O dia 20 de setembro de 2023 assinala os 188 anos do início da
Guerra dos Farrapos, que durante dez anos enfrentou, de armas na
mão, o todo poderoso Império brasileiro – centralizador e
escravocrata – e defendeu a República e a Federação e, alguns, a
libertação dos escravos. Foi a única rebelião da sua época que
constituiu um Estado republicano, elegeu uma Assembleia
Constituinte, criou suas leis, órgãos de governo, coletoria,
polícia, serviço de correios, jornal oficial e símbolos.
Mas, a luta farroupilha não foi um ato isolado. Deve ser
compreendida no contexto de uma série de revoltas e rebeliões
que sacudiram o país, de norte a sul, no pós-independência,
quando se defrontaram dois projetos alternativos para o Brasil.
De um lado, o projeto dos traficantes de escravos e
latifundiários escravistas, monocultores exportadores, que
defendiam uma monarquia oligárquica e centralizada, capaz de
manter subjugadas as massas escravizadas. De outro lado, um
projeto mais progressista e, em alguns casos, republicano e
abolicionista.
Em oposição ao projeto oligárquico e conservador – que acabou
prevalecendo –, eclodiram diversas rebeliões, como a Revolução
Republicana de Pernambuco (1817); a Confederação do Equador, em
Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte (1824); a
Cabanada, nos sertões de Pernambuco (1831); a Cabanagem, no Pará
(1835); a Guerra dos Farrapos, no Rio Grande do Sul (1835); a
Sabinada, na Bahia (1837); a Balaiada, no Maranhão e Piauí
(1838); as Rebeliões Liberais de São Paulo e Minas Gerais
(1842); a Revolução Praieira, em Pernambuco (1848).
A derrota do projeto mais avançado – expresso sob distintas
formas e em diferentes lutas do povo brasileiro – levou à
consolidação do domínio do latifúndio monocultor-exportador, à
continuidade do escravismo e à crescente subordinação do país
aos interesses do imperialismo inglês, então dominante no mundo.
Aí assentam suas raízes as concepções retrógradas e
subservientes aos interesses estrangeiros que caracterizam
grande parte das elites brasileiras.
A VALORAÇÃO DA LUTA FARROUPILHA
A Guerra dos Farrapos – também conhecida com “Revolução
Farroupilha” – foi, sem dúvida, o mais relevante episódio da
história do Rio Grande do Sul e um importante acontecimento da
história brasileira. Como todo grande evento histórico, tem sido
objeto de grandes polêmicas quanto à sua interpretação e
valoração.
Por um lado, observamos a tentativa da sua apropriação
ideológica pela oligarquia pecuarista gaúcha que – através de
uma historiografia tradicional, laudatória dos “monarcas das
coxilhas” (brancos e ricos) e da “democracia do pampa”
(pretensamente sem explorados e exploradores”) –, idealiza o
espírito “libertário” dos grandes fazendeiros que hegemonizaram
a luta pela República, fechando os olhos para suas contradições
diante da escravidão e ignorando o protagonismo nela dos
despossuídos – negros, índios, mestiços e brancos pobres.
Por outro lado – como que em uma reação espelhar a essa visão
elitista da luta farroupilha – nos deparamos com interpretações
superficiais, incapazes de compreender o caráter historicamente
progressista do enfrentamento ao Império escravocrata e
centralista e da luta pela República, comprovado pela forte
adesão aos farroupilhas de escravos, negros libertos, mestiços,
índios e pobres do campo.
Júlio Chiavenato, estudioso das lutas sociais, relata: “(...)
era fácil recrutar escravos, pois eles até esperavam a chegada
dos farrapos para entrar num exército que os ‘libertaria’. Lutar
ao lado dos farroupilhas era uma oportunidade concreta de
liberdade para os escravos. Não faltavam negros que fugiam (...)
para engrossar as forças gaúchas.”
As análises anacrônicas que negam o caráter progressista da luta
farroupilha – pelo fato dessa luta ter sido dirigida por grandes
proprietários rurais – ignoram as condições históricas em que
ela ocorreu, o que tornava impossível a hegemonia dos setores
populares. Seria o mesmo que negar o caráter progressista da
Revolução Francesa, por ter sido hegemonizada pela nascente
burguesia francesa; ou negar o caráter progressista da luta pela
independência das colônias inglesas da América do Norte, por ela
ter sido dirigida por grandes proprietários de terras, inclusive
escravistas.
Além disso, essas interpretações simplórias são incapazes de
perceber as profundas contradições existentes entre os setores
progressistas e abolicionistas dos farroupilhas e os setores
conservadores e escravistas. Por fim, quando afirmam que as
massas empobrecidas participaram da luta farroupilha só como
“bucha de canhão”, reproduzem a visão preconceituosa das elites,
que só enxergam o povo como “massa de manobra”, incapaz de
protagonizar a sua própria história e carente de vontade
própria.
O sociólogo Clóvis Moura, insuspeito de qualquer visão elitista
da história, destaca esse caráter progressista da luta
farroupilha e o seu poder de atração sobre os escravos: “Não
tendo surgido a abolição em 1822, como esperavam, os escravos
não perderam a esperança. Continuaram, como já vimos, se
engajando nos movimentos subsequentes. Na Revolução Farroupilha
eles se sentirão à vontade porque, afora a insurreição dos
alfaiates, na Bahia, nenhum outro movimento foi tão enfática e
ostensivamente antiescravista como o chefiado por Bento
Gonçalves.”
O CONTEXTO HISTÓRICO
No início do século XIX, com a transformação do café no
principal produto de exportação do Brasil, os grandes
proprietários escravistas do Vale do Paraíba do Sul tornaram-se
a classe dominante do país. Nessa condição, procuraram manter
uma monarquia centralizada e unitária para sustentar seu domínio
escravocrata e submeter as demais províncias aos seus
interesses.
No Rio Grande do Sul, nessa época, se desenvolvia uma economia
periférica, subsidiária da economia central, que tinha por base
uma pecuária extensiva, voltada essencialmente à produção de
charque para alimentar a escravaria do país.
Aqui, o peso do centralismo se fazia sentir de diversas
maneiras. O presidente da província era nomeado pelo Rio de
Janeiro e governava em função dos interesses da aristocracia
cafeeira, marginalizando política e economicamente a oligarquia
gaúcha. A política fiscal do Império, além de impor altas taxas
sobre o sal – o principal insumo para a produção do charque –,
aplicava um imposto de 25% ao charque do Rio Grande do Sul,
enquanto taxava em apenas 4% o charque platino. Não bastasse
isso, os interesses expansionistas do Império transformavam a
província em um campo de batalha permanente contra os vizinhos
platinos, com graves prejuízos para a economia gaúcha, que
arcava com os custos dessas constantes guerras.
Tudo isso fez com que crescessem as contradições entre os
fazendeiros gaúchos e o Império, o que se expressava em um
difuso sentimento de “opressão do Rio Grande do Sul pelo Rio de
Janeiro” e criava condições para a difusão de aspirações
federalistas e ideias republicanas – presentes na Região do
Prata – entre os rio-grandenses.
Fruto dessas contradições, eclodiu em 20 de setembro de 1835 a
“Revolução Farroupilha”, sob a direção de Bento Gonçalves, com a
tomada de Porto Alegre pelos revoltosos e a fuga para Rio Grande
de Fernandes Braga, Presidente da Província.
Inicialmente, os revoltosos se limitaram a reivindicar a
substituição do presidente da província e um maior respeito ao
Rio Grande do Sul. Logo, porém, o movimento se radicalizou,
levando à proclamação da República Rio-Grandense, em 11 de
setembro de 1836, após uma importante vitória contra os
imperiais nos campos de batalha de Seival.
SEPARATISMO OU REPUBLICANISMO?
Origina-se aqui a primeira controvérsia histórica sobre a Guerra
dos Farrapos, apresentada por alguns como um movimento
essencialmente separatista. Ao contrário, a Guerra dos Farrapos
teve um caráter fundamentalmente republicano e antimonárquico,
sob a forma federalista. O seu separatismo foi algo
contingencial, decorrente das difíceis circunstâncias da luta.
Tanto que os líderes farrapos não só se articularam
estreitamente com os rebeldes dos outros Estados, como
expressaram repetidas vezes a sua disposição a se federarem com
as demais províncias brasileiras, na medida em que essas
rompessem com o governo imperial e adotassem o sistema
republicano.
No “Manifesto do Presidente da República Rio-Grandense em nome
de seus Constituintes”, de 29 de agosto de 1938, os farroupilhas
afirmavam: “Um só recurso nos restava, um único meio se
oferecia à nossa salvação, e este recurso e este único meio era
a nossa independência política e o sistema republicano (...) os
rio-grandenses reunidos à suas municipalidades solenemente
proclamaram e juraram a sua independência política debaixo dos
auspícios do sistema republicano, dispostos todavia a
federarem-se, quando nisso se acorde, às províncias irmãs que
venham a adotar o mesmo sistema.”
Em abril de 1840, fizeram da Sabinada e da Cabanagem a sua
causa: “Brasileiros que iludidos defendeis a causa do Império
(...) Proclamastes a vossa independência política e ainda hoje
gemeis curvados sob o jugo abominável de vossos senhores, sob o
predomínio de lusitanos (...) mostrai ao mundo (...) que ainda
sois os mesmos que derramastes há pouco vosso sangue em defesa
da malfadada Bahia e do Pará (...) Não hesiteis; a sorte dos
baianos e dos paraenses acha-se identificada com a nossa própria
sorte.”
Em julho de 1842, comemoraram a Rebelião Liberal de São Paulo: “Já
as falanges paulistas marcham sobre o inimigo comum (...) O
Brasil em massa se levanta como um só homem para sacudir o
férreo jugo do segundo Pedro. É o momento de mostrardes ao mundo
que sois rio-grandenses (...) não só salvareis a Pátria como
sereis os libertadores do Brasil inteiro!”
E, em março de 1843, reafirmaram o seu objetivo de constituir
uma república federal: “A causa que defendemos não é só
nossa, ela é igualmente a causa de todo o Brasil (...) Uma
república federal, baseada em sólidos princípios de justiça e
recíproca conveniência, uniria hoje todas as províncias irmãs,
tornando mais forte e respeitável a nação brasileira.”
OS FARROUPILHAS FRENTE À ESCRAVIDÃO
Um segundo ponto polêmico em relação à luta dos Farrapos é a sua
postura frente à escravidão.
Em primeiro lugar, é preciso dizer que – diferentemente da
maioria das rebeliões ocorridas no Brasil, na mesma época – os
farroupilhas não temeram libertar e armar os escravos que se
engajavam na luta contra o Império. Assim, em abril de1836, os
farrapos libertaram mais de 400 escravos em Pelotas e os
organizaram em uma poderosa unidade de infantaria. E, em
setembro de 1836, formaram o 1º Corpo de Cavalaria de Lanceiros
Negros, que passou a jogar um papel decisivo nos combates. Mas,
isso não implicava a libertação geral dos escravos, questão que
dividiu fortemente os farroupilhas.
A resposta dos farrapos ao decreto imperial que determinou o
açoite de todo “escravo” detido fazendo parte das forças
rebeldes expressa a postura dos setores progressistas dos
farroupilhas frente à questão servil:
“Tendo o tirânico Governo do Brasil (...) determinado (...) a
aplicação de 200 a 1000 açoites a todo homem de cor que, livre
do cativeiro, em conformidade com as leis desta República, tiver
feito parte de sua força armada e vier a cair prisioneiro das
tropas chamadas legais (...) Foi em obediência às sagradas leis
da humanidade (...) que o Governo passou a libertar os cativos
aptos para a profissão das armas, oficinas e colonização, a fim
de acelerar, de pronto, a emancipação dessa parte infeliz do
gênero humano. E, isso, com grave sacrifício da Fazenda Pública,
pois os que exigiram a indenização desses cativos a receberam de
pronto ou receberam documento para indenização oportuna. O
Presidente da República (...) não consentirá que o homem livre
rio-grandense, de qualquer cor com que os acidentes da
natureza o tenham distinguido, sofra impune e não vingado o
indigno, bárbaro, aviltante e afrontoso tratamento (...) Desde o
momento em que houver notícia certa de ter sido açoitado um
homem livre de cor a soldo da República (...) o comandante de
qualquer Divisão tirará a sorte entre os oficiais imperiais
(...) nosso prisioneiros e fará passar pelas armas aquele
oficial que a sorte designar.”
Aqui ficam claras questões importantes: 1) Os ex-escravos que
faziam parte das tropas farroupilhas eram considerados homens
livres; 2) A libertação dos escravos era vista como uma
exigência humanitária; 3) Os libertos a serviço da República
atuavam em atividades bélicas, em oficinas ou na colonização; 4)
Se os seus antigos donos exigissem indenização, a República
Rio-Grandense lhes pagaria de imediato ou através de títulos
para ressarcimento futuro; 5) Em retaliação ao açoite de um
negro livre farroupilha, seria executado um oficial imperial.
Deve-se destacar, ainda, que os farrapos tinham entre seus
principais dirigentes dois mulatos: o mineiro Domingos José de
Almeida – Ministro do Tesouro da República de Piratini – e o
carioca José Mariano de Mattos – por duas vezes Ministro da
Guerra e da Marinha e Presidente da República entre novembro de
1838 e março de 1841.
Caberá a Mariano de Mattos, abolicionista convicto, apresentar
na Assembleia Constituinte, em nome da “maioria” – formada por
Bento Gonçalves, Domingos José de Almeida, Mariano de Mattos,
Antônio Souza Netto, José Gomes Portinho, Ulhoa Cintra, entre
outros – um projeto que abolia o cativeiro. A reação da
“minoria”, capitaneada por Antônio Vicente da Fontoura, David
Canabarro e Onofre Pires, foi tão violenta que ameaçou uma
irremediável cisão dos farroupilhas, inviabilizando a sua
aprovação: “É de se saber que numa das sessões José Mariano,
como representante e definidor dos princípios a que se atinham
os fiéis de Bento Gonçalves, apresentou à assembleia um projeto
que abolia o cativeiro (...) Pois bem, assistiu a extremado e
nefando espetáculo. A minoria, acaudilhada por Antônio Vicente,
opôs-se irredutível e fera”, nos relata o historiador
Alfredo Varela.
Ficava evidente a divisão dos farroupilhas frente à questão
servil. De um lado, a chamada “maioria” assumia uma postura
abolicionista; de outro, a “minoria” tolerava a libertação dos
cativos que se engajavam na luta contra o Império, mas se opunha
radicalmente a qualquer tentativa de libertação geral dos
escravos. O resultado dessa divergência foi a não-inclusão da
abolição no projeto de Constituição da República Rio-Grandense.
O MASSACRE DE PORONGOS E O FIM DA GUERRA
Com o passar do tempo e a derrota das demais rebeliões no país,
criou-se uma situação cada vez mais difícil para os farrapos.
Ficou clara a impossibilidade de uma vitória militar sobre o
Exército Imperial, agora comandado pelo hábil Caxias. Já por
parte dos imperiais, era fundamental terminar o quanto antes a
rebelião, buscando uma solução negociada, que não humilhasse os
rio-grandenses e garantisse o seu apoio para a inevitável luta
com os vizinhos platinos. A paz impunha-se aos dois lados.
Uma primeira negociação - feita com o gabinete liberal de 1840 –
esbarrou no destino a ser dado aos negros farroupilhas. Bento
Gonçalves apresentou uma proposta que, entre outras questões,
exigia “a liberdade dos escravos que estão ao nosso serviço”.
Como os imperiais não concordaram com essa exigência – por a
considerarem um prêmio à rebeldia e um perigoso exemplo à
escravaria de todo o país – “no Rio Grande continuaria a
guerra, não podendo voltar aos grilhões os negros que há cinco
anos lutavam pela liberdade na América.” Ulhoa Cintra,
consultado, opinou da mesma forma: “Homens que ombrearam
conosco na defesa da liberdade não podem voltar ao cativeiro.”
Mas, em 1844, David Canabarro e Vicente da Fontoura –
escravistas empedernidos e membros da “minoria” – assumiram as
principais funções civis e militares da República Rio-Grandense,
após afastarem Bento Gonçalves e Domingos José de Almeida.
Retomaram, então, as negociações de paz com os imperiais, mas
não conseguiram apoio entre os farroupilhas para firmar uma paz
sem a liberdade para os negros farroupilhas.
Para os imperiais, era inaceitável a liberdade para um grande
contingente de negros com experiência militar, premiando a
rebeldia. Ao mesmo tempo, para a ordem escravocrata reinante,
era perigoso o retorno desses combatentes negros ao trabalho
servil, pois poderiam levar o fermento da rebelião para as
senzalas.
Era preciso eliminar esse obstáculo para a paz!
É nesse contexto que aconteceu, na madrugada de 14 de novembro
de 1844, o Massacre de Porongos, quando os Lanceiros
Negros – previamente desarmados e separados do resto das tropas
– foram atacados de surpresa e dizimados por tropas imperiais
comandadas pelo coronel Chico Pedro, em um conluio entre Caxias
e Canabarro, conforme correspondência existente no Arquivo
Histórico do Rio Grande do Sul. Poucos dias depois, em 26 de
novembro de 1844, Teixeira Nunes, o comandante dos
Lanceiros Negros, e alguns remanescentes dessa formidável tropa,
foram enviados por Canabarro para uma temerária incursão na
retaguarda inimiga, sendo trucidados pelos imperiais.
Com o Massacre de Porongos, a questão do que fazer
com os negros farroupilhas foi literalmente eliminado e se
aceleraram as tratativas de paz, que acabaram se efetivando no
início de 1845. Mesmo assim, uma das cláusulas acertadas na
pacificação estipulou a libertação dos ex-escravos que haviam
lutado na Guerra dos Farrapos: “4º - São livres, e como tais
reconhecidos, todos os cativos que serviram na República”.
Até hoje pairam dúvidas sobre o destino dos negros combatentes
sobreviventes, que foram “arrebanhados” e covardemente entregues
por David Canabarro ao Duque de Caxias. Parece ser que Caxias os
enviou para o Rio de Janeiro, onde teriam sido alforriados,
sendo os seus ex-donos indenizados. Mas alguns dizem que, ao
chegarem ao Rio de Janeiro, teriam se tornado escravos da Nação
brasileira, na fazenda imperial de Santa Cruz.
A LUTA NÃO FOI EM VÃO
A paz imposta pelo Império aos farroupilhas, apesar das
concessões feitas – o que não ocorreu nas outras revoltas pelo
Brasil afora, todas elas esmagadas a ferro e fogo –, conseguiu
sufocar a rebeldia por algum tempo, mas não conseguiu
extirpá-la. Qual uma brasa adormecida, ela persistiu nas ideias
da Federação, da República, da emancipação dos escravos, de uma
verdadeira emancipação nacional. A luta não havia sido em vão.
A Abolição em 1888, a República em 1889, não surgiram do nada,
não aconteceram por acaso. Decorreram do acúmulo de forças
dessas lutas do passado, entre as quais se destaca a Guerra dos
Farrapos, a mais longa e a mais consequente de todas.
Sem dúvida, a saga farroupilha também se faz presente nas
posições progressistas, libertárias e anti-imperialistas do povo
rio-grandenses, presentes nas grandes lutas do povo brasileiro –
como a Coluna Prestes em 1924, a Revolução de 30, o Movimento da
Legalidade de 1961, a resistência à ditadura e, hoje, na luta
por um novo projeto nacional de desenvolvimento, soberano,
democrático e mais justo.