3 - A FUNDAÇÃO DO PARTIDO
COMUNISTA DO BRASIL
3.1 - Fatores que
impulsionaram a formação do
Partido Comunista do Brasil
O exame
conscencioso do surgimento
do Partido Comunista do
Brasil nos obriga a rejeitar
a visão simplista, e até
simplória, dos que vêem o
seu surgimento e a sua
existência como algo alheio
ao amadurecimento objetivo
das lutas de classes e da
vanguarda operária
brasileira, e sim como uma
criação artificial da
Internacional Comunista e do
“dedo de Moscou”.
Em primeiro
lugar, é inegável que o
surgimento do Partido
Comunista do Brasil está
diretamente ligado aos
grandes movimentos operários
de 1917-1920 e à sua
derrota, decorrente da
incapacidade da liderança
anarquista em dar um rumo
correto a essas lutas.
É nesse contexto de
impotência e de fracasso do
anarquismo na condução da
luta contra a exploração
capitalista, que explode a
grande Revolução Russa,
dirigida pelo Partido
Bolchevique, que conduz o
proletariado ao assalto ao
Poder, em aliança com o
campesinato, e cria o Estado
Soviético. A influência
desses acontecimentos sobre
a vanguarda operária no
Brasil é enorme. Os “dogmas”
anarquistas contra o
“Partido em si” e contra o
“Estado em si” - sem
examinar o seu caráter de
classe - caem por terra.
Lentamente, dá-se um
processo de diferenciação
dentro do próprio movimento
anarquista, onde cresce a
corrente dos
anarco-bolchevistas, de
onde sairão alguns dos
fundadores do PC do Brasil
em 1922. A própria passagem
de uma parte dos anarquistas
“puristas” para o campo do
antisovietismo, acelera esse
processo.
Um terceiro fator básico
para o surgimento do Partido
Comunista, é o próprio
crescimento e concentração
da classe operária no país,
fruto da industrialização
inicial do país durante a I
Guerra Mundial. Segundo o
censo de 1920, a classe
operária chegava a 300 mil
trabalhadores, sendo que os
três Estados de maior
concentração proletária eram
São Paulo (28,3%), Rio de
Janeiro (24,6%) e Rio Grande
do Sul (8,3%); em 1920,
concentravam-se nesses três
Estados 61,2% do
proletariado nacional.
A classe operária brasileira
era formada,
predominantemente, por
trabalhadores da indústria
têxtil (40,7%) e alimentícia
(18,8%), que totalizavam 60%
dos operários. Desse total,
13% trabalhavam em empresas
até 9 operários, 17% em
empresas entre 10 e 49
operários, e 70% em empresas
com mais de 50 operários.
Nos estados mais
industrializados esta
concentração era ainda
maior: assim, trabalhavam em
empresas com mais de 100
operários, no Rio de
Janeiro, 67%, em São Paulo
64% e no Rio Grande do Sul
52%. O que já nos permite
caracterizar a maioria da
classe operária brasileira,
de então, como
essencialmente fabril, com
um grau razoável de
concentração.
Tudo isso contribuía para
tirar forças ao anarquismo,
ideologia típica da fase
artesanal do proletariado.
No Rio Grande do
Sul, 70,3% dos operários
concentravam-se nas
indústrias da alimentação,
têxteis, vestuário e
mobiliário, sendo que 57,4%
só nos dois primeiros ramos.
A indústria têxtil é a que
registra a maior
concentração - 182
trabalhadores por
estabelecimento - seguida
bem de longe pelas
indústrias do mobiliário -
24 t/e - alimentação - 19
t/e - e vestuário -13 t/e.
Em 1920, as mulheres já são
22% de toda a mão-de-obra
operária, empregada na
indústria gaúcha
Ainda é importante
considerarmos, no caso do
Rio Grande do Sul, a
influência dos movimentos
operários da Argentina e do
Uruguai, onde haviam sido
criados Partidos Comunistas
em janeiro de 1918 e em
setembro de 1920,
respectivamente. É
interessante notar que
nesses países os Partidos
Comunistas surgiram dos
fortes Partidos Socialistas
ali existentes,
diferentemente do que
ocorreu no Brasil. Em uma
fronteira tradicionalmente
permeável ao contrabando e à
migração, também a
circulação de idéias era
intensa. São inúmeros os
registros seja quanto a
circulação de publicações
marxistas,
seja quanto a ações de
solidariedade proletária nas
lutas contra o capital.
3.2 - Os primeiros grupos
comunistas no Brasil e no
Rio Grande do Sul e o
Congresso de
fundação do
Partido Comunista do Brasil
Segundo os dados de que
dispomos, é na cidade de
Cruzeiro, São Paulo, onde
surge o primeiro núcleo
comunista do Brasil,
liderado pelo eletricista
Hermogêneo Silva. Esse
grupo, que adota o nome de
“União Operária 1º de Maio”,
funcionou entre 1917 a 1919.
Também o Rio Grande do Sul
surgem grupos “comunistas”:
em 1918, aos 28 anos de
idade, Santos Soares fundou
e se colocou a frente da
liga comunista de
Livramento. Essa foi a
primeira organização
comunista do Rio Grande do
Sul. A primeira
medida da liga foi publicar
um jornal, que efetivamente
circulou em vários números e
foi disputado pelos
trabalhadores. A sede da
liga comunista foi assaltada
pela polícia. Mas ela
existiu até a fundação do
Partido Comunista do Brasil,
em 1922. (...) promovia com
maior intensidade a leitura
do escasso material
revolucionário obtido
através da fronteira com o
Uruguai. (...) animava a
chama da solidariedade à
União Soviética. (...) A
fundação da liga Comunista
de Santana do Livramento não
foi um fato isolado. Com
pequena diferença de tempo,
surgem organizações
semelhantes em diversos
pontos. Funda-se um centro
em Passo Fundo. Os
trabalhadores de Porto
Alegre editam o Manifesto
Comunista de Marx e Engels.
Os trabalhadores de Rio
Grande inscrevem na fachada
da União Operária o lema
“Operários de todos os
países uni-vos” (...) Essa
iniciativa de fundar ligas e
círculos comunistas é uma
demonstração da necessidade
que os trabalhadores sentem
do partido. A atuação de
Santos Soares está na
própria raiz da organização
do partido comunista no Rio
Grande do Sul.”
Em 1921, Santos Soares
“funda o Centro Socialista
de sua cidade, já plenamente
alinhado com a Revolução
Russa. Não é mais um
‘comunista libertário’. É um
marxista”.
Em novembro de 1918, Abílio
de Nequete - um dos
dirigentes da greve geral de
1917, em Porto Alegre -
lança o “Manifesto da ‘União
Maximalista’ aos operários”,
marcando o surgimento da
“União Maximalista” de Porto
Alegre, referenciada na
Revolução Russa e formada
por Abílio Nequete,
Francisco Merino e Otávio
Hengist. Nesse “Manifesto”
afirmava-se, entre outras
coisas:
Operários! Invadi essas
casas arejadas e habitai-as
sem discussão, porque foram
construídas por vossas
próprias mãos. Destruí duma
para sempre, o capricho
dessa corrompida sociedade,
que tem por objetivo
aniquilar-vos. Apoderai-vos
desses depósitos de produtos
alimentícios e alimentai-vos
deles sem receio, porque
eles são o produto de vosso
labor, são portanto
legitimamente vossos e não
de seus atuais detentores,
vossos fidagais inimigos, os
quais há séculos consomem
sem produzir coisa alguma.
Ponhamo-los fora de nossa
comunhão, só lhes aceitando
quando se apresentem como de
fato produtores. Operários!,
apoderai-vos de tudo que
encontrardes depositado em
tecidos e calçados e
vesti-vos, porque se não
fora vossas mãos nada disso
haveria. Operários!, mais um
impulso e a burguesia do
mundo cairá. Tende em mira o
impulso “maximalista”
bastando ali a vontade dos
operários e soldados, para
pôr por terra não só a
secular tirania dos Romanovs
como também a seu satélite a
Democracia Kerenskina.
Operários!, basta de
indolência, saibas de uma
vez para sempre que o mundo
só deve ser daqueles que
produzem; e todo aquele que
não produz é parasita (...)
Operários!, vós unidos
derrubareis esse carcomido
edifício da burguesia,
edificando em seu lugar o da
razão, da Harmonia e da
Igualdade que consiste em
cada qual dar o que pode,
levando o que necessita.
Operários! (...) o
maximalismo é triunfante na
Rússia e, segundo as últimas
informações, já está
invadindo os impérios
centrais, começando pela
Bulgária, já bate no trono
dos Hohenzollern (...)
estejais pois alertas,
porque ele há de vir até cá
(...) muito breve talvez, a
despeito de todos os
arreganhos
Em 1922, a “União
Maximalista”, já com a nova
denominação de “Grupo
Comunista”, está formada por
doze membros: “Nequete,
Francisco Merino, Otávio
Hengist, Carlos Toffolo,
Narciso Mirandola, um judeu
argentino - Samuel Speiski -
e mais dois judeus, Marcos e
Isaac. Não há referência
quanto aos outros quatro
membros, a não ser a um
português - Magalhães”.
Segundo Rosito:
Encontrando, no início do
ano de 1921, o diário
“Justicia”, órgão do Partido
Socialista Uruguaio, tomou
conhecimento da preparação
do congresso em que esse
partido deveria aderir à
Moscou. O deputado Celestino
Mibelli optava pela adesão
imediata. Por ocasião do
aparecimento das 21
condições, no II Congresso
Internacional de Moscou,
reuniu-se novamente o
Partido Socialista Uruguaio.
Abílio de Nequete escreveu
ao deputado Mibelli pedindo
que aceitasse as condições e
concedendo-lhe a
representação da União
Maximalista do Rio Grande do
Sul - “eis como Mibelli teve
de ser o primeiro
representante do Brasil num
congresso comunista.”
[NEQUETE, Abílio.
Apontamentos realizados de 8
a 19 de julho de 1944 -
caderno nº II, p. 21]
Na mesma carta escrevera a
frase de Barbusse (...)
sobre as 21 condições: “nada
tinha que não pudesse ser
aceito por um socialista
sincero ou cidadão honesto”.
O presidente daquela sessão
do congresso telegrafou mais
tarde agradecendo à União
Maximalista do Rio Grande do
Sul. Foi a primeira relação
da União com o exterior.
No dia 7 de
novembro de 1921, é fundado
o “Grupo Comunista” do Rio
de Janeiro, constituído por
Astrojildo Pereira, Luiz
Perez, José Alves Diniz, e
outros nove membros. De
imediato, o grupo carioca
tratou entrar em contato com
outros centros operários,
divulgando as 21 cláusulas
da Internacional Comunista e
recomendando que também
formassem grupos comunistas.
Assim, surgiram grupos
semelhantes em Recife, Juiz
de Fora e Cruzeiro (SP). A
1º de janeiro de 1922,
Cristiano Cordeiro - que
entre 1919-1920, junto com
Rodolfo Coutinho, havia
criado em Recife o “Círculo
de Estudos Marxistas” -
funda o Grupo Comunista de
Recife.
Em janeiro de 1922, o Grupo
Comunista do Rio de Janeiro
lança a revista MOVIMENTO
COMUNISTA, que se apresenta
como o órgão dos comunistas
do Brasil, tendo como
objetivo “defender e
propagar, entre nós, o
programa da Internacional
Comunista. (...) repositório
mensal fidedigno de doutrina
e informação do movimento
comunista internacional.” A
revista - que, após a
fundação, passou a ser
publicada como um órgão
oficial do Partido Comunista
do Brasil - editou 13
números durante o ano de
1922, totalizando 390
páginas, com um tiragem
anual total de cerca de 15
mil exemplares. Em 1923,
foram publicados outros 12
números, sendo o último
deles datado de 10 de junho
de 1923.
No início de 1922,
Astrogildo vai à São Paulo
com o objetivo de fundar um
grupo comunista, mas só meia
dúzia de pessoas assinam o
livro de presença. No que se
refere ao Rio Grande do Sul
Em fins de 1921, Astrogildo
Pereira, do Grupo Comunista
do Rio de Janeiro, escrevera
a Polidoro Santos
(anarquista da Liga de
Defesa Popular) pedindo a
sua adesão à Revolução
Russa. Polidoro respondera
informando o endereço de
Abílio de Nequete,
solicitando que se dirigisse
a ele. Dessa correspondência
resultou a mudança do nome
de União Maximalista para
Grupo Comunista, “mais de
acordo com o que Lenine
havia proposto” [NEQUETE.
Apontamentos ... Op. Cit.,
p. 24]. (...) No início
de 1922, Abílio de Nequete
recebe um telegrama do
Uruguai, dizendo que a sua
presença era exigida naquele
país por um assunto urgente.
O telegrama era assinado por
Martin Simoni e tinha
resposta paga. Recebeu o
dinheiro para a viagem,
depois de responder
afirmativamente. No Uruguai
(...) procurou Simoni na
redação de “Justicia”. Foi
informado da intenção de um
delegado russo vir ao Brasil
e da necessidade de entrarem
em contato. O delegado russo
era Alexandre Alexandrovski,
que tinha ido à Rússia nos
primórdios da Revolução em
nome dos russos residentes
na Argentina, e voltara como
delegado da Revolução para a
América Latina. Desejava
obter um relatório sobre o
movimento brasileiro e a
organização do partido. Dali
regressaria à Rússia. Em
Buenos Aires R. Vaterland,
outro delegado da Revolução,
deveria continuar a
correspondência. Ficou
estabelecido que Abílio de
Nequete iria ao Rio de
Janeiro convocar um
congresso, embora de poucos
elementos, já que a
insistência de Alexandrovski
devia-se à falta do nome do
Brasil na Internacional..
Depois de mais alguns dias
em Montevideo, Abílio de
Nequete voltou a Porto
Alegre, de onde escreveu a
Astrogildo Pereira e
Everardo Dias, informando da
próxima viagem ao Rio e
remetendo o jornal
“Justicia”. (...) foi Abílio
de Nequete quem recebeu, do
delegado russo, a
incumbência de organizar o
partido, devido à
necessidade de enviar um
representante do Brasil ao
IV Congresso da
Internacional de Moscou. O
Grupo Comunista de Porto
Alegre já estava reconhecido
pela Internacional, embora
tivesse apenas doze membros.
Finalmente, nos
dias 25, 26 e 27 de março de
1922, reuniu-se no Rio de
Janeiro o Congresso de
fundação do Partido
Comunista do Brasil.
Estavam presentes 9
delegados, representando 73
filiados em todo o país:
Abílio de Nequete,
barbeiro, de Porto Alegre,
que também representava o
Partido Comunista do Uruguai
e a Agência de Propaganda
para a América do Sul da
Terceira Internacional;
Astrogildo Pereira,
jornalista, de Niterói;
Cristiano Cordeiro,
funcionário público, de
Recife; Hermogênio Silva,
eletricista e ferroviário,
de Cruzeiro; João Jorge
da Costa Pimenta,
gráfico, de São Paulo;
Joaquim Barbosa,
alfaiate, do Rio de Janeiro;
José Elias da Silva,
funcionário público, do Rio
de Janeiro; Manoel Cendón,
artesão alfaiate; Luiz
Peres, artesão
vassoureiro, do Rio de
Janeiro. Destes, 7 eram
brasileiros natos, um
espanhol (Cendón) e um
libanês (Nequete). Santos e
Juiz de Fora, onde também
havia grupos comunistas, não
puderam enviar delegados.
Da ordem-do-dia do I
Congresso constavam: 1)
Exame das 21 condições de
admissão na Internacional
Comunista; 2) Estatutos do
Partido Comunista; 3)
Eleição da Comissão Central
Executiva; 4) Ação
pró-flagelados do Volga; 5)
Assuntos vários. Depois de
aceitas as 21 condições da
IC, os presentes aprovaram
Estatutos provisórios,
baseados nos Estatutos do PC
da Argentina.
Os seus artigos 1º e 2º
afirmavam:
Art. 1º - Fica fundada, por
tempo indeterminado, uma
Sociedade Civil, no Rio de
Janeiro, ramificando-se por
todo o Brasil, tendo por
título - Centro do Partido
Comunista do Brasil,
mas que será chamada Partido
Comunista, Seção Brasileira
da Internacional Comunista.
Art. 2º - O Partido
Comunista tem por fim
promover o entendimento e a
ação internacional dos
trabalhadores e a
organização política do
proletariado em partido de
classe para a conquista do
poder e conseqüente
transformação política e
econômica da Sociedade
Capitalista em Sociedade
Comunista.
A seguir, foi eleita a
primeira Comissão Central
Executiva, composta por 5
titulares e 5 suplentes;
como titulares foram
escolhidos Abílio de
Nequete, secretário geral;
Astrogildo Pereira, imprensa
e publicidade; Antonio
Bernardo Canellas (gráfico),
secretário internacional;
Luís Peres, frações
sindicais; Antônio Gomes
Cruz Júnior (comerciário),
tesoureiro. Os suplentes
eleitos foram Cristiano
Cordeiro (estudante),
Rodolfo Coutinho, Joaquim
Barbosa, Manoel Cendón e
Antonio de Carvalho
(estivador). A maioria
deles, eram originários do
anarco-sindicalismo e do
sindicalismo revolucionário,
com exceção de Manoel Cendón
- que havia sido
influenciado pelos
socialistas da Argentina,
onde viveu - e Rodolfo
Coutinho. Abílio de Nequete
foi eleito para a secretaria
geral a partir de uma
indicação de Astrogildo
Pereira, possivelmente em
deferência a maior
antigüidade da “União
Maximalista” e por sua
estreita relação com o
Partido Comunista Uruguaio e
com o Bureau da IC para a
América Latina, mas logo
demonstrará estar pouco
preparado para a função.
As demais
discussões se deram em cima
de algumas mensagens e
moções, além de medidas para
a solidariedade aos
flagelados russos. Não foi
aprovado nenhum documento de
análise da realidade ou de
orientação política. Como
não existia legislação
específica para os partidos
políticos, o P. C. do Brasil
foi registrado como
sociedade civil, publicando
os seus Estatutos no Diário
Oficial da União, de
07.04.22.
Se, por um lado,
a fundação do Partido
Comunista do Brasil
significou um enorme salto
de qualidade da classe
operária brasileira, no
sentido da sua transformação
de classe em si para
classe para si, por
outro lado, padece de
grandes debilidades. Em
primeiro lugar porque -
apesar de surgir no bojo da
crítica ao anarquismo
da avaliação da rica
experiências das lutas
proletárias de 1917-1920 - o
Partido se constrói em um
momento de refluxo do
movimento operário
brasileiro e de furiosa
repressão governamental. Em
segundo lugar, pelo grande
desconhecimento da teoria
marxista em nosso país, seja
na classe operária, seja na
intelectualidade
progressista. Em terceiro
lugar, pela ausência de
qualquer tradição
organizativa no movimento
operário - decorrente de um
longo predomínio do
anarquismo e da extrema
debilidade dos movimentos de
caráter socialista - com
todas as suas conseqüências
negativas para a tarefa de
organizar um partido coeso e
disciplinado. A essas
dificuldades deve-se somar -
além do relativo atraso
industrial do país e a
origem camponesa de grande
parte de sua recente classe
operária - o apoliticismo
incutido durante anos a fio
na mente dos operários de
vanguarda, e o peso
considerável das correntes
reformistas (católicos,
cooperativistas, socialistas
evolucionistas) entre os
trabalhadores:
Mas a classe operária, ao
fundar seu partido, é ainda
bastante jovem. Somente
durante a I Guerra Mundial,
o capitalismo no Brasil
adquire maior impulso. Se
expande a industria leve,
particularmente o ramo
têxtil, e se ampliam os
meios de transporte marítimo
e ferroviário. Junto com a
burguesia se desenvolve o
proletariado que vende sua
força de trabalho não só a
capitalistas nacionais como
também a empresas
imperialistas. A classe
operária se compõem em boa
parte de elementos provindos
do campo e de trabalhadores
de oficinas e pequenas
empresas (...) O movimento
sindical, ainda que
combativo, apresenta muitas
debilidades. O proletariado
mal começa a adquirir
consciência política. (...)
Até então, o marxismo não é
conhecido no Brasil e, mesmo
entre a intelectualidade
avançada, prevalece o
anarquismo. Tudo isso não
pode deixar de repercutir no
Partido recém fundado que
reflete as virtudes e os
defeitos da classe operária.
Apesar de ter surgido sob a
égide da III Internacional
(...) o Partido pouco
conhece o marxismo e muito
longe está de dominá-lo.
Falta-lhe suficiente clareza
para se orientar com acerto
na realidade
O Partido Comunista do
Brasil no Rio Grande do
Sul -1922-1929 |
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