Na madrugada do dia 22 de junho de 1941, a Alemanha nazista
atacou de surpresa a União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas, sem declaração prévia de guerra e apesar da plena
vigência do Tratado Germano-Soviético de Não-Agressão.
Iniciava-se a operação Barba Ruiva, que tinha como
objetivo “esmagar a Rússia soviética numa breve campanha”
(Diretiva nº 21 de 18.12.1940).[1]
O ataque se deu em uma frente de 2.800 quilômetros de extensão –
do mar de Barents, no norte, ao mar Negro, no sul.
Antes de seu ataque à URSS, a Alemanha havia acumulado uma série
de vitórias que evidenciavam a pouca disposição das democracias
capitalistas em enfrentar o nazi-fascismo (considerado um dique
contra o comunismo) e a sua intenção de empurrar Hitler contra a
URSS.
Sem disparar um único tiro, a Alemanha havia anexado a Áustria e
a Checoslováquia (1938). Em quatro semanas, aniquilou a Polônia
(1939). Ocupou a Dinamarca e a Noruega sem resistência (1940).
Derrotou a Holanda, Bélgica e França em 30 dias e expulsou as
tropas inglesas do continente em Dunkerque (1940). Em questão de
dias, dominou a Yugoslávia e a Grécia (1941). Por fim, obteve a
adesão aos seus planos guerreiros dos regimes fascistas da
Itália, Romênia, Hungria, Bulgária e Finlândia.
A decisão de atacar a URSS – tomada no 2º semestre de 1940 – fez
Hitler adiar as operações “Leão Marinho” (Inglaterra), “Félix”
(Gibraltar) e “Átila” (Sul da França), para concentrar todas as
forças contra a URSS. Como afirmou o parlamentar inglês Arthur
Woodburn, “o grande poderio da Rússia (...) era um peso de
chumbo nos pés de Hitler que o impedia de saltar contra nós”.
“A URSS DE JOELHOS EM DUAS A TRÊS SEMANAS!”
Tendo por base seus êxitos militares fulminantes no ocidente
capitalista, Hitler e seus generais prognosticaram uma rápida
vitória contra a URSS: “Não é um exagero afirmar que a
campanha da Rússia será vencida em duas semanas”[2]
afirmou o Comandante em Chefe das Forças Armadas da Alemanha,
Gal. Brauchitsch. “Três semanas após o início do nosso
ataque, este castelo de cartas cairá”[3],
prometeu o seu Chefe do Estado-Maior, Gal. Alfred Jodl.
Para a Operação Barba Ruiva – maior operação militar da
História – o Alto Comando alemão destinou 152 divisões –
incluindo 19 divisões de tanques e 14 motorizadas – totalizando
3,3 milhões de soldados. A eles se somavam 1,2 milhões de homens
da Força Aérea e 100 mil homens da Marinha de Guerra, o que
perfazia 77% dos efetivos do exército alemão. Os países
satélites aportaram 29 divisões e 16 brigadas, somando 900 mil
soldados. Assim, os efetivos da Alemanha e seus satélites para o
ataque ascendiam a 5,5 milhões de homens. O armamento incluía
47.260 canhões e morteiros, 2.800 tanques e 4.950 aviões.
Esse imenso exército – calejado em dois anos de combates
invictos – tinha detrás de si a poderosa economia de guerra da
Alemanha e de toda a Europa ocupada, com uma produção bélica
muito superior à da URSS, e não precisava temer qualquer
confronto militar sério a oeste, vista a total inatividade
inglesa (os EUA ainda mantinham sua neutralidade). Seu objetivo
era aniquilar as principais forças armadas soviéticas e ocupar a
URSS européia – de Arkhangel no norte, a Astrakan no sul, antes
do final do verão.
GUERRA DE EXTERMÍNIO
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Cinco
civis soviéticos prestes a serem enforcados
por soldados alemães, perto da cidade de
Velizh, na região de Smolensk, em setembro
de 1941. |
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Diferentemente da guerra no ocidente, a guerra contra a URSS
seria “uma guerra de extermínio”, com o objetivo de eliminar a
população eslava – considerada “infra-humana” – e liberar terras
para colonos alemães. Em maio de 1941, foi aprovada diretiva
isentando oficiais e soldados alemães de quaisquer crimes em
território soviético e determinando “matar a todos os
guerrilheiros e suspeitos de simpatizar com eles e fuzilar sem
processo a todos que opusessem a mínima resistência aos alemães.”
[4] Foi decidido o fuzilamento imediato
dos instrutores políticos e o extermínio dos prisioneiros do
Exército Vermelho.
Deveriam ser expulsos dos lugares onde viviam 80 a 85% dos
polacos, 65% dos ucranianos ocidentais e 75% dos bielo-russos.
Hitler Afirmou: “devemos exterminar à população; isso
faz parte da nossa missão de proteger a população alemã. Temos
que desenvolver a técnica de aniquilamento da população (...).
Eu tenho direito a suprimir milhões de pessoas de raça inferior,
que se multiplicam como vermes”.[5]
E o chefe do Estado Maior das forças terrestres alemãs, Gal.
Halder, no 17º dia da invasão, anotou em seu diário: “O
Führer tem a firme intenção de arrasar Leningrado e Moscou e de
as tornar inabitáveis para nos poupar a despesa de alimentar a
população durante o inverno.”[6]
A BUSCA DA PAZ COM A INGLATERRA ANTES DO ATAQUE À URSS
Em 1940, quando invadiu a França, Hitler havia ordenado aos
exércitos alemães que se dirigiam a Dunkerque, com o objetivo de
aniquilar as tropas inglesas encurraladas, que se detivessem.
Com isso, os ingleses puderam escapar para a Inglaterra, sem
grandes perdas humanas. Ficou clara a intenção de Hitler de não
fechar as portas para uma negociação com os ingleses. Desde
então, os alemães fizeram várias tratativas de paz com a
Inglaterra, com o objetivo de ter as mãos livres para atacar a
URSS. Nisso, contavam com a conivência do Grupo de Cliveden
e outros setores pró-nazistas da Inglaterra. Churchill não se
opôs a essas tratativas, buscando encorajar o ataque nazista à
URSS.
Em 10 de maio de 1941, Rudolf Hess – braço direito de Hitler –
saltou de pára-quedas na Escócia, para informar os ingleses do
ataque à URSS e propor-lhes um acordo, pelo qual a Inglaterra
teria carta branca em suas colônias, em troca da devolução das
ex-colônias alemãs, do reconhecimento da hegemonia nazista na
Europa continental e do apoio inglês à invasão da URSS.
Churchill incentivou as expectativas de Hitler em relação a um
acordo nesses termos, para induzi-lo a atacar a URSS.
Sentindo-se seguro a oeste, Hitler atacou a URSS. Só então,
Churchill divulgou que apoiaria a URSS contra Hitler e
esclareceu os motivos: “Ele [Hitler] quer destruir a
potência russa porque espera, se tiver êxito, poder trazer do
Leste o grosso de seus exércitos e de suas forças aéreas e
precipitá-los sobre nossa ilha. (...) Sua invasão da Rússia nada
mais é do que um prelúdio a uma tentativa de invasão das ilhas
Britânicas.”[7]
Meses depois, a URSS assinou um tratado de amizade e assistência
mútua com a Inglaterra e firmou uma declaração conjunta
americano-soviética, afirmando que ambos os países estavam de
acordo quanto à necessidade de criar imediatamente uma segunda
frente na Europa, em 1942. O que não foi cumprido nem pela
Inglaterra, nem pelos EUA.
As verdadeiras intenções de ingleses e norte-americanos foram
explicitadas pelo futuro Presidente dos EUA, Harry Truman, que,
dois dias após o ataque alemão à URSS, escreveu no New York
Times: “Se virmos que a Alemanha está vencendo, devemos
ajudar a Rússia. Se a Rússia estiver vencendo, devemos ajudar a
Alemanha e assim se exterminarão uma à outra, ao máximo.”[8]
OS TRÊS VETORES PRINCIPAIS DO ATAQUE ALEMÃO
O ataque nazista ocorreu em três direções principais: o Grupo de
Exércitos Norte – comandado pelo marechal de campo Von Leeb –
avançou para os Estados bálticos com o apoio dos exércitos
finlandeses, com o objetivo de tomar Leningrado e chegar ao mar
Branco. O Grupo de Exércitos do Centro – comandado pelo marechal
de campo Von Bock – pretendia ocupar o centro da Rússia européia
e tomar Moscou. Já o Grupo de Exércitos Sul – comandado pelo
marechal de campo Von Rundsted – com o apoio de romenos,
húngaros e checos – deveria avançar na Ucrânia, tomar Kiev, a
bacia siderúrgica e carbonífera do Baixo Dom, o ferro de
Krivoi-Rog, o aço, o manganês e os ricos poços de petróleo do
Cáucaso. Também devia tomar a Criméia, para dominar o mar Negro.
Ao efeito surpresa e à enorme superioridade dos exércitos
atacantes somou-se o fato do sistema de defesa da URSS ainda não
ter sido concluído, a modernização de suas forças armadas ainda
estar em andamento e 75% dos oficiais do Exército Vermelho
estarem em seus postos há apenas um ano, devido aos expurgos de
1937 no exército.
Como Stalin e a liderança soviética sabiam que a Inglaterra
buscava provocar a guerra entre a URSS e a Alemanha, isso fez
com que desconfiassem dos diversos alertas de ataque alemão
proporcionados pelos ingleses e por seus próprios informantes.
Mas, a URSS não havia deixado de preparar-se para a inevitável
guerra com a Alemanha. Além de transferir, a partir de 1939,
milhares de empresas para além dos Urais, as despesas com a
defesa nacional saltaram de 5,4%, no 1º Plano qüinqüenal, para
12,6%, no 2º, e 26,4%, no 3º. E, em 1941, 43,4% do orçamento da
URSS foram destinados à defesa do país. De janeiro de 1939 a 22
de junho de 1941, o Exército Vermelho recebeu mais de 7.000
carros de combate, 30 mil canhões e 52 mil morteiros e 17.700
aviões. Às vésperas da guerra, foi reforçado por 800 mil homens.
Apesar de todas as cautelas em relação a uma eventual provocação
inglesa, às 0h30min do dia 22 de junho, os comandantes
Timochenko e Jukov enviaram instruções às forças aéreas e
terrestres, informando que:
É
possível que no decorrer dos dias 22 ou 23 de junho se verifique
um ataque súbito dos alemães na frente das regiões de
Leningrado, do Báltico, do Ocidente, de Kiev e de Odessa. O
ataque alemão pode começar por ações de provocação. (...)
As nossas tropas têm obrigação de não se prestar a qualquer
provocação que possa suscitar complicações graves. Ao mesmo
tempo, (...) devem estar prontas a repelir eventuais ataques
súbitos dos alemães ou de seus aliados[9].
As instruções determinavam, ainda, que na noite do dia 21 as
tropas ocupassem discretamente os locais fortificados das zonas
de fronteira, dispersassem e camuflassem as aeronaves civis e
militares, colocassem em alerta as unidades de artilharia
antiaérea e preparassem o blackout. Essas instruções,
porém, chegaram tarde a muitas unidades que não se prepararam em
tempo para o ataque que se seguiu. Outras receberam essas
instruções já sob o fogo inimigo.
Diferentemente do que alguns dizem Stalin não sumiu nem caiu em
prostração diante do ataque alemão. Ao contrário, colocou-se
desde a madrugada de 22 de junho à frente da resistência ao
invasor nazi-fascista. Às 5h45, encontrou-se com Jukov,
Timochenko, Mekhlis, Beria e Molotov para saber da situação
militar. Às 7h reuniu-se com membros do Politburo – Molotov,
Voroshilov, Kaganovitch, Beria e Malenkov –, além de Dimitrov e
Manuilski, da IC. Georgi Dimitrov anotou em seu diário: “O
que surpreende é a calma, a determinação e a grande confiança em
si mesmo de Stalin e de todos os outros.”[10]
Analisando o fato de ter sido Molotov e não Stalin quem falou ao
povo soviético nesse dia, o Historiador Pierre Vallaud – duro
crítico da URSS e de Stalin – diz: “não havia vácuo de poder,
principalmente não de Stalin. E se este último não toma a
palavra, é oficialmente por ordem de seu médico: Stalin foi
examinado na noite anterior, está com febre e um abscesso na
garganta. Ele não pode, de maneira alguma, pronunciar um
discurso no rádio”[11].
Em 3 de julho, Stalin fará o seu primeiro discurso ao povo
soviético.
Iniciada a invasão, as tropas alemãs avançaram rapidamente –
principalmente suas unidades blindadas – e abriram profundas
brechas nas defesas soviéticas, tomando importantes nós de
comunicação, estabelecendo “cabeças de ponte” em setores chaves
e realizando o cerco de grandes agrupamentos de tropas
soviéticas. Só na primeira noite foram destruídas 1.489
aeronaves, das quais 1.100 no solo. Quase todo o sistema de
comunicações soviético foi destruído, dificultando a condução
coordenada da defesa. Em 25 de junho, as forças alemãs de
vanguarda haviam avançado 230 quilômetros, em algumas áreas.
O AVANÇO DO GRUPO DE EXÉRCITOS DO CENTRO
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Defesa
anti-aérea russa em Smolensk durante a
ofensiva alemã em direção a Moscou em 1941. |
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Na Frente Central, em apenas duas semanas, os alemães ocuparam a
Polônia Oriental, tomaram Minsk (28.06) e boa parte da
Bielo-Rússia, Ucrânia e Moldávia. Grandes contingentes de tropas
soviéticas foram aniquilados nos bolsões de Bialiystok e Minsk.
Em 16 de julho, Smolensk foi tomada e importantes forças
soviéticas foram cercadas. Em 23 de julho, um contra-ataque
soviético rompeu o bolsão de Smolensk e permitiu que a maioria
das tropas escapasse. Os soviéticos estabeleceram uma nova linha
defensiva ao longo do rio Dniepre, onde detiveram o avanço
alemão até fins de agosto, causando-lhes pesadas perdas.
As fortes perdas dos exércitos alemães – 250 mil homens só nos
combates de Smolensk – e as dificuldades para abastecê-los,
devido aos constantes ataques soviéticos pelos flancos e à ação
guerrilheira na retaguarda, impediram Hitler de investir de
imediato contra Moscou. Em 30 de julho, ele ordenou à Frente
Central que passasse à defensiva e às frentes norte e sul que
avançassem para tomar Leningrado e Kiev.
LENINGRADO RESISTE E É SITIADA
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Painel
registra o panorama da batalha de Leningrado
no Museu da Grande Guerra Patriótica de
Moscou. |
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No norte, em três semanas de luta, os exércitos alemães,
ocuparam a Lituânia, Letônia e Estônia e Pskov, ao sul de
Leningrado. No caminho, ficaram bolsões de tropas soviéticas
resistindo. Atacando pelo sul – enquanto os finlandeses atacavam
pelo norte –, as tropas nazistas foram detidas no rio Luga. Em
meados de julho, um forte contra-ataque soviético obrigou os
alemães a recuarem 50 km e destruiu boa parte de suas forças
blindadas. Em agosto, outro forte contra-ataque soviético causou
grandes perdas aos alemães. Com isso, o seu avanço foi retardado
e Leningrado pode preparar-se para uma luta “casa a casa”,
incorporando centenas de milhares de cidadãos à sua defesa.
Foram construídos quase 1.000 km de trincheiras, 650 km de
fossos antitanque e 5.000 casamatas.
Na medida em que a resistência soviética na Frente Central
passou a exigir uma parte dos blindados da Frente Norte, houve
um enfraquecimento das forças que atacavam Leningrado. Depois de
diversas tentativas de tomá-la, em 23 de setembro o General
Halder reconheceu a impotência alemã: “Nossas forças (...)
sofreram pesadas perdas. Essas forças são suficientes para a
defesa, mas não para acabar com o inimigo. Entretanto, não temos
outras forças.”[12]
Hitler é imperativo: “Decidi apagar São Petersburgo da
superfície da terra. (...) O problema da vida da população e de
seu abastecimento não cabe a nós e não deve ser resolvido por
nós. (...) Não temos que preservar nem mesmo a menor parte da
população dessa cidade grande.”[13]
Von Leeb comunica Hitler, então, que diante da impossibilidade
de tomar Leningrado, passará a sitiá-la, com o objetivo de
exterminar seus três milhões de habitantes pelos bombardeios e
pela fome.
A resistência heróica de Leningrado reteve um grande número de
divisões alemãs, indispensáveis para a tomada de Moscou. O cerco
causou mais de um milhão de mortos – 800 mil dos quais de fome –
e só foi rompido em 27 de janeiro de 1944, quase 900 dias
depois, quando a ofensiva geral do Exército Vermelho aniquilou
as tropas alemãs que sitiavam Leningrado.
O AVANÇO ALEMÃO NO SUL E A TOMADA DE KIEV
No sul, os exércitos alemães – com o apoio dos romenos, húngaros
e checos – avançaram em direção a Kiev. Em 11 de julho, os
alemães atacaram os arredores da capital ucraniana. Frente à
ameaça de cerco, uma parte do comando soviético propôs, em 11 de
setembro, um recuo geral e o abandono de Kiev; outra parte se
opôs ao abandono de Kiev e convenceu Stalin a manter a
resistência. Só em 17 de setembro, quando a situação se tornou
insustentável, essa decisão foi adotada, mas tarde demais para
evitar que, além da queda de Kiev, centenas de milhares de
soldados soviéticos fossem feitos prisioneiros. Com isso, foi
aberto o caminho para os alemães ocuparem a Bacia do Don.
Mais ao sul, os alemães avançaram na Criméia, chegando quase ao
mar de Azov. Em agosto, os nazi-fascistas atacaram Odessa, que
resistiu por 73 dias, causando mais de 100 mil baixas aos
exércitos nazi-fascistas. Quando a resistência se tornou
impossível, foram evacuados por barco 80 mil soldados, 350 mil
habitantes e 200 mil toneladas de material.
A “OPERAÇÃO TUFÃO” E O SEU FRACASSO DIANTE
DE MOSCOU
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O 1077º
regimento russo era formado inteiramente por
mulheres jovens. Ficou conhecido por sua
feroz interceptação da 16ª Divisão Panzer
alemã no ataque a uma fábrica de tanques em
Stalingrado, em agosto de 1942. Armadas com
apenas trinta e sete bombardeiros, as jovens
do 1077 dispararam contra tanques alemães e
submetralhadoras por dois dias antes de
finalmente serem dominadas pelo grande
número de alemães. O 1077º não existia mais,
mas não antes de destruir 83 tanques, 15
veículos de infantaria, eliminando 3
batalhões de infantaria e abatendo 14
aeronaves. |
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Em 2 de outubro de 1941, as tropas alemãs iniciaram a
Operação Tufão – como o objetivo de destruir até o início do
inverno, o resto das tropas soviéticas, tomar Moscou e derrotar
definitivamente a URSS. As ordens de Hitler foram implacáveis:
A cidade
deve ser cercada de modo que nenhum soldado ou habitante russo
possa escapar, seja homem, mulher ou criança. Sufocar pela força
qualquer tentativa de fuga. Adotar todas as medidas necessárias
de modo que Moscou e seu entorno, com auxílio de poderosas
estruturas, seja inundada de água. Lá onde está Moscou
atualmente, deve surgir um mar que oculte do mundo ocidental
para sempre a capital da nação russa. (...) Para outras cidades
(...), deverá vigorar a seguinte regra: devem ser reduzidas a
ruínas pelo fogo de artilharia e ataques aéreos antes da sua
ocupação.[14]
Para isso, foram mobilizadas 75 divisões – quase dois milhões de
homens, mais de 500 tanques e 1.000 aeronaves. O avanço inicial
foi rápido e no dia 6 a cidade de Orel – 240 km adiante – foi
conquistada. Em Viazma e Briansk, oito exércitos soviéticos que
defendiam Moscou foram cercados e sofreram grandes perdas. Ainda
que parte deles tenha escapado ao cerco, o caminho para Moscou
estava aberto para os alemães.
Nesses dias, o adido de imprensa da Chancelaria Alemã declarou
aos correspondentes estrangeiros em Berlim: “No plano
militar, a Rússia parou de existir. Os ingleses só precisam
enterrar seus sonhos de uma guerra em duas frentes.”[15]
Porém, a resistência obstinada dos soviéticos cercados em Viazma
e Briansk retardou irremediavelmente a investida contra Moscou.
O clima começou a mudar e caíram as primeiras chuvas e nevascas
do outono russo. As estradas tornaram-se intransitáveis e o
abastecimento dos agressores chegou ao seu ponto mais baixo. Os
soviéticos ganharam um tempo precioso para organizar a defesa de
Moscou e trazer tropas frescas do Extremo Oriente e da Ásia
Central.
Diante do perigo, o governo soviético e as legações
estrangeiras foram transferidos para Kuibyshev – há 2,5 mil km
de distância – e
500 fábricas foram
transportadas para o Volga e os Urais,
mas Stalin e o Alto Comando permaneceram no Kremlin.
Foram construídos 8 mil km de trincheiras e valas antitanque e
Moscou preparou-se para uma defesa “casa a casa”.
Só em meados de outubro – após o aniquilamento de centenas de
milhares de soviéticos em Vyazma e Briansk –, os alemães
conseguiram retomar o ataque a Moscou, mas enfrentaram uma
resistência titânica, que lhes causou enormes perdas. Em
Kalinin, Tula, Mojaisk e Kursk eles foram detidos. Na
retaguarda, unidades que haviam escapado do cerco e as forças
guerrilheiras, atacavam dia e noite as tropas alemãs e os
comboios de carga, colapsando o seu abastecimento. Em fins de
outubro, os alemães passaram à defensiva e o general alemão
Blumentritt constatou:
A moral
dos oficiais e dos homens começa a diminuir. A resistência
inimiga se intensifica e os combates se tornam mais ferozes.
Várias companhias nossas são reduzidas a sessenta ou setenta
homens. O inverno chegou e nós ainda não recebemos equipamentos
quentes (...). Por detrás das linhas, as florestas e os pântanos
se povoam com resistentes cuja ação é duramente sentida. A cada
instante, nossas colunas de abastecimento são atacadas.”[16]
Em 7 de novembro – aniversário da Revolução Socialista de 1917 –
os soviéticos promoveram, não obstante a guerra, o tradicional
desfile da Praça Vermelha, demonstrando a sua capacidade de
resistência e a sua confiança na vitória contra as hordas
nazi-fascistas.
Em meados de novembro, os alemães concentraram 51 divisões – 13
delas blindadas e 7 motorizadas - e retomaram a ofensiva,
conseguindo chegar a apenas 25 km de Moscou, mas as suas forças
estavam esgotadas. Em 3 de dezembro, Von Kluge afirmou: “as
tropas se encontram em uma situação extremamente difícil. (...)
as perdas alemãs em homens são simplesmente colossais.” E
Guderian lamentou: “O ataque a Moscou falhou (...) Sofremos
uma séria derrota.”[17]
Três dias depois, os soviéticos iniciaram uma poderosa
contra-ofensiva, romperam o cerco a Moscou e obrigaram os
alemães a recuar de 150 a 350 km, retomando Rostov, Kalinin,
Tula e Volokolamsk. O general alemão Westphal desabafou: o “exército
alemão, antes considerado invencível, encontra-se à beira da
destruição.”[18]
Enfurecido, Hitler destituiu o comandante geral do Exército, Von
Brauchitsch, o comandante dos exércitos do Centro, Von Bock, 3
dos 6 chefes de exército – Guderian, Hoepner e Strauss – e 4 dos
22 comandantes. Além disso, teve de trazer tropas dos países
ocupados na Europa, buscando recuperar a capacidade de combate
de suas tropas.
A CATÁSTROFE ALEMÃ EM STALINGRADO
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A Batalha
de Stalingrado foi disputada literalmente
"casa a casa". Durou de julho de 1942 até
fevereiro de 1943 e terminou com a derrota
alemã . No final, a cidade de Stalingrado
era estruturalmente comparável a Hiroshima
ou Nagasaki, tamanha sua destruição. |
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Fracassadas suas ofensivas em Leningrado e Moscou, Hitler
decidiu atacar ao sul, rico em petróleo, cereais e minérios, e
ocupar a Criméia e o Cáucaso. Em uma segunda fase, buscaria
tomar Stalingrado e o Volga, para daí atacar Moscou, pelo sul.
Segundo Júkov, em maio de 1942, os alemães tinham na frente
Oriental “um exército de seis milhões de homens (...), 3.229
carros de combate e armamentos de assalto, 57.000 canhões e
morteiros e 3.395 aviões de combate.”[19]
O ataque alemão começou em 7 de maio.
Em uma semana toda a península foi conquistada, com exceção de
Sebastopol, que resistiu até julho de 1942. Parte das tropas
avançou para o Cáucaso, chegando a 60 km dos campos petrolíferos
de Grosny. Outra parte tomou Kharkov e Rostov e interrompeu o
abastecimento de petróleo e cereais. Ao oeste de Stalingrado,
todas as comunicações caíram em mãos alemãs. Ao inexistir uma 2ª
frente na Europa – os alemães puderam concentraram 70% de suas
tropas – 3 milhões de soldados –– contra a URSS, metade deles na
frente sul.
Em 17 de julho de 1942, Von Paulus lançou contra Stalingrado o
6º exército de blindados – com 250.000 homens, 1.200 aviões e
750 tanques –, o 4º exército de blindados e alguns exércitos
italianos e romenos. Em 8 de agosto, os agressores romperam as
linhas de defesa no Don. Em 14 de setembro chegaram aos
subúrbios de Stalingrado. A partir daí, a luta prosseguiu “casa
a casa”. Os soviéticos – reduzidos a 40 mil combatentes,
encurralados em uma área de 25 km de extensão por 5 km de
profundidade – resistiram meses a fio, exaurindo as tropas
alemãs.
Em 19 de novembro – surpreendendo totalmente os alemães – os
soviéticos iniciaram uma contra-ofensivo ao norte e ao sul de
Stalingrado, com um milhão de homens, 13 mil canhões, 894
tanques e 1.150 aviões. O 3º Exército romeno foi destroçado e o
6ºe 4º exércitos nazistas cercados e divididos em 2 bolsões. Os
esforços alemães para romper o cerco a partir do oeste
fracassaram. Precariamente abastecidos pelo ar, pouco a pouco os
alemães foram sendo dizimados e estrangulados. Em 31 de janeiro
de 1943, o marechal Von Paulus, 24 generais, 2.500 oficiais e
91.000 soldados restantes renderam-se. Em 2 de fevereiro,
capitularam as últimas tropas alemães cercadas. As perdas
nazistas nas regiões do Don, Volga e Stalingrado somaram 1,5
milhão de homens, 3.500 carros de combate e armas de assalto, 12
mil peças de artilharia, 3 mil aviões e outros equipamentos.
Segundo o general alemão Westphal “a derrota de Stalingrado
horrorizou o povo alemão, bem como o seu exército. Nunca antes,
em toda história da Alemanha houve um caso tão terrível de
mortandade de força tão numerosa.”[20]
O esmagamento de alemães, romenos e italianos em Stalingrado
marcou uma viragem na guerra. A partir daí, a Alemanha perdeu a
iniciativa estratégica e logo teve de abandonar o Cáucaso, para
evitar o cerco. O Exército Vermelho iniciou uma ofensiva que em
três semanas libertou Rostov e avançou 260 km na frente do Don.
Kharkov também foi retomada, mas um contra-ataque alemão a
recuperou. Ao norte, houve o desbloqueio parcial de Leningrado.
Na região central, foram recuperadas Rzhev, Viazma, Demiansk e
Kursk.
FRACASSO DO ATAQUE ALEMÃO EM KURSK E A CONTRAOFENSIVA GERAL
SOVIÉTICA
Para vingar-se da derrota em Stalingrado, os alemães prepararam
um ataque ao saliente de Kursk, na frente Central, utilizando
900 mil homens, 2.400 carros de combate (70% do total existente
na frente oriental), 10.000 canhões e morteiros. Os soviéticos –
prevenidos por seus serviços de informações – concentraram 1,3
milhões de homens e 3.500 carros de combate e canhões
autopropulsados, 20 mil peças de artilharia e 2.900 aviões. O
ataque alemão teve início em 5 de julho de 1943, obtendo alguns
êxitos iniciais. Em 12 de julho, uma poderosa contra-ofensiva
soviética fez os alemães recuarem além de onde haviam partido,
com enormes perdas. Em 22 de julho, Hitler teve que ordenar a
suspensão do ataque. Em sua contra-ofensiva, o Exército Vermelho
expandiu o bolsão de Kursk ao norte e ao sul e libertou Orel,
Bielgorod e Kharkov (23.08.43). As perdas alemãs na batalha de
Kursk foram de 500 mil homens, 1.500 carros combate, 3 mil
canhões de 3.700 aeronaves
O Exército Vermelho iniciou, então, sua ofensiva geral, em uma
frente de mais de 1.000 km. Foram libertadas Briansk (17.09),
Smolensk (24.09), Kiev (06.11) e Gomel (27.11). Os alemães foram
empurrados 250 km para oeste e jogados ao outro lado do Rio
Dnieper. Em retirada, os alemães sofreram – entre julho a
outubro de 1943 – 365 mil baixas e grandes perdas materiais.
Recuaram destruindo tudo o que encontraram no caminho e
assassinando dezenas de milhares de idosos, mulheres e crianças.
EXPULSÃO DOS NAZIFASCISTAS DO TERRITÓRIO SOVIÉTICO
Mesmo ferida de morte, a Alemanha ainda contava na frente
oriental com 5 milhões de homens, 5.400 carros de combate, 55
mil canhões e 3 mil aviões, incluídas as tropas de seus aliados.
Mas nada conseguiu deter a ofensiva soviética. Ao norte, em
janeiro de 1944, o Exército Vermelho rompeu o cerco de
Leningrado, libertou Novgorod, a Estônia e parte da Letônia. Em
junho, atacou os finlandeses na Carélia, obrigando-os a
assinarem o Armistício de Moscou (19.09). Em outubro, os
alemães abandonaram o Ártico soviético e o nordeste da Noruega.
No Sul, em fevereiro e março, os alemães foram jogados além do
Dniester e expulsos da Ucrânia oriental e da Galitzia. Toda a
península da Criméia – incluindo Odessa e Sebastopol – foi
higienizada de tropas nazistas. Em abril, foi libertada a
Moldávia e as tropas soviéticas entraram na Romênia onde
aniquilaram, nos arredores de Iasi e Kishiniov, 25 divisões
germano-romenas, avançando para o centro do país. Em 23 de
agosto, um levante popular-militar – com forte participação do
Partido Comunista da Romênia – depôs o ditador Antonescu e
formou um novo governo, que propôs aos aliados um armistício e
declarou guerra à Alemanha.
Na região central, o Exército Vermelho iniciou, em junho, a
Operação Bagration, que aniquilou o Grupo de Exércitos
Centro – o mais poderoso destacamento de tropas da Alemanha
nazista, com 1,2 milhões de soldados, 900 tanques, 10 mil
canhões e 1.400 aviões –, libertou a Bielorrússia, parte da
Lituânia e da Letônia, a Ucrânia ocidental e grande parte da
Polônia oriental, incluindo Lublin, Helm, Brest-Litovsk e Lvov.
Em Lublin, foi formado o Comitê Polaco de Libertação Nacional
(CPLN) e constituídas as Forças Armadas Polonesas (FAP) –
dirigidas pelo Partido Operário Polaco – que em fins de 1944, já
contavam com 286 mil homens, jogando importante papel na vitória
contra os nazistas. Em julho de 1944, as tropas soviéticas
cruzaram o Vístula e chegaram às portas de Varsóvia, após um
avanço de 724 km. A extensão das linhas de suprimentos e a perda
de 30% de seus efetivos, além da crescente resistência alemã,
obrigaram os soviéticos a uma parada. No decorrer dessa
ofensiva, haviam sido mortos 500 mil alemães e o general alemão
Buttlar afirmou que “a derrota do Grupo de Exércitos ‘Centro’
pôs fim à resistência alemã no leste.”[21]
O LEVANTE DE VARSÓVIA E O TARDIO DESEMBARQUE
ALIADO NO SUL DA FRANÇA
|
Depois da
Revolta de Varsóvia, 85% da cidade foi
deliberadamente destruída pelas forças
alemãs. |
|
É
nesse contexto que, em 1º de agosto de 1944, sem qualquer
articulação com o Exército Vermelho, o General Komorowski –
chefe da resistência polaca pró-ocidental – iniciou um levante
em Varsóvia, com o único objetivo de antecipar-se à chegada das
tropas soviéticas, alijar o CPLN formado em Lublin e instalar um
poder anticomunista.
Apesar de estar com suas forças exauridas, o Exército Vermelho
buscou ajudar os insurretos retomando a ofensiva durante agosto
e a primeira metade de setembro, sofrendo pesadas baixas. Foi
feito um ataque contra Praga, subúrbio de Varsóvia, e o 1º
Exército Polaco cruzou o Vístula, mas não conseguiu vencer a
forte resistência alemã. Aviões soviéticos realizaram 2.243
incursões e lançaram para os sublevados 156 morteiros, 505 fuzis
antitanque, 2.667 subfuzis e fuzis, 41.780 granadas, 3 milhões
de cartuchos, 113 toneladas de víveres e 500 kg de medicamentos.
Os alemães concentraram poderosas forças em Varsóvia e
reprimiram cruelmente o levante, matando 38 mil combatentes –
entre eles tropas da FAP que estavam em Varsóvia – e mais de 250
mil civis. Desmentindo aqueles que afirmam que o Exército
Vermelho não tomou Varsóvia naquele momento porque não quiz, o
general alemão Tippelskirch reconheceu que “a insurreição
estalou em 1º de março, quando a força do golpe russo já havia
se esgotado.” Os soviéticos só conseguirão tomar Varsóvia em
janeiro de 1945 e Lódz só foi libertada em fins de janeiro.
Diante da ofensiva avassaladora dos exércitos soviéticos na
frente oriental, os EUA e a Grã-Bretanha – após três anos de
tergiversações – finalmente realizaram um tardio desembarque no
sul da França, em 6 de junho de 1944, abrindo a “2ª frente”,
prometida para 1942. Ficava claro que depois de deixarem a URSS
enfrentar sozinha, durante três anos, a máquina de guerra
nazi-fascista, agora os “aliados” atuavam com o claro objetivo
de impedir que a URSS vencesse a guerra sozinha. O número
irrelevante de soldados que desembarcou no sul da França – 150
mil homens – mostra o ridículo das afirmações dos ideólogos do
imperialismo (não podemos considerá-los “historiadores”) que
afirmam que esse desembarque foi “o momento da virada” da
Segunda Guerra Mundial.
O AVANÇO EM DIREÇAO A BERLIM E A CAPITULAÇÃO ALEMÃ
|
O
Exército Vermelho em Berlim em 1945, tendo
ao fundo o Portão de Brandemburgo. |
|
Em 5 de setembro de 1944, a União Soviética declarou guerra à
Bulgária, onde já atuava o Exército Popular de Libertação, com
quase 20 mil homens, sob a direção do Partido Operário Búlgaro.
No dia 9, uma sublevação em Sofia derrubou o governo fascista e
colocou no poder a “Frente Patriótica”, que havia formado 670
comitês em todo o país. Esse novo governo assinou uma trégua com
os aliados e declarou guerra à Alemanha.
Em 28 de setembro de 1944, o 57º Exército soviético entrou na
Yugoslávia e
– em conjunto com o Exército Popular de Libertação da
Yugoslávia, que contava com 400 mil homens – iniciou uma
ofensiva contra Belgrado, que foi libertada em 20 de outubro. Na
Albânia, o Exército de Libertação Nacional, dirigido pelo
Partido Comunista da Albânia, libertou Tirana em 17 de novembro.
Em janeiro de 1945, os soviéticos iniciaram a ofensiva que
expulsou os alemães dos últimos territórios poloneses ocupados.
Em 31 de janeiro, as tropas soviéticas conquistaram uma cabeça
de ponte no rio Oder, a 70 km de Berlim. Em 13 de fevereiro de
1945, após duros combates, os soviéticos tomaram Budapeste, na
Hungria. Em fins de fevereiro, parte do Exército Vermelho
avançou para o Báltico e varreu as tropas alemãs que ali ainda
se encontravam. Outra parte dirigiu-se para Viena, libertando-a
em 13 de abril.
Sentindo-se derrotados, os nazistas buscaram uma negociação de
paz em separado com os EUA e a Inglaterra. Ao mesmo tempo que
diminuíram a resistência a oeste, a fortaleceram a leste. Era
evidente a intenção dos nazi-fascistas de se renderem aos
aliados ocidentais e não aos soviéticos.
Cientes disso, os soviéticos deram início à sua ofensiva contra
Berlim em 16 de abril. Oito dias depois, a capital alemã estava
cercada e Hitler suicidou-se. O almirante Dönitz, ao assumir o
governo, afirmou: “minha tarefa primeira é salvar os alemães
da eliminação pelos bolcheviques (...) As ações militares
continuam apenas em prol deste objetivo”. Propôs, então, a
ingleses e norte-americanos um entendimento, para lutarem juntos
contra a URSS. Nessa ocasião, Churchill orientou Montgomery a “reunir
cuidadosamente as armas e equipamentos militares alemães e
armazená-los, de modo que possam ser facilmente redistribuído às
unidades germânicas que deveriam cooperar conosco, caso o avanço
soviético persista”.[22]
Após 16 dias de combate, as tropas soviéticas tomaram Berlim –
defendida por um milhão de homens – e no dia 2 de maio a
bandeira vermelha foi hasteada no Reichstag. Seis dias depois,
os alemães firmaram em Berlim a capitulação incondicional da
Alemanha.
Na Checoslováquia – onde os alemães ainda tinham de 50 divisões
– eclodiu em Praga, no dia 5 de maio, uma insurreição popular.
Em marcha batida, as tropas soviéticas avançaram para aniquilar
os exércitos alemães que se preparavam para afogá-la em sangue.
Assim, Praga foi libertada no dia 9 de maio.
Menos de 20 dias após a capitulação alemã, Stalin – em reunião
com Molotov, Voroshilov e Jukov – constatou:
Enquanto
nós desarmamos e enviamos ao acampamento todos os soldados e
oficiais do exército alemão, os ingleses mantêm as tropas alemãs
em completa prontidão, estabelecendo com eles uma cooperação
mútua. Até o momento, os comandos das tropas alemãs, liderados
por seus ex-comandantes, têm total liberdade e, por determinação
de Mongomery, reúnem e organizam os armamentos e equipamentos de
suas tropas.”[23]
As armas ainda fumegavam nos campos de batalha e os Estados
Unidos e a Inglaterra já tramavam – sem quaisquer escrúpulos –
uma aliança com os nazi-fascistas, para a futura luta contra a
URSS.
URSS – BALUARTE NA LUTA CONTRA O NAZI-FASCISMO
|
Estandartes dos exércitos nazistas
derrotados sendo jogados ao pé do Mausoléu
de Lenin durante a Parada do Dia da Vitória.
Praça Vermelha, 24 de junho de 1945. |
|
A vitória da URSS sobre a Alemanha, ao custo de 27 milhões de
mortos e da devastação do país – contra apenas 405 mil
estadunidenses e 375 mil britânicos mortos em toda a guerra e em
todas as frentes –, salvou a humanidade de um retrocesso
histórico inimaginável. O que ganha ainda maior importância se
considerarmos que a Alemanha estava a um passo de detonar a sua
bomba atômica – cujos testes ocorriam no Estado da Turíngia – o
que lhe teria garantido a vitória na guerra e a conseqüente
escravização do conjunto da humanidade aos seus desígnios.
Na frente Oriental, os alemães enfrentaram pela primeira vez uma
verdadeira resistência. Combatendo com uma tenacidade heróica,
os soviéticos causaram enormes baixas aos nazi-fascistas. Suas
tropas não se rendiam mesmo em situação de extrema
inferioridade. Como observou um oficial dos corpos blindados
alemãs: “Onde o inimigo aparece, ele luta obstinada e
corajosamente até a morte. Desertores e aqueles em busca de
rendição não foram relatados a partir de nenhuma posição”.[24]
Assim, à medida que avançavam, obtendo vitórias táticas, os
alemães iam exaurindo as suas forças. Em setembro de 1941, já
haviam sofrido 535 mil baixas, perdido 70% de seus tanques e 40%
de seus aviões. E em novembro de 1942, suas perdas haviam
atingido mais de 2,5 milhões de mortos, feridos e desaparecidos.
Sua “guerra relâmpago” – vitoriosa em todo o ocidente
capitalista – acabou derrotada em sua luta contra o socialismo.
Os atos de heroísmo coletivo em Brest-Livotski, Smolensk, Minsk,
Leningrado, Moscou, Odessa, Stalingrado, Sebastopol, e tantos
outros lugares, desmentiram aqueles que diziam que o poder
soviético não tinha sustentação no povo e desmoronaria frente ao
ataque nazista. Milhões de soviéticos foram mortos ou
aprisionados, defendendo sua Pátria, mas também o socialismo. Os
prisioneiros soviéticos eram mortos a tiros, pela fome ou pelo
frio. Menos de 30% sobreviveram. Nas áreas ocupadas, foram
destruídas milhares de cidades e aldeias e sua população
exterminada ou enviada para o trabalho escravo na Alemanha.
Ao mesmo tempo em que aplicavam uma política de terra arrasada,
os soviéticos multiplicaram as guerrilhas na retaguarda alemã,
desorganizando o seu abastecimento, destruindo as suas
comunicações, aniquilando pequenas unidades, impedindo que os
invasores explorassem os territórios tomados. Os guerrilheiros
imobilizaram meio milhão de alemães na Bielorrússia e 460 mil na
Ucrânia. Só em 1943, explodiram 11 mil trens, tiraram de
circulação 6 mil locomotivas e 40 mil vagões, destruíram 900
pontes ferroviárias e 22 mil veículos.
Para combater as guerrilhas, o exército nazista precisou
empregar 25 divisões de seu exército de operações, além de
unidades de polícia SS e SD e meio milhão de soldados de tropas
auxiliares. Funcionavam mais de 400 emissoras de rádio nas áreas
de guerrilha e estas controlavam vastas regiões nos territórios
ocupados. Estima-se que existiam 220 mil guerrilheiros na
Ucrânia, 370 mil na Bielorrússia e 260 mil nos territórios
ocupados da Rússia. As mulheres participavam ativamente e, em
alguns destacamentos, eram de 10 a 25% dos combatentes.
Apesar dos alemães terem ocupado vastos territórios – onde
viviam 40% dos soviéticos, estavam 40% das ferrovias e dos
rebanhos bovinos, 60 dos suínos, 84% do açúcar, 38% dos cereais,
60% da produção de aço e alumínio, 63% do carvão e 70% das
fundições – a URSS não colapsou. Milhares de empresas – em
especial as de grande porte e militares – foram evacuadas, entre
junho e novembro de 1941.
Mesmo com grande parte do seu território ocupado e enormes
perdas na fase inicial da luta, a URSS logo passou a produzir
mais armamentos que a Alemanha. Entre 1941 e 1945, a URSS
fabricou 137.271 aeronaves, contra 99.339 da Alemanha; 99.488
tanques, contra 53.800 da Alemanha; 514.700 peças de artilharia,
contra 87.000 dos alemães. Nenhum país capitalista seria capaz
de tal proeza!
O Poder Soviético mostrou-se capaz de mobilizar milhões de
homens e mulheres para enfrentar os nazi-fascistas. No início da
invasão, o Exército Vermelho tinha 5,4 milhões de homens Em fins
de agosto – apesar de enormes perdas – já contava com 6,9
milhões e, ao findar o ano, chegou a 8 milhões de combatente.
Espantado, Goebels afirmou: “Parece um milagre. Das amplas
estepes russas surgem continuamente novas massas de pessoas e
técnicos – como se um grande mágico os esculpisse da argila dos
Urais bolcheviques – e equipamentos em qualquer quantidade.”[25]
Esse “grande mágico” era o sistema socialista soviético!
Nessa luta titânica, as mulheres tiveram um papel decisivo,
sustentando a maior parte da produção e lutando no front
como atiradoras de elite, aviadoras, tanquistas, guerrilheiras,
médicas e enfermeiras. Os trabalhadores faziam jornadas de 12 a
18 horas para produzir armas, munições, roupas e alimentos para
a luta.
Certamente, não foi o “General Inverno”, como argumentam alguns,
que derrotou a máquina de guerra nazista. Foi a luta titânica do
povo soviético! Só um país socialista, com uma economia
avançada, tecnologia de ponta, grande coesão interna e líderes
prestigiados poderia vencer – e venceu – um inimigo tão poderoso
e cruel.
Como afirmou o Marechal Jukov em suas Memórias:
Não foi a
chuva nem a neve que barraram as tropas nazistas nas
proximidades de Moscou. Mais de um milhão do grupamento das
seletas forças alemãs despedaçaram-se contra a férrea
resistência, coragem e heroísmo das tropas soviéticas, cuja
espinha dorsal era a sua população, a capital e a pátria. (...)
não teríamos capacidade para derrotar o inimigo se não
contássemos com os experientes e admiráveis: partido de Lenin,
sistema socialista, política de Estado e as poderosas forças
materiais e morais que permitiram reconstruir, em curto prazo,
todos os meios de subsistência do país e criar condições para
derrotar as forças armadas imperialistas alemãs.[26]
Sem dúvida, os povos de todo o mundo devem à União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas a derrota do nazi-fascismo e a
libertação da humanidade da ditadura hitlerista!
NOTAS
[1]
ELLEINSTEIN, Jean. História da URSS -. Vol III
(1939-1946). Portugal: Publicações Europa-América,
1976, p. 47.
[2]
VALLAUD, Pierre. O Cerco de Leningrado. São
Paulo: Editora Contexto, 2012, p. 88.
[4]
MINASIAN, M. e outros. La Gran Guerra Patria de La
Union Sovietica, 1941-1945. Moscou: Progreso, 1975,
p. 27.
[6]
ELLEINSTEIN, Jean. Idem, p. 62.
[7]
VALLAUD, Pierre, Idem, p. 41.
[8]
IEREMEEV, Leonid. A União Soviética da Segunda Guerra
Mundial. Rio de Janeiro: Editora REVAN, 1985, p. 28.
[9]
ELLEINSTEIN, Jean.
Idem, p. 49.
[10]
VALLAUD, Pierre, Idem, p. 36.
[14]
JUKOV, G. K. Memórias e Reflexões - Tomo 2. Rio
de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2016, p. 537-538.
[15]
GALLO, Max. 1941 - o mundo em chamas. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2015, p. 189.
[24]
STAHEL, David. A Batalha por Moscou. São Paulo:
Amarilys, 2015, p. 53.
[25]
JUKOV, G. K. Memórias e Reflexões - Tomo 1. Rio
de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2015, p. 387.
[26]
JUKOV, G. K., Idem, Tomo 2, pp. 48; 542.