APRESENTAÇÃO
A Semente e os Frutos
Em fins de 1995, pesava
duramente sobre o mundo o impacto
social, político e ideológico da maré
contra-revolucionária, plenamente
triunfante em fins da década anterior.
No mundo das ideias, reinavam
prepotentemente as visões
irracionalistas, quietistas e
imobilistas da realidade e devir
sociais.
A desigualdade e a
exploração do trabalho humano eram
apontadas como expressões positivas de
ordem social naturalizada. A
transformação ascendente da sociedade,
através da superação quantitativa e
qualitativa das contradições sociais,
era definida como mito macabro relegado
para sempre ao passado.
Em Porto Alegre, em
novembro de 1995, um grupo de estudiosos
e militantes gaúchos criou o Grupo de
Estudo Marxistas, espaço democrático e
pluridisciplinar de debate aberto a
todos que defendiam a vigência do
marxismo como instrumento indispensável
à compreensão da vida humana e da luta
por futuro digno do próprio homem.
Desde sua fundação,
definiu-se como forma de funcionamento
do GEM a apresentação quinzenal, por um
convidado ou membros do grupo, de texto
com uma comunicação ou investigação em
desenvolvimento, sobre questões
atinentes às mais diversas esferas da
realidade social.
Distribuídos com
antecedência pelo correio normal e, a
seguir, eletrônico, os documentos eram a
seguir discutidos pelo coletivo do GEM e
interessados, em geral após a
apresentação do comunicador e as
considerações contraditórias de um
debatedor. Foram realizados alguns
debates e reuniões em celebração a
transcursos atinentes ao mundo do
trabalho.
Desde seu início, as
reuniões quinzenais reuniram em animado,
fraterno e produtivo debate,
comunicadores, debatedores e
interessados das mais diversas correntes
e visões marxistas, ou que possuíam no
marxismo apenas um referencial
analítico.
Em 1996, devido ao
crescimento do número de associados, foi
decidida a transformação do Grupo de
Estudos Marxistas em Centro de Estudos
Marxistas - CEM/RS -, mantendo-se o
mesmo processo de funcionamento.
Em 1997, em co-edição
com a EdiUFRGS, lançou-se o livro Luz
e sombras: ensaios de interpretação
marxista, com os dezessete textos,
de doze autores, discutidos em 1995-6.
Como nas publicações seguintes, os
textos abordavam questões atinentes a
arquitetura, agronomia, direito,
ecologia, economia, história,
linguística, literatura, sociologia,
etc.
O prosseguimento dos
debates ensejou, dois anos mais tarde, a
publicação, agora pela UPF Editora, do
livro Fios de Ariadne: ensaios de
interpretação marxista, com 23
textos, de dezessete autores, postos à
discussão em 1997-1998.
Finalmente, em 1999, foi
a vez de Os trabalhos e os dias:
ensaios de interpretação marxista,
com os 21 textos, de 16 autores,
discutidos em 1999-2000. Nesse biénio,
um maior número de membros do interior
do estado ensejou maior número de
comunicações atinentes sobretudo ao
norte do Rio Grande do Sul.
Desde novembro de 1995,
modificaram-se aceleradamente as
conjunturas internacionais e nacionais,
em clara refutação do mito do “fim da
história”. Na segunda metade dos anos
1990, o esgotamento das propostas
neoliberais expressou-se na vitória dos
partidos socialistas, social-democratas
e trabalhistas, etc. na Alemanha, na
França, na Inglaterra, na Itália, na
Holanda, etc.
Em inícios do novo
milénio, a negativa daqueles projetos de
romperem com o grande capital, abrindo
espaço para soluções efetivas das
necessidades populares, permitiu o
retorno da direita, não raro exacerbado,
na Itália, na França, em Israel, na
Áustria, etc. Desse processo fez parte o
controle republicano dos Estados Unidos.
No Brasil, em fins dos
anos 1990, avançou fortemente a esquerda
parlamentar, que obteve vitórias
importantes como o controle
governamental do Rio Grande, em 1998. No
momento em que se escreve esta
apresentação, há grande possibilidade da
vitória da Frente Popular do pleito
presidencial de 2002. No Brasil, nesse
período, talvez à exceção das lutas
rurais, não houve igual avanço do
movimento social.
Como há sete anos,
conscientes de que o processo de análise
e interpretação do mundo social deve
necessariamente ser processo permanente,
coletivo e socialmente engajado, o CEM
gratifica-se em apresentar sua quarta
publicação. As portas de Tebas:
ensaios de interpretação marxista,
com os textos discutidos em 2001 e em
inícios de 2002.
Passo Fundo - Porto Alegre, 24 de
outubro de 2002
Mário Maestri — Raul Carrion — Robert
Ponge
Organizadores
CENTRO DE ESTUDOS MARXISTAS. As portas
de Tebas: ensaios de interpretação
marxista / Centro de Estudo Marxistas. -
Passo Fundo :
UPF, 2002. 350 p.
Editora Universitária - UPF
Campus l, BR 285 - Km
171 - Bairro São José
CEP 99001-970 - Passo Fundo - RS –
Brasil
Centro de Estudos
Marxistas
Caixa postal 10675 – Agência Central
CEP: 90001-970 – Porto Alegre / RS
sumário
Perguntas de um operário que lê 5
A
Semente e os Frutos 7
Marxismo
e meio-ambiente/11
Frente da luta, frente da produção:
desenvolvimento tecnológico dos
assentamentos campesinos no Rio Grande
do Sul 13
Humberto
Sorio Júnior
Breves notas sobre o tema marxismo e
ecologismo 25
Demétrio Ribeiro
Ecologia e marxismo: comentário sobre
uma história de oportunidades perdidas
27
Giovani Gregol
História
e luta de classes / 41
A
República do senhor Mandela 43
Günter Weimer
Imperialismo: a face oculta do
germanismo 67
Olgário Paulo Vogt
Trabalhadores escravizados e livres na
fazenda pastoril (1860-188 113
Mário Maestri
A
aldeia ausente: índios, caboclos,
escravos e imigrantes na formação
do campesinato brasileiro 149
Mário Maestri
O
século XXI entre o socialismo e a
barbárie: um roteiro de discussão* 177
Mário Maestri
Dos primeiros partidos operários à
formação do Partido Comunista do
Brasil 193
Raul Carrion
política, economia e marxismo/233
Alternativa transformadora de Mangabeira
e a esquerda: uma proposta nova e os
tabus 235
Demétrio Ribeiro
Globalização e mudanças no Estado 239
Eduardo K. M. Carrion
A
atualidade produtiva do pensamento de
KarI Marx 247
Avelino da Rosa
Oliveira
O
capitalismo maquiado 259
Luiz Roberto Lopez
Cultura e sociedade /
271
Música clássica e luta de classes 273
Luiz Roberto Lopez
O
surrealismo: alguns elementos para
discussão e debate 293
Robert Ponge
O
marxismo e a questão do género 311
Marcelo Disconzi