Prezado Juremir:
Como teu admirador e leitor assíduo – que compartilho muitas das opiniões por ti expostas – não poderia furtar-me de expor nesta “Carta Aberta” as minhas discordâncias em relação ao teu artigo “PCdoB e PP: nova tese sobre o fim das ideologias?”
Ao contrário do que insinuas, o PCdoB nunca abandonou a sua ideologia e o seu projeto histórico – a construção de uma nova sociedade, livre de toda forma de opressão e exploração, uma sociedade Socialista. Socialismo renovado, com a cara do Brasil, avesso a modelos, radicalmente democrático!
E entende que no Brasil de hoje – inserido em um mundo hegemonizado pelo capitalismo neoliberal, em profunda crise sistêmica – a conquista dessa nova sociedade passa pela construção de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento – soberano, democrático e com inclusão social – em torno do qual é possível unificar amplos setores sociais, com o objetivo de isolar e derrotar o grande capital financeiro (rentista e usurário) e o seu projeto neoliberal. Esse é o divisor de águas nos dias de hoje!
Assim, o PCdoB trabalha para construir a união de todas as correntes políticas que lutam por um Brasil progressista, soberano, democrático e mais justo, respeitando as suas diferenças ideológicas. Da mesma forma que Lula fez em seus dois governos e Dilma está fazendo agora.
Não faz parte da cultura do PCdoB o sectarismo e a arrogância dos pretensos “donos da verdade”, mas sim a amplitude, a tolerância, a valorização das diferenças e a política “frentista”. Assim fizemos no combate ao nazi-fascismo, na campanha “O Petróleo é Nosso”, na luta pela redemocratização do país, pela Anistia, pelas “Diretas Já”, pela Constituinte, pelo “Fora Collor”, contra o neoliberalismo. Em todas essas lutas, decisivas para mudar o país, foi a mais ampla unidade de forças – de diferentes ideologias – que garantiu vitórias para o nosso povo.
Em Porto Alegre, os nossos inimigos são a “mesmice” no enfrentamento dos problemas e a estagnação da cidade; o foco nos “grandes projetos” e não nas pessoas; o trânsito caótico; a falta de acessibilidade; a inundação da cidade a cada chuva; as vilas sem saneamento; a cidade abandonada ao lixo; a incapacidade de levar o “Minha Casa, Minha Vida” aos mais pobres; a precarização da saúde; a expansão da drogadição, o abandono das nossas praças. O que há de errado em tentar unir, em torno de um Programa comum, todos que almejam mudar essa realidade? Ou só aceitas a “grenalização” da política?
Aliás, Juremir, tu que és um admirador assumido de Getúlio Vargas deves saber que ele teve a capacidade de unir “Chimangos” e “Maragatos” (que se degolavam no Rio Grande do Sul) para fazer a Revolução de 30 e transformar o Brasil. E que em 1945 ele criou dois partidos ideologicamente opostos – o PSD, para abrigar os setores oligárquicos que o apoiavam, e o PTB, para abrigar as lideranças sindicais e operárias que lhe seguiam. O que lhe possibilitou o retorno em 1950, nos braços do povo.
Da mesma forma, Leonel Brizola – que com justiça tanto invocas – elegeu-se governador em 1959 com o apoio do PRP do “integralista” Plínio Salgado e do PSP de Ademar de Barros. E a Prefeitura de Porto Alegre, comandada pelo PDT, é uma composição política que desde 2004 inclui o PSDB e o DEM – que no governo federal fizeram de tudo para “acabar com a Era Vargas” –, além do PP que tanto estigmatizas.
Por que será que isso nunca te angustiou, nunca te fez questionar sobre o pretenso “fim das ideologias”, sobre a coerência ou não das alianças? Confesso que eu também poderia levantar as três hipóteses que sugeriste – a da suspeita, a rasteira e a cautelosa –, mas não o farei para não constranger-te.
Quanto à relação do PCdoB com o PP, gostaria de informar-te que desde 2003 ele participa dos governos Lula e Dilma – em aliança com o PCdoB, o PSB, o PT e demais partidos da base de apoio –, foi convidado por Tarso Genro para fazer parte do seu governo – tendo declinado do convite – e tem alianças com o PCdoB, o PSB e o PT em importantes municípios, entre os quais Canoas, onde é vice do PT. Sob a liderança da Senadora Ana Amélia, o PP representa amplas parcelas de pequenos, médios e grandes agricultores, importantes segmentos do empresariado produtivo e camadas populares urbanas, merecendo nosso maior respeito.
Concluo com uma pergunta que não quer calar: por que tamanha intolerância contra o PP e contra a Senadora Ana Amélia? Ou a intolerância na verdade é contra o PCdoB e a Manuela?
Certo de que és capaz de conviver com a diferença de opiniões,
Deputado Raul Carrion – Presidente Estadual do PCdoB
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