“Eu vi corpos de tropas
mais numerosos, batalhas mais disputadas; mas nunca vi, em
nenhuma parte, homens mais valentes, nem cavaleiros mais
brilhantes que os da bela cavalaria rio-grandense, em cujas
fileiras aprendi a desprezar o perigo e combater dignamente pela
causa sagrada das nações. Quantas vezes eu fui tentado a
patentear ao mundo os feitos assombrosos que vi realizar por
essa viril e destemida gente, que sustentou por mais de nove
anos contra um poderoso império a mais encarniçada e gloriosa
luta. (...) Oh! Quantas vezes tenho desejado nestes campos
italianos um só esquadrão de vossos centauros, avesados a
carregar uma massa de infantaria com o mesmo desembaraço como se
fosse uma ponta de gado!” (Giuseppe Garibaldi, Herói de
dois Mundos)
Às vezes, equivocadamente –
por compreendermos que o desenvolvimento das sociedades humanas
é regido por leis objetivas –, consideramos que os processos
históricos seguem um curso inexorável e pré-determinado. Nada
mais estranho ao marxismo, que acentua o papel ativo dos homens
na história e a existência do próprio acaso no devir social.
Assim, a prevalência do
Estado Monárquico – centralizador e escravocrata – no Brasil da
primeira metade do século XIX, longe de ser algo inevitável,
deu-se em meio a um acirrada disputa com projetos sociais
alternativos, mais abertos e democráticos – que defendiam a
República, a Federação e o fim do escravismo – e com ele
disputavam o futuro do país recém independizado.
Exemplos desses embates são a
Conjuração baiana de 1798; a Revolução republicana de 1817, em
Pernambuco; a Confederação do Equador, em diversos Estados do
Nordeste, em 1824; a Balaiada, em 1830; a Cabanagem, no Pará, em
1935; a Sabinada, na Bahia, em 1837; todas elas rapidamente
derrotadas. Porém, será somente a “Revolução Farroupilha”, na
então Província do Rio Grande do Sul, que conseguirá enfrentar
militarmente, por quase dez anos – de 1835 a 1845 – o
todo-poderoso Império brasileiro, inclusive constituindo-se como
um Estado independente.
O Brasil vivia a época da
ascensão do café como seu principal produto de exportação. Os
grandes proprietários escravistas do Vale do Paraíba do Sul
constituíam a classe dominante do país. Nessa condição, haviam
imposto uma monarquia unitária e centralizada para subjugar as
massas escravizadas – preocupados em evitar outro Haiti – e
submeter as demais províncias aos seus interesses econômicos.
No Rio Grande do Sul,
desenvolvia-se uma economia periférica, subsidiária da economia
central, tendo por base uma pecuária extensiva, voltada
essencialmente à produção de charque para alimentar a escravaria
do país. Ali, o peso do centralismo monárquico se fazia sentir
de diversas maneiras. O presidente da província era nomeado pelo
Rio de Janeiro e governava em função dos interesses da
aristocracia cafeeira, o que marginalizava econômica e
politicamente a oligarquia gaúcha. Ao mesmo tempo, os interesses
expansionistas do Império transformavam a Província – a
fronteira “viva” do país – em um permanente campo de batalha
contra os vizinhos platinos, com graves prejuízos para a sua
economia.
A derrota dos exércitos
imperiais na Guerra Cisplatina (1825-1828) agravou ainda mais
essa insatisfação, seja pela devastação causada pela guerra,
seja pela perda definitiva do Uruguai, o que significou o fim do
acesso dos gaúchos aos campos e rebanhos uruguaios. A isso,
somou-se o imposto de 25% sobre o charque produzido na Província
– enquanto o charque platino pagava apenas 4% – e os tributos
sobre pastagens, esporas, estribos e rum, impostos pelo Império
aos rio-grandenses.
Dessa forma, avolumaram-se as
contradições entre os rio-grandenses e o Império, o que se
expressou em um difuso sentimento de “opressão da Província de
São Pedro pela Corte do Rio de Janeiro”. Criou-se assim, um
terreno fértil para que as idéias republicanas – que
predominavam em toda a região do Prata – se difundissem,
combinadas com as aspirações federalistas. É o conjunto desses
fatores que levará ao levante armado de 1835.
Em 20 de setembro de 1835,
sob a direção de Bento Gonçalves, eclode a “Revolução
Farroupilha”, com a tomada de Porto Alegre pelos revoltosos e a
fuga do então Presidente Fernandes Braga para a cidade de Rio
Grande. Inicialmente, os farroupilhas se restringiram a
reivindicar a substituição do Presidente da Província e um maior
respeito em relação à província. Mas, em 25 de setembro, Bento
Gonçalves já ameaçava com uma eventual separação:
“O Rio Grande é a
sentinela do Brasil, que olha vigilante para o Rio da Prata.
(...) Exigimos que o governo imperial nos dê um governador de
nossa confiança, que olhe pelos nossos interesses (...) ou
nos separaremos do centro e, com a espada na mão, saberemos
morrer com honra ou viver com liberdade. (...) é obra difícil,
senão impossível, escravizar o Rio Grande, impondo-lhe
governadores despóticos e tirânicos.” (FAGUNDES, Morivalde
Calvet. História da Revolução Farroupilha. Caxias do Sul:
EDUCS, 1989, p. 82)
A
proclamação da República Rio-Grandense em 11 de setembro de 1836
Paulatinamente, o movimento –
que contou desde o início com forte participação de negros,
mulatos, mestiços e brancos pobres – se radicalizou e evoluiu,
culminando com a proclamação da República Rio-Grandense, em 11
de setembro de 1836, no campo de Menezes, próximo a Seival. Ali,
no dia anterior, as tropas farroupilhas haviam obtido uma grande
vitória contra as tropas imperiais, com uma participação
destacada do 1º Corpo de Lanceiros Negros, formado por
ex-escravos libertos pela rebelião.
Ainda que não houvesse
unanimidade entre os farroupilhas quanto à República e quanto à
separação em relação ao Império, coube ao General Antônio de
Souza Neto – na ausência de Bento Gonçalves, envolvido na
desastrosa batalha de Fanfa – proclamar a República e a
independência do Rio Grande do Sul, em 11 de setembro de 1836:
“Em todos os ângulos da
Província não soa outro eco que o de INDEPENDENCIA, REPÚBLICA,
LIBERDADE OU MORTE. (...) Nós que compomos a 1ª Brigada do
Exército Liberal devemos ser os primeiros a proclamar, como
proclamamos, a independência desta Província, a qual fica
desligada das demais do Império e forma um Estado Livre e
Independente, como o título de República Rio-Grandense.”
(Idem, p. 154)
Para que isso acontecesse,
jogaram papel decisivo o então Comandante das Armas
Revolucionárias, João Manuel de Lima e Silva – tio do futuro
Duque de Caxias e ativista republicano desde 1831 –, Joaquim
Pedro Soares – braço direito do General Netto – e Manuel Lucas
de Oliveira – que chegaria a ser Ministro da Guerra da
República. Esses proeminentes chefes farroupilhas convenceram o
General Neto que a única alternativa para enfrentar o Império
era proclamar a República e separar-se do Império
Em 20.09.1836 – comemorando
um ano do início da revolta – reuniu-se a Câmara Municipal da
Vila de Jaguarão, que aderiu à proclamação do Gal. Netto e
nomeou Bento Gonçalves Presidente da República Rio-Grandense,
com a tarefa de convocar com a maior presteza possível uma
assembleia constituinte. Em 5 de novembro, reuniu-se a Câmara
Municipal de Piratini, que também aprovou a independência da
Província, sob a forma republicana, com a cláusula de que o novo
Estado poderia “ligar-se pelos laços da federação àquelas
províncias do Brasil que adotassem o mesmo sistema de governo”
(DE ABREU, Florêncio. A Constituinte e o Projeto de
Constituição da República Rio-Grandense.” Porto Alegre:
Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, 1930, p.
6)
Em seguida, os vereadores
realizaram a eleição do governo da República, elegendo Bento
Gonçalves seu Presidente. Estando este prisioneiro do Império
desde 5 de outubro, em conseqüência da batalha de Fanfa, assumiu
a presidência de forma interina José Gomes de Vasconcelos
Jardim. Este estruturou de imediato o governo, criando seis
secretarias: Interior, Exterior, Fazenda, Justiça, Marinha e
Guerra.
Em setembro de 1837, Bento
Gonçalves conseguiu escapar de sua prisão no Forte do Mar, na
Bahia – com o apoio da maçonaria e dos conspiradores Sabinos
– retornando ao Rio Grande do Sul e assumindo a Presidência da
República Rio-Grandense.
Em 29 de agosto de 1838, em
extenso Manifesto – após apresentar as razões que levaram à
rebelião – Bento Gonçalves reiterou que a independência da
República não significava um rompimento com as demais províncias
brasileiras, mas sim com o Império. E que, tão logo outras
“províncias irmãs” adotassem o regime republicano, poderia ser
criada uma Federação republicana que as unisse novamente. Ou
seja, que o objetivo central era a República e não a separação:
“Um só recurso nos
restava, um único meio se oferecia à nossa salvação, e esse
recurso e este único meio era a nossa independência política e o
sistema republicano (...) os rio-grandenses reunidos às suas
municipalidades solenemente proclamaram e juraram a sua
independência política debaixo dos auspícios do sistema
republicano, dispostos, todavia, a federarem-se, quando
nisso se acorde, às províncias irmãs que venham a adotar o
mesmo sistema.” (DA SILVA, Bento Gonçalves, DE ALMEIDA,
Domingos José. Manifesto do Presidente da República
Rio-Grandense em nome de seus Constituintes - 29.08.1838.
In: Coletânea de Documentos de Bento Gonçalves da Silva
1835/1845. Porto Alegre: Comissão Executiva do
Sesquicentenário da Revolução Farroupilha, 1985, pp. 289-290)
Separatismo ou republicanismo?
Aqui reside uma das
principais polêmicas que envolvem a formação da “República
Rio-Grandense”, vista por alguns –equivocadamente – como um
movimento essencialmente separatista.
É importante observar que no
decorrer da luta, os farroupilhas fizeram reiterados
chamamentos aos “brasileiros” para que se levantassem contra o
Governo Imperial. Da mesma forma, podemos constatar a sua
permanente busca de articulação com as demais revoltas liberais
da época, deixando claro que sua luta tinha um caráter
essencialmente anti-monárquico e republicano (sob uma forma
federalista), muito mais que separatista (algo contingencial):
“Brasileiros que iludidos
defendeis a causa do Império! (...) mostrai ao mundo que ainda
pulsa em vossos peitos o fogo elétrico do patriotismo, que ainda
sois os mesmos que derramastes há pouco vosso sangue em
defesa da malfadada Bahia e do Pará [clara referência à
Sabinada e à Cabanagem] (...) Não hesiteis; a sorte dos
baianos e dos paraenses acha-se identificada com a nossa própria
sorte.” (DA SILVA, Bento Gonçalves. Proclamação
24.04.1840. Idem, p. 292)
“Rio-Grandenses! Raiou a
aurora de vossa felicidade (...) os briosos paulistas, em
defesa de sua Pátria, começaram a guerra contra o tirano do
Brasil! Já as falanges paulistanas marcham sobre o inimigo comum
(...) O Brasil em massa se levanta como um só homem para
sacudir o férreo jugo do segundo Pedro. É este o momento de
mostrardes ao mundo que sois rio-grandenses (...) e não só
salvareis a Pátria como sereis os libertadores do Brasil
inteiro. (DA SILVA, Bento Gonçalves. Proclamação:
13.07.42. Idem, p. 294)
Em outros documentos dos
farroupilhas fica ainda mais claro o chamamento às demais
províncias para uma união em torno de uma República de caráter
Federativo:
“A causa que defendemos
não é só nossa, ela é igualmente a causa de todo o Brasil
(...) Uma república federal, baseada em sólidos
princípios de justiça e recíproca conveniência uniria hoje
todas as províncias irmãs, tornando mais forte e respeitável a
nação brasileira. (...) quebrai, ainda é tempo, os grilhões
desonrosos que roxeiam vossos pulsos, e vinde conosco
sustentar nos campos do sul (...) a paz, a felicidade e o
esplendor da nação brasileira.” (DA SILVA, Bento
Gonçalves. Proclamação: 11.03.1843. Idem, p. 295)
E o jornal Farroupilha O
POVO – ao tratar da recém constituída “República
Catarinense” –, não deixa dúvidas quanto à intenção dos líderes
farroupilhas em lutar por uma Federação Republicana que
reunisse, no futuro, em uma mesma nação, o conjunto das
províncias brasileiras:
“A federação
(...) põe no mesmo nível todas as unidades. Disto estavam
bem conscientes os líderes revolucionários e a sua imprensa,
como se conclui da notícia do dia 23 de agosto de 1839 sobre a
visita do enviado extraordinário da recém constituída República
Catarinense para a celebração de um tratado com a República
Rio-Grandense: – ‘Das bases desta aliança pendem os destinos do
Brasil visto que, como pensamos, ela de tal forma deve
enlaçar os interesses das diversas províncias do
agonizante Império que, ao separarem-se daquela
associação ominosa, encontrem não só vigoroso apoio, como ainda
um religioso respeito às garantias e aos direitos a cada um
peculiares.’ – Pretendiam mais que uma confederação no
sentido restrito, o pensamento se inclinava a uma União de
Repúblicas.” (JORNAL O POVO, nº 121 – 23.11.1839. In: DE
MACEDO, Francisco Riopardense. Lições da Revolução
Farroupilha. Porto Alegre: ALERGS, 1995, p. 47)
Deve-se ressaltar, ainda, a
participação na luta farroupilha, em posições de destaque, de
inúmeras lideranças civis, militares e religiosa originários de
outras províncias, como o referido João Manuel de Lima e Silva;
o mineiro Domingos José de Almeida (Ministro do Tesouro), o
carioca José Mariano de Mattos (duas vezes Ministro da Guerra e
Presidente da República Rio-grandense durante mais de dois
anos); o Padre José Antônio Caldas (participante ativo na
Revolução Pernambucana de 1817 e na Confederação do Equador).
Sem falar dos republicanos italianos que se engajaram na luta
farroupilha, como Giuseppe Garibaldi – chefe militar da
unificação da Itália – Luiz Rossetti – redator do jornal
farroupilha O POVO – e Tito Lívio Zambeccari – secretário
particular de Bento Gonçalves.
A
divisão dos farroupilhas frente à abolição da escravidão
Outra questão controversa em
relação à luta farroupilha diz respeito à sua posição frente à
abolição da escravidão. Em relação a esse tema, não há uma
resposta unívoca – “sim” ou “não”. De um lado estavam os setores
progressistas, que defendiam o fim do trabalho servil. De outro,
os que aceitavam a libertação dos escravos que aderissem à luta,
mas opunham-se com veemência à libertação geral dos escravos.
Esse embate deu-se com grande
força nas discussões da Assembleia Constituinte farroupilha, que
– devido aos duros combates e ao constante deslocamento do
governo e da capital republicana – só conseguiu instalar-se em
1º de dezembro de 1842, no município de Alegrete. Nessa ocasião,
Bento Gonçalves dirigiu a palavra aos constituintes – na
condição de Presidente da República –, reafirmando que “aproxima-se
o dia em que, banida a realeza da terra de Santa Cruz,
nos havemos de reunir para estreitar laços federais à magnânima
nação brasileira, a cujo grêmio nos chama a natureza e os
nossos mais caros interesses.” (DE ABREU, Florêncio, idem,
p.12)
Ali, coube ao carioca José
Mariano de Mattos, abolicionista convicto, apresentar em nome da
“maioria” – que incluía Bento Gonçalves, Domingos José de
Almeida, Antônio Souza Neto, José Gomes Portinho, Ulhoa Cintra e
tantos outros – projeto que abolia o cativeiro. A reação da
“minoria”, - capitaneada por Antônio Vicente da Fontoura, Davi
Canabarro e Onofre Pires – foi tão violenta, ameaçando uma
irremediável cisão dos farroupilhas, que inviabilizou sua
aprovação. Alfredo Varela historia os fatos:
“(...) José Mariano (...)
apresentou à assembléia um projeto que abolia o cativeiro,
semelhante ao que se fizera no vizinho Uruguai. Pois bem,
assistiu a extremado e nefando espetáculo. A minoria,
acaudilhada por Antônio Vicente, opôs-se, irredutível e fera,
deixando-nos patente (...) as frágeis razões em que se apoiava
para obstar a ‘liberdade geral dos escravos’. (...) No Diário
que estava escrevendo, (...) Antônio Vicente alude a este
episódio parlamentar: depois de referir-se ‘à alma vil e fraca
do mulato José Mariano’ e ao ‘mofino Bento’, ‘dois demônios’,
desprezados por todo homem decente’, assevera que o plano
emancipador apresentado por ‘esse mulato’, ‘em plena
assembleia’, tinha ‘o fim sinistro de tudo confundir para, no
início da geral consternação, roubar-nos mais amplamente e
evadir-se para o país vizinho.” (VARELA, Alfredo.
História da Grande Revolução – o ciclo farroupilha no Brasil.
Porto Alegre: Livraria do Globo, 1933, Vol. 6, p. 16)
Ficava patente a divisão dos
farroupilhas frente à questão servil. Ainda que boa parte deles
fosse favorável à abolição, as premências da guerra impediam a
sua aprovação. Anos mais tarde o General Portinho lastimaria: “A
República nunca proclamou a liberdade da escravatura (o que foi
um erro); se a tivesse proclamado, poderia formar um exército de
libertos de mais de 6.000 homens, porque na Província os havia.”
( PORTINHO, José Gomes. (organização e notas de Mário Pacheco
Dornelles). Achegas à Araripe (Guerra Civil no RGS).
Porto Alegre: Edição do Organizador, 1990, p. 37)
Fruto dessas circunstâncias,
o Projeto de Constituição da República Rio-Grandense – que nunca
chegou a ser votado – silenciou sobre a abolição da escravidão.
Essa divisão dos farroupilhas
quanta à questão servil levará à “Traição de Porongos”, em 14 de
novembro de 1944, quando Davi Canabarro – um dos líderes da
“minoria”, em conluio com o Duque de Caxias – ofereceu um
combate em que os “Lanceiros Negros” (desarmados na noite
anterior) foram massacrados pelos imperiais. Com isso, foi
eliminado o problema do que fazer com os ex-escravos que lutavam
nas hostes farroupilhas. Pois conceder-lhes a liberdade seria um
mau exemplo para a escravaria de todo o Brasil e enviá-los de
volta às senzalas criaria um enorme risco de futuras rebeliões.
Assim, foi aplainado o caminho para a paz. Mas esse é assunto
para outro artigo...
Sem pretender idealizar a
“Revolução Farroupilha”, nem esquecer os seus limites históricos
e suas profundas contradições, não podemos deixar de perceber o
seu caráter objetivamente progressista, em sua luta pela
República, pela Federação e, inclusive, pela eventual abolição
da escravidão – não concretizada pelas razões expostas –, no
contexto de um Brasil monárquico, escravista, comandado pelos
monocultores exportadores.
Da mesma forma, não
compartimos a visão daqueles que consideram a opção monárquica e
imperial – vitoriosa em meados do século XIX – como sendo a
única capaz de manter a unidade nacional e por isso plenamente
justificada. A luta dos farroupilhas e as demais rebeliões
coetâneas expressam alternativas mais avançadas e democráticas
que poderiam haver sido vitoriosas.
Mas, como nos ensina Karl
Marx, ainda que a História seja feita em condições e
circunstâncias que os homens não determinam, ela é feita pelos
próprios homens!
Historiador Raul Carrion
Presidente da Fundação
Maurício Grabois-RS
Setembro de 2016