Porto Alegre, sábado, 21 de dezembro de 2024

   

Deputado Raul Carrion - PCdoB-RS

06/08/09
Assembleia gaúcha vai instalar CPI do governo Yeda
O anúncio feito na tarde desta quarta-feira (5) pelo MPF (Ministério Público Federal). A governadora Yeda Crusius e mais oito nomes denunciados por improbidade administrativa por conta das investigações desencadeadas na Operação Rodin, que trata do desvio de 44 milhões do Detran, teve forte repercussão no parlamento gaúcho, que deve dar início à CPI do governo Yeda.
 

Carrion foi um dos primeiros parlamentares a assinar pedido de CPI

As assinaturas necessárias já foram obtidas pela oposição, com a adesão de deputados do PDT.

Tão logo o Ministério Público anunciou a ação de improbidade, os parlamentares pedetistas realizaram reunião na qual decidiram pela assinatura da CPI. Os deputados se recusavam a assinar o requerimento por considerar insuficientes as acusações contra a governadora. Dos cinco deputados pedetistas na Assembleia, dois já haviam assinado: Adroaldo Loureiro e Paulo Azeredo.

Agora, com as adesões dos pedetistas Giovani Cherini, Gerson Burmann e Kalil Sehbe a oposição obteve 20 assinaturas, o regimento interno da Assembleia exige 19 para a criação de uma CPI. O pedido de instauração de uma comissão parlamentar de inquérito foi apresentado em maio. O requerimento deve ser encaminhado na manhã desta quinta-feira (06) à presidência da Assembleia.

O presidente da casa, deputado Ivar Pavan (PT) emitiu nota no início da noite desta quarta na qual considera que ''o quadro é gravíssimo''. Segundo a nota ''não se justifica mais dizer que não há fatos para a instalação de uma CPI. A Assembleia precisa aprofundar a investigação e trazer os esclarecimentos necessários a público. Vamos solicitar a cópia do processo à juíza Simone Barbisan Fortes e reforçar o pedido de abertura do sigilo da ação para permitir que possamos agir com a tranquilidade e responsabilidade que a gravidade do momento exige.''


A ação civil de improbidade administrativa atinge a governadora Yeda Crusius (PSDB) e mais oito pessoas: Carlos Crusius (marido da governadora), deputado federal José Otávio Germano (PP), deputados estaduais Luiz Fernando Zachia (PMDB) e Frederico Antunes (PP), presidente do Tribunal de Contas do Estado, João Luiz Vargas, Walna Villarins Meneses (assessora da governadora), Delson Martini (ex-secretário geral do governo estadual), Rubens Bordini (vice-presidente do Banrisul e ex-tesoureiro da campanha de Yeda). Pesam sobre eles acusações de enriquecimento ilícito, dano ao erário e infração de princípios administrativos, crimes relacionados à fraude que desviou cerca de R$ 44 milhões do Detran gaúcho.

Entrevista: deputado comunista Raul Carrion analisa a crise do governo gaúcho

O deputado Raul Carrion (PCdoB), que tem acompanhado as investigações e a luta pela instalação da CPI desde o início, considera que a crise é séria e profunda, e que há ainda mais fatos que deverão vir a tona com o aprofundamento das investigações.

''Esta á a mais grave crise que o estado viveu nos últimos tempos. É a primeira vez na história do Rio Grande do Sul em que é pedido o afastamento do mandatário principal do governo, agora, no caso, da governadora. Estão envolvidos diretamente na ação anunciada pelo MPF a governadora, seu marido e quadros políticos muito ligados ao governo.''
 
 
 ''É lamentável que o estado esteja passando por uma crise como essa, que não combina com a tradição do Rio Grande na política, um estado com história de grandes homens públicos.'' 
 
Carrion acrescentou ainda que o momento exige que todas as investigações necessárias sejam feitas e que os culpados sejam punidos. 

Consistência das denúncias

Carrion considera como muito importante e sério o trabalho de investigação realizado pelo MPF durante quase um ano e que, segundo os próprios procuradores, reunem uma fartura de provas, que lhes deu convicção e tranquilidade para apresentar a ação de improbidade. Os procuradores foram muito claros ao afirmar que os nomes citados são beneficiários, operadores ou intermediários de irregularidades.

A CPI

''Não há mais como a Assembléia de omitir. Com a manifestação do MPF temos todos os argumentos para abrir a CPI, que deve ajudar a aprofundar as investigações e trazer à tona para a sociedade as informações sobre os fatos que envolvem as denúncias.''

Sobre as eventuais críticas quanto a eficácia das CPIs, Carrion lembrou que as investigações feitas pela CPI do Detran, implementada no parlamento gaúcho entre dezembro de 2007 e julho de 2008, contribuiram decisivamente com trabalho agora apresentado pelo MPF.

Uma questão importante defendida pelo deputado é que seja acolhido pela Juíza Simone Barbisan Fortes (da 3ª Vara da Justiça Federal de Santa Maria, que conduz o processo) o pedido de abertura do sigilo da ação para que a sociedade gaúcha possa ter acesso ao conteúdo do processo em curso  (PCdoB, PT, PSB e PDT pediram ao presidente da Assembléia que encaminhe o pedido ao judiciário federal). ''Não há mais a necessidade do sigilo.'' O deputado disse também que os documentos do processo são fundamentais para o trabalho da comissão. ''Mesmo o deputado Miki Breier (PSB) deve solicitar a documentação, pois há dois deputados citados (Breier é o presidente da corregedoria da Assembléia)''.

Outro aspecto que Carrion fez questão de destacar é que o teor da ação apresentada pelos procuradores refere-se apenas a operação ''Rodin''. Ainda não apareceram as questões relativas à operação ''Solidária''.

Para Carrion, o papel central da CPI é a busca de provas acerca das denúncias que envolvem ações do governo e o esclarecimento da sociedade. Ainda, segundo ele, é esse aprofundamento das investigações que poderá dizer se é pertinente ou não um processo de impeachment da governadora.

O pedido de instalação da CPI, segundo Carrion, ainda poderá ter a adesão de mais deputados durante esta quinta-feira.

De Porto Alegre,
Clomar Porto