Baufre, um dos negociadores franceses, e posteriormente um
destacado general, escreveu referindo-se às propostas
soviéticas: “Era difícil ser mais concreto e mais claro (…) o
contraste entre esse programa e as confusas abstrações
franco-inglesas é surpreendente (…) Os argumentos soviéticos
eram ponderáveis (…) A nossa posição era falsa.”[lxxxvii]
No dia 8 de junho, Lord Halifax, Ministro das Relações
Exteriores da Inglaterra, comunicou à Maiski, embaixador
soviético em Londres, a viagem de William Strang, mero
funcionário do Departamento Diplomático, para prosseguir as
tratativas em Moscou. Era uma clara demonstração do desinteresse
inglês em uma rápida assinatura do pacto:
a
hipótese subjacente
[era] de uma ação alemã contra a Ucrânia, na perspectiva do
Meins Kampf. (...) Ainda no princípio de 1939, Sir Neville
Henderson, embaixador inglês em Berlim, que fala constantemente
dessa hipótese, declara a operação inevitável e aconselha ao
governo britânico que se mantenha neutro. E concebe-se que
certos dirigentes franceses e ingleses tenham podido pensar sem
pena que o choque alemão se iria dar primeiro a oriente contra
os soviéticos, de preferência a ocidente, contra eles próprios.[lxxxviii]
Em fins de junho, as negociações já duravam 75 dias. Desses, a
URSS utilizara 16 dias para preparar as suas respostas; a
Inglaterra e a França, 59. Enquanto isso a situação na Europa se
agravava cada vez mais.
No começo de julho havia sido obtido o acordo em torno dos
Estados “garantidos” no pacto. Iniciaram-se, então, as
discussões sobre o Convênio Militar. Os soviéticos insistiam em
que o pacto e o convênio militar formavam um todo único,
entrando em vigor simultaneamente. Os ingleses e os franceses
desconversavam e queriam tratá-los separadamente, como dois
documentos distintos. No fundo, evitavam assumir qualquer
compromisso militar concreto com a URSS.
Maiski relata: “no início de julho foi-me comunicado que teve
lugar o seguinte diálogo entre Chamberlain e Wood, Ministro da
Aviação: O que há de novo acerca das negociações sobre o pacto?
perguntou Wood. Chamberlain fez um gesto de irritação e
respondeu: Ainda não perdi a esperança de frustrar a assinatura
desse malfadado pacto.”[lxxxix]
O historiador inglês David Irving também faz menção à essa
postura de Chamberlain: ”Em 25 de maio, as escutas realizadas
pela FA ao correspondente do The Times em Berlim, Mr. James
Holburn, mostravam que, durante a sua estadia em Londres, havia
tomado conhecimento de que Chamberlain não tinha a intenção de
aliar-se com Stalin: ainda esperava retomar, algum dia, o
contato direto com Hitler.”[xc]
Como o Governo soviético não abriu mão da unidade entre o
tratado e o convênio militar, recém no dia 24 de julho o Governo
inglês aceitou esta tese. Haviam se passado mais três semanas.
Não satisfeitos, franceses e ingleses polemizaram durante vários
dias sobre o conceito de “agressão”. Enquanto prolongava ao
máximo as negociações com a URSS, a Inglaterra agilizava os
contatos diretos e indiretos com a Alemanha, procurando chegar a
um acordo com a mesma:
as fontes autorizadas diziam desde Londres sobre que Chamberlain
estava buscando o modo de renunciar à delicadas garantias dadas
à Polônia. (…) A fins de julho, tudo parecia indicar que
Chamberlain e seus conselheiros estavam dispostos a um segundo
Munique. Por iniciativa britânica, já se haviam celebrado
conversações entre Sir Horace Wilson, um dos conselheiros mais
conciliadores de Chamberlain, e o doutor Helmuth Wohlthat,
membro do pessoal de economia de Gõring. Wilson havia proposto
um profundo acordo político, econômico e militar com Hitler, em
troca de certas garantias. (…) Em 4 de agosto, Neville
Chamberlain suspendia por dois meses as sessões do Parlamento.
Simultaneamente (…) Sir Horace Wilson convidou o embaixador
Herbert von Dirksen ao seu apartamento particular e lhe propôs a
grandes traços “uma sólida colaboração em política mundial”
entre a Grã-Bretanha e a Alemanha. Se Hitler aceitasse as
condições, indicou Wilson, então a Grã-Bretanha pressionaria a
Polônia para que concordasse com as exigências alemãs.[xci]
Wilson (...) propunha um tratado anglo-alemão de não agressão e
não-interferência, uma acordo de desarmamento e uma cooperação
no comércio externo. Um pacto semelhante “permitiria aos
ingleses se livrarem de seus compromissos em relação à Polônia.”[xcii]
Essas negociações são registradas por diversos
historiadores: tratativas entre Ashton-Gwatkin – chefe da
Seção Econômica do Ministério dos Assuntos Estrangeiros
britânico – e Goering[xciii];
entre Horace Wilson e Robert Hudson – Ministro do
Comércio Ultra-marino – e Helmut Wohltat[xciv];
entre Roden Buxton – membro da Câmara dos Comuns –
e Kordt - Conselheiro da embaixada alemã[xcv];
entre Halifax e Dirksen – embaixador alemão[xcvi];
entre Wohlthat e Hudson e Wilson[xcvii];
entre Dahlerus e Chamberlain, Halifax e Cadogan.[xcviii]
Em todos esses contatos, uma constante: o
estabelecimento de um pacto entre a Inglaterra e a Alemanha,
dividindo áreas de interesse em troca do abandono da Polônia e
do rompimento das negociações em torno do pacto de assistência
mútua com a URSS. Assim, enquanto protelavam as negociações em
Moscou, buscavam deixar a Polônia e a União Soviética entregues
à própria sorte:
Aqui domina a impressão de que os vínculos que se estabeleceram
nos últimos meses com outros Estados não são mais do que um meio
de reserva para a verdadeira reconciliação com a Alemanha e que
esses vínculos desaparecerão logo que se consiga o único
objetivo importante e digno de esforço: o acordo com a Alemanha.”
[xcix]
O
impasse nas negociações militares
No dia 25 de julho, Halifax comunicou a Maiski que
se chegara a um acordo em Moscou para iniciar de imediato as
negociações militares, mas não demonstrou nenhuma pressa para
enviar a delegação inglesa. No dia 31 de julho, o Parlamento foi
sacudido por violentas discussões sobre a política exterior
britânica; a oposição exigiu que fosse enviado a Moscou alguém
de alto nível, o próprio Ministro do Exterior, para negociar.
Justificando os quatro meses e meio que já duravam as
negociações, Chamberlain alegou que as conversações em 1903 com
o Japão duraram 6 meses, a Entente anglo-francesa de 1904
exigira 9 meses e a Entente anglo-russa de 1907, 15 meses. O
recado era claro: o Governo inglês ainda pretendia demorar muito
até a conclusão do acordo.
A indicação do chefe da delegação militar – Sir
Reginald Drax, ancião almirante da Marinha – surpreendeu a
todos, pois era um ilustre desconhecido, sem qualquer peso
político. O governo francês seguiu o mesmo caminho, indicando o
general Doumenc. Os demais membros de ambas delegações não
passavam de quadros médios das Forças Armadas. Só no dia 5 de
agosto as delegações saíram de Londres, e ainda escolheram o
meio de transporte mais demorado: um navio que demorou 5 dias em
chegar a Leningrado. Só aí já se haviam ido mais 15 dias. A
leitura dos arquivos do embaixador alemão em Londres – Dirksen –
publicadas depois da guerra lançam luz sobre esses movimentos
protelatórios dos ingleses, neste momento envolvidos em
negociações secretas com a Alemanha:
Que “outras negociações” seriam essas? (…) O relatório que
Dirksen enviou a Berlim a 1º de agosto de 1939 (A.3107) é muito
mais concreto (…): 1) A Alemanha compromete-se a não se imiscuir
nos negócios do Império Britânico. 2) A Inglaterra compromete-se
a respeitar plenamente as esferas de interesses alemães no Leste
e no Sudeste europeus. Isso teria como conseqüência que a
Inglaterra renunciaria às garantias concedidas a certos Estados
situados nessas esferas. [Polônia?] A Inglaterra compromete-se
em seguida a trabalhar para que a França repudie sua aliança com
a União Soviética e renuncie a todos os interesses que tenha no
Sudeste da Europa. 3) A Inglaterra compromete-se a pôr fim às
conversações atualmente mantidas com a União Soviética, visando
a conclusão de um pacto.[c]
Alegando que ainda não haviam chegado a uma conclusão sobre o
conceito de “agressão”, as instruções inglesas orientavam a sua
Missão no sentido de desenvolver as negociações militares com a
máxima lentidão, até que o acordo político fosse concluído:
As instruções dadas, por escrito, ao almirante Drax, tendem a
que as conversações militares se desenrolem com lentidão
enquanto não se chegar a um acordo sobre as questões políticas
(…) Lamentaria muito que fosse essa a decisão do Governo de sua
Majestade, pois tudo indica que a missão militar soviética quer
resolver o assunto com seriedade.[ci]
Ao contrário das delegações da França e da Inglaterra, a
delegação soviética era do mais alto nível possível, sendo
formada pelo marechal Voroshilov (Comissário do Povo de Defesa
da URSS), almirante Kuznetsov (Comissário do Povo da Marinha),
Loktionov (Chefe das Forças Aéreas), Shaposnikov e Smorodinov
(Chefe e subchefe, respectivamente, do Estado Maior do
Exército).
No início da primeira reunião, no dia 12 de agosto, a delegação
soviética propôs que cada delegação apresentasse os poderes de
que estava investida para as negociações, e começou apresentando
os seus amplos poderes: “manter negociações (…) e assinar um
convênio militar sobre a organização da defesa militar da
Inglaterra, França e URSS contra a agressão na Europa.”[cii]
A seguir, o general Doumenc leu os seus poderes, bem mais
limitados. Quando chegou a vez do almirante Drax, constatou-se
que o mesmo não dispunha de nenhum poder por escrito. “Na
verdade, tão cético estava o governo britânico que negligenciou
fornecer ao Almirante Drax autorização escrita para negociar.”[ciii]
Ficava evidente a falta de seriedade com que a parte inglesa
estava tratando as negociações. O almirante ficou de solicitar
poderes por escrito ao seu Governo (que só chegaram dia 21 de
agosto).
Apesar disso, foram iniciadas as negociações. No dia 14, a parte
soviética levantou uma questão crucial: no caso de agressão à
Polônia ou à Romênia será autorizada a entrada de tropas
soviéticas no território desses países? Como esclarece James
Joll, “O ponto difícil das negociações com a Grã-Bretanha e a
França residia em que o governo soviético afirmava, não sem
certa razão, que para auxiliar a Polônia carecia de enviar
tropas para além da fronteira polaca, e a Polônia negava-se em
absoluto e consentir que um único soldado russo pusesse os pés
no seu solo.”[civ]
Como as partes inglesa e francesa responderam com evasivas e, ao
final, ficaram de consultar à Polônia e à Romênia, a parte
soviética fez constar por escrito que sem uma solução favorável
para essa questão o pacto seria inviável, pela simples razão que
a URSS ficaria impossibilitada de cumprir com os seus
compromissos:
A
única coisa que podia haver salvo o Estado e o exército polacos
era uma aliança com a União Soviética, assim como com o
imperialismo britânico e francês. (...) Mas esta possibilidade
nunca foi seriamente considerada, nem pelo regime de
Beck-Pyz-Smiply, nem pelos Estados Maiores francês e britânico,
nem por Stalin [?!] (...) A negativa do regime polaco em aceitar
ajuda soviética direta converteu as negociações militares entre
o Estado Maior dos aliados ocidentais e o governo soviético no
verão de 1939.[cv]
Como até o dia 17 não havia chegado uma resposta, foram
suspensas as negociações e marcada nova reunião para o dia 21
pela manhã.
Segundo Léon Noel – embaixador francês em Varsóvia no período –,
em 19 de agosto, o chefe do estado-maior polaco, general
Stachiewicz, informou mais uma vez, ao adido militar francês,
sobre a negativa do Governo polaco em relação à passagem de
tropas soviéticas pelo território polaco, em caso de agressão
alemã.[cvi]
O adido militar francês teria dito: “Não me fale de vossa
recusa. É melhor que em Moscou a nossa delegação possa manobrar
como se vocês ainda não tivessem formulado a vossa recusa.”[cvii]
Era evidente a má fé seja dos negociadores franceses, seja dos
negociadores ingleses. Como no dia 21 de agosto nem Londres, nem
Paris, dessem qualquer resposta, a parte soviética resolveu
suspender as negociações por prazo indeterminado:
As forças armadas soviéticas não poderão colaborar com as forças
armadas da França e da Inglaterra, se estiverem impedidas de
entrar no território da Polônia e da Romênia (…) A delegação
militar soviética não entende como os Governos e os Estados
Maiores da Inglaterra e da França, ao enviarem à URSS as suas
delegações militares, não lhes tenham dado indicações precisas
sobre questão tão elementar (…) Se os franceses e os ingleses
transformam essa questão em um grande problema, isso significa
que existe fundamento para duvidar de que desejem, realmente,
uma colaboração militar séria com a URSS. Assim, a
responsabilidade pela protelação das negociações militares recai
sobre as partes francesa e inglesa.[cviii]
Ficava claro para os dirigentes soviéticos que as
outras duas partes, principalmente a inglesa, só pretendiam
ganhar tempo as custas da URSS para tentar chegar a um acordo
com Hitler, usando as negociações tripartites como instrumento
de barganha com a Alemanha:
Assim, no dia 22 de agosto, às vésperas do ataque da Alemanha à
Polônia, Chamberlain envia uma carta a Hitler, acenando com um
novo Munique: “Não vejo que haja alguma coisa nas
questões surgidas entre a Alemanha e a Polônia que não possa e
não deva ser resolvida sem o uso da força, desde que se pudesse
estabelecer uma situação de confiança que permitisse o
desenrolar das discussões numa atmosfera diferente daquela que
reina hoje.[cix]
Na realidade, o governo britânico não estava interessado numa
cooperação militar sólida com a Rússia Soviética, mas apenas em
acenar com o fantasma russo, na esperança de que isso aquietasse
Hitler. (...) Os franceses pensavam em termos mais práticos.
Estavam preocupados apenas em envolver o Exército Vermelho num
conflito com Hitler, e não lhes importava se isso fosse
conseguido as expensas da Polônia.[cx]
O objetivo central era lançar a Alemanha, a Itália e
o Japão contra uma URSS isolada: “Era essencial, no caso de
uma guerra, tentar envolver nela a União Soviética, pois de
outro modo no final da guerra a União Soviética com o seu
exército intacto e a Inglaterra e a Alemanha em ruínas,
dominaria a Europa.”
[cxi]
Evidentemente, o Governo soviético não caiu nessa
armadilha e buscou alternativas que evitassem – ou ao menos
adiassem – o seu isolamento e a agressão nazi-fascista.
A
busca de alternativas pela URSS para romper o isolamento
Tudo indica que a partir de abril-maio de 1939 –
após a ocupação da Checoslováquia sem qualquer reação das
democracias ocidentais, e após a agressão japonesa à Mongólia e
à União Soviética, seguida do pacto nipo-britânico (que entregou
a China ao Japão) – a URSS, sem abandonar a tentativa de um
acordo com a Inglaterra e a França, colocou na ordem-do-dia a
busca de alguma alternativa que evitasse o seu isolamento e o
risco de ter que enfrentar uma guerra em duas frentes, no
Oriente e no Ocidente.
Ao orientar-se nesse sentido, o Governo Soviético levava em
conta as opiniões de Lenin por ocasião da paz de Brest Litovski:
Enquanto não ocorra a revolução socialista internacional que
abarque a vários países e tenha força suficiente que lhe permita
ajudar a vencer ao imperialismo internacional, enquanto isso não
ocorra, o dever inelutável dos socialistas triunfantes em um só
país (e especialmente se é um país atrasado) consiste em não
aceitar o combate com os gigantes do imperialismo, em tratar de
recusar o combate, de esperar que a contenda entre os
imperialistas debilite a estes ainda mais, acerque ainda mais a
revolução em outros países.[cxii]
Nossa preparação militar não terminou ainda, por isso a consigna
geral segue a mesma: manobrar, recuar e esperar, continuando
essa preparação com todas as forças. Sem renunciar em geral, nem
muito menos, aos acordos militares com uma coalizão imperialista
contra a outra em aqueles casos em que esses acordos, sem violar
os fundamentos do Poder Soviético, possam fortalecer a sua
situação e paralisar o ataque contra ele por parte de qualquer
potência imperialista. (...) é preciso observar a maior
prudência, circunspecção e firmeza para não ajudar, com um passo
irrefletido ou precipitado, aos elementos extremistas dos
partidos militares do Japão ou da Alemanha. (...) nesses dois
países, os elementos extremistas do partido militar estão a
favor de uma ofensiva imediata e geral contra a Rússia para
ocupar todo o seu território e derrotar o Poder Soviético.[cxiii]
A
substituição de Litvinov por Molotov[cxiv]
mostrou a importância que o governo da URSS concedia a essas
negociações:
A
política externa tinha sido deixada aos comunistas do segundo
plano - primeiro Chicherin, depois Litvinov (nenhum dos quais
membro do Politburo) - desde que Trotsky deixara de ser
Comissário do Exterior em princípios de 1918. A 3 de maio de
1939, Molotov substituía Litvinov, medida esta que tem sido, por
vezes, considerada como favorável à Alemanha. Talvez fosse,
porém, apenas o reconhecimento de que os assuntos externos
tinham importância.[cxv]
Ao mesmo tempo, sinalizou uma possível mudança de
rumo. No seu relatório ao Soviete Supremo, em 31 de maio,
Molotov centrou o ataque na Alemanha, mas fez duras críticas à
França e a Inglaterra: “Aumenta cada vez mais a arrogância
das potências agressoras. Por outro lado, os representantes dos
países democráticos mostram-se desinteressados pela política de
segurança coletiva (...) tendo adotado uma atitude de não
resistência à agressão”.[cxvi]
Simultaneamente, as negociações econômicas com o Reich
permitiram aproximações e sondagens indiretas. Hitler parece ter
percebido essas alterações. A miopia e a intransigência das
potências imperialistas que trabalhavam com a estratégia de
lançar a Alemanha contra a URSS, levou as negociações de Moscou
ao fracasso e forçou a URSS a aceitar o pacto de não agressão
proposto por Hitler. Como afirmou Taylor:
A
Rússia Soviética buscava a segurança na Europa, não conquistas.
É surpreendente que não tivesse procurado antes esse objetivo
num acordo com a Alemanha. (...) A aliança com as potências
ocidentais parecia uma política mais segura (...) podemos supor,
com certa segurança, que o Governo Soviético só se voltou para a
Alemanha quando tal aliança revelou-se impossível.[cxvii]
Assim, decidido a atacar a Polônia e temeroso do
pacto tripartite, Hitler começou a sinalizar para Moscou a
possibilidade de uma aproximação. Em fins de maio o embaixador
alemão em Moscou propôs a Molotov restabelecer as negociações
comerciais germano-soviéticas, interrompidas e fevereiro; a
parte soviética fez ver a necessidade, para isso, de uma
melhoria das relações políticas. Em fins de junho novo contato
do embaixador alemão com Molotov, insistindo na melhoria das
relações entre os dois países e indicando sinais de boa vontade
alemã: assinatura de pactos de não agressão com os países
bálticos, mudança do tom da imprensa alemã em relação à URSS.
Em fins de julho, em um jantar oferecido em Berlim a
Astajov – encarregado de negócios soviético – Schnurre afirmou
que a Alemanha estava disposta a um amplo acordo com a URSS
sobre todos os problemas, do Báltico ao Mar Negro. Segundo as
notas do próprio Schnurre, “Astajov (…) considerou que o
ritmo para a aproximação deverá ser, provavelmente, muito lento
(…) A política exterior nacional-socialista ameaça a União
Soviética”[cxviii]
Os dados disponíveis indicam que foi só em fins de julho – com o
ataque à Polônia já marcado – que Hitler decidiu dar passos mais
decididos no sentido de buscar um acordo com a URSS, que lhe
garantisse não ser atacado pelo Leste:
Trinta e um de julho: Schulenburg, o embaixador alemão em
Moscou, recebe um nervoso, urgente e secreto despacho no qual
lhe é ordenado informar, ainda naquele dia “a data e a hora do
encontro que ele, Embaixador, teria com Molotov. O nervosismo de
Ribbentrop tem razão de ser: é que no dia 22 chegara às mãos de
Hitler uma notícia que deixou o irascível Führer ainda mais
inquieto. Von Valezsek informava de Paris que franceses e
ingleses estavam enviando missões militares a Moscou, “a fim de
provarem a seriedade das intenções políticas
russo-franco-inglesas”. Naquele momento ainda não era do
conhecimento de Hitler que as tais Missões inglesa e francesa
não tinham autoridade para a assinatura de qualquer acordo ou
pacto, nem no terreno comercial, muito menos no campo militar.
Mas, então, Stalin, afrontado com a má qualidade dos delegados
que lhe enviaram Londres e Paris, já estava convicto de que era
inexeqüível um acordo militar de qualquer espécie com as
democracias ocidentais.[cxix]
O
Estado Maior geral havia disposto que a data ótima para atacar a
Polônia era o 25 de agosto. (…) Foi aqui, em Bayreuth, onde
Hitler abordou efusivamente a Neurath com estas palavras: “O que
vou te dizer vai te deixar assombrado: que te parece se chegamos
a um acordo com a Rússia? (…) Mas Hitler continuou temendo uma
negativa do ditador soviético. Seguindo suas instruções, no dia
2 de agosto Ribbentrop insinuou ao encarregado de negócios
soviético que Moscou e Berlim deviam decidir entre si o destino
da Polônia; e acrescentou, a modo de isca tentadora, que não
havia “nenhum problema entre o Báltico e o Mar Negro” que não
pudesse ser solucionado.[cxx]
Maiski confirma o relato deste encontro de
Ribbentrop com Astajov (na data de 3 de agosto). Conforme as
notas de Ribbentrop – citadas por Maiski – “a seu ver, o
Governo soviético deseja seguir uma política de compreensão
mútua com Alemanha. (…) O encarregado de negócios procurou,
várias vezes, fazer recair a conversa sobre questões mais
concretas. Mas eu dei a entender que estou disposto a ser mais
concreto só no caso do Governo soviético declarar a conveniência
de dar um novo caráter às relações.”[cxxi]
Fica claro que até então não existia qualquer negociação
concreta em torno do pacto de não agressão entre os dois
governos, mas somente sondagens.
No dia 4 de agosto, o embaixador alemão –
Schulenburg – encontrou-se com Molotov, relatando a Berlim: “Minha
impressão geral é que o Governo Soviético está no momento
disposto a concluir um acordo com a Grã-Bretanha e a França, se
elas atenderem aos desejos soviéticos (...) Será necessário
considerável esforço de nossa parte para modificar a posição do
governo soviético.”[cxxii]
No dia 14 de agosto, Schnurre enviou um telegrama a Schulenburg
avisando que Astajov o visitara e comunicara que o Governo
soviético se dispunha a “discutir por grupos de questões tudo o
que se referisse à relações germano-soviéticas e propunha manter
as negociações em Moscou.
Já Ribbentrop solicitou ao embaixador alemão que
visitasse Molotov e declarasse em nome do Governo alemão que “não
há contradição de interesses entre a Alemanha e a URSS; não
existe motivo para atitude agressiva de uma parte à outra; não
há questão entre o Báltico e o Mar Negro que não possa ser
resolvida de modo satisfatório para ambos os países” e que “a
fim de normalizar com maior rapidez as relações germano
soviéticas, estava disposto a visitar, ele próprio, Moscou, com
a condição de ser recebido por Stalin.”
No dia 15 de agosto, Schulenburg informou a boa
receptividade de Molotov mas, quanto à visita de Ribbentrop à
Moscou, que isso “requer uma preparação adequada”; além
disso teria perguntado se o Governo Alemão se dispunha a assinar
com a URSS um pacto de não-agressão, de garantias aos Estados do
Báltico e influir para melhorar as relações nipo-soviéticas (é
interessante lembrar que no dia 14 tanto a França quanto a
Inglaterra haviam respondido com evasivas à questão crucial da
passagem das tropas soviéticas pelo território polonês). Em 16
de agosto, Ribbentrop respondeu positivamente a todas as
questões levantadas por Molotov, e insistiu na urgência da sua
viagem à Moscou, a partir do dia 18. Mais uma vez a resposta
soviética foi no sentido de que primeiro fosse estabelecido um
convênio comercial e financeiro e que só depois se discutisse um
pacto de não-agressão:
Nesse mesmo dia 16 de agosto, Molotov manteve uma longa conversa
com o embaixador norte-americano, Lawrence Stenhardt, relatando
com detalhes as suas conversas com Schulemburg, “inclusive a
sugestão para a assinatura de um pacto de não agressão e um
acordo no tocante ao Báltico.” Essa informação foi repassada aos
britânicos no dia 17: “Qual a razão de haver Molotov revelado
isso ao embaixador norte-americano? O Kremlin deveria saber que
a informação seria passada para os britânicos. Stalin ainda
estaria indeciso em 16 de agosto, não sabendo para que campo
saltaria? Estaria tentando advertir os representantes
franco-britânicos, em Moscou, de que deveriam tratar da questão
porquanto, caso contrário, assinaria o pacto com os alemães que
lhe ofereciam grandes vantagens?”[cxxiii]
Estava clara a tentativa do Governo soviético de
ganhar tempo para ver se as negociações do pacto tripartite com
a Inglaterra e a França – paralisadas por falta de resposta
desses dois países em relação à questão da Polônia – saíam do
atoleiro em que se encontravam:
O
Dr. Schnurre comunicou que as discussões com os russos sobre o
tratado comercial haviam terminado na noite anterior “com
completo acordo”, mas que os soviéticos se retardavam em
assiná-lo. A assinatura, ele disse, devia ter lugar ao meio-dia
de 19 de agosto, mas a essa hora os russos telefonaram dizendo
que tinham de aguardar instruções de Moscou. “É evidente”,
informou Schnurre, “que haviam recebido instruções de Moscou
para dilatar a conclusão do tratado por motivos políticos.”’[cxxiv]
No dia 20 de agosto, Hitler enviou uma mensagem à
Stalin comunicando que na véspera fora assinado o convênio
comercial e financeiro e insistindo para que recebesse
Ribbentrop, o mais tardar a 22 ou 23 de agosto. Convencido –
depois de quase cinco meses de infrutíferas conversações – de
que a Inglaterra e a França não tinham a intenção real de firmar
um pacto de assistência mútua, o Governo Soviético suspendeu no
dia 21 de agosto as negociações com esses dois países e
concordou com a vinda a Moscou de Ribbentrop no dia 23 de
agosto.[cxxv]
O historiador inglês David Irving – que teve acesso a uma série
de arquivos nazistas – confirma, com pequenas diferenças, esse
desenrolar dos acontecimentos:
no dia 9, o próprio Halifax falava com Dirksen. Desta vez
prometia que a Grã-Bretanha estava disposta a “contribuir na
medida do possível” para chegar a um entendimento com a
Alemanha. (…) Quando no dia 11 Hitler falou com o professor Carl
Burckhardt, alto comissário da Liga das Nações em Dantzig (…)
(recordou Burckhardt anos mais tarde) seguiu dizendo: “tudo o
que faço se dirige contra a Rússia. Se o ocidente se mostra
incapaz de compreender isso, então me verei obrigado a chegar a
um acordo com os russos e voltar-me contra o ocidente primeiro,
para depois dirigir todas as minhas forças contra a URSS.” No
dia 12 de agosto (…) Ribbentrop (…) levou Hitler a um lado e lhe
disse algo em voz baixa: Molotov acabava de concordar em
princípio a receber um negociador alemão em Moscou. (…) 14 de
agosto, Ribbentrop enviou um telegrama à embaixada de Moscou com
estas dramáticas instruções: havia que informar a Molotov que
Ribbentrop estava disposto a ir pessoalmente à Moscou. (…) Os
russos deram um passo atrás. No dia 18 de agosto, Ribbentrop
mandou um telegrama urgente ao seu embaixador e lhe disse que
estaria autorizado a firmar um protocolo adicional secreto (…)
apesar de tudo, Molotov não parecia muito disposto a recebê-lo
em Moscou antes do dia 26 ou 27. (…) Hitler (…) no dia 20 de
agosto decidiu escrever uma nota pessoal a Stalin
–
algo sem precedentes (…)
–
para que aceitasse a presença de Ribbentrop em Moscou antes de
três dias. (…) Na tarde do dia 21 de agosto chegou a resposta de
Moscou: Molotov havia convocado o embaixador às três da tarde.
Ainda tiveram que passar mais horas angustiantes. Por fim,
Ribbentrop trouxe o informe do embaixador (…) o Kremlin estava
encantado em receber a Herr Ribbentrop em dois dias, como havia
pedido Hitler. (…) Ribbentrop partiu para Moscou (…) com
instruções pessoais de Hitler de ceder a qualquer exigência
soviética: para assegurar a assinatura de Molotov.[cxxvi]
Apesar do Governo alemão ter feito questão, nessa
mesma noite, com dois dias de antecedência, de divulgar pela
radio a notícia da viagem de Ribbentrop à Moscou, nem a França,
nem a Inglaterra se dignaram a qualquer iniciativa diplomática
junto a URSS. Sua estratégia continuava sendo fazer um acordo
com Hitler, mesmo que às custas da Polônia (como já fora feito
com a Áustria e a Checoslováquia), e fazê-lo aproximar-se ainda
mais das fronteiras soviéticas:
desde o dia 16 de agosto, a FA havia estado controlando
furtivamente as conversações telefônicas entre Sir Horace Wilson
e o embaixador britânico em Berlim. Wilson buscava
desesperadamente alguma fórmula para devolver Dantzig ao Reich.
No dia 20 de agosto, havia dito em segredo ao agregado de
imprensa alemão em Londres que estava disposto a “ir em segredo
à Alemanha” se fosse necessário. À última hora do dia 22 de
agosto, o embaixador britânico chamou por telefone para
solicitar uma entrevista com o Fuhrer no dia seguinte. Tinha uma
carta do primeiro ministro britânico dirigida a Hitler (…)
Segundo a escuta realizada, a carta de Chamberlain propunha um
período de distensão enquanto se solucionavam os problemas de
Dantzig e da minoria alemã da Polônia.[cxxvii]
O
acordo germano-soviético de não agressão
Mas, Hitler há muitos meses já havia decidido a
invasão da Polônia e a operação militar para o ataque já estava
em andamento desde o dia 15 de agosto. Como deixa claro Herrera,
“conforme revelaram os inquéritos de Nuremberg - o pacto foi
conseqüência e não, como se pensou durante algum tempo, fator da
decisão de invadir a Polônia, pois que tal decisão fora tomada
três meses antes.”
[cxxviii]O Führer não estava disposto a
suspendê-la em troca de Dantzig, que era um mero pretexto para a
agressão.
Sabedor disso, e sem qualquer perspectiva de chegar
a curto prazo a uma aliança militar com a França e a Inglaterra,
no dia 23 de agosto o Governo Soviético firmou com a Alemanha um
acordo de não-agressão por 10 anos:
Enquanto as conversações da Rússia com as democracias ocidentais
vinham-se arrastando havia 5 meses (...) as conversações entre
Ribbentrop e Stalin foram concluídas com êxito em doze horas
(...) Os alemães, diferentemente aos aliados ocidentais, fizeram
todas as concessões pedidas pelos russos. Em troca receberam a
única garantia que desejavam: a garantia solene de que a União
Soviética permaneceria fora da guerra de Hitler.[cxxix]
Pelo art. 1º desse acordo, ambas as partes se
comprometiam a abster-se de qualquer agressão entre si. No art.
2º, ambos os países assumiam o compromisso de não apoiar a um
terceiro, se uma das partes fosse objeto de hostilidades por
esse terceiro país. O art. 3º rezava que a Alemanha e a URSS “continuariam
em contato, no futuro, para manter consultas, a fim de
informar-se, mutuamente, de questões que afetassem os seus
interesses”. No art. 4º, ambos países comprometiam-se a não
participar de grupos hostis à outra parte O art. 5º afirmava que
os litígios que surgissem entre a Alemanha e a URSS deveriam ser
resolvidos por meios pacíficos.[cxxx]
Shirer – insuspeito de qualquer simpatia por Stalin ou pela URSS
– comentará:
A
primeira e primordial consideração de Stalin, como a de qualquer
outro chefe de governo, era a segurança de seu país. No verão de
1939, ele estava convencido (...) que Hitler iria à guerra. Ele
decidiu que a Rússia não devia ser posta na perigosa situação de
ter de enfrentar sozinha o Exército alemão. Se uma forte aliança
com o Ocidente se afigurava impossível, então por que não
voltar-se para Hitler, que repentinamente estava batendo à sua
porta? Em fins de julho de 1939, Stalin se tornara convencido, é
claro, não somente de que a França e a Inglaterra não queriam
uma aliança firme, mas também que o objetivo do governo de
Chamberlain na Inglaterra era induzir Hitler a fazer suas
guerras na Europa Oriental. Stalin duvidava que a Inglaterra
honrasse sua garantia à Polônia de uma forma melhor que a França
mantivera suas obrigações com a Checoslováquia. E tudo que tinha
ocorrido no Ocidente nos últimos dois anos tendia a aumentar sua
desconfiança: a rejeição por Chamberlain das propostas
soviéticas, depois do “Anschluss” e depois da ocupação nazista
da Checoslováquia, no sentido de traçar planos para deter nova
agressão nazista; o apaziguamento de Hitler em Munique, por
Chamberlain, assunto do qual a Rússia fora excluída; as delongas
e hesitações de Chamberlain em negociar uma aliança defensiva
contra a Alemanha (...). Se Chamberlain era justo e honrado ao
apaziguar Hitler em setembro de 1938, sacrificando a
Checoslováquia, Stalin era injusto e desonrado ao apaziguar o
Fhürer um ano depois às custas da Polônia, que se esquivara de
qualquer forma de ajuda soviética?[cxxxi]
E
Trotski, inimigo mortal de Stalin e crítico impiedoso do Estado
Soviético dirá
Um Estado operário isolado não pode deixar de manobrar entre os
campos imperialistas hostis. Manobrar significa apoiar
temporariamente um deles contra os outros. Saber qual dos dois
campos é o mais conveniente, ou o menos perigoso, de se apoiar
em determinado momento não é uma questão de princípios, mas de
cálculos e previsão práticas. (...) Mas realmente, que há de
inesperado e imprevisto na tentativa do Kremlin de obter as
maiores vantagens possíveis de sua aliança com Hitler? (...)
Durante as prolongadas negociações com a delegação
anglo-francesa no verão de 1939, o Kremlin exigiu abertamente o
controle dos Estados Bálticos. Como a Inglaterra e a França não
aceitaram este controle, Stalin rompeu as negociações. Isto
indicava claramente que um acordo com Hitler asseguraria a
Stalin, pelo menos, o controle dos Estados bálticos. (...) Nas
condições da guerra mundial, tratar a questão do destino dos
pequenos Estados do ponto de vista da “independência nacional”,
“neutralidade”, etc., é permanecer no terreno da mitologia
imperialista. A luta é pelo domínio mundial. A questão da
existência da URSS será resolvida nela. (...) ao procurar
garantias militares contra o imperialismo, o Estado operário
(...) pode se ver obrigado a violar a independência deste ou
daquele pequeno Estado. Derramar lágrimas sobre a rudeza da luta
de classes no plano interno ou internacional pode ser próprio de
filisteus democráticos mas não de revolucionários proletários.
Em 1921 a República Soviética sovietizou à força a Geórgia, que
constituía um caminho aberto para o assalto imperialista no
Cáucaso. (...) a salvação da revolução socialista impunha-se aos
princípios democráticos formais.[cxxxii]
Segundo diversos historiadores[cxxxiii],
também houve um protocolo secreto, definindo as áreas de
influência da Alemanha e da URSS e as fronteiras a serem
respeitadas em caso de conflito militar com a Polônia. Segundo
Schirer, esse “Protocolo Secreto” afirmava:
Os plenipotenciários abaixo-assinados, por ocasião da assinatura
do Tratado de não-agressão entre a Alemanha e a União Soviética,
discutiram em conversações estritamente confidenciais a questão
da delimitação de suas esferas de interesse na Europa Ocidental.
1.
No caso de uma transformação territorial e política nos
territórios pertencentes aos Estados Bálticos (Finlândia,
Letônia e Lituânia) a fronteira ao norte da Lituânia
representará a fronteira das esferas de interesse tanto da
Alemanha como da URSS.
2.
No caso de uma transformação política e territorial dos
territórios pertencentes ao Estado polonês, as esferas de
interesse quer da Alemanha como da URSS serão limitadas
aproximadamente pela linha dos rios Narew, Vístula e San.
3.
Quanto ao interesse de se manter um Estado polonês independente
e de como as fronteiras deste Estado seriam traçadas, podem ser
definitivamente determinadas somente no curso dos futuros
acontecimentos políticos. Em qualquer caso, ambos os governos
resolverão esta questão por meio de um entendimento amistoso.[cxxxiv]
Tudo indica que houve realmente esse protocolo secreto, anexo ao
acordo germano-soviético de não-agressão, relacionado com o
ataque – por todos previsto e sabido – que a Alemanha preparava
contra a Polônia:
Um protocolo secreto excluía a Alemanha dos Estados bálticos e
das partes ocidentais da Polônia – o território a leste da linha
Curzon, habitado por ucranianos e russos brancos. (...) O acordo
de Brest-Litovsk foi finalmente desfeito, com o consentimento da
Alemanha, ao invés do apoio das potências ocidentais. (...) O
pacto não era nem uma aliança nem um acordo para a divisão da
Polônia. Munique fora uma autêntica aliança de partilha: os
ingleses e franceses a impuseram aos checos. O governo soviético
não empreendeu nenhuma ação semelhante contra os poloneses –
apenas prometeu ficar neutro, ou seja, o que os poloneses sempre
lhes haviam pedido, e que a política ocidental também desejava,
implicitamente. Mais ainda, o acordo era, em última análise,
anti-alemão: limitava o avanço germânico no leste, em caso de
guerra (...) é difícil imaginar que outra política poderia ter a
Rússia adotado (...) a neutralidade, com ou sem um pacto formal,
era o máximo que a diplomacia soviética poderia obter. E a
limitação das conquistas alemãs na Polônia e no Báltico tornavam
o pacto formal atraente.[cxxxv]
Precisamente para evitar esse ataque, a URSS havia procurado
durante 5 meses, infrutiferamente, estabelecer um tratado de
ajuda mútua e um convênio militar com a França e a Inglaterra.
Como afirmou De Gaulle, “na atitude de Stalin, fazendo de
repente causa comum com Hitler, divisava-se a sua convicção de
que os franceses ficariam imóveis; que, assim, o Reich tinha as
mãos livres; e que era preferível partilhar a presa a deixar-lha
inteiramente.”[cxxxvi]
Sabendo-se que a Polônia fazia fronteiras com a URSS e que em
1920, pela paz de Riga, lhe havia arrancado pela força uma parte
da Ucrânia e da Bielo-Rússia – com o apoio das potências
ocidentais – seria ingenuidade imaginar que a URSS fosse aceitar
que a Alemanha ocupasse toda a Polônia, inclusive os territórios
que lhe tinham sido usurpados naquela ocasião. Como nos diz
Shirer:
A
Rússia (...) não havia esquecido que a Polônia, em dois anos de
guerra contra ela (1920-1921) – enquanto enfraquecida pelas
perdas sofridas na Grande Guerra, pela guerra civil e pelos
ataques das nações aliadas do Ocidente – havia, às expensas da
União Soviética, estendido a fronteira 240 quilômetros a leste
da etnográfica Linha Curzon, fronteira que transferira para o
domínio dos poloneses quatro milhões e meio de ucranianos e um
milhão e meio de russos brancos.[cxxxvii]
Da mesma forma, era lógico que a URSS procurasse resguardar a
sua segurança, exigindo que a Alemanha respeitasse as fronteiras
dos países Bálticos – Lituânia, Letônia, Estônia, Finlândia –
Estados criados pelo Tratado de Versalhes em territórios do
antigo Império Russo (e onde o processo revolucionário havia
sido abortado pela intervenção armada imperialista), com o único
objetivo de cercá-la e de “deter o comunismo”:
Antes da Grande Guerra, os três Estados Bálticos propriamente
ditos – a Lituânia, a Letônia e a Estônia – e mais a Finlândia
faziam parte do Império dos Czares. (...) Os Estados Bálticos
são criações de ontem. (...) A Finlândia atual nasceu, pode-se
dizer, na batalha de Tampere, em que foram derrotados os
bolcheviques, em começos de 1918.[cxxxviii]
A
assinatura do acordo germano-soviético de não-agressão também
viabilizou a melhoria das relações com o Japão – com quem a URSS
se encontrava em luta na região da Mongólia desde maio de 1939.
Depois de uma nota de protesto contra o acordo de não-agressão,
considerado contrário à letra e ao espírito do Pacto
Anticomintern, o Japão foi obrigado a modificar a sua política
externa em relação à URSS, e buscar solucionar os conflitos
existentes. Assim, em 15 de setembro de 1939, a URSS, a Mongólia
e o Japão assinaram um acordo acabando com o conflito de
Calguin-Gol, complementado em 13 de abril de 1941, por um acordo
de não-agressão, por cinco anos.
Churchill, referindo-se ao acordo germano-soviético de
não-agressão, dirá em suas memórias:
para os Sovietes era uma necessidade vital procurar que os
exércitos alemães se concentrassem no Oeste (…) Agora as suas
fronteiras situavam-se muito mais ao Leste do que na guerra
anterior. A Rússia necessitava, pela força ou pela astúcia,
ocupar os Estados Bálticos e grande parte da Polônia antes de
sofrer o ataque inimigo. Esta política foi realista em alto
grau.
[cxxxix]
E Isaac Deutscher – crítico implacável de Stalin e
do governo soviético – assim opinou sobre o acordo
germano-soviético:
No pacto prometeram permanecer rigorosamente neutros um em
relação ao outro, caso um deles se envolvesse na guerra. O
documento não continha garantias de amizade, salvo a obrigação
dos dois governos solucionarem suas divergências “mediante a
troca amigável de opiniões”. (...) ele, Stalin, não sentiu
remorsos. No seu entender a guerra era, de qualquer maneira,
inevitável; mesmo que ele não tivesse feito acordo com Hitler, a
guerra teria rebentado logo ou um pouco mais tarde, em condições
incomparavelmente menos favoráveis ao seu país. (...) Ele,
Stalin, estava apenas afastando a conflagração da Rússia. (...)
não tinha dúvida que a Polônia sucumbiria e que as potências
ocidentais não poderiam ou não quereriam dar-lhe ajuda efetiva.
Conseqüentemente, via a Alemanha trocar sua posição por um
possível ataque à Rússia situada várias centenas de quilômetros
a leste. Compreendeu que tinha o dever de reduzir o risco
estratégico inerente a esta troca; e só poderia reduzi-lo
tomando parte no desmembramento da Polônia. (...) Stalin agia
unicamente em função de intuitos imediatos de segurança, sem
visar a expansão pela expansão (...) Seu propósito agora era
ganhar tempo e, mais uma vez, tempo, para executar seus planos
econômicos, construir o poderio russo e depois lançar esse
poderio na balança quando os outros beligerantes estivessem nas
últimas.[cxl]
Mesmo Pierre Broué – que prefere apresentar o acordo de Munique
como um fracasso de Stalin em sua busca de uma aliança
com Paris e Londres, e não como uma capitulação das
democracias ocidentais – é obrigado a reconhecer que “o
Pacto Germano-Soviético tinha (...) um caráter defensivo para a
própria URSS (...) ao desviar para o oeste o avanço alemão.”[cxli]
Já Mandel – depois de concordar que “considerando a
irresolução (...) dos governos francês e inglês sobre a
colaboração militar em uma agressão alemã contra a Polônia, o
governo soviético tinha todo o direito de garantir sua segurança
imediata no caso de uma conquista alemã desse país”[cxlii]
- questiona o protocolo secreto e o veto de Stalin à criação de
um Estado polaco sob controle nazista.
Quanto a Fernando Claudin, depois de sugerir – sem base nos
fatos históricos – que o acordo germano-soviético “era
visualizado por Stalin como o prólogo de um acordo de largo
alcance com a Alemanha hitleriana” e que os dirigentes da
URSS adotavam “posições que, na prática, estimulavam as
conquistas alemãs na Europa”[cxliii],
desvia a discussão para a questão do “modo como este pacto
foi utilizado e aplicado”:
Não vamos abordar aqui o problema de saber se o pacto
germano-soviético resultou de uma opção deliberada de Stalin,
posto ante duas possibilidades – aliança com a Alemanha ou
aliança com as “democracias”. Nem discutiremos a viabilidade da
segunda possibilidade – como o faz ainda hoje a versão oficial
soviética Este problema permanece como objeto de debate entre os
historiadores e só poderá ser plenamente esclarecido quando os
arquivos soviéticos forem franqueados (...) Admitindo que o
objetivo essencial da diplomacia soviética fosse impedir que as
potências imperialistas constituíssem um bloco contra a URSS e
que, para impedir essa eventualidade, não restasse ao governo
soviético outra opção, em agosto de 1939, senão o pacto com a
Alemanha, isto não justifica, em si mesmo, o modo como este
pacto foi utilizado e aplicado por Stalin.[cxliv]
Roy Medvedev, historiador russo, crítico ferrenho de Stalin,
diria anos mais tarde:
o
fato é que não se pode incluir o pacto germano soviético de
não-agressão na lista dos crimes e erros de Stalin. O governo
Soviético viu-se obrigado a assinar esse pacto porque a
Inglaterra e a França favoreciam o fascismo alemão e impediam
que fossem consumadas negociações que levassem à assinatura de
um pacto de assistência mútua com a URSS. (...) a França e a
Grã-Bretanha entregavam-se a um jogo político perigoso: as duas
esperavam conseguir um acordo com Hitler e procuravam desviar a
agressão alemã na direção do Leste. (...) Foram os meios
dirigentes da Inglaterra e da França (...) que permitiram à
Alemanha reconstruir uma poderosa máquina militar, na esperança
de que essa força se voltasse contra o bolchevismo. (...) Tais
circunstâncias obrigavam a União Soviética a se proteger,
procurando aproveitar-se dos conflitos em que se achavam
envolvidos os Estados imperialistas: em 1939, o pacto de
não-agressão com a Alemanha serviu a esse fim. (...) a União
Soviética não podia ficar indiferente à sorte dos ucranianos e
dos bielorussos, cujos territórios haviam sido anexados quando
do ataque polonês ao jovem Estado soviético. A chegada do
Exército Vermelho aos territórios da Bielorrússia e da Ucrânia
era, portanto, um ato de libertação justificada (...) a União
Soviética não se apoderou de territórios originalmente
pertencentes à Polônia: para os ucranianos e bielorrussos, esta
operação do Exército Vermelho não foi mais que um ato de
libertação.[cxlv]
No mesmo rumo vai Giuliano Procacci quando afirma
que “hoje não são poucos os estudiosos certamente insuspeitos
de simpatias por Stalin que reconhecem que, depois de Munique,
as margens de manobra para a diplomacia soviética se haviam
restringido a tal ponto (...) que não permitiam opções
diferentes das que foram feitas.”[cxlvi]
E Nelson Werneck Sodré, conhecido historiador brasileiro,
escreveu sobre o acordo germano-soviético: “as manobras
políticas dos chamados Aliados eram feitas para incitar Hitler
contra a União Soviética. Os dois – Alemanha e União Soviética –
deveriam se enfrentar e se destruir. (...) a União Soviética
precisava se preparar para um conflito que era inevitável. (...)
A União Soviética fez bem em assinar o pacto e ocupar uma área
da Polônia. Se não, os alemães iriam ocupar. A cláusula nem
precisaria ser secreta.”[cxlvii]
Jacob Gorender também considera o acordo germano-soviético foi
uma imposição da política da imperialista que visava isolar a
URSS mas, sem qualquer fundamento, critica a sua interpretação
pela liderança soviética como uma aliança:
Penso que, nas circunstâncias de 1939, a União Soviética não
tinha alternativa, a não ser fazer o pacto de não-agressão com a
Alemanha. Todas as tentativas de um acordo efetivo com a
Inglaterra e com a França para uma reação contra a política
agressiva da Alemanha, tinham fracassado. Era evidente que a
França e a Inglaterra, através dos seus diplomatas, faziam todo
o possível para bloquear a consumação de um acordo
anti-hitlerista. Isolada, não restou à União Soviética outra
saída além do pacto de não-agressão com a Alemanha. (...) O erro
foi que a liderança stalinista interpretou o pacto de não
agressão como um pacto de aliança (...) Hoje é possível ver que
o pacto de não-agressão foi uma imposição da política hipócrita
aplicada pela Alemanha, França Inglaterra em 1939. A União
Soviética não tinha saída.[cxlviii]
ATAQUE ALEMÃO À POLÔNIA E A JÁ PREVISÍVEL PASSIVIDADE INGLESA E
FRANCESA
Quando a Alemanha atacou a Polônia, no dia 1º de setembro de
1939, nem Inglaterra nem a França moveram um único dedo para
ajudá-la, apesar de todas as promessas e compromissos.
Protegidos detrás da linha Maginot, os exércitos
franceses não se moveram 1 milímetro. A causa estava no seu
interesse de que Hitler avançasse em direção à URSS:
É
preciso dizer que certos meios queriam ver o inimigo mais em
Stalin do que em Hitler. Preocupavam-se muito mais com os meios
de ferir a Rússia (...) do que com a maneira de triunfar sobre o
Reich. Muitos exprimiam abertamente a sua admiração por
Mussolini. Alguns, mesmo no seio do Governo, trabalhavam para
conseguir que a França obtivesse as boas graças do Duce,
cedendo-lhe Jibuti, o Chade, parte de um condomínio sobre a
Regência tunisina.[cxlix]
Mas a repressão aos comunistas foi feroz:
Em 1939, a declaração de guerra da França não foi acompanhada de
operações militares. (...) Mas havia uma guerra e, portanto,
devia haver um inimigo. Descobriram-no nos comunistas franceses.
Foram fechados L’Humanité e Ce Soir. Não somente o Partido
Comunista foi proscrito, mas também centenas de associações, de
uniões, de ligas, suspeitas de simpatizarem com o comunismo.
Começaram as prisões em massa. O Parlamento concedeu autorização
ao Estado para processar os deputados comunistas: eram acusados
de se recusarem a repudiar a União Soviética. Isto era um
pretexto; na realidade a burguesia se vingava dos operários pelo
medo que lhe haviam inspirado em 1936.[cl]
Do outro lado do canal da Mancha, a orgulhosa Albion
tampouco se moveu. Nenhum avião decolou da Inglaterra ou da
França para ajudar a Polônia contra os ataques da Luftwaffe
ou das divisões Panzer: “Quanto
a aviação, essa não realizou nenhum ataque sobre o território
teuto, segundo parece, por uma decisão tomada pelos governos
francês e britânico ‘com o fim de evitar reação da Aviação alemã
que poderia acarretar graves repercussões em nossa concentração”.[cli]
Suas poderosas marinhas tampouco entraram em ação
para apoiar a Polônia. Ambas restringiram-se a declarar no dia 3
de setembro uma guerra “platônica” à Alemanha, enquanto
assistiam passivamente a ocupação da Polônia: “No dia 3 de
setembro, Grã-Bretanha e França entraram na guerra, embora pouco
houvesse em matéria de luta até maio do ano seguinte. Enquanto a
Blitzkrieg triunfava no leste, os aliados suportavam o tédio da
Stzkrieg, ou a ‘guerra de mentirinha’.”[clii]
A imobilidade da França e da Inglaterra no front
oeste determinou a derrota polonesa, como reconheceram
depois da guerra diversos generais hitlerianos:
O
General Guderian escreve: “Ficamos espantados, abismados mesmos,
que os franceses não tivessem aproveitado a ocasião oferecida.
Era impossível, àquela época, compreender as razões de tal
abstenção”. (...) O General Keitel declarara, a esse respeito,
em Nuremberg: (...) concluímos que a França e a Inglaterra não
tinham com seriedade, a intenção de fazer a guerra.” (...) E a
mesma conclusão é tirada pelo General von Lossberg: “por que os
franceses não se aproveitaram de sua esmagadora superioridade
para empurrar de roldão as nossas fracas tropas (...) de Oeste,
mesmo que fosse apenas para atingir o Reno e lá paralisarem,
praticamente a bacia do Ruhr? Teria sido para nós um golpe mais
ou menos mortal!” (...) Do general Jodl em Nuremberg: “Em 1939 a
catástrofe foi evitada porque as 110 Divisões, que possuíam
aproximadamente os franceses e os ingleses, permaneceram
completamente inativas diante das 23 Divisões alemãs do Oeste!”[cliii]
Se tivessem se movimentado as forças que dispunham de uma enorme
superioridade (…), a guerra teria terminado inevitavelmente. Na
Polônia ter-se-iam interrompido as ações de combate. No máximo
dentro de uma semana estariam perdidas as minas do Sarre e a
região do Ruhr.[cliv]
O
Presidente Roosevelt proclamou a neutralidade dos Estados Unidos
e o reacionário e anti-soviético governo polaco de Moscicki –
que poucos meses antes participara dos despojos da
Checoslováquia, que se negara a firmar qualquer documento em que
figurasse a assinatura da URSS e que se opusera a permitir a
passagem de tropas soviéticas pelo seu território, sequer para
defendê-la – capitulou vergonhosamente fugiu para a Romênia,
onde solicitou asilo, apesar do heroísmo do povo polaco que
continuava resistindo. Já no dia 7, Ryds-Smigly – comandante em
chefe do exército da Polônia – abandonou Varsóvia, deixando a
sua defesa aos cuidados dos trabalhadores. Os generais polacos,
acostumados somente a reprimir o povo, fugiram para a Romênia.
Só no dia 17 de setembro, depois de o governo polonês haver
abandonado o país, a União Soviética ocupou a Ucrânia ocidental
e a Bielo-Rússia ocidental:
A
16 de setembro, as tropas alemãs se encontram diante de
Stanislavov, isto é, a 100 quilômetros da fronteira soviética.
Então é que a URSS intervém (17 de setembro). As forças
soviéticas ocupam a parte oriental da Polônia, povoada
essencialmente por bielo-russos e ucranianos. A linha de
demarcação ressuscita mais ou menos a linha Curzon.[clv]
No dia 17 de setembro de 1939 (…) as tropas russas ocuparam
metodicamente as províncias polacas do Leste. Dois dias mais
tarde tinham a metade da Polônia em suas mãos. O Führer não
contava com essa rápida penetração dos vermelhos. Os russos se
moveram com tal rapidez que não só lhe cortaram o caminho em
direção aos ricos poços de petróleo de Galitzia, como lhe
bloquearam a passagem às jazidas da Romênia.[clvi]
Em 28 de setembro de 1939, Molotov e Ribbentrop se reuniram e
estabeleceram um novo Tratado de Amizade e de Fronteiras,
que estipulava que a Polônia deixaria de existir como Estado
independente:
É
inteiramente normal que a URSS, tendo assinado um pacto de
não-agressão com o Reich, conduzisse um jogo diplomático, justo
e necessário do seu ponto de vista, a fim de não ressuscitar um
Estado satélite da Alemanha, no caso o Estado polonês que lhe
havia criado tantas dificuldades desde o primeiro dia de sua
formação e que, em 1939, havia sido uma das causas principais do
insucesso do pacto a três.[clvii]
Segundo este tratado, a Polônia ficava dividida “seguindo
mais ou menos a velha linha Curzon, assinalada em dezembro de
1919 pelo Conselho Supremo Aliado como a possível fronteira
leste da Polônia”[clviii]:
O
artigo do Temps de 1º de outubro de 1939 considera que “desde um
ponto de vista estritamente russo este traçado tem toda a
característica de uma linha étnica e lingüística”. E o
correspondente do Temps em Moscou declarou no mesmo dia: “Os
russos mantém todas as regiões povoadas por ucranianos e russos
brancos (bielo-russos). A fronteira segue, tanto quanto
possível, sem buscar vantagem, uma linha de demarcação étnica
plausível.”[clix]
Outro historiador dirá: “a URSS (...) se anexava pura e
simplesmente a Rússia Branca, a Lituânia [o que é uma
incorreção], a Galitzia Oriental e os confins da Ucrânia
(territórios onde, a dizer a verdade, os polacos de origem
constituíam em geral uma minoria).[clx]
Um mês depois, através de eleições para as assembléias
populares, estas regiões instauraram o poder dos sovietes no seu
território e solicitaram o ingresso na URSS, sendo integradas,
respectivamente, nas Repúblicas da Ucrânia e da Bielo-Rússia.
Mesmo mantendo suas críticas à URSS, Trotski teve que reconhecer
a correção de Stalin em não permitir que Hitler ocupasse toda a
Polônia e ter exigido que os antigos territórios da Ucrânia e da
Bielo-Rússia retornassem à URSS:
o
Kremlin com os seus métodos burocráticos deu um impulso à
revolução socialista na Polônia (...) as massas populares da
Ucrânia Ocidental e da Bielo-Rússia sentiram este impulso,
entenderam seu significado e utilizaram-no para levar a cabo uma
transformação drástica nas relações de propriedade. (...) Nas
eleições para a Assembléia Nacional da Ucrânia Ocidental e da
Bielo-Rússia Ocidental, o programa eleitoral, ditado,
naturalmente, pelo Kremlin, inclui três pontos extremamente
importantes: inclusão de ambas as províncias na Federação da
URSS; confiscação do latifúndio em favor dos camponeses; e
nacionalização da grande indústria e dos bancos. Os democratas
ucranianos, a julgar pela sua conduta, consideraram um mal menor
estarem unificados, sob a jurisdição de um só Estado. E do ponto
de vista da futura luta pela independência estão certos. Quanto
aos outros dois pontos do programa, poder-se-ia pensar que não
poderia haver nenhuma dúvida entre nós sobre o seu caráter
progressista. (...) Dan, o líder dos mencheviques, escreveu em
19 de outubro: “de acordo como o testemunho unânime de todos
os observadores, a aparição do Exército e da burocracia
soviéticas provocou, não só no território ocupado por eles, como
também para além dos seus limites, um impulso (!!!) à desordem
social e às transformações sociais”. (...) Outro autor
menchevique escreve: (...) “o próprio fato da entrada das tropas
soviéticas nos territórios da Polônia Oriental, com suas velhas
relações agrárias semifeudais, tinha que provocar um tempestuoso
movimento agrário. Com a aproximação das tropas soviéticas, os
camponeses começaram a tomar os latifúndios dos grandes
proprietários e a formar comitês de camponeses.” (...) Cito o
testemunho dos mencheviques porque (...) não são suspeitos de
terem capitulado perante o estalinismo. (...) Para os camponeses
da Galícia e da Bielo-Rússia Ocidental, a transformação agrária
foi da maior importância. A Quarta Internacional não poderia
boicotar esta transformação com o argumento de que a iniciativa
foi tomada pela burocracia reacionária. O nosso estrito dever
era participar nesta transformação, junto aos operários e
camponeses e, nessa medida, junto ao Exército Vermelho.[clxi]
É
preciso destacar que – ao contrário do que muitos trotsquistas
contemporâneos divulgam – Trotsky, sem abandonar as suas
críticas a Stalin e ao regime soviético, defendeu abertamente a
ocupação da Polônia Oriental pela URSS e as transformações
revolucionárias que aí ocorreram, assim como o posterior ataque
da URSS à Finlândia reacionária:
O
Kremlin participa de uma nova divisão da Polônia, o Kremlin se
apodera dos Estados Bálticos, o Kremlin se dirige para os
Balcãs, a Pérsia e o Afeganistão; em outras palavras, o Kremlin
continua a política do imperialismo czarista. Será que também
neste caso temos o direito de qualificar de imperialista a
política do Kremlin? (...) A revolução proletária que se
produziu no território do império czarista tentou, desde o seu
início, conquistar – e durante muito tempo conquistou – os
países bálticos; tentou penetrar a Romênia e a Pérsia e, em
certo momento, dirigiu seus exércitos para Varsóvia (1920). As
linha da expansão revolucionária foram semelhantes às do
czarismo, uma vez que a revolução não modifica as condições
geográficas. Por isso, precisamente, já naquela época, os
mencheviques falaram de imperialismo bolchevique, como calcado
nas tradições da diplomacia czarista. A democracia
pequeno-burguesa recorre, ainda hoje em dia, e de bom grado, a
este argumento. Nisso, repito eu, não temos motivo algum para
imitá-la. (...) a ocupação da Polônia oriental pelo Exército
Vermelho é um “mal menor” em comparação com a ocupação deste
mesmo território pelas tropas nazistas.[clxii]
Foi extremamente eloqüente em sua unanimidade e sua fúria, a
campanha que lançou a burguesia mundial por ocasião da guerra
fino-soviética. Nem a perfídia, nem a violência, anterior a esta
guerra excitaram a indignação da burguesia, pois toda a história
da política mundial foi escrita em termos da perfídia e da
violência. Seu medo e sua indignação despertaram diante da
perspectiva de uma reviravolta social na Finlândia, idêntica à
provocada pelo Exército Vermelho na Polônia Oriental. O que foi
colocado em questão foi uma nova ameaça para a propriedade
capitalista. A campanha anti-soviética, que tinha em todos os
pontos um caráter de classe, revelou uma vez mais que a URSS
(...) continua sendo ainda um Estado operário que apavora a
burguesia no mundo inteiro. (...) A submissão da Polônia
oriental, garantia da aliança com Hitler e garantia contra esse
mesmo Hitler, é acompanhada da nacionalização da propriedade
semi-feudal e capitalista na Ucrânia ocidental e na Bielorússia
ocidental. Sem essa medida, o Krêmlin não poderia incorporar à
URSS os territórios ocupados. A Revolução de outubro
estrangulada e profanada fazia saber por isto que ela ainda
estava viva.[clxiii]
Referindo-se a essas opiniões de Trotsky, Deutscher afirmará:
Totsky insistiu com a maior firmeza que a União Soviética
continuava sendo um Estado Operário, com direito a ser defendido
incondicionalmente contra todos os seus inimigos capitalistas,
fascistas e democráticos. Nem sequer negou a Stalin o direito de
negociar com Hitler, ainda que ele mesmo pensava que o pacto
germano-soviético não havia dado nenhuma vantagem importante à
União soviética; ele teria preferido uma aliança soviética com o
ocidente. Mas sustentava que o problema de com quem devia
aliar-se a União Soviética devia ser resolvida unicamente tendo
por base a conveniência, e que a escolha não implicava nenhum
princípio político ou moral, porque tanto as potências
ocidentais como o Terceiro Reich lutavam só por seus interesses
imperialistas. O que Trotsky repudiava na política de Stalin não
era tanto a sua escolha de um aliado ou sócio, senão fazer da
escolha uma virtude e proclamar a sua solidariedade ideológica
com qualquer que fosse seu aliado do momento.[clxiv]
Em 28 de setembro, a URSS assinou um acordo de assistência mútua
com a Estônia, em 5 de outubro, com a Letônia e em 10 de outubro
com a Lituânia:
Não se pode deixar de sublinhar a posição ao mesmo tempo cômica
e trágica dos estadistas do Báltico. Inibidos pelo pavor da
Rússia, voltaram-se para Berlim. Agora, o Reich concluiu à custa
deles, o seu acordo com os Sovietes (...) Paga o Reich, como se
vê, a alto preço o seu tratado de amizade com os Sovietes.
Porque o Baltikum (...) foi sempre considerado pelos nazistas um
campo de natural expansão do Reich, uma das mais próximas etapas
do Drang nach Osten.[clxv]
Em 1º de outubro, o próprio Churchill, falando na Câmara dos
Comuns, reconheceu:
É
de toda evidência que os russos deviam forçosamente montar
guarda nessa linha, a fim de garantir seu país contra a ameaça
nazista. Seja como for, essa linha existe, o estabelecimento de
uma frente oriental é hoje um fato consumado e a Alemanha
nazista não ousa atacar essa frente. Quando o Sr. Ribbentrop foi
convocado a Moscou, na última semana, era para tomar
conhecimento desse fato e reconhecer que os nazistas deviam
renunciar inteira e imediatamente às suas pretensões sobre os
Estados Bálticos e sobre a Ucrânia.[clxvi]
Também William Shirer – crítico da URSS e do acordo
germano-soviético – teve que reconhecer a habilidade e a firmeza
do Governo Soviético nas negociações após o ataque de Hitler à
Polônia:
Stalin apresentava sua conta e Hitler, pela primeira vez, pelo
menos teve que pagá-la. Ele estava abandonando imediatamente não
só a Estônia mas a Látvia, ambas as quais - concordara no Pacto
Nazi-Soviético – pertenciam à esfera dos interesses soviéticos.
Antes de terminado o dia, renunciava também à Lituânia, na
fronteira nordeste da Alemanha, a qual, segundo as cláusulas
secretas do Pacto de Moscou, pertencia à esfera do Reich. (…)
Hitler guerreou contra a Polônia e ganhou a batalha, mas o maior
vencedor foi Stalin, cujas tropas quase não disparam um tiro. A
União Soviética obteve quase metade da Polônia e um baluarte nos
Estados Bálticos. Isso bloqueava a Alemanha mais solidamente do
que nunca em dois de seus principais objetivos a longo prazo: o
trigo ucraniano e o petróleo romeno, dos quais ela tinha grande
necessidade se quisesse sobreviver ao bloqueio britânico. Mesmo
a região petrolífera de Borislav- Drogobycz, na Polônia, que
Hitler desejava, foi exigida por Stalin, e com êxito, e este
último prazeirosamente concordou em vender aos alemães o
equivalente da produção anual dessa área.[clxvii]
E o ex-embaixador dos EUA na URSS, Joseph Davies,
anotou em seu diário em novembro de 1939:
Nenhuma pessoa bem informada podia ter concebido tampouco, há
seis meses, que a Alemanha pagaria um preço tão elevado à Rússia
para manter fechadas suas portas do leste quando atacou a
Polônia. (...) Tudo isso cria uma situação nada vantajosa para
Hitler. Entregou o Báltico (...) retirou-se da Ucrânia; seu
poder econômico está restrito somente à Romênia e a uma limitada
influência sobre a Bulgária ou a Hungria. (...) Considerando o
grande conceito de “Lebensraun” (Espaço Vital) que Hitler
predisse ao seu povo e ao mundo, encontra-se agora reduzido a um
círculo muito pequeno. Sua única saída parece ser atualmente a
oeste. (...) os Sovietes estão seguindo uma política
independente baseada somente no seu próprio interesse e (...)
Hitler não está muito satisfeito com isso.[clxviii]
Depois de examinarmos todo esse quadro, seria
interessante perguntar-nos se Hitler teria atacado a Polônia
caso a Inglaterra e a França aceitassem o acordo de ajuda mútua
com a URSS? Ou – caso mantivesse esse ataque – se nessas
circunstâncias conseguiria fazer frente, simultaneamente, a
essas três potências militares? Ou, imaginar o que aconteceria
no caso do ataque alemão à Polônia ocorrer sem a existência do
acordo de não-agressão germano-soviético?[clxix]Não
teria sido, nesse caso, inevitável o confronto entre a URSS,
isolada, e a Alemanha, desde o primeiro dia da Segunda Guerra
Mundial? E a quem, exatamente, interessava essa situação? Mas a
histórias não é feita de “SEs”!
ERROS DA URSS E DO MOVIMENTO COMUNISTA INTERNACIONAL
O
maior erro vinculado à assinatura do tratado de não-agressão
germano-soviético foi confundir um acordo entre os Estados
Soviético e Alemão (firmado por razões militares e de Estado)
com a tática e a estratégia do movimento comunista
internacional. Ainda que esta questão seja controversa, o que é
certo é que, além de uma grande confusão entre os militantes,
ocorreram alterações na política do movimento comunista
internacional, sob influencia da nova postura da URSS. Paolo
Spriano, referindo-se às reações de partidos comunistas da
Europa Ocidental após a assinatura do “pacto”, afirma:
Assim, inicialmente o Comintern caracterizou a II Guerra Mundial
como uma guerra inter-imperialista, similar à I Guerra Mundial,
contra a qual deviam levantar-se todos os povos do mundo. Em
1946, o próprio Stalin refutará essa caracterização errônea da
guerra ao afirmar que “a Segunda Guerra Mundial teve desde o
início um caráter de guerra antifascista e de libertação e
uma de suas tarefas era o restabelecimento das liberdades
democráticas”.[clxxiii]
O
historiador inglês Alexander Werth, analisando a postura
soviética após o tratado germano-soviético, afirma que “durante
o período do Pacto (...) a imprensa russa guardou um acentuado
alheamento a respeito da Alemanha nazista. Não foram feitos
comentários favoráveis sobre quaisquer aspectos do regime
nazista em qualquer época”.[clxxiv]
Mas, em 31 de agosto, ao defender o acordo germano-soviético
perante o Soviete Supremo, Molotov afirmou: “É recente o fato
de que os nazistas alemães seguiam uma política externa
essencialmente hostil à União Soviética. Sim, há bem pouco tempo
a URSS e a Alemanha eram inimigas. Agora a situação mudou e já
não o somos mais.”[clxxv]
E, segundo Ellenstein, em 30.11.39, o Pravda publicou uma
declaração atribuída a Stalin de que “não é a Alemanha que
ataca a França e a Inglaterra; foram a Inglaterra e a França que
atacaram a Alemanha”.[clxxvi]
No mesmo rumo foi a Declaração Conjunta Germano-Soviética de
29.09.39: “os Governos da União Soviética e da Alemanha
declaram que a liquidação da guerra entre a Alemanha, de um
lado, e a Grã-Bretanha e a França, de outro, seria do interesse
de todas as nações. Não obstante, se os esforços de ambos os
governos forem infrutíferos (...) a responsabilidade da
continuação da guerra pesará somente sobre a Grã-Bretanha e a
França.”[clxxvii]
Ainda que a tese de que a declaração de guerra partira da
Inglaterra e da França, e não da Alemanha, pudesse ser
formalmente correta, é evidente que isso era politicamente
insustentável, pois fora uma resposta a toda uma série de
agressões alemãs. A 31 de outubro, voltando a falar perante o
Soviete Supremo, Molotov aprofundaria essa análise “pragmática”:
o
conceito de “agressão” mudou inteiramente. Não podemos empregar
hoje esta palavra no mesmo sentido em que fazíamos há três anos
ou quatro meses atrás. Agora a Alemanha se bate pela paz,
enquanto a Inglaterra e a França favorecem a continuação da
guerra. Como vedes, os papéis se inverteram.[clxxviii]
Tanto na Inglaterra quanto na França, os adeptos da guerra
declararam à Alemanha uma guerra ideológica que recorda as
velhas lutas religiosas. (...) Uma guerra deste tipo não se
justificaria hoje por nenhum motivo. A ideologia hitleriana,
como qualquer outra ideologia, pode ser aceita ou recusada: este
é um problema que diz respeito às idéias políticas pessoais. Mas
qualquer um pode ver que uma ideologia não pode ser destruída
com a força. Por isto, não é só insensato, é mesmo criminoso
fazer passar esta guerra como uma luta pela destruição do
hitlerismo, sob a falsa bandeira de uma batalha pela democracia.[clxxix]
Na verdade, procurava-se dar uma justificativa “teórica” para
algo que devia ser explicado por imposições de caráter militar e
por “razões de Estado”. Angustiado por esse tipo de análise
forçada, Ilya Ehrenburg diria: “Lembrava-me que Bonnet e
Chamberlain haviam sonhado com um ataque de Hitler contra a
Ucrânia: o pacto germano-soviético fora ditado pela necessidade.
A drôle de guerre e as perseguições contra os comunistas
demonstravam que Daladier não tencionava combater contra Hitler.
Todavia, as palavras de Molotov sobre os ‘antifascistas míopes’
me abalaram. (...) para mim o inimigo principal continuava sendo
o fascismo.”[clxxx]
Apesar dos erros, não procedem, porém, as afirmações de que só
após a invasão da URSS (21.07.41) os partidos comunistas
retomaram a luta contra o nazi-fascismo. Em 6 de junho de 1940,
frente ao avanço alemão e ao derrotismo nos altos escalões do
governo e das Forças Armadas francesas, o PCF, mesmo proscrito,
fez um chamamento à defesa de Paris ameaçada, onde afirmava:
O
Partido Comunista consideraria como traição a entrega de Paris
aos invasores fascistas. Considera a organização da sua defesa
como o primeiro dever nacional. Para isso é necessário: 1. Mudar
o caráter da guerra, transformando-a numa guerra nacional pela
independência e pela liberdade. 2. Libertar os deputados e
militantes comunistas, assim como dezenas de milhares de
operários encarcerados ou internados. 3. Deter imediatamente os
agentes do inimigo, que pululam no Parlamento, nos Ministérios e
inclusive no Estado-Maior e aplicar-lhes um castigo exemplar. 4.
Estas primeiras medidas despertariam o entusiasmo popular e
tornariam possível a formação de milícias populares, o que se
deve decretar sem demora. 5. Armar o povo e fazer de Paris uma
cidadela inexpugnável.[clxxxi]
Sem qualquer vacilação, a burguesia francesa traiu o
seu povo e capitulou frente às hordas nazistas, com a única
preocupação de “impedir o perigo bolchevista”:
O
temor a um levante operário em Paris, mesmo depois da derrota da
greve geral de setembro de 1938, seguiu sendo intenso. ‘Weygand
e os demais temiam uma Comuna em Paris’, disse o almirante
Auphan a Raymond Tournoux. Esta era a principal motivação por
traz do desejo de Weygand de terminar a guerra a qualquer preço,
um desejo absolutamente compartido por Pétain e Laval.”
[clxxxii]
E
Goujon acrescenta:
“A
anarquia e o perigo vermelho são as obsessões de Pétain e dos
altos militares. Mais tarde, Laval, chefe do governo de Vichy,
estenderá essa doutrina a toda Europa: ‘desejo a vitória da
Alemanha porque, sem ela, o bolchevismo amanhã estaria em toda
parte’.”[clxxxiii]
Em 10 de julho de 1940, o PCF publicou um manifesto
ao povo da França conclamando à luta implacável contra os
ocupantes e o governo de traição nacional de Vichy e à
constituição de uma “Frente pela liberdade, independência e
renascimento da França”. Em todos os países ocupados, a
Internacional Comunista e os comunistas procuraram organizar a
resistência::
a
diretriz do Comintern de 22 de Junho de 1940 (...) dava a
importante indicação de organizar, atuando com a maior cautela,
a resistência às medidas dos invasores: “Frustrando as
provocações e evitando as ações prematuras, é necessário
sustentar e organizar de todas as maneiras a resistência das
massas às medidas de violência depredação e arbitrariedade
contra o povo por parte dos invasores. (...) Quaisquer que sejam
as condições, os comunistas devem estar com o povo e marchar
sempre nas primeiras filas da sua luta libertadora” (...) A
atividade dos comunistas franceses para organizar o movimento de
resistência deu os primeiros frutos no Outono de 1940 (...) O
PCF conseguiu formar grupos armados no âmbito de uma Organização
Especial de Combate, embrião de ‘uma organização militar
adaptada às condições da luta clandestina e do terror fascista.
A resistência aos invasores fascistas foi crescendo também
noutros países subjugados. Exortados pelo Partido Comunista da
Bélgica (...) em junho de 1940 os operários de Liège paralisaram
o trabalho; em setembro foram 10.000 mineiros de Borinage. (...)
O Partido Comunista da Noruega organizou no outono do mesmo ano
manifestações e comícios antifascistas em várias cidades do
país. Os comunistas polacos começaram a criar organizações de
luta contra os ocupantes nazis.[clxxxiv]
Ao aproximar-se o fim do verão de 1940 (...) seus
enviados e agentes diplomáticos no exterior incentivavam todos
os sinais de resistência à “nova ordem”. Os jornais de Moscou,
que até então só reservavam aos aliados comentários
depreciativos, começaram a noticiar com simpatia a Batalha da
Grã-Bretanha e a concitar os patriotas franceses a resistirem à
subjugação de seu país. Mesmo antes disto, o Ministério do
Exterior alemão tivera de protestar contra a propaganda
antinazista a que se entregara Madame Kollontai, representante
soviética na Suécia.
[clxxxv]
Outro equívoco de Stalin e do governo soviético – que causou
grandes prejuízos na fase inicial da luta – foi a ilusão na
possibilidade de adiar a guerra com a Alemanha nazista por um
prazo demasiado longo, inclusive através de um “apaziguamento”
de Hitler. Isso levou a que os fortes indícios da preparação de
um ataque alemão fossem desconsiderados e a que os inúmeros
avisos nesse sentido fossem considerados “provocações” das
democracias ocidentais, com o único objetivo de precipitar a
guerra da Alemanha contra a URSS.
As grandes deficiências na preparação do país para a defesa se
deviam aos sérios erros de Stalin na apreciação da situação
militar estratégica geral e dos possíveis prazos para o começo
da luta. Stalin considerava que as notícias procedentes de
distintas fontes de que a Alemanha se preparava para atacar a
URSS tinham um caráter provocador e eram inspiradas pela
imprensa burguesa com o objetivo de lançar a URSS contra a
Alemanha. (...) Assim se explica que o primeiro golpe
descarregado pelos fascistas foram inesperados (...).[clxxxvi]
Mas isso não dá razão aos que afirmam que a URSS não aproveitou
o tempo ganho com o acordo germano-soviético para melhor
preparar-se para esse embate. O problema é que o rápido
desmoronamento das democracias ocidentais frente à agressão
nazista – sem luta e sem desgaste para as hordas hitlerianas,
entregando-lhe intactos seus parques industriais e sua máquina
militar – acabou por fortalecer enormemente o poderio bélico do
nazi-fascismo, tornando mais difíceis as coisas para a URSS.
Tampouco têm fundamento os relatos que apresentam a liderança
soviética como totalmente despreparada e acovardada diante da
agressão alemã. É Isaac Deutscher, insuspeito de qualquer
simpatia pela liderança soviética, quem diz:
Sem dúvida, Stalin empregou os vinte e dois meses de trégua no
desenvolvimento intensivo das indústrias bélicas russas e no
treinamento das Forças Armadas segundo a mais recente
experiência militar. (...) Apesar de todos os seus erros de
cálculo, Stalin não estava despreparado para enfrentar a
emergência. Havia armado solidamente o país e reorganizado suas
forças militares. Seu espírito prático não se aferrara a nenhum
dogma estratégico unilateral. Não embalara o Exército Vermelho
numa falsa impressão de segurança por trás de alguma variedade
russa da Linha Maginot (...) A Rússia iria vender espaço a troco
de tempo; o espaço vendido ficaria imprestável para o inimigo,
que por ele teria de pagar um preço escorchante. Era este o
único meio pelo qual, depois de todos os erros e cálculos
inexatos, Stalin podia bater-se com o conquistador da Europa. E
enfrentou-o com uma força de vontade superior.[clxxxvii]
CONCLUSÃO
Por todo o exposto, parece-nos evidente que a chamada “Política
de Apaziguamento” que as democracias ocidentais mantiveram
frente às agressões dos regimes fascistas, correspondeu a uma
política consciente dos principais países capitalistas, com o
objetivo de isolar o Estado Soviético e a direcionar as
agressões da Alemanha militarista no rumo do Leste Europeu:
A
política de apaziguamento (...) decorreu de uma concepção
puramente política, que foi muito bem expressa pelo jornal
fascista francês Combat: “Os partidos da ala direita tiveram a
impressão de que (...) uma derrota da Alemanha significaria o
esmagamento dos sistemas autoritários que constituem o principal
baluarte contra o comunismo e, talvez, a bolchevização da
Europa.[clxxxviii]
Ao mesmo tempo que se buscava utilizar a Alemanha como um aríete
contra o primeiro Estado Socialista do mundo, se procurava
enfraquecer essa rival imperialista com uma luta desgastante
contra a URSS. Assim, matava-se “dois coelhos com uma só
cajadada”: “Hitler provavelmente pretendia uma grande guerra
de conquista contra a Rússia Soviética, se é que tinha algum
propósito consciente. Não é provável que pretendesse a guerra
que irrompeu contra a Grã-Bretanha e França, em 1939.”[clxxxix]
Intoxicadas pelo anticomunismo, as “democracias liberais” não
percebiam que essa política oportunista às conduzia ao suicídio.
Secundariamente – e aí estão as diferenças entre homens como
Chamberlain e Churchill, Daladier e De Gaulle – jogou certo
papel a pusilanimidade dos principais líderes dos governos
ocidentais de então. Mas mesmo o fato de tais ou quais homens –
e não outros – estarem à frente de seus governos, significa que
eram quem melhor representavam os interesses dos círculos
dirigentes de seus países naquele momento.
O
incentivo e o apoio aberto ao rearmamento alemão, a conivência
com as agressões japonesas no extremo Oriente, italianas na
Abissínia e ítalo-alemãs na Espanha, sinalizaram já no início da
década de trinta que o grande capital da Inglaterra, da França e
dos Estados Unidos, apoiava o nazi-fascismo como tropa de choque
contra o movimento operário e socialista.
A
entrega da Áustria, logo dos Sudetos e a seguir de toda a
Checoslováquia mostraram ao mundo que as democracias ocidentais
não tinham o menor respeito pelas pequenas nações ou pelos
compromissos por elas assumidos.
Quanto mais avançavam os agressores, mais a França, a Inglaterra
e os Estados Unidos, cediam, de maneira calculada,
incentivando-os a novas agressões. Enquanto prodigavam Hitler
com propostas de “acordos”, “pactos” e “acertos” sobre uma nova
divisão do mundo, negavam-se a qualquer acordo defensivo com a
URSS.
Ao contrário, no mesmo momento em que o Japão agredia a China, a
Mongólia e a URSS, no Extremo Oriente, a Inglaterra assinava o
acordo nipo-inglês ou a “Munique do Leste”, como ficou
conhecido. Buscava-se impor ao Estado Soviético o total
isolamento e uma guerra em duas frentes.
A “novela” das negociações tripartites entre a URSS,
a Inglaterra e a França está suficientemente documentada para
tirar as nossas dúvidas acerca das verdadeiras intenções das
democracias ocidentais. O mesmo Chamberlain, que acorrera três
vezes à Alemanha, de forma humilhante, para negociar com Hitler
a entrega da Checoslováquia, se negou a viajar sequer uma vez
até Moscou, para negociar o único acordo que poderia ter detido
a aventura nazi-fascista e evitado a guerra. Ao contrário,
enviou, ostensivamente, uma delegação desqualificada e sem
poderes, e nunca escondeu que não tinha a menor intenção de
assinar qualquer tratado com a URSS. Enquanto isso, até o último
minuto tentou negociar com a Alemanha o abandono da Polônia.
A França e os Estados Unidos não ficaram muito atrás
nas suas atitudes. A total inatividade dessas nações
capitalistas quando se concretizou a agressão alemã à Polônia,
mostrou ao mundo a quem elas tentavam colocar na linha de fogo
das tropas alemãs quando propunham que à URSS oferecesse
garantias unilaterais a uma Polônia que se negava sequer a
admitir a entrada de um único soldado soviético para defendê-la:
Os diplomatas soviéticos deram-se conta de que o grupo de
Cliveden, contra a crescente oposição da opinião pública
anglo-francesa, pretendia jogar seu último trunfo sobre a
Polônia. Ocupando-a, a Wehrmacht – exército alemão – atingiria a
fronteira soviética. A URSS, em guerra com os japoneses no
leste, sentiu a ameaça de uma dupla invasão. A falta de
preparação de Londres e Paris numa conjuntura tão tensa
revelava-se uma estratégia de encorajar o ataque de Hitler à
Polônia. De que serviam as garantias de Varsóvia sem um respaldo
militar?[cxc]
Não nos cabe emitir “julgamentos” sobre os
acontecimentos históricos – em particular sobre a “política de
apaziguamento” e o acordo germano-soviético de não-agressão –
mas tentar explicá-los. Nesse sentido, independentemente das
opiniões que tenhamos sobre Stalin e os erros que tenha
cometido, uma coisa não pode ser negada: a URSS adotou durante
anos uma política de denúncia e de enfrentamento ao
nazi-fascismo e tentou por todos os meios um tratado com a
França e a Inglaterra, para detê-lo enquanto era possível. Mas
sempre recebeu um rotundo “não”.
Em luta no Oriente com o Japão já há quatro meses,
foi só quando perdeu toda a esperança em um acordo com as
democracias liberais e faltavam menos de dez dias para o ataque
alemão à Polônia que a URSS aceitou um acordo de não-agressão
com a Alemanha, com o objetivo de ganhar tempo e terreno para o
inevitável e futuro confronto com ela. Que outra nação não teria
agido desta forma para preservar o seu futuro?
Assim colocada a questão, fica claro que a
responsabilidade do início da Segunda Guerra Mundial – se
tomarmos o ataque à Polônia como o seu deflagrador – coube em
primeiro lugar à Alemanha:
Não pode haver a menor dúvida de que o imperialismo alemão,
deliberada e descaradamente, desencadeou a guerra contra a
Polônia e, com isso, a Segunda Guerra Mundial, em 1º de setembro
de 1939. Quaisquer que sejam as responsabilidades do sistema
capitalista mundial no seu conjunto e das outras potências
imperialistas, esse ato em particular foi obra da classe
dominante alemã dirigida pelo Führer e seus sequazes militares.[cxci]
Em segundo lugar, a responsabilidade pela
deflagração da Segunda Guerra Mundial cabe à política de
“apaziguamento” e de “incitamento” das democracias ocidentais à
Alemanha para que atacasse a URSS. O acordo germano-soviético de
não-agressão em nenhum momento pode ser responsabilizado por
isso. As informações históricas comprovam que esse ataque não só
estava planejado desde abril de 1939, como que já havia sido
posto em marcha no dia 15 de agosto, oito dias antes da
assinatura do referido acordo.
Na verdade, as causas de fundo da Segunda Guerra
Mundial foram as contradições inter-imperialistas, decorrentes
do desenvolvimento desigual do capitalismo, às quais se somaram
as contradições entre o Socialismo emergente e o Capitalismo em
crise. Muitos “desejariam nos fazer crer que a Segunda Guerra
Mundial nasceu no espírito de alguns ambiciosos, de alguns
loucos. Não, a Segunda Guerra Mundial foi preparada, desejada
pelos dirigentes dos grandes interesses financeiros, para sair
de seu marasmo e para destruir o socialismo.”
[cxcii]
NOTAS
[i]
LOMBEEK, Alain V. Do conflito à coexistência:
contribuição para o estudo do contencioso
sovietico-finlandês (1917-1955). Lisboa:
Prelo, 1973, pp. 16-17, 35-38.
[iii]
LENIN. Tesis sobre el problema de la conclusión de
una paz separada (24.02.1918). In: LENIN, V.I.
Obras Escogidas. Moscou: Ediciones en lenguas
extranjeras, 1960, t.2, pp. 582-583.
[iv]
BRUHAT, Jean. História da URSS. São Paulo:
Difusão Européia do Livro, 1966, p. 42.
[v]
[Curzon] “Propunha que as conversações para o armistício
começassem imediatamente entre a Rússia e a Polônia
sobre as bases de uma linha traçada no outono de 1919,
após um detalhado estudo dos dados etnográficos pelos
especialistas da conferência de paz (conhecida mais
tarde por ‘linha Curzon’) [CARR, E. H. Historia de la
Rusia Soviética: La revolución Bolchevique (1917-1923).
Madrid: Alianza Editorial, 1973, v.3, p. 222]
[vi]
KINDER, Hermann e HILGEMANN, Werner. Atlas histórico
mundial: De La Revolución Francesa a nuestros días,
6ª edição, vol. 2. Madrid: Ediciones Istmo, 1977,
p 171.
[vii]
BRUHAT. Op. Cit., p. 45.
[viii]
LOMBEEK. Op. Cit., p. 43.
[ix]
CROUZET, Maurice. História Geral das Civilizações - a
Época Contemporânea: o declínio da Europa; o mundo
soviético, Tomo VII. São Paulo: Difusão
Européia do Livro, 1961, p. 41.
[x]
CHURCHILL, Winston S. La Segunda Guerra Mundial,
vol. 1. Madrid: Ediciones Orbis, 1985, p. 35].
[xi]
“a diplomacia comum russo germânica trabalhou lado a
lado, secretamente, sobre o rearmamento mútuo.
Negociações em 1921-22, conduzidas por Trotski, do lado
russo, e pelo chefe do novo Reichswehr alemão,
general von Seeckt, levaram ao estabelecimento na Rússia
de fábricas alemãs que produziam gás tóxico, aviões e
obuses.” [KOCHAN, Lionel. A Formação da Rússia
Moderna. Lisboa: Editora Ulisséia, 1962, 387 p.].
[xii]
TAYLOR, A.J.P. A Segunda Guerra Mundial.
Rio de Janeiro: ZAHAR EDITORES, 1963, pp. 48,49.
[xiii]
DUTT, R. Palme. Problemas da História Contemporânea. Rio
de Janeiro: Zahar, 1984, pp. 45-46.
[xiv]
BEZIMENSKI, L. O militarismo Alemão com/sem Hitler.
V.1.Rio de Janeiro: Saga, 1967, p. 39.
[xv]
E. KULKOV, O. RJECHEVSKI e I. TCHELICHEV. A verdade e
a mentira sobre a Segunda Guerra Mundial. Lisboa:
Editorial “Avante”, 1984. p. 38.
[xvi]
COLLOR, Lindolfo. Europa 1939. Porto Alegre:
Fundação Paulo do Couto e Silva; Fundação Casa de Rui
Barbosa, 1989, p. 233.
[xvii]
TAYLOR. Op. Cit. p. 56-57.
[xviii]
ROCHE, Alexandre. A Segunda Guerra Mundial. In:
História: Ensino e Pesquisa, Ano 1, nº 2. P.
Alegre: Sulina, 1985, pp. 51, 52.
[xix]
SNYDER. Op. Cit., p. 43.
[xx]
SMITH, S.R. The Mandchurian Crisis, 1913-1932.
In: DEBORIN, G. Segunda Guerra Mundial. São
Paulo: Editora Fulgor, 1966. p. 13.
[xxi]
ALSTYNE, Richard W. American Diplomacy in Action.
In: DEBORIN. Op. Cit. p. 13.
[xxii]
TAYLOR. Op. Cit., p. 70.
[xxiii]
HITLER, Adolf. Minha Luta. Porto Alegre:
Livraria do Globo, 1939, p. 548, 554, 558.
[xxiv]
BALDWIN, Stanley. Apud LEBEDEV, N. La URSS en la
política mundial. Moscu: Editorial Progreso, 1983,
p. 78.
[xxv]
VIZENTINI, Paulo Gilberto Fagundes. Segunda Guerra
Mundial: Relações internacionais do século 20 (segunda
parte), 4ª edição. Porto Alegre, Editora da
Universidade/ UFRGS, 1996, p. 23-24.
[xxvi]
HEINKEL, E. Stürmisches Leben. In:
BEZIMENSKI. Op. Cit., v. 1, p. 65.
[xxvii]
TOGLIATTI, Palmiro. La lucha contra el fascismo y la
guerra. In: Fascismo, Democracia y Frente Popular
– VII Congresso de la Internacional Comunista
México: Siglo XXI, 1984, pp. 308-309.
[xxviii]
CHEVALLAZ, Georges-André. As grandes
conferências diplomáticas. In: BERNARD, Henri et al.
Os arquivos da Segunda Guerra Mundial. São
Paulo: DIFEL, 1964, p. 127.
[xxix]
SHIRER, William L. A queda da França: o colapso da
Terceira República. Rio de Janeiro: RECORD, 1969,
v.1, p. 289.
[xxx]
CHURCHILL. Op. Cit., v.1, p. 124.
[xxxi]
BEZIMENSKI. Op. Cit., v. 1, p.83.
[xxxii]
DIMITROV, J. La ofensiva del fascismo y las tareas de
La Internacional em la lucha por la unidad de la clase
obrera contra el fascismo .In: DIMITROV, J.
Selección de trabajos. Buenos Aires: Ediciones
Estudio, 1972, p. 183.
[xxxiii]
SOBOLEV, A. et al. A Internacional Comunista.
Lisboa: Edições Avante, 1973, v 3, p. 40-79.
[xxxiv]
CHURCHILL. Op. Cit., v. 1, p. 152.
[xxxv]
SNYDER. Op. Cit., p. 53.
[xxxvii]
HERRERA, Heitor A. A Estratégia dos Aliados na
Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro:
Biblioteca do Exército, 1961, pp. 47-48.
[xxxviii]
SIMONE, André. A derrocada de uma nação. Porto
Alegre: Edições Meridiano, 1941, p. 163.
[xl]
HERRERA. Op. Cit., p. 55.
[xli]
LEBEDEV. Op. Cit., p. 87.
[xlii]
BEZIMENSKI. Op. Cit., v.1, p. 53.
[xliii]
TAYLOR. Op. Cit., pp. 137-138.
[xliv]
BEZIMENSKI. Op. Cit., v. 1, p. 112.
[xlv]
SNYDER. Op. Cit., p. 64.
[xlvi]
SCHUSCHNIGG. Apud SNYDER. Op. Cit., p.65.
[xlix]
JODL. Apud DEBORIN. Op. Cit., p. 22.
[l]
THE DAILY EXPRESS, 14.03.38. Apud DEBORIN. Op. Cit., p.
24.
[li]
CHURCHILL. Op. Cit., v. 1, p. 230.
[lii]
IRVING, David. El camino de la guerra. Buenos
Aires: Planeta, 1991, p. 179.
[liii]
SIMONE. Op. Cit., p. 210.
[liv]
SHIRER. Ascensão... Op. Cit., v. 2, p. 161.
[lv]
IRVING. Op. Cit., pp. 191-192.
[lvi]
HERRERA. Op. Cit., pp. 50-51.
[lvii]
SHIRER, William L. A queda... Op. Cit., v.2, p
87.
[lix]
PARKER, R.A.C. El Siglo XX - Europa, 1918-1945.
México, DF: Siglo veintiuno, 1990, p. 363.
[lx]
BRISSAUD, André. Almirante Canaris – o príncipe da
espionagem alemã. Rio de Janeiro: Biblioteca do
Exército, 1978, p. 181.
[lxi]
WELLES, Sumner. The Time for Decision.
Apud DEBORIN. Op. Cit., p. 28.
[lxii]
TAYLOR. Op. Cit., pp. 162, 192, 196.
[lxiii]
DEBORIN. Op. Cit., p. 25-26.
[lxiv]
E. KULKOV, O. RJECHEVSKI e I. TCHELICHEV. Op. Cit., p.
51.
[lxv]
CHURCHILL. Op. Cit., v.1, p. 257.
[lxvi]
SHIRER. Ascensão... Op. Cit., vol. 2, p.
204.
[lxviii].COLE,
G.D.H. História del pensamiento Socialista:
Socialismo y Fascismo (1931-1939), vol. VII. México,
DF: Fondo de Cultura Econômica, 1965, p. 35.
[lxix]
SIMONE. Op. Cit., p. 234.
[lxx]
Livre jaune français, Paris, 1939. Documents
diplomatiques 1938-1939, pp. 45-46. Apud
ELLEINSTEIN, Jean. A História da URSS. Portugal:
Publicações Europa-América, 1976, pp. 10-11.
[lxxi]
SHIRER, William L. Diário de Berlim: 1934-1941.
Rio de Janeiro: Record, S/D, v. 1, p. 134.
[lxxii]
SHIRER. Diário ... Op. Cit., v. 1, p. 142.
[lxxiv]
BULITT. Apud DEBORIN. Op. Cit., p. 31.
[lxxv]
SHIRER. Ascensão... Op. Cit., vol 2, p.
242.
[lxxviii]
STALIN. Apud GROZ, Victor. Polônia 1939. Rio de
Janeiro: Editorial Vitória, 1955, p. 71.
[lxxx]
TAYLOR. Op. Cit., p. 221.
[lxxxiii]
SHIRER, Ascensão...Op. Cit., vol 2,
p. 303-304.
[lxxxiv]
MAISKI, Ivan. Quem ajudou a Hitler. (Tradução
condensada de Elio Bolsanello) São Paulo: Editora
Socialista, 1984. p. 58.
[lxxxvi]
COLLOR. Op. Cit., pp. 219, 63, 182-18.
[lxxxvii]
BAUFRE, General. Le Drame 1940. Apud E. KULKOV,
O. RJECHEVSKI e I. TCHELICHEV. Op. Cit., p. 72-73.
[lxxxviii]
CHEVALLAZ, Georges-André. As grandes
conferências diplomáticas. In:
BERNARD, Henri et al. Os arquivos da Segunda Guerra
Mundial. São Paulo: DIFEL, 1964, p. 128-129.
[xc]
IRVING. Op. Cit., p. 244.
[xcii]
TAYLOR. Op. Cit., p. 245.
[xciii]
BEZIMENSKI. Op. Cit., p. 127.
[xcv]
DEBORIN. Op. Cit., p. 38-39.
[xcviii]
CARTIER, Raymond. Os mistérios da Guerra. Rio de
Janeiro: Editora Biblioteca Militar, 1949, p. 85.
[xcix]
DIRKSEN. Informe ao Ministério de Relações
Exteriores, 03.08.1939. Apud, Burô de Información
Soviético. Falsificadores de La História (reseña
histórica). Moscou: Ediciones en lenguas
extranjeras, 1948, p. 31.
[c]
GROZ. Op. Cit., pp. 76-77.
[ci]
Telegrama de Seeds a Halifax, em 13 de agosto de 1939,
Apud MAISKI. Op. Cit., p.77-78.
[cii]
MAISKI. Op. Cit., p.79.
[ciii]
SHIRER. Ascensão... .Op. Cit., vol 2, p.
314-5.
[civ]
JOLL, James. A Europa desde 1870. Lisboa: Dom
Quixote, 1995, p.552.
[cv]
MANDEL. Op. Cit. pp. 105-106.
[cvi]
“Com os alemães arriscamo-nos a perder a nossa
liberdade, com os russo perderemos a nossa alma.” [BECK.
In: BAUER, Eddy. História Polémica da Segunda Guerra
Mundial. Mem Martins: Publicações Europa-América,
1967, v. 1, p. 270].
[cvii]
NOEL, L. La Guerre de 39 a commencé 4 ans plus tôt.
Apud E. KULKOV, O. RJECHEVSKI e I. TCHELICHEV. Op.
Cit., p. 73.
[cix]
BOSCHESI, B. Palmiro. Os responsáveis pela II Guerra
Mundial. Lisboa: Editora Ulisseia, 1976, p. 52.
[cx]
TAYLOR. Op. Cit., p. 256, 258.
[cxi]
Memorando do Foreign Office, 22.05.39. Apud
TAYLOR. Op. Cit., pp. 228-229.
[cxii]
LENIN, V.I. O infantilismo “esquerdista” e o espírito
pequeno-burguês. In: Obras Escogidas. Moscou:
Ediciones en lenguas extranjeras, 1960, t.2, pp. 745.
[cxiii]
LENIN, V.I. Tesis sobre la situación política actual.
(1918) In: LENIN, V.I. Obras Escogidas.
Moscou: Ediciones en Lenguas Extranjeras, 1960, t.
2, p. 770.
[cxiv]
“Litvinov ainda viria a servir à pátria nos anos de
guerra: entre 1941 e 1943, foi Embaixador da União
Soviética nos Estados Unidos. De 1943 a 1946, terminaria
a vida política e diplomática como um dos Vice-Ministros
do Exterior”. [SILVEIRA, Joel e MORAES NETO, Geneton.
Hitler/Stalin - O Pacto Maldito. Rio de Janeiro:
Record, 1989, p. 163.
[cxv]
TAYLOR. Op. Cit., p.233.
[cxvi]
Molotov. Apud WERTH, Alexander. A Rússia na Guerra.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, vol.
1, p. 41.
[cxix]
SILVEIRA, Joel e MORAES NETO, Geneton. Op. Cit., p.316.
[cxx]
IRVING. Op. Cit., p. 263-264.
[cxxi]
MAISKI. Op. Cit., p. 91.
[cxxii]
Schulenberg a Ribbentrop, 04.08.39, Apud TAYLOR. Op.Cit,
p. 242.
[cxxiii]
SHIRER. A queda..., Op. Cit, v.1, pp. 155-156.
[cxxiv]
SHIRER. Ascensão..., Op. Cit, vol. 2, p.
343.
[cxxv]
MAISKI. Op. Cit., p. 90-95.
[cxxvi]
IRVING. Op. Cit., p. 266-272, 275.
[cxxix]
SHIRER. A queda...Op. Cit., v. 1, pp. 162.
[cxxx]
MAISKI. Op. Cit., p. 95-96; SNYDER. Op. Cit., p. 83.
[cxxxi]
SHIRER, W.L. Ascensão e Queda do
Terceiro Reich, vol. II, pp. 367-369.
[cxxxii]
TROTSKY, L. Novamente, e uma vez mais,
sobre a natureza da URSS (18.10.39). In: Em
Defesa do Marxismo. Fortaleza: Liga Bolchevique
Internacionalista, 1997, p. 32.
[cxxxiii]
SNYDER. Op. Cit., p. 83; IRVING. Op. Cit., p.272;
SHIRER. Op. Cit., v. 3, p. 13; HEYDECKER, Joe J. e LEEB,
E. Johannes. O Processo de Nuremberg. Rio de
Janeiro: Editorial Bruguera, 1968, p.217.
[cxxxiv]
SHIRER. Ascensão... Op. Cit., v. 2, pp.
365-366.
[cxxxv]
TAYLOR. Op. Cit., p. 262-263.
[cxxxvi]
DE GAULLE, Charles. Memórias de Guerra.
Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1977, t. I, p.
32.
[cxxxvii]
SHIRER, A queda... Op. Cit., v.1, p. 99.
[cxxxix]
CHURCHILL. Op. Cit., v.1, p. 307.
[cxl]
DEUTSCHER, Isaac. Stalin - a história de uma tirania.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1970, t.2, pp.
395-397.
[cxli]
BROUÉ, Pierre. União Soviética - Da revolução ao
colapso. Porto Alegre: Editora da Universidade /
UFRGS, 1996, p. 126.
[cxliii]
CLAUDIN, Fernando. A crise do movimento comunista:
v.1 - a crise da internacional comunista. Rio de
Janeiro: Global, 1985, p.258.
[cxliv]
CLAUDIN. Op. Cit., pp. 257-258.
[cxlv]
SILVEIRA, Joel e MORAES NETO, Geneton. Op. Cit., pp.
340-342.
[cxlvi]
SPRIANO, Paolo. O movimento comunista entre a guerra
e o pós-guerra: 1938-1947. In: HOBSBAWM, Eric. J.
(organizador). História do Marxismo. Rio
de Janeiro: PAZ E TERRA, 1987, v. 10, p. 139.
[cxlvii]
SILVEIRA, Joel e MORAES NETO, Geneton. Op. Cit., pp.
500-502.
[cxlviii]
SILVEIRA, Joel e MORAES NETO, Geneton.Op. Cit.,
pp. 512-514.
[cxlix]
DE GAULLE. Memórias... Op. Cit., t. 1, p. 36.
[cl]
EHRENBURG, Ilya. Memórias: a Europa sob o nazismo
(1933-1941). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1966, v. IV, pp. 251-252.
[cli]
GOUTARD, A. A Guerra das Ocasiões Perdidas.
Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1967, p.
121.
[clii]
KITCHEN, Martin. Um mundo em chamas: uma breve
história da 2ª Guerra Mundial na Europa e na Ásia –
1939/1945. Rio de Janeiro: ZAHAR, 1993, p. 19.
[cliv]
VORMANN, N. Apud E. KULKOV, O. RJECHEVSKI e I.
TCHELICHEV. Op. Cit., p. 83.
[clv]
BRUHAT, Jean. História da URSS. São Paulo:
Difusão Européia do Livro, 1966, p. 106.
[clvi]
SNYDER. Op. Cit., p. 15.
[clvii]
GORIEUX, Benjamin. In: DUROSELLE, Jean Baptiste. Le
frontières europeennes de l’URSS (1917-41). Paris:
Armand Colin, 1957, p. 284-285.
[clx]
LATREILLE, André. La Segunda Guerra Mundial:
1939-1945. Madrid: Guadarrama, 1966, p. 70.
[clxi]
TROTSKY, Leon. De um arranhão, ao perigo da gangrena
(24.01.40). In: Em Defesa do Marxismo. Op.
Cit., pp. 107-109.
[clxii]
TROTSKY, Leon. Novamente, e uma vez mais, sobre a
natureza da URSS (18.10.39). In: Em Defesa do
Marxismo. Op. Cit., pp. 31-33.
[clxiii]
TROTSKY, Leon. O “Manifesto de Alarme” da Quarta
Internacional. (1940) Apud MARIE, Jean-Jacques.
Os quinze primeiros anos da Quarta Internacional.
São Paulo: Palavra Editora, 1981, pp. 38, 41.
[clxiv]
DEUTSCHER, Isaac. Trotsky - El profeta desterrado
(1929/1940). México DF: Edic. Era, 1988, pp.
413-414.
[clxv]
COLLOR. Op. Cit., p. 277.
[clxvi]
CHURCHILL, 1º de outubro de 1939. Apud GROSZ. Op. Cit.,
p.83.
[clxvii]
SHIRER. Ascensão..., Op. Cit., vol. 3, pp. 19-21.
[clxviii]
DAVIES, Joseph E. Missão em Moscou. Rio de
Janeiro: Calvino, 1942, pp. 312-314.
[clxix]
“se na Europa iniciasse a guerra, talvez se pudesse
convertê-la em uma cruzada contra o comunismo e alcançar
os objetivos que a intervenção armada dos aliados não
havia obtido em 1918.” [DULLES, Foster Rhea. The Road
to Teheran. The Story of Rusia anda America, 1781-1943.
Princeton, 1944, p. 212. Apud LEBEDEV, Op. Cit., p. 94.
[clxx]
SPRIANO, Paolo. O movimento comunista entre a guerra
e o pós-guerra: 1938-1947. In: HOBSBAWM,
Eric. J. (organizador). História do Marxismo. Rio
de Janeiro: PAZ E TERRA, 1987, vol. 10, p. 144- 145.
[clxxii]
SOBOLEV. Op. Cit., v. 3, p. 154.
[clxxiii]
STALIN, J. Discurso de 06.02.46. Apud:
SPRIANO. Op. Cit., p. 151.
[clxxx]
EHRENBURG. Op. Cit., v. 4, p. 253.
[clxxxi]
SOBOLEV.. Op. Cit., v.3, p. 156.
[clxxxiii]
GOUJON, Gérard. A social democracia e a Segunda
Guerra Mundial. In: COGGIOLA, Osvaldo. Segunda
Guerra Mundial. Op. Cit., p. 249.
[clxxxiv]
SOBOLEV. Op. Cit., v.3, pp. 157-159.
[clxxxv]
DEUTSCHER. Op. Cit., t. 2, pp. 405-406.
[clxxxvi]
SAMSONOV, A. et al. Compendio de História de la URSS
– desde la Gran Revolución Socialista de octubre hasta
nuestros dias. Moscu: Editorial Progreso, S/D, p.
229.
[clxxxvii]
DEUTSCHER. Op. Cit., pp. 414, 419, 421.
[cxc]
VIZENTINI, Paulo Gilberto Fagundes et al. A Revolução
Soviética/1905-45: o socialismo num só país. Porto
Alegre: Mercado Aberto, 1989, p. 117.
[cxci]
MANDEL. Op. Cit., p. 28.