Inicialmente, é necessário destacar a grande vitória conquistada
pelo PCdoB, com a aprovação do direito dos partidos se
federarem – segundo suas afinidades políticas e táticas –,
inclusive para participarem conjuntamente de eleições em
todos os níveis, tanto majoritárias, como proporcionais.
Essa vitória – em que muitos não acreditavam e que dificilmente
outro partido teria condições de construir – mostrou o
prestígio e a capacidade de articulação do PCdoB, de sua
direção e de seus parlamentares e nos deixa importantes
lições.
A principal é que a influência ou relevância política de um
partido não pode ser medida única e principalmente pelo
número de seus representantes nos parlamentos burgueses ou
por sua participação em instâncias de governo, por mais
relevante que isso possa ser.
A influência do nosso quase centenário PCdoB decorre
principalmente da correção de sua política, de sua amplitude
e capacidade de articulação, do discernimento e
respeitabilidade de suas lideranças e da sua influência
junto aos movimentos sociais e às massas.
Aliás, é importante lembrar que em nossa trajetória de mais de 99
anos de lutas, somente durante 38 anos tivemos o direito a
existir legalmente e de concorrer nas eleições com a nossa
própria legenda. Durante os outros 61 anos, o Partido
Comunista do Brasil foi proibido e seus militantes sofreram
as mais duras perseguições, prisões e assassinatos. Nem por
isso, o PC do Brasil deixou de existir, de ter relevância
política ou de participar da luta institucional e sempre
encontrou os caminhos para eleger os seus parlamentares e
atuar nas instâncias institucionais.
Tudo isso mostra o acerto daqueles que – mesmo diante das
dificuldades que a legislação eleitoral nos impôs com a
cláusula de barreira e com a proibição de coligações – nunca
cogitaram da extinção do PC do Brasil, seja através da
mudança de nome, seja através da fusão ou incorporação a
algum outro partido.
Que
alcance podem ter as Federações Partidárias?
Devido as grandes dificuldades que a legislação eleitoral nos havia
imposto, temos visto opiniões que – movidas pelo mero
“pragmatismo eleitoral” – reduzem o alcance das
Federações Partidárias a uma simples aliança eleitoral,
substituta das antigas coligações.
Agora, dizem, o principal é escolher “o” ou “os” partidos com os
quais será mais conveniente nos federarmos, para obtermos
melhores resultados eleitorais nas eleições de 1922. O
essencial é decidir a melhor Federação eleitoral.
E alguns já se adiantam em manifestar o seu veto a tal ou
qual partido...
Sem desconsiderar a importância de levarmos em conta os interesses
eleitorais do PCdoB, penso que essa é uma visão muito
limitada, que empobrece o potencial que as Federações
podem vir a ter na luta pelas transformações estruturais
pelas quais lutamos.
Entendo que precisamos trabalhar para que o instrumento “Federação”
abra caminho para a formação de uma grande Frente
Política (e não meramente eleitoral) de amplas forças
partidárias e sociais unificadas em torno de um programa em
defesa da soberania e do desenvolvimento nacional, de
aprofundamento da democracia e de ampliação dos direitos dos
trabalhadores e do povo.
Uma frente de caráter tático, mas com alcance estratégico, capaz
de aglutinar diferentes partidos políticos, movimentos
sociais e personalidades que concordem com esse programa
unitário, que tenha estruturas organizativas e mecanismos de
deliberação que propiciem um protagonismo coletivo e plural
e inibam todo o tipo de hegemonismos.
Os comunistas têm uma vasta experiência de construção de amplas e
vitoriosas Frentes Únicas – revolucionárias,
antifascistas e de libertação nacional –, em todo o mundo,
nas quais sempre tiveram papel de destaque. Nos dias de
hoje, temos, entre outras, as importantes experiências da
Frente Ampla no Uruguai e da aliança governante em Portugal.
Alguém pode objetar que a constituição de uma Frente com
essas características é algo muito difícil. Não temos
dúvidas de que essa construção não é fácil e demanda grandes
esforços e tempo. Mas alguém espera que as transformações
revolucionárias sejam fáceis? Ou, por acaso, abandonamos os
nossos objetivos revolucionários e agora nos contentamos com
pequenas reformas e conquistas cotidianas?
Certamente, não será da noite para o dia que alcançaremos uma
Federação com tal alcance. É possível que tenhamos que
começar com formas mais limitadas. Mas não podemos querer
fazer de nossas insuficiências, virtudes. É preciso
persistir no objetivo de construir uma grande Frente
Política, não só para a conquista de vitórias
eleitorais, mas para a realização das transformações que o
Brasil necessita.
Como nos ensina o poeta Geir Campos:
Não faz mal que amanheça devagar
as flores não têm pressa nem os frutos:
sabem que a vagareza dos minutos
adoça mais o outono por chegar.
Portanto não faz mal que devagar
o dia vença a noite em seus redutos
de leste – o que nos cabe é ter enxutos
os olhos e a intenção de madrugar.