Em 22 de junho de 1941, a Alemanha
nazista – depois de submeter toda a Europa e expulsar a Inglaterra
do continente – atacou de surpresa a União Soviética, mobilizando
4,6 milhões de homens, reforçados por mais 900 mil homens de seus
aliados europeus. O objetivo declarado era “pôr a URSS de joelhos em
2 a 3 semanas”.
O ataque se deu em três
frentes: a Frente Norte, que tinha como objetivo a conquista de
Leningrado; a Frente Central, cuja meta era tomar Moscou; e a Frente
Sul, para ocupar as regiões produtoras de cereais e petróleo e tomar
o centro logístico de Stalingrado.
Na Frente Norte, após 3
semanas de combate, as tropas nazistas tomaram a Lituânia, Letônia,
Estônia e a cidade de Pskov, ao sul de Leningrado. Ao mesmo tempo
que atacavam Leningrado pelo Sul, os finlandeses o faziam pelo
Norte. Dois fortes contra-ataques soviéticos – em julho e agosto –
detiveram o seu avanço, causando grandes perdas aos nazifascistas e
destruindo uma boa parte dos seus blindados.
Com isso, Leningrado – então
com cerca de três milhões de habitantes – ganhou tempo para se
preparar para uma luta “de casa em casa”, construiu quase mil km de
trincheiras, 650 km de fossos antitanque e 5.000 casamatas e
incorporou centenas de milhares de cidadãos à sua defesa.
A paralização das hordas
nazifascistas na Frente Central – devido à tenaz resistência das
tropas soviéticas –, quando já se encontravam a poucos quilômetros
de Moscou e a contraofensiva soviética, que os forçou a recuar,
obrigou o comando alemão a deslocar parte dos seus blindados da
Frente Norte, para os combates em torno de Moscou, enfraquecendo o
ataque a Leningrado.
Em fins de setembro de 1941, a
frente estabilizou-se e o confronto transformou-se em uma batalha de
posições e de desgaste, tendo Leningrado ficado totalmente sitiada
por terra, desde o Golfo de Finlândia até o Lago Lagoda.
Em 23 de setembro de 1941,
depois de várias tentativas de tomar Leningrado, o General Halder
comunicou a Hitler: “Nossas forças […] sofreram pesadas perdas.
Essas forças são suficientes para a defesa, mas não para acabar com
o inimigo. Porém, não temos outras forças.”
Hitler respondeu ordenando a
destruição de Leningrado: “Decidi apagar São Petersburgo da
superfície da terra. […] O problema da vida da população e de seu
abastecimento não cabe a nós e não deve ser resolvido por nós. […]
não temos que preservar nem mesmo a menor parte da população dessa
grande cidade.”
A ordem do QG de Hitler,
ditada em fins de setembro, determinava: “bloquearemos Leningrado
(hermeticamente) e destruiremos a cidade […] com a artilharia e a
aviação. […] Na primavera, penetraremos na cidade […,] tiraremos
todos os que ainda restarem vivos, enviando-os ao interior da Rússia
ou aprisionando-os, arrasaremos Leningrado e cederemos à Finlândia a
zona situada ao norte do Rio Neva”.
Seguiu-se um cerco implacável,
com bombardeios permanente por terra e por ar. Com todas as
comunicações terrestres de Leningrado com as demais regiões da URSS
cortadas, só restaram uma estreita faixa navegável no Lago Lagoda –
grande parte dela sob fogo inimigo – e as comunicações aéreas.
Através desses dois caminhos, enfrentando todo o tipo de
dificuldades, Leningrado foi precariamente abastecida e continuou
resistindo.
Em 12 de janeiro de 1943,
quando ainda não havia sido finalizada a batalha de Stalingrado, as
tropas soviéticas da Frente Norte atacaram os exércitos
nazifascistas que sitiavam Leningrado, com o objetivo de
restabelecer a comunicação por terra com o resto do país. Após sete
dias de luta, retomaram Schlisselburg, chave para reabrir uma
ligação terrestre com Moscou. Com isso, foi melhorado o
abastecimento da cidade, mas o cerco de Leningrado prosseguiu com
ferocidade.
Finalmente, em janeiro de 1944
– no bojo da ofensiva geral do Exército Vermelho, contra as hordas
nazifascistas – Leningrado foi totalmente libertada do terrível
cerco a que foi submetida, durante quase 900 dias.
A ofensiva soviética começou
na madrugada do dia 14 de janeiro de 1944, enfrentando 740 mil
homens a mando do general Küchler, armados com mais de 10 mil
canhões e morteiros, 385 tanque e veículos de assalto, contando com
370 aviões e entrincheirados em fortificações consideradas
inexpugnáveis.
Em pouco mais de dez dias, as
tropas soviéticas derrotaram esses poderosos exércitos alemães e
jogaram os seus restos a uma distância de mais de 100 km. No dia 27
de janeiro a população de Leningrado festejou sua completa
libertação!
Mas esta vitória – alcançada
depois de quase três anos de luta titânica, enfrentando todo o tipo
de dificuldades – cobrou um altíssimo preço de sua população: cerca
de um milhão de mortos, em decorrência do cerco nazifascista – a
grande maioria pela fome, outros pelos bombardeios ou pelo frio.
Ao se
completarem 80 anos dessa grande vitória em Leningrado – à qual se
somam as vitórias em Moscou (1941), Stalingrado (1942-43) e Kursk
(1943) – é preciso homenagear o heroísmo do povo soviético, que foi
quem suportou, quase que sozinho, o grosso da guerra contra a besta
nazifascista e a derrotou.
___________________________________
*Raul Carrion é historiador, sindicalista, escritor e político
brasileiro. Foi vereador de Porto Alegre em três legislaturas e duas
vezes Deputado estadual do Rio Grande do Sul, sendo militante do
Partido Comunista do Brasil há mais de 50 anos. |