Diferentemente do que muitos pensam, os direitos trabalhistas
não surgiram da bondade dos patrões, dos legisladores ou dos
governos. Ao contrário, foram o resultado de grandes lutas dos
trabalhadores de todo o mundo.
“O ESTADO NÃO PODE INTERFERIR NAS RELAÇÕES DE TRABALHO”
Nos seus primórdios, o capitalismo, não admitia nenhuma
legislação trabalhista ou previdenciária. Segundo os pensadores
liberais, o Estado não devia interferir nas relações de trabalho
e que esta era uma questão a ser resolvida entre dois indivíduos
“livres” e “iguais” – o patrão e o operário. Mas o Estado devia
intervir, isso sim, para garantir o “direito de propriedade”.
John Locke, um dos clássicos do liberalismo, resumiu isso sem
hipocrisias: “Considero, portanto, poder político o direito de
fazer leis com pena de morte e, portanto, com todas as
penalidades menores, para regular e preservar a propriedade”.
Homens, mulheres e crianças eram obrigadas a trabalhar no limite
de suas forças – 14, 16, 18 horas seguidas. Muitos dormiam na
própria empresa, para logo poder retornar ao trabalho. As
condições de higiene e segurança eram terríveis. Em caso de
acidente ou doença, eram afastados, sem direito a nada.
Não existia descanso remunerado, férias ou aposentadoria. Aliás,
poucos conseguiam chegar a uma idade avançada. No caso de crise
na produção, eram demitidos sem qualquer indenização. Sua
organização em uniões, ligas ou sindicatos – para defender seus
interesses comuns –, era considerada um “crime”, uma
“interferência na liberdade do trabalho”. As greves eram
proibidas e tratadas a ferro e fogo!
Foi somente através de uma longa luta que, aos poucos, os
direitos trabalhistas foram sendo arrancados, inicialmente nos
países capitalistas avançados, bem mais tarde nos países de
capitalismo tardio como o Brasil.
AS LEIS TRABALHISTAS FORAM FRUTO DE MUITA LUTA!
As primeiras grandes lutas operárias surgiram ao final da
Revolução Francesa, quando a divisa “Liberdade, Igualdade,
Fraternidade” revelou-se, sem máscara, como “liberdade para
explorar”, “igualdade na exploração” e “fraternidade entre os
patrões”.
Recém em 1847 os trabalhadores ingleses conquistaram a redução
da jornada de trabalho para 10 horas diárias. Para Marx, esse
foi o primeiro grande triunfo sobre a burguesia, pois “os
trabalhadores haviam forçado o Estado a promulgar uma lei que
impedia que eles próprios, mediante contrato voluntário, viessem
a vender-se, e a sua geração, para a morte e a escravidão”.
Na França, a jornada de trabalho foi reduzida só para 12 horas
diárias em 1848. Em 1897, o proletariado inglês conquistou a “Lei
de Acidentes de Trabalho”.
Pouco a pouco a luta dos trabalhadores foi conquistando leis de
proteção ao trabalho de mulheres e crianças, seguro contra
acidentes, descanso semanal remunerado, férias, aposentadoria,
melhores condições de higiene e segurança. Em 1824, os
trabalhadores ingleses conseguiram anular os atos parlamentares
de 1799/1800, que proibiam as coalisões operárias. Em 1864, o
governo francês foi obrigado a revogar as cláusulas anti-greve
da “Lei La Chapelier” (aprovada durante a “libertária”
Revolução Francesa) e em 1868 reconheceu o direito à organização
de sindicatos.
O surgimento, em 1864 – sob a direção de Karl Marx –, da
Associação Internacional de Trabalhadores deu novo impulso à
internacionalização da luta dos trabalhadores por seus direitos.
O primeiro Congresso da AIT, em 1865, aprovou a luta pela
redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias, que logo se
tornou a principal bandeira de luta do movimento operário
mundial.
1º DE MAIO – DIA INTERNACIONAL DE LUTA DOS TRABALHADORES
Aos poucos, a reivindicação da jornada de 8 horas generalizou-se
no movimento sindical dos países industrializados. Em 1884, a “Federação
dos Grêmios e Uniões Organizadas dos Estados Unidos e Canadá”
aprovou a realização de uma grande greve geral pela jornada de
trabalho de 8 horas, para todos os assalariados, “sem
distinção de sexo, ofício ou idade”. A data escolhida foi o
1º de Maio de 1886.
Nesse dia, mais de cinco mil fábricas suspenderam o trabalho e
cerca de 340 mil trabalhadores saíram às ruas, exigindo a
redução da jornada de trabalho. Atemorizados, alguns patrões
cederam. No mesmo dia, 125 mil assalariados conquistaram a
jornada de 8 horas. Durante o mês de Maio, outros 200 mil foram
beneficiados e, antes do final de 1886, um milhão de operários
passaram a trabalhavam só 8 horas diárias.
Mas isso só se deu com luta e sacrifícios. Em Chicago, a segunda
maior cidade norte-americana, em importância, a greve atingiu
grandes proporções. Os patrões usaram a polícia e os seus
capangas para reprimir o movimento. A chamada “imprensa livre”
logo se colocou a serviço dos patrões. O Chicago Tribune
trombeteou: “O chumbo é a melhor alimento para os grevistas.
A prisão e o trabalho forçado são a única solução possível para
a questão social. É de se esperar que o seu uso se estenda”.
No dia 4 de Maio, durante uma grande manifestação dos grevistas,
um provocador lançou uma bomba, matando um policial. Era o
pretexto que as forças repressivas esperavam para investir com
grande violência contra os manifestantes, matando 38 operários e
ferindo outros 115 trabalhadores. O governo decretou o Estado de
Sítio, ocupou militarmente os bairros operários, fechou inúmeros
sindicatos, prendeu e torturou centenas de grevistas. Oito dos
principais líderes operários de Chicago foram responsabilizados,
presos e levados a julgamento.
Depois de uma longa farsa judicial – os jurados eram escolhidos
a dedo, entre os que eram contrários às greves e aos sindicatos
– todos os acusados foram condenados à morte, com exceção de um,
que foi condenado a 15 anos de prisão. Algum tempo depois, dois
deles tiveram a pena de morte transformada em prisão perpétua.
No dia 11 de novembro de 1887, quatro deles foram enforcados e o
quinto foi “suicidado” com dinamite na sua cela.
Seis anos depois – comprovadas suas inúmeras irregularidades – a
farsa judicial foi anulada e os três prisioneiros sobreviventes
foram libertados. Mas a luta não fora em vão. No dia 1º de Maio
de 1890, o Congresso dos EUA aprovou a redução da jornada de
trabalho para 8 horas diárias.
Em homenagem aos mártires de Chicago, a Segunda Internacional
dos Trabalhadores aprovou em seu Congresso de Bruxelas,
realizado em 1891, que em todo 1º de Maio “haverá uma
demonstração única para os trabalhadores de todos os países, com
caráter de afirmação da luta de classes e reivindicação das 8
horas de trabalho”.
Desde então, o 1º de Maio passou a ser comemorado em todos os
países como o DIA INTERNACIONAL DE LUTA DOS TRABALHADORES,
muitas vezes sofrendo a mais feroz repressão, outras vezes
enfrentando as tentativas da burguesia e de seus governos de
transformar essa data de luta em uma “confraternização entre
operários e patrões”, regada a cerveja e churrasco.
PRIMEIRAS LUTAS DOS TRABALHADORES BRASILEIROS E GAÚCHOS
No Brasil – último país do mundo a abolir a escravidão –, a luta
pelas liberdades sindicais e pelos direitos dos trabalhadores
teve início apenas na segunda metade do século XIX, enfrentando
o obscurantismo de uma classe dominante acostumada a relações de
trabalho escravistas. A declaração de Washington Luís –
Presidente do Brasil entre 1926 e 1930 – de que “a questão
social é um caso de polícia”, expressa bem isso.
Apesar da industrialização tardia e da persistência da
escravidão até 1888, já em meados do século XIX surgiram no
Brasil as primeiras organizações de trabalhadores e aconteceram
as primeiras greves. Em 1856, foi criada a “Sociedade
Beneficiente dos Cocheiros” e em 1858 a “Associação
Protetora dos Caixeiros”. Em 1858, ocorreu a greve dos
tipógrafos, em 1863 a greve dos trabalhadores da Estrada de
Ferro Pedro II e em 1866 a greve dos Caixeiros, todas elas no
Rio de Janeiro.
Nessa primeira fase, predominaram as entidades de trabalhadores
voltadas ao assistencialismo e às atividades recreativas, ainda
que não de forma absoluta. Essa primeira fase “mutualista” do
movimento operário brasileiro se estendeu até o final dos anos
80 do século XIX, quando passaram a surgir organizações de
“resistência” – ligas, sindicatos e uniões operárias –, a
princípio por iniciativa dos socialistas, logo sob hegemonia
anarco-sindicalista.
No Rio Grande do Sul, as primeiras empresas capitalistas se
radicaram inicialmente nas cidades de Porto Alegre, Pelotas e
Rio Grande, onde nasceram as primeiras organizações e lutas
operárias.
Em Porto Alegre, foi criada em 1877 a “Sociedade
Operária de Mútuo Socorro e Beneficiência Vitório Emanuele II”,
organizada por imigrantes italianos e alguns brasileiros. Em
1880, surgiu o “Instituto dos Artífices” e em 1882 o “Clube
Caixeral Porto-alegrense”, que em 1884 conquistou a “Lei
do Fechamento de Portas”, obrigando os comerciantes a
concederem folga nos domingos aos seus empregados. Em 1892, em
Porto Alegre, o 1º de Maio foi comemorado em praça pública, por
primeira vez no Brasil.
Em Pelotas, em 1880, foi criada a “Associação Beneficiente
das Classes Laboriosas”. Em 1881, foi a vez do “Grêmio
Tipográfico” e, em 1882, do “Grêmio dos Guarda-Livros”.
Em 1886, foi formada a “Sociedade União e Fraternidade de
Operários Chapeleiros” e em 1890 a “Liga Operária”. Em 1893,
passou a ser publicado o jornal “Democracia Social”, que
trazia em baixo do seu título o dístico “Trabalhadores de
todo o mundo, uni-vos!”, com a respectiva autoria – “Carlos
Marx”. Nessa cidade ocorreram algumas das primeiras greves
do Rio Grande do Sul, como a greve dos trabalhadores da limpeza
urbana, em 1884, a greve dos tipógrafos, em 1890, e a greve dos
estivadores, em 1891.
Na cidade de Rio Grande, foi formada em 1892 a “Liga Operária”,
de duração efêmera, logo sucedida pelo “Centro Operário”,
também de existência fugaz. Em 1893, surgiu a “União Operária”,
que em 1894 já comemorou o 1º de Maio, “com vivas ao
socialismo, à revolução e à confraternização das classes
operárias”. Em 1890, os tecelões e os marinheiros
paralisaram o trabalho. Em 1891 ocorreu uma greve no Estaleiro
Touguinha.
Em 1890, foi fundado o Partido Operário do Rio Grande do Sul,
que no seu programa defendia o Socialismo, a República, o
sufrágio universal, as mais amplas liberdades democráticas, o
ensino integral secular e profissional, o fim do direito à
herança e a emancipação da mulher.
AS GRANDES LUTAS DO INÍCIO DO SÉCULO XX
Na primeira década do século XX, surgiu no Brasil um grande
número de entidades de trabalhadores e houve uma onda de greves
e mobilizações em todo o país.
Em 1905, foi fundado o Partido Operário Rio-Grandense,
que propunha a jornada de 8 horas, a criação de um Código de
Trabalho, a proibição do trabalho em fábricas para menores de 15
anos, educação obrigatória dos 8 aos 15 anos, um sistema
previdenciário para os casos de morte ou invalidez, imposto
progressivo sobre as altas rendas, direito de greve, ampliação
das liberdades democráticas e voto universal.
Em abril de 1906, realizou-se no Rio de Janeiro o 1º
Congresso Operário do Brasil, que criou a Confederação
Operária Brasileira – COB.
Em outubro de 1906, teve início em Porto Alegre a “Greve dos
21 dias”, pela jornada de 8 horas. Mais de 9 mil
trabalhadores cruzaram os braços. Atemorizados, os patrões
aceitaram reduzir a jornada para 9 horas. Algumas categorias
conquistaram a jornada de 8 horas.
Em todo o país, cresceu a reivindicação pela jornada de 8 horas,
que foi sendo conquistada de forma parcial, por local ou por
categoria. Da mesma forma, expandiu-se a luta pelos demais
direitos trabalhistas. Desenvolveram-se, ainda, mobilizações
contra a guerra, contra a carestia e em solidariedade aos
trabalhadores estrangeiros perseguidos.
Todas essas lutas acumularam força e organização para as greves
gerais que entre 1917 e 1919 sacudiram o Brasil, de Norte a Sul.
AS GREVES GERAIS DE 1917
No dia 10 de Junho, teve início em São Paulo a greve do
Cotonifício Crespi, por um aumento de 25%. Apesar da
repressão, o movimento logo se estendeu a diversas empresas. No
dia 6 de Julho, uma parte dos grevistas conquistou um aumento de
20% para o trabalho diurno e de 25% para o trabalho noturno.
Logo, a greve se espalhou como um rastilho de pólvora. Milhares
de grevistas saíram às ruas.
No dia 9 de Julho, a polícia disparou contra os manifestantes,
matando o operário Antonio Martinez. A indignação fez a greve se
espalhar para quase todas as categorias industriais e de
serviços. O enterro do operário Martinez transformou-se em uma
grande manifestação popular e os confrontos entre os
trabalhadores e as forças da repressão se multiplicaram – muitas
vezes com choques armados. Surgiram as primeiras barricadas nos
bairros operários e as tropas começaram a dar sinais de
insubordinação, se recusando a reprimir os grevistas e com eles
confraternizando.
Temendo o pior, Crespi e os demais industriais concordaram no
dia 13 de julho com um aumento de 20%, nenhum despedido pela
greve, respeito ao direito de organização, melhoria das
condições de trabalho e pagamento quinzenal de salários. O
Governo aceitou libertar os grevistas presos, reconhecer o
direito de reunião, fiscalizar a aplicação das normas
trabalhistas e combater a carestia. O encerramento da greve se
deu no dia 18 de julho, no Largo da Concórdia, reunindo mais de
80 mil pessoas.
Em seguida, o movimento grevista se alastrou para o Rio de
Janeiro. Na manhã do dia 23, o movimento já contava com 50 mil
operários paralisados. As principais reivindicações eram a
jornada de 8 horas, aumentos salariais, fim dos castigos
corporais, escolas para as crianças. A greve terminou em agosto,
conquistando um aumento de 10%, jornada de 56 horas semanais e
não punição aos grevistas.
No Rio Grande do Sul, a greve geral teve início no dia 31 de
julho, reivindicando a jornada de 8 horas (6 horas para crianças
e mulheres), aumento de 25% e diminuição do preço dos gêneros de
primeira necessidade. Os trabalhadores da Viação Férrea do RGS –
controlada por capitais belgas e norte-americanos –
reivindicavam a jornada de 8 horas e aumento salarial de 30%. Em
Porto Alegre, os grevistas assumiram o controle da cidade.
Em 2 de agosto, o Governo do Estado reduziu a jornada de
trabalho e deu um aumento de 5 a 25% aos seus funcionários, além
de se comprometer com medidas de controle dos preços dos
alimentos. No dia 3 de agosto, os patrões aceitaram a jornada de
8 horas para a maioria das categorias e concederam aumentos de
25%. O governo municipal tabelou os preços dos gêneros de
primeira necessidade. Em 5 de agosto, a Guerra dos Braços
Cruzados encerrou-se com uma grande vitória.
Já a greve dos ferroviários, violentamente reprimida, só se
encerrou em 31 de outubro, com a exoneração do inspetor-geral da
VFRGS, Mr. Cartwright, e a concessão de aumentos salariais de 10
a 15%.
O SURTO GREVISTA DE 1919
O ano de 1919 foi marcado por um novo ascenso da luta dos
trabalhadores brasileiros.
No Rio de Janeiro, o comício do 1º de Maio reuniu mais de 60 mil
pessoas. No dia seguinte, os operários da construção civil do
Rio de Janeiro conquistaram a jornada de 8 horas. No dia 7 de
maio, diversas categorias entraram em greve e em 18 de maio já
havia mais de 10 mil trabalhadores paralisados.
No dia 2 de agosto, foi iniciada uma greve geral em São Paulo,
que em poucos dias paralisou mais de 50 mil trabalhadores. O
movimento se estendeu a outras cidades do Estado, de maneira
ainda mais ampla do que em 1917. Diversas categorias
conquistaram a redução da jornada de trabalho e melhorias
salariais.
Também explodiram greves na Bahia e em Pernambuco. Em Santana do
Livramento, no Rio Grande do Sul, eclodiu, em março, uma greve
nos Frigoríficos Armour, por aumento de salários, jornada de 8
horas e pagamento em dobro dos domingos e horas extras. O
movimento se estendeu aos Frigoríficos Wilson. No 1º de Maio,
ambos Frigoríficos concordaram em reduzir a jornada para 9 horas
e conceder um aumento de 10%.
Em Porto Alegre – levantando a bandeira das 8 horas – os
metalúrgicos cruzaram os braços de 13 de julho a 18 de agosto,
só voltando ao trabalho após a vitória do movimento. Durante o
mês de agosto, a greve assumiu um caráter geral, paralisando
milhares de trabalhadores de outras categorias.
“ANTECIPAR-SE ÀS CONQUISTAS DOS TRABALHADORES”
Além das conquistas arrancadas a patrões e governos em cada
confronto concreto, o crescimento generalizado dos movimentos
grevistas e da consciência dos trabalhadores causou grande temor
às classes burguesas – já assombradas pela vitória da revolução
russa de 1917 –, levando os governos e os patrões a perceberem a
necessidade de “entregar os anéis, para não perder os dedos”.
Ou seja, anteciparem-se ao que os trabalhadores já vinham
conquistando através de lutas cada vez mais radicais.
O próprio Tratado de Versalhes, de 1919 – ditado pelas potências
vencedoras da Primeira Guerra Mundial –, criou a Organização
Internacional para o Trabalho - OIT para fazer um
contraponto à Revolução Socialista de Outubro de 1917 – que
despertou esperanças nos trabalhadores de todo o mundo – e para
antecipar-se às reivindicações do movimento operário
internacional, que se radicalizava a cada dia e ameaçava a
continuidade do capitalismo. Ao mesmo tempo, foi uma maneira de
padronizar internacionalmente os custos sociais do trabalho e
enfrentar a “concorrência desleal” dos países que não garantiam
aos seus trabalhadores os direitos básicos.
Suas principais recomendações foram a jornada de 8 horas, o
descanso semanal, a proibição do trabalho do menor de 14 anos, a
proibição do trabalho noturno da mulher, o auxílio à gestante,
salário igual para trabalho igual, pensões para a velhice e a
invalidez, proteção contra doenças e acidentes de trabalho,
ensino profissional e reconhecimento dos sindicatos.
Nesse espírito, o governo brasileiro regulamentou, em 1917, o
trabalho infantil e feminino e promulgou, em 1919, a “Lei de
Acidentes do Trabalho”. Em 1923, foram criadas as Caixas
de Aposentadorias e Pensões. Em 1925, foram estabelecidas as
férias de 15 dias para os empregados no comércio, indústrias e
bancos. Em 1926, foi promulgado o “Código do Menor” e
proibido o trabalho de menores de 14 anos nas fábricas.
Essa tímida legislação trabalhista foi duramente atacada pelos
patrões, que classificaram essas medidas com “socialismo de
Estado”: “Damos como causa primeira da falência do socialismo
de Estado no Brasil a larga porção do ônus que vem trazer para o
Trabalho e o Capital” (Centro dos Industriais de Fiação e
Tecelagem de São Paulo – “Um ensaio de socialismo de Estado no
Brasil e as indústrias nacionais”, 1927).
Mas, nem a repressão, nem as concessões foram capazes de impedir
o avanço da consciência da classe operária brasileira. Sob a
influência da Revolução Russa, surgiram diversos grupos que
passaram a se reivindicar “comunistas”. As limitações das
concepções anarco-sindicalistas – que negavam a ação política e
a luta por legislações que garantissem conquistas para os
trabalhadores – ficavam cada vez mais evidentes. A sua
incapacidade em dar conseqüência às greves gerais de 1917 e
1919, satisfazendo-se com pequenas conquistas econômicas, sem
apresentar qualquer projeto alternativo de sociedade, expressou
a sua falência histórica. Ou a classe operária avançava, ou
sofreria uma derrota histórica. E ela buscou avançar.
1922: A CLASSE OPERÁRIA ASSUME A LUTA POLÍTICA
Culminando esse processo de amadurecimento da classe operária
brasileira e a sua transformação de “classe em si” para “classe
para si”, foi fundado, no dia 25 de março de 1922, o Partido
Comunista do Brasil. Quatro meses depois, ele foi proibido e
fechado pelo governo Epitácio Pessoa.
Mesmo forçados à clandestinidade, os comunistas fortificaram o
Partido, criam o jornal “A CLASSE OPERÁRIA”, organizam
sindicatos por ramos industriais e sindicatos de trabalhadores
rurais – em substituição às velhas organizações por ofícios dos
anarquistas – e passaram a defender a unidade e a centralização
sindical, em lugar da fragmentação e da descentralização
anarquistas.
Ainda que na clandestinidade, os comunistas participaram das
eleições de 1927 através do “Bloco Operário”, tendo
eleito Azevedo Lima como deputado federal pelo Rio de Janeiro.
Em sua plataforma – além da luta contra o imperialismo, pela
reforma agrária e pelas liberdades democráticas –, os comunistas
propunham a jornada de 44 horas semanais e 6 horas diárias para
os trabalhos insalubres; a criação do salário mínimo (uma década
antes de Getúlio Vargas); contratos coletivos de trabalho;
proteção ao trabalho da mulher; seguro contra o desemprego,
doença, invalidez e velhice; fim das horas extras; licença
maternidade de 60 dias antes e 60 dias depois do parto; escolas
profissionais; moradias para os operários; direito de
organização sindical (inclusive para os funcionários públicos);
direito de greve; voto para a mulher; impostos sobre o luxo, a
renda e o capital dos ricos.
Algumas dessas bandeiras foram incluídas, muitos anos depois, na
CLT de Vargas, outras recém na Constituição de 1988, outras
ainda aguardam até os dias de hoje pela sua aprovação...
A REVOLUÇÃO DE 1930 E A LEGISLAÇÃO TRABALHISTA DE VARGAS
Com a vitória da Revolução de 1930 – que encerra a
inconclusa Revolução Burguesa no Brasil –, inicia-se uma nova
fase no enfrentamento da questão trabalhista no Brasil.
Na medida em que Vargas expressava a hegemonia da burguesia
industrial sobre o aparelho estatal, ele buscará uma aliança com
os trabalhadores urbanos para enfrentar as poderosas oligarquias
rurais da Velha República, que tentarão retomar as rédeas do
poder em 1932, através da “Revolução Constitucionalista” de São
Paulo.
Assim – antecipando-se às cada vez mais amplas lutas dos
trabalhadores por seus direitos e à sua crescente atração pela
experiência socialista da União Soviética – Vargas, com visão de
estadista, implementou diversas leis de proteção ao trabalho,
culminando em 1943 com a sua sistematização na CLT
(Consolidação da Legislação do Trabalho).
Fica evidente, assim, que os direitos trabalhistas nunca foram
uma concessão dos patrões ou de seus governos, mas o resultado
de uma longa e árdua luta – econômica e política – da classe
operária e do conjunto dos trabalhadores por seus direitos. E o
Primeiro de Maio é uma data para rememorar essas lutas, servindo
aos trabalhadores para passar em revista as suas forças e para
definir unitariamente as bandeiras centrais de combate em cada
conjuntura.
FORJAR A MAIS AMPLA UNIDADE PARA GARANTIR NOSSOS DIREITOS E
CONSTRUIR UM BRASIL SOBERANO, DEMOCRÁTICO E MAIS JUSTO, UM DIA
SOCIALISTA!
Muito se avançou, mas essa caminhada está longe de terminar e
hoje nos coloca novos desafios, como o de enfrentar um governo
de traição nacional, neofascista e antipovo, que conspurca nossa
soberania nacional, ameaça as liberdades democráticas e retira
direitos históricos dos trabalhadores.
Que esse 1º de Maio sirva para fortalecer a compreensão de todos
nós sobre a necessidade da mais ampla unidade dos trabalhadores,
patriotas e democratas, em defesa do Brasil, da democracia e dos
direitos do povo, criando condições para o afastamento de Jair
Bolsonaro, principal obstáculo a que o Brasil supere as suas
atuais dificuldades e conquiste um futuro de felicidade para o
nosso povo!
Historiador Raul Carrion - Presidente da FMG/RS
1º de Maio de 2020