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Entidades receberam certificados
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A Casa do Povo transformou-se na Casa do Hip Hop. O 1º Encontro Estadual do Hip Hop ocorreu no Theatro Dante Barone da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul neste sábado (13). A partir da Lei 13.043, aprovada por unanimidade e instituída em 2008, de autoria do deputado Raul Carrion (PCdoB), que criou a Semana Estadual do Hip Hop, o evento reuniu centenas de pessoas – a capacidade do teatro é de 560 pessoas sentadas – para debater o Hip Hop. O resultado foi uma atividade plural, democrática, alegre e propositiva.
O projeto de lei nasceu da movimentação do Nação Hip Hop Brasil e foi proposto ao parlamento gaúcho por Carrion para reconhecer o Hip Hop como importante Movimento Cultural dos jovens da periferia, expressado através da dança, da música e das artes plásticas. Os deputados Mano Changes (PP) e Ronaldo Zulke (PT) foram parceiros na realização da atividade.
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Apresentações e discussões marcaram evento
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Caravanas de Santa Maria, Rio Grande, Caxias do Sul, Ijuí, Bento Gonçalves, Pelotas, Caçapava do Sul, Bagé, São Leopoldo, Gravataí, Cachoeirinha, Viamão, Guaíba, além de cidades do Paraná e de Santa Catarina inundaram de arte, som e ideias as sisudas instalações do legislativo gaúcho. A vestíbulo Erico Verissimo, entrada do Theatro do Dante Barone, foram tomados por B-Boys, grafitagem, rodas de break, além de feiras de artigos e marcas do movimento. O evento teve a cobertura do programa Hip Hop Sul (TVE-RS) e da TV Assembleia.
“A aprovação unânime do projeto pelo Legislativo gaúcho e a realização da 1ª Semana Estadual do Hip Hop, expressada pelas atividades deste 1º Encontro Estadual do Hip Hop são demonstrações da importância deste movimento e de seu crescente protagonismo”, ressalta Carrion.
O parlamentar Raul Carrion reconheceu o companheirismo dos deputados Changes e Zulke na empreitada inédita de valorizar a cultura das periferias e saudou o orgulho de ter tido a lei aprovada por unanimidade pelos deputados gaúchos. “Hip Hop é cultura de primeira qualidade e o objetivo de criar a semana foi exatamente construir um Hip Hop cada vez mais forte e coeso”, afirmou. Carrion lembrou que o momento é fazer o Hip Hop extravasar as periferias e mostrar que não é cultura acomodada a modismos. “Estamos fazendo história homenageando lideranças e mostrando que o movimento é muito articulado.” Carrion homenageou ainda dois ícones do movimento, os rappers Preto Ghoes e Sabotage, símbolos segundo ele de um povo que luta para construir ‘outro mundo possível, mais justo”.
O deputado estadual e músico Mano Changes (PP), que representou o presidente da Assembleia na atividade, lembrou que o preconceito que ainda estigmatiza o movimento é um estímulo a mais para incentivá-lo. “O movimento Hip Hop está estruturando-se cada vez mais e é ferramenta importante para manter o jovem na escola”, lembrou. Changes preside a Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia da Assembleia gaúcha e reforçou a importância que o movimento no ensino.
Jean Andrade, da Associação Alvo Cultural, afirmou que o Hip Hop precisa de investimento. Misturando nostalgia e disposição para lutar contra o preconceito, Rodrigo Cavalheiro, apresentador do Programa Hip Hop Sul, da TVE, lembrou dos primórdios do movimento quando a cultura da periferia era tratada como problema de polícia. “Nós não enfrentamos a ditadura, mas sofremos uma campanha difamatória e discriminatória que ainda está na memória de muitos. Mas, depois de tudo o que passamos esse encontro é o nosso grito de liberdade, a liberdade começa aqui, na casa do povo”, comemorou.
O DJ e organizador do Livro Hip Hop a Lápis, Toni C, lembrou a satisfação de estar na terra dos lanceiros negros – referência ao grupo de escravos que lutou durante a Revolução Farroupilha e foi traído e massacrado ao final dela. Toni provocou: “Vamos fazer uma nova Revolução Farroupilha”.
O rapper Nitro Di, da Adversus Cooperativa, lembrou que o mundo do Hip Hop não contempla ranços e discórdias. “É preciso discutir com maturidade os caminhos a serem seguidos”, argumentou.
O rapper Tamboreiro, do Novo Hamburgo é o alvo, foi além. Classificou o Hip Hop como o maior e mais ousado movimento da juventude negra no país e sugeriu a organização da 1ª Marcha do Hip Hop. Para ele, é preciso sair às ruas para ser cada vez mais reconhecido pela sociedade. O dançarino de rua Ted, do grupo Trocando Idéias, ratificou o colega. “O Hip Hop sabe trabalhar, é só dar espaço”.
Além das discussões sobre a Lei 13.043, foram homenageados veículos de comunicação que contribuíram para a valorização e divulgação da cultura Hip Hop no Rio Grande do Sul. Na categoria Rádio, recebeu o certificado o Projeto Rap Porto Alegre do DJ Piá, na categoria internet, o site Adversus e na categoria Televisão, o programa Hip Hop Sul, da TVE.
A SEGUNDA CHANCE DO HIP HOP
Com autorização especial da Susepe (Superintendente dos Serviços Penitenciários), um grupo de nove integrantes do sistema semi-aberto e da PEJ que formam o MCs para a Paz mostrou que o Hip Hop pode dar uma segunda chance a muitos jovens. Fabiano da Silva Dorneles, de 21 anos, prefere não lembrar os ‘erros de percurso’ que cometeu, mas garante: “o encontro de vários grupos, com o relato de várias caminhadas mostra que o hip hop é um movimento legal, de paz e harmonia”.
O projeto MC’s para a Paz é uma iniciativa do governo do Estado, batizado de Programa Recomeçar, que tenta por meio da cultura Hip Hop ressocialização apenas dos presídios gaúchos. Uma das coordenadoras do grupo MC’s pela Paz, a psicóloga Maristela xxx, explicou dimensionou o alcance do projeto. “Estamos trabalhando no lugar dos excluídos dos excluídos, e podemos afirmar com certeza que o Hip Hop resgata do crime”. Maristela comemorou ainda: “Hoje é sim um dia histórico porque os presos estão aqui como protagonistas e não como pobrezinhos.”
MAIS RECURSOS E FÓRUM GAÚCHO
Entre os encaminhamentos que precederam as apresentações do 1º Encontro Estadual do Hip Hop estão a criação de mais projetos nas comunidades, o não aumento da maioridade penal e a inclusão do hip hop como ferramenta de ressocialização de presos nas penitenciárias brasileiras.
Foram também demandas sugeridas pelos participantes a formação do Fórum Gaúcho de Hip Hop, a necessidade de investimentos públicos para produção da cultura hip hop, a regulamentação da Lei 13.043, para destinar recursos para a realização da Semana Estadual do Hip Hop em 2010, e a participação efetiva do governo estadual através de políticas publicas para o hip hop.
ENTIDADES PARTICIPANTES
Nação Hip Hop/Portal Vermelho – Toni C
Manoel Soares – Central Única da Favela
Studio 1 Produções Musicais Cultura Rastafari – Vinícius Lumertz
Associação Labirinto – Janaina Scarati
Organização Sítio – Rapper Buda
Casa do Hip Hop Kasulo - Rapper PX
Novo Hamburgo é o Alvo – Tamboreiro
Omega Hip Hop – Rapper Cabeça
Associação Alvo Cultural – Jean Andrade
Adversus Cooperativa – Nitro Di
Instituto Trocando Ideias – Ted
Mc´s Para a Paz – Fernando Bassani / Maristela
Codene/Unegro – José Antonio dos Santos
Susepe – José Henrique Teixeira Rodrigues
Coordenação Estadual do Pronasci – Eliene Amorim
Coordenação Estadual da Conferência da Segurança Pública – Vagner Moura
Gerência Programa Recomeçar do Governo do Estado – Maria Lucia Medici
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