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Dirigente comunista contou participação na Legalidade
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Promovido pelo governo do Estado, com o apoio da Assembleia Legislativa, o Memorial do Legislativo recebeu, na noite desta quarta-feira (31), o debate intitulado Três visões da Legalidade. Para apresentar as visões de quem presenciou o Movimento da Legalidade sob o aspecto político, estudantil e jornalístico foram convdados Almino Afonso, deputado federal pelo PTB/RN em 1961; Aldo Arantes, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), na mesma época ;e Carlos Bastos, repórter político do jornal Última Hora, também em 61.
O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Adão Villaverde (PT), saudou especialmente cada um dos participantes na abertura do evento. “Só o peso do nome de cada um dos debatedores já me deixa tranquilo de que faremos aqui um grande debate”, comentou. Ele também fez questão de parabenizar todos os integrantes do Executivo e Legislativo que se empenharam na organização das atividades do Cinquentenário da Legalidade e fez referência especial a Bastos. “Todo pessoal que organizou se dedicou muito para viabilizar toda essa programação. O comitê trabalhou incansavelmente e se dedicou de forma exemplar”, destacou.
Responsáveis pela mobilização
Arantes iniciou dizendo que “uma coisa é quem escreve a história e outra é quem participa da história e por isso é que a memória viva tem que ser trazida por aqueles que participaram dos momentos”. Ele contou que, sob o ponto de vista de um líder estudantil, o Movimento da Legalidade foi de alerta e que, assim que se ouviu sobre a renúncia do Jânio Quadros, de imediato decidiram realizar uma greve nacional contra o golpe e pela Legalidade. O jovem líder estudantil atuava no Rio de Janeiro, mas relatou não ter pensado duas vezes antes de fazer a mudança da sede da UNE para o RS “Aqui cheguei e fui muito bem recebido pelo Brizola. Passamos a falar sobre uma rede da Legalidade”, contou.
O poder que abrangia o movimento estudantil naquela época também foi ressaltado. “Naquela época a única entidade com capacidade de mobilização social era a UNE e a resistência começou aqui no estado entre os estudantes. Nas ruas tinha gente marchando, um clima de grande mobilização logo após a informação recebida por Brizola de que havia sido dada ordem de bombardear o Palácio”, recordou Arantes. E complementou destacando a relação sólida que perdurou após o episódio com o ex-presidente João Goulart. “É importante ressaltar que os estudantes tiveram papel fundamental nesse movimento, tão importante que o Jango esteve na sede da UNE para agradecer o apoio dos estudantes depois dos episódios da Legalidade. Jango tinha um respeito muito grande pela UNE”, concluiu.
Legalidade vista de Brasília
Nas palavras de Almino Afonso o dia de reencontros de hoje o deixou muito feliz. “Reencontro lutadores daquele instante histórico”, proferiu. Como era deputado federal na época, explicou que acompanhou todo episódio da capital federal. “O dia da renúncia de Jânio foi um grande choque, ninguém imaginava, mas daí começaram as especulações do que aconteceria dali para frente”, explicou. Mas, salientou que à época houve compreensão entre PTB e PSD que gesto de Jânio foi caracterizado como um "ato unilateral de vontade própria".
Como então, o que acabou acontecendo foi a tentativa de implantação do Parlamentarismo, a sua bancada precisava firmar uma posição. De acordo com o ex-deputado, a posição escolhida foi a mesma de Brizola “A nossa bancada votou contra o parlamentarismo até o último minuto”.
Imprensa de todo país reunida na Praça da Matriz
Para Bastos, a brutal cobertura que se deu em torno do episódio da Legalidade foi um dos dados mais fundamentais desse movimento. “A rede criada por Brizola, além possibilitar que o ex-governador tenha podido exercer e demonstrar toda sua competência como comunicador de rádio, foi também uma oportunidade de mais uma vez na história termos presenciado a demonstração do civismo, politização e patriotismo do povo gaúcho”, declarou.
De acordo com o jornalista, o ápice de todo esse fenômeno de comunicação se deu no discurso de 28 de agosto, para 50 mil pessoas, na frente do Palácio Piratini. “ A boataria dava conta de que os tanques vinham para atacar o Palácio. O clima de tensão tem o tom de uma das cenas mais emocionantes do episódio, em que os estudantes formaram barricadas com os bancos de cimento que arrancaram da Praça da Matriz para impedir a chegada dos tanques. Brizola lançou manifestos no ar de todas as rádios da época e a medida que os manifestos eram lançados, as emissoras com medo os tiravam do ar. A Guaíba foi a única que não tirou do ar, e foi por causa dessa resistência de um dos meios de comunicação em não temer o que estava por vir, que foi possível criar a Rede utilizando o sinal da Guaíba”, descreveu.
Público fez resgate
O público formado por jovens e por veteranos que vivenciaram o Movimento da Legalidade, foi coerente ao pontuar que muitas das questões que envolveram a Legalidade ainda estão presentes nos dias de hoje e que o legado que o episódio deixou foi o valor de que a consciência da população vale mais do que se leva de fato em consideração. Também foi consenso o fato de que a marca principal do movimento foi que se tratou de uma resistência democrática.
O mediador do debate, deputado Raul Carrion (PCdoB), finalizou ressaltando que os movimentos populares devem ser mais conhecidos e debatidos e que o resgate dos fatos do Movimento da Legalidade pode trazer essa discussão à tona novamente.
Com informações Agencia Alers
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