“Os
filósofos nada mais têm feito do que interpretar o mundo, de
diferentes formas, mas o que se trata é de transformá-lo!”-
K. Marx
Karl Marx – “o filósofo mais importante de toda a história”,
segundo votação, em 2005, da maioria dos ouvintes da BBC –
nasceu em Trier, na Renânia, sul da Prússia, a 5 de maio de
1818.
Aos 17 anos, ingressou na Universidade de Bonn para cursar
Direito. No ano seguinte, transferiu-se para a Universidade de
Berlim, para estudar Filosofia. Doutorou-se em Filosofia, em
1841, na Universidade de Iena, mas o governo prussiano lhe
recusou a cátedra para lecionar. Em 1842, tornou-se
redator-chefe da Gazeta Renana, em Colônia. Ali conheceu
Friederich Engels, desde então o seu mais íntimo companheiro de
lutas e ideais.
Com a proibição pelo governo prussiano da Gazeta Renana,
Marx – já casado com Jenny Von Westphalen, com quem teve sete
filhos – mudou-se para Paris e assumiu em 1843 a direção dos
Anais Franco Alemães. Lá, conheceu as principais lideranças
operárias parisienses e a Liga dos Justos, que mais tarde se
transformaria na Liga dos Comunistas. Em 1845, a França
“republicana” o expulsou. Foi, então, para Bruxelas.
Em fins de 1847, a Liga dos Comunistas pediu a ele e a Engels
que escrevessem o programa do Partido. Em fevereiro de 1848,
pouco antes da “Primavera dos Povos” – onda revolucionária que
varreu a Europa – foi publicada a primeira edição do
Manifesto do Partido Comunista, a obra “não religiosa” mais
traduzida em todo mundo.
Ali, Marx e Engels denunciam que a sociedade burguesa só deixou
“subsistir, entre os homens, o laço do frio interesse, as
duras exigências do ‘pagamento à vista’. (...) fez da dignidade
pessoal um simples valor de troca; substituiu as numerosas
liberdades, conquistadas com tanto esforço, pela única e
implacável liberdade de comércio (...) no lugar da exploração
velada (...) uma exploração aberta, cínica, direta e brutal.”
E concluíram com o grito de guerra que ecoa até hoje: “Proletários
de todos os países, uni-vos!”
Era demais! A “liberal” Bélgica decretou a sua prisão e
expulsão. Foi para Colônia, junto com Engels, onde criou a
Nova Gazeta Renana, que teve importante papel na revolução
democrática alemã. Logo, o governo prussiano fechou o jornal e
expulsou Marx, que foi para Paris. Como não lhe permitiram ali
viver, teve de migrar, em 1849, para Londres, onde aprofundou
seus estudos filosóficos, históricos e econômicos.
Em 1864 – apesar de mergulhado na preparação de O Capital
– participou ativamente na criação da Associação
Internacional dos Trabalhadores e tornou-se seu principal
dirigente.
Em 1867, finalmente, veio à luz o 1º Livro de O Capital,
desvendando a produção e a exploração capitalistas e indicando
suas contradições e tendências. Seus Livros 2 e 3 foram
publicados por Engels só após a morte de Marx, a partir de seus
manuscritos.
Sua obra – cada vez mais atual – é a única capaz de explicar a
profunda crise sistêmica do capitalismo, à qual nenhum
economista burguês dá resposta. Até o “badalado” Thomas Piketty,
que não é marxista, reconhece que Marx está certo e que o
capitalismo concentra nas mãos de um punhado de proprietários
dos meios de produção uma riqueza cada vez maior, enquanto no
outro pólo a ampla maioria – que só têm sua “força de trabalho”
para vender – vegeta na miséria. E o The Economist desta
semana, em artigo comemorativo aos 200 anos de Marx, recomenda
aflito: “Líderes do mundo inteiro: leiam Karl Marx!”
No dia14 de março de 1883, após uma vida inteira de lutas e
privações, a mente e o coração desse grande revolucionário
deixaram de funcionar. Em seu funeral, Engels afirmou:
“Marx era, antes de tudo, um revolucionário. Cooperar de um
modo ou de outro, para a derrubada da sociedade capitalista e
das instituições políticas criadas por ela, contribuir para a
emancipação do proletariado moderno (...) tal era a verdadeira
missão de sua vida. A luta era o seu elemento, e lutou com uma
paixão, uma tenacidade e um êxito como poucos. (...) Por isso,
Marx era o homem mais odiado e mais caluniado de seu tempo. Os
governos, tanto os absolutistas como os republicanos, o
expulsavam. Os burgueses, tanto os conservadores como os
ultra-democratas, competiam em lançar difamações contra ele.
Marx punha tudo isso de lado, como se fossem teias de aranha.
Não fazia caso. Só respondia quando isso era exigido por uma
necessidade imperiosa. E morreu venerado, querido pranteado por
milhões de operários da causa revolucionária (...). Seu nome
viverá através dos séculos e com ele a sua obra.”
Nos dias de hoje – quando assumir-se “antimarxista” rende
louvores e favores dos poderosos – os seus detratores se
multiplicam, afirmando que “Marx está superado”, “o capitalismo
é eterno”, “os explorados e oprimidos devem resignar-se”. Outros
– apologistas da desesperança, rebeldes sem causa – pregam a
descrença em tudo e em todos.
Mas, como diz Brecht, “quando os dominadores falarem, falarão
também os dominados”.
E a última palavra ainda não foi dada!
*
Historiador e membro da Comissão Política do PCdoB/RS. Foi
vereador de Porto Alegre em três legislaturas e deputado
estadual do RS por duas legislaturas. Atualmente, preside a
Fundação Maurício Grabois-RS