Biografia   Atuação Parlamentar   Publicações Textos Vídeos

   Porto Alegre, domingo, 22 de dezembro de 2024

   

75 anos da aprovação pela ONU da partição da Palestina

Raul K. M. Carrion* | 29.11.2022

Na segunda metade do século XIX, a Palestina – junto com a atual Síria, Líbano e Jordânia – fazia parte da “Grande Síria”, encruzilhada de civilizações, onde um comércio florescente e intercontinental convivia com uma agricultura atrasada e semifeudal. Em 1852, a população de origem judaica que ali existia não passava de 12 mil pessoas e em 1880 chegava a 24 mil (4,8%), em uma população de 500 mil pessoas.

O movimento sionista – responsável pela criação do Estado de Israel na Palestina – surgiu no final do século XIX, entre judeus asquenazes, oriundos principalmente da Europa Central e Oriental, sem qualquer relação com a Palestina. Os sionistas reivindicavam um território para estabelecer um Estado Judeu, no qual fosse garantida de forma permanente uma maioria judaica, apesar de almejarem que a sua população fosse exclusivamente judia.

Em 1882, o pioneiro do sionismo, o judeu russo Leon Pinsker, propôs: “A meta de nossos presentes esforços deve ser não a ‘Terra Santa’, mas uma terra nossa. Não precisamos nada além de um grande pedaço de terra para nossos irmãos pobres, que deverá permanecer de nossa propriedade e da qual nenhum estrangeiro possa nos expulsar.[1]

E o “pai do sionismo”, o judeu austro-húngaro Theodor Herzl, no seu livro “O Estado Judeu” (1896), também se limitou a reivindicar “a soberania de um pedaço da superfície terrestre[2]. Em relação à localização geográfica desse “Estado Judeu”, propôs duas alternativas: “Devemos preferir a Palestina ou Argentina. A Sociedade [“Society of Jews”] aceitará o que lhe derem (...). A Argentina é um dos países naturalmente mais ricos da terra, de uma superfície colossal (...). A Argentina teria interesse em ceder-nos um pedaço de território”.[3] Quando os ingleses ofereceram a Uganda para o projeto sionista, Herzl assumiu a defesa dessa alternativa, inclusive fazendo-a aprovar no 6º Congresso Sionista, apesar da forte contestação daqueles que propunham a Palestina. Também foram cogitados o Texas e a ilha de Chipre

É importante esclarecer isso, para que se saiba que o discurso sobre a “ligação eterna dos judeus com a Palestina” não existia na origem do movimento sionista. Só muito depois, quando obtiveram o apoio britânico para a instalação do Estado Judeu na Palestina, é que os sionistas adotaram em seu discurso o apelo bíblico para o “retorno à Terra Santa”.

Para atingir seus objetivos, os sionistas propuseram às potências imperialistas europeias – em especial ao Império Otomano, Alemanha e Inglaterra – transformar o futuro Estado Judeu em um bastião da “civilização branca” contra os povos “incivilizados”: “Para a Europa, constituiríamos aí um pedaço de fortaleza contra a Ásia, seríamos a sentinela avançada da civilização contra a barbárie. Ficaríamos como Estado Neutro, em relações constantes com toda a Europa, que deveria garantir a nossa existência.[4]

Comentando essa aliança de fato entre o sionismo e o imperialismo britânico, Shlomo Sand chama a atenção para a importância que a Palestina passou a ter para os ingleses após a construção do Canal de Suez:

A rota para a Ásia distante agora estava aberta e as regiões circunjacentes ao portal marítimo – Egito e Palestina – emergiam como objetivos estratégicos da máxima importância. (...) A ideia sionista (...) de assentar judeus na Palestina apresentou-se como um meio de (...) estabelecimento de um ponto de apoio imperial no Oriente Médio. Afinal de contas, os judeus eram um aliado natural da Grã-Bretanha. (...) George Gawler (...) esboçou um plano para “restaurar os judeus em sua terra”, basicamente para criar uma zona tampão segura para os britânicos entre o Egito e a Síria. (...) Winston Churchill e muitos outros estadistas britânicos estavam convencidos de que a restauração dos judeus na Palestina garantiria aos britânicos uma base de operação segura por lá (...).[5]

Iniciada a 1ª Guerra Mundial, os sionistas propuseram às autoridades inglesas um acordo: os sionistas trabalhariam para que os Estados Unidos entrassem na guerra em aliança com a Inglaterra e, em contrapartida, a Inglaterra apoiaria a criação do Estado Judeu na Palestina:

[William] Yale sublinha que que em 1916 “as perspectivas dos aliados eram pouco promissoras” e cita as declarações de um líder sionista, segundo as quais os sionistas trataram de convencer aos dirigentes britânicos de que “o melhor e talvez o único modo (e estavam certos) de induzir o presidente dos Estados Unidos a entrar na guerra era garantir a cooperação dos judeus sionistas, prometendo-lhes em troca a Palestina (...) Uma vez que os sionistas fizeram a sua parte, contribuindo por todos os meios para a entrada na guerra dos Estados Unidos, a Declaração Balfour de 1917 não foi senão a confirmação pública do pacto secreto entre ‘cavaleiros’ de 1916”.[6]

O ex-secretário britânico para as colônias, Lord Cavendish, confirmou esse acerto: “O objetivo [da declaração Balfour] era ganhar a simpatia dos judeus influentes e das organizações judias do mundo inteiro para o bloco aliado [...e] pode-se dizer que as negociações com os sionistas [...] tiveram de fato um efeito notável para adiantar a intervenção do governo dos Estados Unidos na guerra”.

Igualmente o ex-Primeiro-Ministro Lloyd George referiu-se a esse acordo: “Os líderes sionistas nos fizeram uma promessa definitiva de que se os aliados se comprometiam a facilitar a criação de um Estado para os judeus na Palestina, eles fariam todo o possível para fomentar a simpatia e o apoio dos judeus de todo o mundo à causa dos aliados. E cumpriram a sua palavra”.[7]

Em novembro de 1917, após o acerto com os sionistas, o Ministro do Exterior britânico James Balfour tornou pública uma carta ao Barão de Rothchild – a chamada Declaração Balfour – onde dizia que “O governo de Sua Majestade encara favoravelmente o estabelecimento de um Lar Nacional para o povo judeu na Palestina e empregará todos os seus esforços para facilitar a realização desse objetivo.

Como todos sabem, na divisão do botim da 1ª Guerra Mundial, a França recebeu da Liga das Nações os mandatos sobre o Líbano e a Síria satisfazer o Xerif Abdullah El Hussein, aliado dos ingleses. Ao adotarem a Declaração Balfour e o sionismo como balizas para a ação da Mandatária na Palestina – sem qualquer consulta à população árabe, que ali vivia há milênios –, a Liga das Nações e a Inglaterra escancararam as portas da Palestina para a ocupação sionista:

Artigo 2. O Mandatário será responsável em colocar o país sob as condições políticas, administrativas e econômicas que assegurem o estabelecimento do lar nacional judeu (...). Artigo 6. A Administração da Palestina (...) deve facilitar a imigração judaica sob condições desejáveis e deve encorajar, em cooperação com a agência judaica referida no Artigo 4, o assentamento de judeus na terra, incluindo terras do Estado e terras desocupadas não requisitadas para propósitos públicos (...).[8]

A seguir, Balfour elaborou, uma rigorosa legislação anti-imigração, que dificultou aos judeus perseguidos na Europa emigrarem para a Grã-Bretanha. Poucos depois, os Estados Unidos também criaram uma legislação anti-imigração (Lei Johnson-Reed), que fechou as portas da América do Norte aos judeus, que vigorou de 1924 a 1948.

As restrições colocadas por essas duas legislações – que bloquearam a emigração dos judeus perseguidos pelo nazismo para a Inglaterra e os EUA – foram decisivas para viabilizar a criação do Estado de Israel. Quando tiveram início as perseguições aos judeus na Alemanha nazista, os sionistas se opuseram à liberalização dessa legislação restritiva: “(...) nesta época houve um debate sobre a liberalização das leis de emigração nos Estados Unidos. Os sionistas se opuseram à liberalização com o argumento de que essa não era a solução para eles. Queriam uma solução política, não puramente humanitária; quer dizer, queriam um Estado.”[9]Morris Ernst, enviado internacional de Roosevelt para os refugiados, relata (...) que enquanto trabalhava para quem fugia de Hitler encontrasse um refúgio seguro, ‘(...) destacados líderes judeus me censuraram, desprezaram e acabaram me atacando como se fosse um traidor. (...) me acusaram abertamente de ajudar a liberalização da imigração [nos Estados Unidos] com o propósito de minar o sionismo político’.”[10]

Segundo Alison Weir – que pesquisou em profundidade essa questão – os sionistas dificultaram ao máximo qualquer alternativa de refúgio para os judeus perseguidos que não fosse a Palestina; a criação do Estado Judeu era mais importante do que proteger os judeus:

Diversos historiadores documentaram que os sionistas sabotaram as tentativas de encontrar lugares seguros para os refugiados judeus que fugiam da Alemanha nazista, com o objetivo de convencer o mundo que os judeus só podiam estar seguros em um Estado judeu. (...) O historiador israelense Tom Segev afirma: “(...) eles [os sionistas] esperavam que ‘os momentos de agitação e angústia’ abrissem oportunidades históricas sem precedentes: em concreto, que aumentassem a emigração para a Palestina. Ben-Gurion confiava em que a vitória dos nazis se converteria em ‘um fértil impulso para o sionismo’.” (...) Inclusive, houve certa conivência entre os sionistas e os líderes nazistas. (...) Alguns líderes sionistas idealizaram o que mais tarde veio a ser conhecido como o “acordo de transferência’ [“Há’avara” em iídiche], um pacto firmado com os nazistas em [25 de agosto de] 1933, em virtude do qual os judeus que quisessem ir para a Palestina podiam transferir para lá o seu capital. Como parte do acordo, estes sionistas rechaçaram o boicote que estava sendo realizado contra a Alemanha. (...) Tom Segev explica que o acordo “se baseou nos interesses complementares do governo alemão e o movimento sionista: os nazis queriam os judeus fora da Alemanha; os sionistas queriam que se instalassem na Palestina.[11]

Iván Gómez Avilés diz que os sionistas priorizaram a criação do Estado Judeu e não o resgate dos judeus perseguidos pelo nazismo:

(...) por terrível que pareça, o objetivo principal dos sionistas não foi resgatar aos judeus da Europa, mas criar um Estado Judeu na Palestina. (...) os sionistas estabeleceram um rígido sistema hierárquico para os candidatos a emigrar, dando prioridade a destacados membros do sionismo, a judeus com posses econômicas ou, na sua falta, a homens e mulheres jovens e sãos, dispostos a cultivar a terra, a empunhar uma arma e capazes de procriar. (...) Ralph Shoenmann proporciona um dado assombroso no seu livro A história oculta do sionismo: “Entre 1933 e 1935, a Organização Sionista Mundial rechaçou dois terços dos judeus alemães que pediram um certificado de imigração.” (...) Se o verdadeiro objetivo do sionismo tivesse sido resgatar os judeus europeus, não teriam sido criadas tais limitações e os certificados teriam sido concedido por ordem de chegada. O mesmo aconteceu com o Acordo Há’avara que unicamente garantia a emigração de judeus com recursos para dessa forma financiar o projeto de colonização sionista da Palestina. (...) Acordo Há’avara que requeria contar com um patrimônio líquido de ao menos 1000 libras para poder emigrar para a Palestina, uma autêntica fortuna para a época.[12]

Ao mesmo tempo que favorecia a emigração de judeus europeus para a Palestina, Balfour descartava a autodeterminação palestina:

(...) na Palestina nós não propomos nem mesmo realizar a consulta dos desejos dos atuais habitantes do país (...). As quatro principais potências estão comprometidas com o sionismo e o sionismo, certo ou errado, bom ou ruim, está arraigado na longa tradição, nas necessidades presentes, nas esperanças futuras, de importância muito mais profunda do que o desejo e as inclinações dos 700 mil árabes que habitam essa terra antiga. Em minha opinião, isso está certo.[13]

Em 1920, depois da intensa imigração judaica, organizada pelos sionistas, dos 760 mil habitantes da Palestina, apenas 80 mil (10,5%) eram judeus.[14] Isso comprova que o número de judeus que vivia na Palestina era muito reduzido, ao mesmo tempo que desmascara o mito sionista de que se tratava de “uma terra sem povo, para um povo sem terra”.

Como não podia deixar de ser, logo começaram a ocorrer atritos entre as crescentes levas de colonos judeus estrangeiros e as populações árabes locais: “Já no final da década de 1920, o descontentamento entre a população árabe-palestina levou a inúmeros conflitos com os assentamentos sionistas. A aquisição em massa de terras pelos judeus provocara a expulsão de dezenas de milhares de camponeses palestinos de suas terras. Segundo um relatório britânico, em 10% das vilas, um terço das famílias não possuía terras e outras 40% possuíam-nas em quantidade insuficiente para a sobrevivência.[15]

Mostrando que os palestinos tinham plena clareza dos objetivos sionistas na Palestina, em 1922 uma delegação árabe enviou uma resposta ao White Paper (Relatório Branco) de Winston Churchill, onde denuncia que “a intenção de criar a pátria judaica é provocar o desaparecimento ou a subordinação da população, da cultura e da língua árabe.[16]

Em 1931, apesar da intensa imigração promovida pelos sionistas, a população judaica na Palestina não passava de 175 mil pessoas (17%), em mais de um milhão de habitantes. Entre 1932 e 1938,a perseguição nazistas aos judeus – combinadas com as restrições à emigração para os EUA e a Grã-Bretanha – fizeram com que mais de 200 mil judeus fossem para a Palestina, expulsando um número cada vez maior de palestinos de suas terras.[17]

Em novembro de 1935, uma delegação de cinco partidos palestinos apresentou ao Alto Comissário Arthur Wauchope as reivindicações dos palestinos: criação de um governo democrático e de um parlamento com representação proporcional; proibição da venda de terras a judeus estrangeiros; imediata suspensão da imigração, visto que a população judaica já passava de 30%.

Inicialmente os ingleses aceitaram a criação de um Conselho Legislativo proporcional, mas, diante da pressão dos sionistas, que não aceitavam ficar em minoria (ou seja, negavam-se a aceitar um Estado democrático), arquivaram a proposta.

Com isso, os árabes entenderam que o caminho do entendimento estava fechado.

A REVOLTA PALESTINA DE 1936-1939 E O TERRORISMO SIONISTA

Insurgentes árabes em 1936.

Em abril de 1936, os partidos nacionalistas criaram o Alto Comitê Árabe. Pouco depois, estalou uma greve geral, com o apoio do referida Comitê, até que as reivindicações dos palestinos fossem aceitas, em especial a interrupção da imigração de judeus, a suspensão da venda de terras a eles e a substituição do mandato britânico por um governo eleito pela população palestina. Essa greve durou sete meses, ganhando contornos de uma revolta geral contra ingleses e judeus, inclusive com choques armados. O exército britânico trouxe reforços da Inglaterra, Egito e Malta, para sufocar a ferro e fogo o levante, e ainda contou com o apoio do Haganah (exército clandestino sionista) na luta contra os palestinos. Tudo isso fez com que a greve fosse encerrada em outubro de 1936, tendo sido mortos 8 ingleses, 80 judeus e centenas de palestinos.

Com a derrota da greve e dos grupos guerrilheiros que surgiram dela, as principais lideranças palestinas foram executadas ou presas e todo o seu armamento foi perdido, debilitando a resistência árabe. Em contrapartida, o Haganah e as milícias criadas nos assentamentos sionistas – treinadas e armadas pelos ingleses – se fortaleceram e passaram a estocar armas e explosivos, preparando-se para o seu objetivo de criar um Estado exclusivamente judaico.

Referindo-se a isso, “Richard Crossman, membro do Comitê Anglo-Americano, definiu a Agência Judaica, que administrava os interesses e negócios sionistas na Palestina, como ‘um Estado dentro do Estado, com seu próprio orçamento, gabinete secreto, Exército e, sobretudo, serviço de inteligência. É a organização mais eficiente e dinâmica que eu já vi e não tem medo de nós [os britânicos]’’.”[18]

Frente à radicalização da luta entre palestinos e judeus –, o que fortaleceu o nacionalismo árabe –, se debilitou o domínio inglês em todo o Oriente Médio e a Inglaterra passou a discutir, a partir de 1937, a divisão da Palestina em um Estado judeu e um Estado árabe. Em 1939, para contentar os árabes e poder contar com o seu apoio na guerra que se aproximava, a Câmara dos Comuns britânica aprovou o chamado “Livro Branco” que previa a independência condicional da Palestina após dez anos e limitava a imigração de judeus para a Palestina em 15 mil a cada ano, durante os cinco anos seguintes (1939 e 1944), o que evidentemente não foi respeitado, visto que nesse período entraram clandestinamente na Palestina 150 mil judeus a mais do que o previsto.

Nessa época, foram formados diversos grupos terroristas sionistas. O primeiro deles foi o Irgun (Organização do Exército Nacional), saído em 1938 do Haganah. O Irgun notabilizou-se pela colocação de bombas nos populosos mercados árabes das principais cidades da Palestina, buscando criar um clima de terror entre os árabes, para inibir qualquer resistência ao projeto sionista e forçá-los a abandonar a Palestina, abrindo caminho para a vinda de novos imigrantes judeus:

Shapira [historiadora sionista ortodoxa] informa que, durante a revolta árabe de 1936-39, o Irgun Zvai Leumi entregou-se a um “uso incontido do terrorismo”; “indiscriminados morticínios em massa de velhos, mulheres e crianças”; execução de judeus ‘”suspeitos de passarem informações, muito embora algumas dessas pessoas fossem totalmente inocentes”; “extorsão de fundos e atos de roubo (...) na comunidade judaica para financiar suas ações”; “ataques contra os britânicos, sem qualquer consideração pelos possíveis ferimentos infligidos aos passantes, e o assassinato a sangue frio de britânicos.[19]

David Ben Gurion justificaria essas ações afirmando que “sou partidário da transferência forçada [dos árabes], não vejo nada imoral nisso.[20] E Yossef Weitz, um dos ideólogos do sionismo, reforçou essa opinião: “A transferência não serve só a uma meta, reduzir a população árabe; serve também a um segundo objetivo, em nenhum sentido menos importante: obter terra atualmente cultivada pelos árabes e liberá-la para a sua colonização pelos judeus.[21] Em seu 22º Congresso Mundial, os sionistas aprovaram a exigência de um Estado Judaico em toda a Palestina.

Frente à política inglesa de limitar a imigração judaica e reprimir os atos terroristas, os sionistas passaram a ter os ingleses também como alvos, realizando atentados contra policiais e militares ingleses. Ao mesmo tempo, iniciaram uma maior aproximação com os Estados Unidos, buscando tê-los como aliados alternativos.

Com o início da 2ª Guerra Mundial, estabeleceu-se uma trégua informal entre o Irgun e os ingleses. Não concordando com isso, Abraham Stern e a maioria dos militantes do Irgun afastaram-se dele e criaram o grupo Lutadores pela Liberdade de Israel – mais conhecido como Stern Gang – que retomou os atos terroristas contra árabes e ingleses. Em 1943, chegou à Palestina Menahem Begin, que reorganizou o Irgun e passou a competir com o Stern em brutalidades e em atos terroristas.

Em 22 de julho de 1946 o Irgun explodiu o King David Hotel, em Jerusalém, matando 91 pessoas – ingleses, árabes e judeus – e deixando 41 feridos. O Irgun, de Menahem Begin, também foi o responsável pelo assassinato, em 6 de novembro de 1944, de Lord Moyne, Ministro Britânico para o Oriente Médio, e, em 17 de setembro de 1948, do Conde Folke Bernadotte, encarregado pela ONU de ser o seu Mediador Especial na Palestina. Anos depois, o terrorista Menahem Begin foi eleito Primeiro Ministro de Israel e sob seu governo ocorreu o massacre criminoso de Sabra e Chatila.

A DIVISÃO DA PALESTINA SEM QUALQUER CONSULTA AO POVO PALESTINO

Em 29 de novembro de 1947, ONU aprovou a Partilha da Palestina.

Em fevereiro de 1947, enfraquecida pela guerra que recém findara, a Grã-Bretanha anunciou que se retiraria da Palestina até 15 de maio de 1948. Lavando as mãos pelo que pudesse ocorrer após a sua saída, em um país dilacerado pelo conflito entre palestinos e judeus, provocado exatamente por ela. A Inglaterra repassou, então, a solução do problema para as Nações Unidas.

Nesse momento, a população árabe na palestina era de 1,2 milhões (66%) e a de judeus de 600 mil (33%). Em seguida ao anúncio britânico, cinco Estados membros da ONU – Egito, Iraque, Arábia Saudita, Líbano e Síria – propuseram uma sessão especial da Assembleia Geral da ONU, para deliberar sobre “o término do Mandato britânico na Palestina e a declaração da sua independência”, o que não foi aceito.

Em maio de 1947, foi formado o Comitê Especial das Nações Unidas para a Palestina (UNSCOP), com a tarefa de apresentar à Assembleia Geral uma proposta de solução para o problema palestino. Dos 11 países que o formavam, nenhum era árabe! Ao final dos seus trabalhos, sete membros do UNSCOP propuseram a partilha da Palestina em dois Estados independentes, com Jerusalém sob uma administração internacional, e três defenderam um Estado federativo palestino, tendo Jerusalém como capital. Em 31 de agosto, o UNSCOP apresentou o seu relatório à Assembleia Geral da ONU. Em setembro, foi constituída uma Comissão mais ampla para examinar mais detidamente o relatório proposto. Com 25 votos a favor, 13 contra e 17 abstenções – portanto com menos de 50% dos votos –, a referida comissão aprovou a partilha da Palestina em dois Estados independentes.

Agora faltava a votação da Assembleia Geral, prevista para o dia 26 de novembro, que necessitava uma maioria de dois terços dos votantes para ter validade. Diante das dificuldades para obter os votos necessários para a sua aprovação, o presidente Osvaldo Aranha, brasileiro, adiou por duas vezes a votação, dando mais tempo ao lobby sionista para obter os votos que faltavam.

André Gattaz relata:

Oswaldo Aranha foi orientado pelo Ministério das Relações Exteriores a defender a mesma posição que fosse assumida pelos Estados Unidos (…). Segundo Dan Kurzman, um dos principais historiadores sionistas, esses dois dias foram essenciais para se obter os votos de Libéria, Taiti e Filipinas (que em plenário já havia se pronunciado contra a partilha) (...). Várias nações foram ameaçadas de retaliações financeiras se votassem contra a partilha, enquanto o voto com os Estados Unidos era premiado com a concessão de empréstimos especiais. (...) O representante libanês, Camille Chamoun (...) denunciou em seu discurso as manobras de bastidores efetuadas por representantes norte-americanos e sionistas para angariar votos (...) “sistema tirânico de abordar as delegações em seus quartos de hotel, em corredores e antessalas, ameaçá-las com sanções econômicas ou dar propinas e fazer promessas para compeli-las a votar de uma forma ou outra” (…). Segundo o raciocínio que orientou a partilha, era importante que o Estado judaico tivesse uma maioria judaica, e que se reduzisse ao mínimo o número de judeus que ficariam no Estado árabe. Isso foi conseguido através de uma complicada (…) divisão do território, que através da criação de vários enclaves, deixaria apenas 10.000 judeus fora do Estado judaico e garantiria a maioria judaica no seu próprio Estado.[22]

A pressão estadunidense foi brutal:

O financista e durante muito tempo assessor presidencial Bernard Baruch comunicou à França que se votasse contra a partição, perderia a ajuda dos Estados Unidos. O principal assessor na Casa Branca, David Niles, se encarregou de pressionar a Libéria através do magnata da borracha Harvey Firestone, que ameaçou o presidente liberiano de que a Firestone cancelaria a expansão prevista no país se a Libéria não votasse a favor da partição. A Libéria votou sim. Aos delegados latino-americanos foi dito que o projeto de construção da Rodovia Panamericana teria mais possibilidade de prosperar se votassem afirmativamente. Às esposas dos delegados lhes presentearam com casacos de visón (a mulher do delegado cubano devolveu o seu) (...) ao Haiti prometeram ajuda econômica se mudasse o seu rechaço inicial à partição. (...) ameaçaram Filipinas com sete leis pendentes de aprovação no Congresso dos Estados Unidos, que afetavam esse país. Antes da votação do plano, o delegado filipino havia pronunciado um veemente discurso contrário à partição (...). Vinte e quatro horas mais tarde, depois de intensas pressões sionistas, o delegado filipino votou a favor da partição.[23]

Vários dias antes de que se realizasse a votação, parecia que o plano de partição poderia não obter a necessária maioria de dois terços dos votantes, mas diversos adiamentos deram aos sionistas e a seus simpatizantes no governo dos Estados Unidos a oportunidade de exercer pressão sobre China, Etiópia, Grécia, Haiti, Libéria e Filipinas, que pretendiam votar contra a partição. Somente a Grécia resistiu à pressão.[24]

Stephan Fernandes Houat complementa:

Ficou claro para todos que os adiamentos eram uma tentativa de dar mais tempo aos sionistas e aos americanos para que eles cooptassem mais países a dar um voto favorável à Partilha (...). De acordo com o relato de T.R.Little, para José Figueres, um ex-Presidente da Costa Rica (...) foi dado um talão de cheques em branco, enquanto as esposas dos delegados latino-americanos receberam casacos de vison. Para K. Roosevelt, o voto do Haiti (...) foi assegurado através de Adolph Berle, que usou a promessa de assistência econômica americana.[25]

Finalmente, a deliberação ocorreu em 29 de novembro de 1947, e a partilha da Palestina foi aprovada com 33 votos a favor, 13 contra e 10 abstenções, sem qualquer consulta ao povo palestino, o verdadeiro dono do país.

Lamentavelmente, a então União Soviética também votou a favor da partição da Palestina “por razões de sua política internacional, pois os partidos comunistas do Oriente Médio apoiavam a criação do Estado de Israel”.[26]

Os palestinos solicitaram levar essa questão à Corte Internacional de Justiça, mas esse direito lhes foi negado, por 21 votos contra 20.

UMA RESOLUÇÃO CONTRÁRIA AO DIREITO INTERNACIONAL E À CARTA DA ONU E SEM LEGITIMIDADE

Por absurdo que pareça, a Resolução nº 181 que aprovou a partilha destinou 57% do território palestino, incluindo as terras mais férteis, aos judeus, vindos de outros continentes, que somavam apenas um terço da população e detinham apenas 5,7% das terras. Já os árabes – habitantes milenários da Palestina, que totalizavam dois terços da população – receberam apenas 43% da área do seu próprio país, exatamente a parte com mais dificuldade de acesso à água. Quanto à cidade de Jerusalém – lugar sagrado para cristãos, judeus e muçulmanos – deveria ficar sob a administração da ONU, compartilhada por árabes, judeus e cristãos.

A resolução recomendava: “a) Que o Conselho de Segurança tome as medidas necessárias previstas no plano para a sua execução; b) Que o Conselho de Segurança considere como ameaça contra a paz, ruptura de paz, ato de agressão (...) toda tentativa tendente a modificar pela força o regramento previsto pela presente resolução”.

Da mesma forma, recomendou a criação de dois Estados e a definição de um estatuto especial para Jerusalém, que ficaria sob administração da ONU: “Os Estados independentes árabe e judeu assim como o Regime internacional particular previsto pra a cidade de Jerusalém (...) começarão a existir na Palestina dois meses depois de finalizada a evacuação das forças armadas da Potência mandatária e, em todo o caso, o mais tardar em 1º de outubro”.[27]

Inconformados com a Resolução 181, os países árabes declararam que não se sentiam obrigados a cumprir essa decisão, uma vez que ela contrariava o princípio da autodeterminação dos povos, incluída na carta da ONU. Já os sionistas, apesar de aspirarem um Estado puramente judeu em toda Palestina, aceitaram taticamente a Partilha, vendo-a um primeiro passo para sua posterior expansão para o resto da Palestina. Ben-Gurion foi explícito nesse sentido:

O Estado judaico que no momento nos é oferecido não é o objetivo sionista. Dentro desta área não é possível resolver a questão judaica. Mas ele efetivamente pode servir como uma etapa decisiva no caminho para maior concretização do projeto sionista. Ele consolidará na Palestina, no mais breve prazo possível, a verdadeira força judaica que nos conduzirá à nossa meta histórica (...) O Estado judaico terá um extraordinário exército – não tenho dúvida de que nosso exército será um dos melhores do mundo – e por isso estou convencido de que não seremos impedidos de nos estabelecer no resto do país (...).[28]

Na verdade, a rejeição árabe à partilha foi conveniente ao projeto sionista, como confessou Menachen Begin, um dos líderes das ações terroristas do Irgun: “Minha maior preocupação nesses meses era que os árabes pudessem aceitar o plano das Nações Unidas. Então, nós teríamos uma grande tragédia: um Estado judaico tão pequeno que não poderia absorver todos os judeus do mundo”.[29]

Além dos já referidos subornos, pressões e chantagens – que por si só invalidam a sua aprovação – a Resolução 181 foi contrária ao Direito Internacional e à própria Carta da ONU, além de ilegítima, por diversas razões, entre as quais destacamos:

1)       A Resolução 181 violou a Carta da ONU que, entre os seus princípios, garante o direito à autodeterminação dos povos.

2)       A Resolução 181 violou o art. 22 do Pacto da Liga das Nações, que anteriormente havia reconhecido a independência do povo palestino.

3)       A ONU não possuía qualquer soberania sobre a Palestina, não podendo, portanto, privar o povo palestino da sua independência.

4)       As resoluções da Assembleia Geral da ONU – diferentemente das resoluções do Conselho de Segurança (que nunca tomou qualquer decisão sobre o assunto) – não são obrigatórias para os Estados membros. Assim, a resolução só poderia ser uma “recomendação”, sem qualquer caráter vinculativo, não tendo o poder de criar dois novos Estados.

5)       A ONU ignorou o Direito Internacional e incorreu na “negação de justiça” ao não aceitar o pedido dos países árabes de fazer uma consulta ao Tribunal de Justiça Internacional sobre a sua competência nessa questão, retirando a validade jurídica da Resolução 181.

6)        A Resolução 181, ao destinar aos judeus 57% do território da Palestina e apenas 43% aos árabes-palestinos, foi de tal forma parcial e benéfica aos judeus e de tal forma contrária e prejudicial aos árabes-palestinos, que perdeu qualquer ilegitimidade. Não bastasse isso, “a parte da Palestina assignada aos árabes palestinos era preponderantemente montanhosa, desértica e improdutiva, enquanto que a maior parte da fértil faixa costeira, desde Acre, ao norte, até Islud, ao sul, foi destinada ao Estado Judeu.”[30]

A “CATÁSTROFE” (NAKBA) E A LIMPEZA ÉTNICA SIONISTA

"Nakba".

Tão logo a Partilha foi provada, os sionistas prepararam-se para ocupar o resto da Palestina. Além de numeroso armamento conseguido nos EUA – com o apoio do Presidente Harry Truman –, compraram volumosos carregamentos de armas tchecas. Por fim, as tropas inglesas, em retirada, deixaram que os sionistas se apossassem de boa parte dos seus arsenais. A essa altura, o Haganah já contava com 50.000 homens e passou a atuar em conjunto com as organizações terroristas Irgun e Stern.

Um dos problemas a resolver era o que fazer para eliminar as 400 aldeias e os mais de 800 mil palestinos que haviam ficado no território destinado ao “Estado Judeu” definido na partilha da ONU. A Resolução da ONU dizia que eles teriam todos os seus direitos respeitados. Os sionistas iniciaram, então, uma série de ações militares contra os povoados rurais palestinos. Em dezembro de 1947, Ben Gurion determinou a adoção do que ele chamou de “defesa agressiva; a cada ataque árabe devemos responder com um golpe decisivo: a destruição do lugar ou a expulsão dos residentes, paralelamente à captura do lugar”. (...) Quando estivermos em ação (...) devemos lutar com força e crueldade, sem permitir que nada nos detenha”.[31]

Como os palestinos não realizaram qualquer ataque, em dezembro de 1947, os israelenses investiram contra as aldeias de Deir Ayyub e Beit Affa. Pouco depois, foi atacada a aldeia de Khisas: “Os soldados judeus atacaram a aldeia em 18 de dezembro de 1947 e começaram a explodir casas ao azar, em plena noite, enquanto seus ocupantes ainda dormiam profundamente. Quinze aldeãos, cinco deles crianças morreram durante o ataque.[32] A seguir, a aldeia escolhida foi Balad al Shaykh: “O ataque teve lugar em 31 de dezembro, durou três horas e deixou mais de sessenta palestinos mortos”.[33] Essas ações se intensificaram em janeiro e fevereiro de 1948.

Em março de 1948, a liderança sionista aprovou o “Plano Dalet”, tendo por meta a limpeza étnica da Palestina:

Em (...) 10 de março de 1948, um grupo de onze homens, constituído por veteranos líderes sionistas e jovens oficiais militares judeus, puseram os toques finais a um plano para a limpeza étnica da Palestina. Nessa mesma tarde, foram enviadas ordens militares às unidades sobre o terreno para preparar a expulsão sistemática dos palestinos de vastas áreas do país. As ordens estavam acompanhadas de uma descrição detalhada dos métodos que haviam de ser empregados para desalojar pela força às pessoas: intimidação em grande escala; assédio e bombardeio das aldeias e centros populacionais; incêndio de casas, propriedades e bens; expulsão; demolição; e, finalmente, colocação de minas entre os escombros para impedir o regresso de qualquer um dos expulsos. A cada unidade foi proporcionada sua própria lista de aldeias e bairros selecionados como alvo desse plano geral. Com o nome em código de Plano D (Dalet em hebreu), era a quarta e definitiva versão (...). Uma vez que a decisão foi tomada, se tardou seis meses em completar a missão.[34]

O massacre de 9 de abril de 1948, no povoado de Deir Yassin – quando forças do Irgun e Stern, apoiadas pela Haganah, atacaram e assassinaram 254 pessoas, homens, mulheres, crianças e velhos – é emblemático do que aconteceu em centenas de outras aldeias palestinas, durante esses seis meses de limpeza étnica sionista. Fahim Zaydan, que na época tinha doze anos e, apesar de ferido, sobreviveu, relata: “Nos levaram, um detrás do outro; dispararam a um ancião e quando uma de suas filhas gritou, lhe dispararam também. Logo chamaram meu irmão Muhammad e lhe dispararam na nossa frente e quando minha mãe, que levava a minha irmã nos braços, pois ainda estava amamentando, se lançou sobre ele chorando, também lhe dispararam.[35] O historiador Michael Palumbo relata o testemunho do médico suíço Jacques de Reynier, que chegou ao final do massacre de Deir Yassin:

(...) “a limpeza foi feita com metralhadoras e depois granadas de mão. Foi terminada com facas, qualquer um podia ver isso”. O médico suíço ficou particularmente chocado por uma das terroristas que segurava uma faca. “Uma bonita jovem com olhos criminosos, mostrou-me a faca com sangue ainda pingando, ela me mostrava aquilo como se fosse um troféu.” O comportamento dos terroristas sionistas lembrou o médico da Cruz Vermelha de seu serviço durante a Segunda Guerra Mundial. “Tudo o que eu pensava era nas tropas SS que vi em Atenas”. O médico da Cruz Vermelha viu “uma jovem apunhalar um casal de velhos sentados na entrada de sua cabana.[36]

Um soldado, que participou do massacre de Deir Yassin, relatou, anos depois:

(...) um soldado “pegou dois árabes, amarrou-os de costas um para o outro, pôs um ‘dedo’ de dinamite entre suas cabeças, atirou contra a dinamite e as cabeças explodiram’ (...) ”não queríamos enterrar” as dezenas de cadáveres de árabes “porque era trabalho demais” e por isso acabamos por queimá-los (...). Jogamos todos os corpos num poço, derramamos gasolina neles e os queimamos.” (...) “presenciamos uma cena das mais terríveis e chocantes (...) homens do IZL atiravam cadáveres de árabes para dentro de uma casa do alto do telhado, enquanto ardia um gigantesco incêndio. Parecia um crematório. (...) O fedor no ar era insuportável.” Outros depoimentos davam conta de “residências nas quais famílias inteiras haviam sido fuziladas” e de mulheres alvejadas nos genitais” porque – explicava-se – “os combatentes árabes se disfarçavam, de mulheres e os membros do IZL queriam tirar a limpo.[37]

Após a chacina de Deir Yassin, Menahen Begin enviou mensagem as tropas sionistas parabenizando-as pelo massacre: “Aceitem minhas felicitações por esta esplêndida ação de conquista. (...) Em todas as partes, igual que em Deir Yassin atacaremos e aniquilaremos o inimigo. Deus, Deus, tu nos elegeste para a conquista.”[38] Em seguida, convocou a imprensa para exibir, com júbilo, os corpos das vítimas, com o claro objetivo de levar os árabes – através do pavor – ao abandono de suas terras e à busca do exílio para preservar suas vidas.

Comentando o terror psicológico que Israel implementou para forçar a fuga dos palestinos, André Gattaz nos diz: “Um oficial da Haganah que escreveu sobre os métodos usados pelos judeus, Leo Heiman, relatou que jeeps com alto-falantes transmitiam ‘sons de horror’, como gritos, choro e lamúrias das mulheres árabes, o som de sirenes e de alarmes de incêndio e a voz sepulcral de um locutor que, em árabe, exortava: ‘Salvem suas almas, vocês que são crentes! Corram para salvar a vida!’”[39] Posteriormente, os sionistas afirmariam, hipocritamente, que os palestinos haviam abandonado suas terras “espontaneamente” e, por isso, haviam perdido o seu direito sobre elas.

Alguns anos depois, Menahen Begin diria com cinismo:

(...) por todo o país os árabes (...) eram possuídos de um pânico infinito e começavam a fugir para salvar suas vidas. Esta fuga em massa logo se transformou em uma explosão enlouquecida e sem controle. Dos quase oitocentos mil palestinos que viviam no atual território do Estado de Israel, só uns cento e sessenta e cinco mil permanecem ali. Dificilmente se pode exagerar a importância política e econômica desse desdobramento.[40]

Muitas outras localidades palestinas – como Hawassa, Qastal, Khirbet, Nasr ed Deen, Ein az Zeitun, Qisarya, Atlit, Daliyat Al Rawha, Qalunya, Saris, Beit Surik, Biddu, Sasa, entre tantas outras – sofreram o mesmo tipo de atrocidades. Em relação ao ataque a Sasa, realizado à meia noite, o comandante sionista Moshe Kalman declarou cinicamente: “Nos topamos com um vigia árabe que estava tão surpreso que não perguntou ‘min hada?’, quem é?, mas ‘esh hada?’, o que é isso? Um de nossos homens que sabia árabe lhe respondeu com humor ‘hada eshf’, isto é fogo e lhe disparou uma rajada (...) deixamos atrás trinta e cinco casas demolidas e entre sessenta e oitenta cadáveres.[41]

Segundo André Gattaz:

(...) havia certo padrão nas operações: os homens jovens e adultos da cidade eram levados à praça central da aldeia, onde eram fuzilados na frente de seus parentes. A isto seguiam-se alertas por parte dos sionistas para que os demais fugissem se não quisessem sofrer o mesmo destino. Muitas vezes era-lhes concedida apenas meia hora para deixar suas casas, após o que os que restassem seriam mortos. Nas marchas forçadas que se seguiram, em que mulheres, crianças e idosos eram levados às fronteiras pelos soldados israelenses, milhares de pessoas morreram devido ao calor, às doenças e aos maus tratos por parte dos soldados. Nas aldeias desocupadas, os israelenses passavam ao saque sistemático.[42]

As notícias desses massacres levavam os habitantes das aldeias vizinhas a fugir espavoridos antes mesmo da aproximação das tropas sionistas. Mas estes não se limitaram aos vilarejos rurais: “Outro acontecimento de consequências importantes foi a ocupação sionista das grandes cidades palestinas e a fuga da população urbana árabe. Entre o final de abril e o dia 14 de maio de 1948, os sionistas concentraram seus esforços em Haifa, Jaffa, e Jerusalém, cidades de população mista e que haviam sido destinadas pela ONU ao Estado árabe (as primeiras) ou à administração internacional (Jerusalém).[43]

O Historiador judeu – não sionista – Ilan Pappé relatou com detalhes os horrores a que foram submetidos os palestinos em Haifa:

A campanha terrorista judia, que havia começado em dezembro, incluiu bombardeio pesado, fogo de franco-atiradores, rios de petróleo e combustível acesos que baixavam pelo costado da montanha e barris repletos de explosivos (...) se intensificou em abril. No dia 18 desse mês (...) comandante britânico (...) informou que em dois dias as forças britânicas se retirariam (...) era o único obstáculo que impedia às forças judias atacar (e tomar) diretamente as áreas palestinas, nas quais ainda viviam mais de cinquenta mil pessoas. As portas se abriam de para em par para a expulsão dos árabes de Haifa. Essa tarefa foi entregue à brigada Carmeli, uma das melhores unidades do exército judeu (...) quem estava no comando era Mordechai Maklef (..) e as ordens que deu a suas tropas foram claras e simples “Matai a qualquer árabe que encontreis, queimai todos os objetos inflamáveis e forçai as portas com explosivos.” (...) Quando essas ordens começaram a ser executadas (...) a comoção e o pavor foram tais que, sem empacotar nenhum pertence, as pessoas começaram a deixar a cidade em massa. Movidos pelo pânico se dirigiram para o porto, onde esperavam encontrar um barco ou um bote que os levasse para longe da cidade. (...) Às primeiras horas do amanhecer do dia 22 de abril, a população começou a chegar em massas ao porto (...) Através de alto-falantes se instou na população a reunir-se na velha praça do mercado (...) até que se pudesse organizar uma evacuação ordenada pelo mar. (...) Os oficiais da brigada (...) ordenaram a seus homens fixar obuses de setenta e seis milímetros nas ladeiras que dominavam o mercado e o porto (...) e bombardear a multidão reunida (...) alvo fácil para os atiradores judeus. (...) quando o bombardeio começou (...) a multidão entrou no porto (...) e dezenas de pessoas saltaram aos botes que ali estavam atracados, e dessa maneira começou a fuga da cidade. (...) “Os homens pisoteavam a seus amigos e as mulheres aos seus próprios filhos. Os botes que havia no porto logo se encheram de seres humanos. O amontoamento neles era horrível. Muitos viraram e afundaram com todos os seus passageiros.[44]

A ocupação sionista de Jaffa, cidade de maioria árabe, vizinha a Tel Aviv, também é descrita por Ilan Pappé: “Jaffa foi a última cidade a ser tomada, o que ocorreu em 13 de maio, dois dias antes do final do mandato. (...) A área da Grande Jaffa incluía vinte e quatro aldeias e dezessete mesquitas; na atualidade ainda existe uma dessas últimas, mas nenhuma das aldeias se mantém de pé. (...) cinco mil efetivos do Irgun e da Haganah atacaram a cidade (...) Quando Jaffa caiu, seus cinquenta mil habitantes foram expulsos com a ‘ajuda’ de mediadores britânicos”.[45] E até o historiador sionista Dan Kurzman teve que reconhecer a barbárie desatada: “Com a vitória completa, os soldados do Irgun (...) começaram o saque Inicialmente eles entravam nas lojas e selecionavam itens específicos de joalheria ou roupas para suas mulheres e namoradas, mas logo estavam saqueando as lojas abandonadas, carregando tudo o que fosse móvel, de móveis a geladeiras. O que não era móvel – janelas, máquinas pesadas, lustres – eles quebravam em um frenesi de destruição.[46]

Após a limpeza étnica em Haifa, Acre, Baysan, Nazaré, Lydda, Ramle, Beersheba, Shef Aram, Safed e Jaffa – todas destinadas pelo Plano de Partilha ao Estado Árabe –, restaram poucas localidades com alguma população árabe significativa na Palestina, das quais logo os seus habitantes palestinos também foram expulsos, para dar lugar aos novos imigrantes judeus. Foi o caso da aldeia de Shaykh Muwannis (Munis, como é conhecida hoje), atacada pelo Irgun. Sobre as ruínas dessa aldeia, ergue-se hoje o elegante campus da Universidade de Tel Aviv, com a qual tantas universidades no mundo se orgulham de manter convênios e colaboração. Algumas poucas casas que ali restaram foram convertidas em sede do clube dessa “prestigiosa universidade”, cujos alicerces se assentam sobre o sangue e a dor dos palestinos massacrados.

Atormentado por tanta barbárie, Aharon Zisling, do Mapam, afirmou “que ‘eu não conseguia dormir à noite. (...) Judeus também têm cometido atos nazistas’ (...). Um respeitado funcionário sionista, Yosef Nahmani observou (...): ‘como foi que eles chegaram a este grau de crueldade, como nazistas? (...) o co-líder do Mapam, Meir Ya’ari, declarou que ’muitos de nós estamos perdendo nossa imagem [humana]’.[47]

Em despacho da Legação brasileira em Beirute, o ministro Thompson Flores encaminhou ao Ministério das Relações Exteriores correspondência do Frei brasileiro Martinho Penido Burnier – que se encontrava na Palestina realizando estudos bíblicos – em que este relata as pouco conhecidas perseguições às demais religiões que não a judaica:

(...) quero aludir, em primeiro lugar, à conduta desta guerra pelas tropas e autoridades sionistas sobretudo no que diz respeito às atrocidades cometidas por eles sobre as populações civis e indefesas; aos saques sistemáticos e metódicos de aldeias inteiras ou de certos bairros cristãos de Jerusalém; aos roubos, saques e vandalismos de toda espécie praticados nos edifícios de instituições religiosas. (...) Se passarmos a falar da maneira sionista de conduzir a guerra, temos a tristeza de constatar que eles rivalizam com os nazistas da última guerra mundial, a ponto de que Mr. Neville, Cônsul Geral da França (pessoa todavia mais que insuspeita, dada a sua maior simpatia pelo movimento sionista, antes destas hostilidades) declarou solenemente que “28 dias de guerra e 17 dias de trégua ensinaram-me mais sobre o nazismo do que 20 anos de regime de Hitler” (declaração proferida no nosso convento de Santo Estevão, no dia 27/06/48 e por mim cuidadosamente anotada). (...) Tais abominações foram praticadas ainda no Convento das Freiras de San’Ana, de Haifa; nas Igrejas dos Gregos-Ortodoxos e dos Gregos-Melquitas de Haiffa, na Capela das Irmãs Franciscanas Missionárias do Egito, de Tiberíades, na Igreja dos Gregos-Melquitas de Safet (...).[48]

Desmentindo o mito sionista de que a expulsão da população palestina ocorreu no contexto de uma guerra entre Israel e os países árabes, o historiador israelense Ilan Pappé esclarece:

Tudo isso ocorreu antes que um único soldado regular árabe houvesse entrado na Palestina (...) Entre 30 de março e 15 de maio, as forças judias tomaram duzentas aldeias e expulsaram seus habitantes. Este é um fato que é necessário repetir, pois desmente o mito israelense de que “os árabes” saíram correndo assim que a “invasão árabe” foi posta em marcha. Quase a metade das aldeias árabes já haviam sido atacadas quando os governos árabes finalmente decidiram (a contragosto, como sabemos) enviar suas tropas ao país. Outras noventa aldeias foram arrasadas entre 15 de maio e 11 de junho de 1948.[49]

A RETIRADA INGLESA E A PROCLAMAÇÃO DO ESTADO DE ISRAEL

Em 14 de maio de 1948, sem esperar a partida dos ingleses, Ben Gurion – líder da Agência Judaica – proclamou a fundação do Estado de Israel – reconhecido 11 minutos depois pelo presidente Henry Truman, dos EUA. Os países árabes vizinhos – a maioria de caráter feudal ou semifeudal –, em reação à limpeza étnica em andamento[50] e pressionados por seus povos, decidiram a enviar a Palestina um pequeno número de voluntários, mal treinados e mal armados, que foram facilmente derrotados pelos israelenses. O exército jordaniano, o único que poderia fazer frente aos sionistas, omitiu-se na luta por conta de um acordo secreto com Israel, visando apoderar-se da Cisjordânia. Segundo Ilan Pappé:

Grã-Bretanha e França só se preocuparam em consultar se os países árabes vizinhos poderiam anexar as áreas destinadas aos palestinos e basicamente receberam com satisfação a notícia de que um desses vizinhos, a Jordânia, já estava negociando com os judeus uma possível tomada da Palestina “árabe”. Chegado o momento, os jordanianos efetivamente tomaram o controle sobre essa região, que se conhece como Cisjordânia, a maior parte da qual se anexou sem disparar um único tiro.(...) No começo de fevereiro de 1948, o primeiro ministro jordaniano havia voado a Londres para informar sobre a conclusão de sua aliança tácita com os líderes judeus acerca da partição da Palestina entre os jordanianos e o Estado judeu quando o Mandato chegasse ao fim; os jordanianos anexariam a maioria das áreas destinadas aos árabes na Resolução de Partição e, em troca, não se uniriam às operações militares conjuntas contra o Estado judeu.[51]

Israel aproveitou-se dessa “guerra” com os países árabes para “posar de vítima” e ocupar todo o território palestino, com exceção da Cisjordânia – entregue à Jordânia – e de Gaza, que ficou sob controle egípcio.

As atrocidades sionistas prosseguiram durante todo o ano de 1948, sob os olhares complacentes da comunidade internacional e da ONU: “segundo o ex-diretor dos arquivos do exército israelense, ‘em quase todas as aldeias árabes ocupadas por nós durante a Guerra de Independência, foram cometidos atos definidos como crimes de guerra, tais como assassinatos, massacres e estupros’.[52] Outro massacre, ainda mais terrível que o de Deir Yassin, ocorreu em 28 de outubro de 1948, em Ad Dawayima, a cinco quilômetros de Hebron:

No dia 28 de outubro, meia hora após a oração do meio-dia, recorda o mukhtar, vinte veículos blindados entraram na aldeia desde Qubayba enquanto, ao mesmo tempo, os soldados a atacavam desde o flanco oposto (...) desde os blindados, os soldados usaram suas armas automáticas e obuses até abrir passo na aldeia em um movimento semicircular. De acordo com a rotina estabelecida, rodearam a aldeia por três lados e deixaram o lado oriental aberto com o objetivo de expulsar em uma hora os seis mil palestinos que existiam na aldeia. Quando isso não ocorreu, os soldados saltaram de seus veículos e começaram a atirar de forma indiscriminada nas pessoas, que correram a refugiar-se na mesquita ou fugiram para Iraq AL Zagh, uma gruta santa que havia ali perto. No dia seguinte, o mukhtar aventurou-se a regressar ao lugar para descobrir horrorizado que os cadáveres de homens, mulheres e crianças – entre os quais se encontrava seu próprio pai – se empilhavam na mesquita e cobriam as ruas. Quando foi à gruta, encontrou a entrada bloqueada por dezenas de corpos. O mukhtar fez um censo da população e concluiu que faltavam 455 pessoas, entre as quais em torno de cento e setenta eram mulheres e crianças. Os soldados judeus que participaram do massacre também referiram às cenas terríveis que se deram na aldeia: bebês com os crânios abertos a golpes, mulheres violadas ou queimadas vivas em suas casas, homens apunhalados até morrer. (...) Nesse período, militares israelenses de todas as patentes e idades e com todo tipo de formação mataram de forma selvagem e impiedosa milhares de palestinos. Apesar das volumosas provas contra eles, nenhum desses israelenses foi julgado por crimes de guerra.[53]

O historiador sionista Benny Morris fornece detalhes tétricos desse massacre:

Um soldado, que foi testemunha ocular relatou que as FDI, capturando a aldeia “sem resistência”, inicialmente “matou cerca de 80 a 100 árabes [do sexo masculino], mulheres e crianças. As crianças eram mortas quebrando suas cabeças com paus. Não havia uma única casa sem mortos.” Os árabes restantes foram então enclausurados em casas, “sem comida nem água”, enquanto a aldeia era sistematicamente arrasada. “Um comandante ordenou que um solapador pusesse duas mulheres idosas em determinada casa (...) e que explodisse a casa com elas dentro. O solapador recusou-se. (...) O comandante ordenou então que seus homens pusessem as mulheres lá dentro e o horror foi cometido. Um soldado gabava-se de ter estuprado e atirado numa mulher. Uma mulher com um bebê recém-nascido nos braços era usada para limpar o pátio onde os soldados comiam. Ela trabalhou durante um dia ou dois. No fim, eles atiraram nela e no bebê. O soldado que fez seu relato como testemunha ocular concluía que oficiais preparados (...) se haviam transformado em assassinos primitivos, e isso não acontecia no calor da batalha (...) mas em consequência de um sistema de expulsão e destruição. Quanto menos árabes permanecessem, melhor. Este princípio é o motor político das expulsões e atrocidades.[54]

Ao final dessa limpeza étnica – que em nada ficou a dever à sanha nazista e que é conhecida pelos árabes como Nakba (“Catástrofe”) –, “se havia desterrado mais de metade da população original da Palestina (cerca de oitocentas mil pessoas), destruído 531 aldeias e despovoado onze bairros urbanos.[55] Jerusalém Ocidental foi ocupada por Israel e Jerusalém Oriental foi entregue à Jordânia, cumprindo o acordo secreto entre Israel e o governante jordaniano. Posteriormente, Jerusalém Oriental foi tomado por Israel.

O professor israelense Israel Shahak relata que essas aldeias palestinas foram “destruídas completamente, com suas casas, seus jardins e até com seus túmulos e cemitérios, de modo que não permaneceu literalmente pedra sobre pedra e aos visitantes de passagem dizia-se que ‘tudo estava deserto’.”[56]

Diante de tanta destruição, Yossef Weitz, Diretor do Fundo Judaico, afirmou com cinismo:

Fui visitar a vila de Um’ar. Três tratores estão terminando a destruição. Fiquei surpreso; nada em mim se comoveu diante da visão de destruição. Nenhum arrependimento e nenhum ódio, como se esse fosse o curso do mundo. Queremos nos sentir bem neste mundo e não em um mundo por vir. Queremos simplesmente viver, e os moradores daquelas casas de barro não queriam que vivêssemos aqui. Eles não só desejam nos dominar, como também queriam nos exterminar. [57]

Através da expulsão dos palestinos, os sionistas obtiveram as terras necessárias para a imigração massiva de colonos judeus para o recém-criado Estado de Israel e uma nova correlação populacional. Isso não foi fruto do acaso, mas o resultado de uma política premeditada dos líderes sionistas, sob o olhar complacente da ONU. Segundo Benny Moore:

A Resolução da Partição havia reservado cerca de 60% da Palestina para o Estado judaico; na maioria tratava-se de terras que não eram propriedade de judeus. Mas a guerra (...) se fosse vencida, como Ben-Gurion enxergava as coisas, pelo menos resolveria o problema de terras do Estado judaico. (...) “A guerra nos dará a terra. Os conceitos de ‘nosso’ e ‘não nosso’ são apenas conceitos de tempo de paz e durante a guerra perdem todo o seu significado. (...) No Negev, não haveremos de comprar terras. Vamos conquistá-las.”[58]

Como resultado da Nakba, o Estado de Israel – que pela Partilha das Nações Unidas receberia 56,5% da Palestina – apossou-se de 78%. Já o Estado Palestino – que ficaria com somente 43% do seu próprio país – deixou de existir, tendo 21,5% sido tomados por Israel, 20,5% pela Jordânia (através de acordo secreto com Israel) e 1,5% pelo Egito (que assumiu a Faixa de Gaza). Em consequência, mais de 900 mil palestinos passaram a viver confinados em campos de refugiados na Cisjordânia, Faixa de Gaza, Egito, Jordânia, Síria, Líbano, Iraque e outros países árabes. Hoje, com seus descendentes, são mais de cinco milhões de refugiados palestinos, espalhados por todo mundo. Desses, um milhão e meio vivem em 58 campos de refugiados oficiais, coordenados pela UNRWA.

Referindo-se a este processo de desapossamento e matança do povo palestino, o historiador israelense Tom Seguev afirmou: “Israel nasceu do terror, da guerra e da revolução, e a sua criação exigiu certa dose de fanatismo e crueldade.”[59]

CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO, CONFISCO DE TERRAS, PROIBIÇÃO DE RETORNO

Concluída, em fins de 1948, a limpeza étnica e a ocupação de suas terras, nem por isso acabou o martírio dos palestinos. Afora mais de quinze mil mortos durante a Nakba, outros dez mil foram aprisionados pelas tropas israelenses. Prosseguiram os saques às suas casas, o confisco de suas terras, a profanação de seus lugares sagrados. Sua liberdade de deslocamento, expressão ou manifestação foi suprimida. Em Haifa, os cerca de cinco mil palestinos que restaram, após a expulsão de quase setenta mil, foram confinados em um único bairro – Wadi Nisnas – em uma das zonas mais pobres da cidade, onde passaram a viver em um gheto, similar aos que os nazistas criaram para os judeus durante a II Guerra Mundial.

Grandes operações de “busca e captura” passaram a ser realizadas, aprisionando em diversos campos de concentração todos os suspeitos de serem refugiados que retornavam aos seus lares ou de serem opositores da ocupação. Segundo matéria da Revista Carta Capital, de outubro de 2014:

O jornalista Yazan al-Saadi escreveu artigo publicado pela versão inglesa do diário Al-Akhbar sobre a existência de pelo menos 22 campos de concentração e de trabalho, grande parte deles em território que passara a se chamar Israel, entre 1948 e 1955. (...) Campos de concentração cercados de torres, rodeados por arame farpado, sentinelas nos portões, lembram aqueles famosos na Polônia. Ali, homens entre 16 e 55 anos eram tratados com a maior severidade, tidos como prisioneiros de guerra. De acordo com uma nota de novembro de 1948 no diário de David ben Gurion, o mítico líder sionista, havia perto de 9 mil prisioneiros de guerra em campos naquele ano. (...) Declarou um detido em Umm Khalid entrevistado por Abu Sitta e Rempel: “Tínhamos de cortar e transportar pedras todos os dias em uma pedreira. Refeições diárias: uma batata na parte da manhã e metade de um peixe seco à noite. Espancavam quem desobedecesse ordens”.[60]

Ali, as torturas, os espancamentos, a violação de mulheres e os assassinatos eram comuns. Em 1950, Muhammad Nimr AL Khatib – sobrevivente do massacre de Tantura – denunciou: “Os sobreviventes do massacre de Tantura foram encerrados em um curral que havia perto. Durante três dias ali estiveram sem comida e logo os colocaram em uns caminhões. Ordenaram-lhes que sentassem em um espaço impossível e lhes ameaçaram disparar. Não lhes dispararam, mas lhes golpearam as cabeças e o sangue lhes saía aos borbotões por todas as partes.[61]

ELIMINAÇÃO DA MEMÓRIA PALESTINA

 

Os sionistas imediatamente buscaram apagar em toda parte a memória palestina. Além de arrasarem e transformarem em escombros as milenares aldeias palestinas, expulsando os seus habitantes, alteraram os nomes de todos os acidentes geográficos e denominações locais: “Os funcionários precisaram mudar seu nome por um patrônimo geralmente tirado de denominações bíblicas (...) A hebraização não alcançou apenas os humanos; quase todas as novas localidades construídas receberam um nome hebraico antigo (...) para apagar em definitivo o nome árabe local (...).[62] Ben Gurion afirmou com hipocrisia: “Somos obrigados a remover os nomes árabes por razões de Estado. Assim como não reconhecemos a propriedade árabe da terra, também não reconhecemos sua propriedade espiritual e seus nomes.[63]

Em 1969, referindo-se à destruição pelos sionistas da sociedade árabe-palestina, Moshe Dayan confessou com desfaçatez:

Viemos para este país que já estava ocupado por árabes e estamos estabelecendo aqui um Estado hebraico judeu. Em áreas consideráveis do país [a área total era cerca de 6%] adquirimos terras de árabes. Aldeias judaicas foram construídas no lugar das aldeias árabes. Você nem ao menos sabe o nome dessas aldeias árabes, e eu não o culpo, porque esse atlas geográfico nem existe mais. Nahal [povoado do próprio Dayan] surgiu no lugar de Mahalul; Gevat surgiu no lugar de Jibta; [o kibutz] Sarid surgiu no lugar de Haneifs; e Kefar Yehoshua surgiu no lugar de Tell Shaman. Não há um único lugar neste país que não tivesse antes uma população árabe.[64]

Essa política sionista de “apagar” a memória palestina prossegue até os dias de hoje. Em 2009, “o ministro da Educação de Israel, Gideon Saar, decidiu excluir do currículo escolar a narrativa palestina sobre o conflito entre israelenses e palestinos. De acordo com as instruções do ministro, a explicação sobre a Nakba (catástrofe), termo usado pelos palestinos para descrever a criação do Estado de Israel, será retirada dos livros escolares.” Segundo o ministro, “O sistema de educação não deve contribuir para abalar a legitimidade do Estado.” Dez dias antes, o ministro dos Transportes, Israel Katz, já havia decidido alterar a grafia dos nomes das cidades do país em todas as placas de trânsito: “As placas, que eram escritas em três idiomas – hebraico, árabe e inglês – passarão a mostrar apenas os nomes hebraicos das cidades (...) Jerusalém – passará a ser chamada apenas de Yerushalaim (...) o nome árabe – al-Quds – e o nome inglês – Jerusalem – deixarão de constar das placas de trânsito.”[65]

O impressionante em tudo isso é a omissão da ONU e do “ocidente democrático”, sob a liderança dos Estados Unidos. Apesar da Resolução da Partilha prever ao final do Mandato inglês a presença das Nações Unidas para supervisionar a aplicação de seu plano de paz e garantir a criação de dois Estados distintos – um judeu e outro árabe –, impedindo qualquer tentativa de um ou outro lado de confiscar os bens e as terras dos cidadãos do outro Estado, na verdade a ONU omitiu-se completamente diante da expulsão dos palestinos de suas terras e de seu país pelos sionistas.

Sua única atitude foi votar, em dezembro de 1948, a Resolução nº 194, determinando que “Os refugiados que desejarem devem ter permissão para retornar aos seus lares o mais rápido possível e de viver em paz com seus vizinhos, e devem ser pagas indenizações a título de compensação pelos bens daqueles que decidirem não regressar aos seus lares e por todo bem perdido ou danificado, uma vez que, em virtude dos Princípios do Direito Internacional, tal perda ou dano devem ser reparados pelos governos ou autoridades responsáveis.[66] Nenhuma palavra ou atitude da ONU sobre o direito do povo palestino de ter o seu próprio Estado – conforme rezava a Resolução 181 da ONU – no território onde vivia há milênios.

Israel não só ignorou essa resolução da ONU – assim como todas as demais que se seguiram –, como impediu esses refugiados de retornarem às suas propriedades e aldeias, declarou-os “ausentes” e confiscou as suas terras, sem qualquer indenização, entregando-as a colonos judeus. Assim, através da chamada Lei de Propriedade dos Ausentes (1950), os judeus apropriaram-se de 40% de todas as terras privadas árabes. Segundo Shlomo Sand, “(...) ‘ausentes’ – [passou a ser] uma classificação legal aplicada não só aos refugiados externos, mas a muitos árabes palestinos que permaneceram em Israel como cidadãos e que por isso vieram a ser referidos pela paradoxal expressão ‘ausentes presentes’ (...)[67]

Da mesma forma, os sionistas transferiram a totalidade das terras estatais do Mandato Britânico da Palestina para o “Estado Judeu”. A maioria dos kibutz – que são vistos pelos desinformados e pelos ingênuos como um exemplo de “socialismo” e de “solidariedade humana” – foram instalados sobre terras esbulhadas e neles nenhum palestino foi aceito. Edward Said nos conta como isso acontecia:

Consideremos como exemplo o destino de Umm al-Fahm (...) Antes de 1948, a vila possuía 140 mil dunams [1 dunam equivale a cerca de 4.000 m2] e 5 mil habitantes. (...) A melhor parte das terras foi confiscada por vários decretos legais, entre eles a “Lei da Terra, Seguro e Indenização” de 1953. A maior ironia talvez seja que os dois kibutzim socialistas – Megiddo e Givat Oz – foram construídos em terras árabes confiscadas. O que sobrou foi transformado em um moshav, isto é, uma cooperativa agrícola.[68]

O Historiador sionista Benny Morris tentou justificar esse esbulho:

Esta terra é tão pequena que não há espaço para dois povos. Dentro de cinquenta ou cem anos, haverá apenas um Estado entre o mar e o Jordão. Este Estado deve ser Israel.” (...) Morris considera que o “terrível erro” de Ben-Gurion em 1948 foi não ter “concluído o trabalho” e expulsado “cem por cento” dos árabes palestinos; que atualmente os palestinos israelenses constituem um “perigo vital” e uma “bomba-relógio”; e que idealmente “os árabes acabarão indo embora” (...)“este acabará sendo um problema estratégica para as forças de segurança”. (...) os palestinos são “um povo doente e psicótico”. Recusam-se a admitir que “os judeus têm direito à Palestina” (...) este “direito” (...) não poderia ser realizado sem a expulsão dos árabes palestinos: “Era necessária a remoção de uma população. Sem a expulsão de uma população não teria sido criado um Estado judaico. (...) Eu aceito moralmente a construção do Estado Judeu” [Depois,] Numa entrevista incrivelmente dissimulada Morris negou suas próprias afirmações já reproduzidas em papel impresso (...).[69]

Os sionistas, ao mesmo tempo que impediram o retorno dos palestinos expulsos, criaram a Lei do Retorno, que permite aos judeus de todo o mundo emigrarem para Israel e obter de imediato a sua cidadania, ainda que sejam cidadãos plenos em seus países e não sofram qualquer perseguição ou discriminação. O objetivo é impor a supremacia numérica dos judeus sobre os árabes, nos territórios conquistados para o “Lar Judeu”. Em consequência disso, no ano de 1950, mais de 900 mil palestinos viviam confinados em campos de refugiados na Cisjordânia (ocupada pela Jordânia), na Faixa de Gaza, na Síria, no Líbano, no Egito, no Iraque e em outros países do Golfo. Considerando os seus descendentes, os refugiados palestinos em todo o mundo alcançam hoje mais de cinco milhões de pessoas – das quais 1,5 milhões vivem em 58 campos oficiais de refugiados da UNRWA – sem direito a retornar à sua Pátria.

Apesar do reiterado desrespeito a todas as resoluções da ONU, esta não estabeleceu até hoje qualquer sanção contra Israel, limitando-se a criar um Organismo de Ajuda e Trabalho das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA), que – cada vez com menos recursos – presta alguma assistência às populações refugiadas palestinas.

Mesmo descumprindo sistematicamente todas as resoluções da ONU sobre a Palestina – Israel foi admitido em 1949 como Estado membro das Nações Unidas, através da resolução 273, que hipocritamente afirma: “Considerando a declaração através da qual o Estado de Israel aceita, sem reserva alguma, as obrigações que emanam da Carta das Nações Unidas e se compromete a observá-las (...) a Assembleia Geral decide admitir Israel na Organização das Nações Unidas.[70]

Já o Estado Palestino – também previsto na Resolução 181 da ONU – segue ocupado por tropas israelenses e por centenas de milhares de colonos judeus, que se adonaram de suas melhores terras. E aguarda até hoje o seu reconhecimento como Estado independente e soberano!

 

*Raul Carrion é Historiador graduado pela UFRGS, com Especialização em História Afro-Asiática pela FAPA. Estudioso há décadas da realidade palestina, em 2013 fez parte da comitiva de deputados estaduais do RS que visitou a Palestina e Israel, em companhia do então governador Tarso Genro. É o autor da Lei que criou o DIA ESTADUAL DE SOLIDARIEDADE À PALESTINA (29 de novembro).

NOTAS

[1] PINSKER, Leon. Auto-emancipation. In: SAND, Shlomo. A invenção da Terra de Israel. São Paulo: Benvirá, 2014, p. 243.

[3] Idem, p. 67.

[4] Idem, p. 68.

[5] SAND, Shlomo. A invenção da Terra..., idem, p. 198;192;194;216;213.

[6] WEIR, Alison. La História oculta de la creación del Estado de Israel. Madrid: Capitán Swing Libros, 2021, p. 45.

[7] Idem, p. 51

[8] SOCIETÉ DES NATIONS. Mandat pour la Palestine. Genebra 22.08.1922. In: GATTAZ, André. A Guerra da Palestina. São Paulo: Usina do Livro, 2002, p. 55-56.

[9] HOWARD, Harry N. In: WEIR, Alison, idem, p. 64.

[10] WEIR, Alison, idem, p. 65.

[11] Idem, p. 64.

[12] AVILÉS, Iván Gómez. Nazismo y Sionismo: La colonización sionista de Palestina. Madrid: Prokomun Libros, 2015, p. 87-88.

[13] BALFOUR, James. Citado por SYKES. Crossroads to Israel. In: SAID, Edward W. A questão da Palestina. São Paulo: Ed. UNESP, 2012, p. 19.

[14] Censo britânico de 1922. In: SAND, Shlomo. A invenção da Terra..., idem, p. 211.

[15] ZARIF, Hasan e KUREDA, Rui. A Causa Palestina. CUT: São Paulo, 2012, p.10.

[16] SAID, Edward W., idem, p. 94-95.

[17]Ao final da década de 30, o número de judeus na Palestina era de 445.000, numa população total de 1.500.000. Em vinte anos, a população judaica havia passado de menos de 10% para 30% da população total.” (GATTAZ, André, idem, p. 66).

[18] ZARIF, Hasan e KUREDA, Rui, idem, p. 13.

[19] Apud SHAPIRA, Anita. Land and Power: The Zionist Resort to Force. In: FINKELSTEIN, Normam. Imagem e realidade do conflito Israel-Palestina. Rio de Janeiro: Record, 2005, p. 203.

[20] BEN GURION, David. Arquivos Sionistas Centrais, atas da reunião da executiva da Agência Judaica, 12.06.1938. In: PAPPÉ, Ilan. La limpieza étnica de Palestina. Barcelona: CRÍTICA, 2006, p. 9.

[21] PAPPÉ, Ilan, idem, p. 95.

[22] GATTAZ, André, idem, p. 94-99.

[23] WEIR, Alison, idem, p. 97-98.

[24] FISHER, S. N. In: CATTAN, Henry. Palestina, los árabes e Israel. Ciudad de México: Siglo Veitiuno, 1971, p. 44.

[25] HOUAT, Stephan Fernandes. A criação do Estado de Israel e um Estado único como solução dos conflitos. In: Revista Saber. Ciências Sociais Aplicadas - V.7, nº 1. Belém do Pará: Editora Cesupa, jan./jun. 2008, p. 303-304.

[26] TENÓRIO, Sayid Marcos. Palestina: do mito da terra prometida à terra da resistência. São Paulo: Anita Garibaldi, Ibraspal, 2019, p. 116.

[27] ONU. Resolução nº 181. In: SARTRE, Jean Paul et all. El conflicto arabe-israeli. Buenos Aires: KL Ediciones, 1967, p. 7-8.

[28] GURION, Ben. In: FINKELSTEIN, Norman, idem, 2005, p. 70.

[29] PALUMBO, Michael. The Palestinian Catastrophe: the 1948 expulsion of a people of their homeland. Londres: Faber & Faber, 1987, p. 29. In: GATTAZ, André, idem, p. 105.

[30] CATTAN, Henry, idem, p. 49.

[31] FLAPAN, Simha. Birth of Israel. In: FINKELSTEIN, Norman, idem, p. 160.

[32] PAPPÉ, Ilan, idem, p. 89.

[33] Idem, p. 92-93.

[34] Idem, p. 10-11.

[35] McGOWAN, Daniel e HOGAN, Matthew C. The Saga of the Deir Yassin Massacre, Revisionism and Reality. In: PAPPÉ, Ilan, idem, p. 130-131.

[36] PALUMBO, Michael. Idem, p. 54. In: GATTAZ, André, idem, p. 112.

[37] FINKELSTEIN, Normam, idem, p. 351.

[38] BEGIN Menachem. In: WEIR Alison, idem, p. 107-108.

[39] GATTAZ, André, idem, p. 116.

[40] BEGIN, Menachen. The Revolt: Story of the Irgun. Nova York: Henry Schuman, 1951, p. 164. In: PAPPÉ, Ilan, idem, p. 356.

[41] PAPPÉ, Ilan, idem, p. 115.

[42] GATTAZ, André, idem, p. 127-128.

[43] Idem, p. 115.

[44] PAPPÉ, Ilan, idem, pp. 134-138.

[45] Idem, p. 146-147.

[46] KURZMAN, Dan. Genesis 1948: The First Arab-Israeli War. In: GATTAZ, André, idem, p. 117.

[47] GATTAZ, André, idem, p. 153.

[48] BURNIER, Frei Martinho Penido. Legação Brasileira em Beirute, Ofícios Enviados nº154/194, 05.11.48. In: GATTAZ, André, idem, p. 130-131.

[49] PAPPÉ, Ilan, idem, p. 148.

[50](...) a Segurança e a ordem na Palestina foram rompidas. A agressão sionista resultou no êxodo de mais de um quarto de milhão de habitantes árabes de suas casas, refugiando-se nos países árabes vizinhos.” (GATTAZ, André, idem, p. 124)

[51] PAPPÉ, Ilan, idem, p. 166.

[52] FINKELSTEIN, Norman, idem, p. 200.

[53] PAPPÉ, Ilan, idem, p. 262-263.

[54] MORRIS, Benny. The Birth of the Palestinian Refugee Problem. In FINKELSTEIN, Norman, idem, p. 152.

[55] Idem, p. 11.

[56] SAID, Edward W., idem, p. 17.

[57] SAID, Edward W., idem, p. 117-118.

[58] GURION, Ben. Citado por MORRIS, Benny. The Birth…. In: FINKELSTEIN, Norman, idem, p. 144-145.

[59] SEGEV, Tom. The Sevent Million: The Israelis and the Holocaust. Nova Iorque: Hill and Wang, 1993, p. 63.

[60] CARTA, Gianni. Pesquisa revela campos de concentração para palestinos após a fundação de Israel. São Paulo: Carta Capital, 18/10/2014.

[61] PAPPÉ, Ilan, idem, p. 270.

[62] SAND, Shlomo. A invenção do povo judeu. São Paulo: Benvirá, 2012, p. 200.

[63] BEN-GURION, David. Citado em BENVENISTE, Meron. Sacred landscape: the burried history of the Holy Land since 1948. In: SAND, Shlomo. A invenção do povo..., idem, p. 43.

[64] DAYAN, Moshe. Há-aretz, 4 abr.1969. In: SAID, Edward W, idem, p. 16.

[65] FLINT, Guila. Miragem de Paz: Israel e Palestina, processos e retrocessos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009, pp. 488-489.

[66] ONU. Resolução nº 194. In: SALEM, Helena. O que é a questão Palestina. São Paulo: Editora Brasiliense, 1982, p. 33.

[67] SAND, Shlomo. A invenção da Terra..., idem, p. 287.

[68] SAID, Edward W., idem, p. 113.

[69] FINKELSTEIN, Norman. Imagem..., idem, p. 37-38.

[70] ONU. Doc. N.U. A/900, 11.05.1949. In: REICHERT, Rolf. História da Palestina. São Paulo: Herder / Editora da USP, 1972, p. 294.