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A revolução russa de 1917,
além de dar origem ao primeiro Estado Socialista do mundo, semeou a
luta revolucionaria e a luta anticolonial em toda parte. As
revoluções alemãs de 1918, 1919 e 1923; a insurreição finlandesa de
1918; a criação da República Soviética Húngara em 1919; a greve
insurrecional de 1917 em Turim e a greve geral de 1920 em toda a
Itália, seguida pela ocupação das fábricas; a revolta da armada
francesa do Mar Negro, em 1919; o aumento do movimento grevista na
França e na Inglaterra; a criação da Internacional Comunista em
1919; o surgimento de Partidos Comunistas em todos os continentes; a
crescente simpatia da classe operária e dos povos coloniais pela
URSS; tudo isso gerou uma profunda crise no sistema capitalista e
causou um grande temor às classes exploradoras de todo o mundo.
REERGUER A ALEMANHA E REINTEGRÁ-LA AO BLOCO
IMPERIALISTA
Atemorizadas por esta grave crise – ao mesmo tempo
econômica, política e social –, a Grã-Bretanha, França e Estados
Unidos entenderam que havia chegado a hora de se reaproximarem da
Alemanha e de reerguê-la, para transformá-la em um aríete contra
União Soviética e em um dique ao movimento operário. Da mesma forma
– como examinaremos mais adiante – deixando de lado quaisquer
veleidades democráticas –, passaram a apoiar governos ditatoriais e
fascistas.
Expressando essa reorientação, o comandante-em-chefe
da Entente na I Guerra Mundial, o marechal Foch, afirmou: “Eu não
sou louco a ponto de acreditar que se possa deixar um punhado de
tiranos criminosos governarem mais da metade de um continente e
vastos territórios asiáticos. Mas nada se poderá fazer enquanto a
França e a Alemanha não se unirem”.
E o general Max Hoffmann, comandante do exército
alemão nas fronteiras orientais - que já em 1920 havia proposto à
Entente que os exércitos alemães marchassem sobre Moscou, para
liquidar o bolchevismo no seu nascedouro –, voltou à carga em 1922,
defendendo uma aliança entre a Alemanha, a Grã-Bretanha, a França e
os Estados Unidos para destruir a Rússia Soviética:
“Este
problema só pode ser resolvido pela União dos grandes Estados
europeus, principalmente a França, a Inglaterra e a Alemanha. É
preciso que, por uma intervenção militar, essas potências aliadas
derrubem o poder soviético e restabeleçam a situação na Rússia, no
interesse das forças econômicas inglesas, francesas e alemãs. A
participação financeira e econômica dos EUA seria preciosa.”
Na França, o Primeiro-Ministro Raymond Poincaré
defendia publicamente uma intervenção militar das potências
europeias, incluída a Alemanha, na Rússia Soviética
Em fins de 1925, inícios de 1926, foi realizada
a Conferência de Locarno, que promoveu diversos outros acordos para
impulsionar a economia alemã. Em Locarno, os diplomatas franceses e
britânicos combinaram com seus homólogos alemães uma ação conjunta
contra a Rússia Soviética.
William Ormsby-Gore, membro do parlamento
inglês, relatou: “A luta em Locarno [...] é a seguinte:
considerará a Alemanha o seu futuro ligado ao destino das grandes
potências ocidentais, ou irá cooperar com a Rússia na destruição da
civilização ocidental? [...] no que diz respeito ao atual governo da
Alemanha, ele está desligado da Rússia, jogando a sua partida com o
mundo ocidental.”
O passo seguinte foi a admissão da Alemanha, em
1926, na Sociedade das Nações, inclusive – pasmem – no seu Conselho
de Segurança. Seguiu-se a retirada das tropas francesas da Renânia e
a sua desmilitarização.
A unidade de ação que havia acontecido, na prática,
entre as “democracias ocidentais” e os militaristas alemães, durante
a intervenção estrangeira na Rússia Soviética (1918-1921), serviu de
inspiração para a estratégia de reerguimento da Alemanha, para
reaproximá-la das potências ocidentais” e transformá-la na “tropa de
choque” contra a pátria do socialismo.
Analisando a política externa da Grã-Bretanha nessa
época, o historiador inglês Palme Dutt afirmou:
“Foi
julgado essencial reconstruir e armar o imperialismo alemão contra a
União Soviética, ao mesmo tempo que se pretendia manter o rival em
cheque. [...] Chamberlain e Churchill [...] representavam as duas
metades contraditórias da política externa imperialista britânica,
durante este período. De um lado, o desejo de construir [...] uma
arma apontada contra a União Socialista Soviética. De outro lado,
levar a União Soviética a uma aliança militar, como uma arma contra
o imperialismo rival da Alemanha. Ambas as estratégias partiam do
princípio de que uma [...] guerra germano-soviética enfraqueceria e
destruiria, simultaneamente, as duas principais potências
consideradas pela Inglaterra como ameaças ao seu imperialismo.”
O PLANO DAWES E O PLANO YOUNG
Para viabilizar o reerguimento econômico da
Alemanha foi criado, em setembro de 1924, o Plano Dawes – elaborado
pelos Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Itália e Bélgica –, que
amenizou e postergou o pagamento das indenizações alemãs,
aprovou a evacuação da região do
Ruhr pela França
e proporcionou grandes investimentos
estadunidenses (70%) e ingleses na Alemanha. Tiveram importante
papel no Plano Dawes os monopólios estadunidenses Dupont, Morgan,
Rockfeller, Lamont e outros, que financiaram e se associaram à
indústria pesada alemã e aos seus consórcios militares.
Em consequência do Plano Dawes, já em
1926 a produção industrial da Alemanha superou o seu nível de
pré-guerra e voltou a ser uma das maiores da Europa, tendo a sua
economia passado a crescer de forma mais rápida que a França e o
Reino Unido. Sob os olhos complacentes da França, Grã-Bretanha e
Estados Unidos, os gastos militares da Alemanha aumentaram 11 vezes,
entre 1924 e 1928, em uma clara transgressão ao Tratato de
Versalhes.
Ficava cada vez mais clara a estratégia de
fortalecer a Alemanha, para transformá-la em um aríete contra a
URSS.
Em agosto de 1929, foi aprovado o Plano Young –
que deveria substituir o Plano Dawes –, viabilizando o pagamento das
indenizações impostas à Alemanha, em condições ainda mais
favoráveis. A previsão era ele entrar em vigor em janeiro de 1930,
mas a crise de 1929, inviabilizou a sua aplicação e mergulhou a
Alemanha em uma terrível crise econômica, que fez o desemprego
chegar a 34%, em 1931 e a 40% em 1932, abrindo caminho para a
ascensão de Hitler em 1933.
A CONSPIRAÇÃO REILLY-SAVINKOV
Ao mesmo tempo que trabalhava para reerguer a
Alemanha, o ocidente nunca cessou os seus intentos de destruir o
Poder Soviético.
Em meados de 1924, logo após a morte de Lenin –
momento considerado propício pelos imperialistas e pelos
contrarrevolucionários russos para uma rebelião antissoviética –,
foi urdido o Plano Reilly-Savinkov, em que o contrarrevolucionário
Bóris Savinkov iniciaria um levante no Cáucaso. Em seguida, a França
e a Inglaterra denunciariam o governo soviético e reconheceriam
Savinkov como o “ditador da Rússia”. Os exércitos
contrarrevolucionários presentes na Iugoslávia e na Romênia
ingressariam na Rússia, a Polônia avançaria sobre Kiev e a Finlândia
bloquearia Leningrado. O Cáucaso seria separado da Rússia, e seria
criada uma Federação Transcaucásica – sob os auspícios da
Grã-Bretanha e da França. Obviamente, os poços petrolíferos e
oleodutos do Cáucaso retornariam a seus antigos donos estrangeiros,
entre eles Henri Deterding, presidente da Royal Dutch Shell, um dos
mais ativos membros da conspiração.
Mas, ao entrar na Rússia para liderar o movimento,
Savinkov foi detido. E o levante no Cáucaso, deflagrado em 29 de
agosto de 1924, foi rapidamente sufocado. No seu julgamento em
Moscou, Savinkov confessou detalhes da conspiração e denunciou as
autoridades francesas e inglesas envolvidas na conspiração.
A CONSPIRAÇÃO DO “PARTIDO INDUSTRIAL”
Outras conspirações com apoio estrangeiras foram
urdidas, mas merece um destaque especial a conspiração do “Partido
Industrial” (1928-1930), que teria a participação militar da
Romênia, Polônia, Alemanha, França e Grã-Bretanha. Desacordos entre
os países interventoras quanto às suas esferas de influência
acabaram adiando a operação, inicialmente prevista para 1929.
Em julho de 1930, Deterding, presidente da Schell,
anunciou em uma reunião com filhos de oficiais
contrarrevolucionários e aristocratas russos: “A esperança da
próxima libertação da Rússia [...] cresce e se robustece dia a dia.
A hora da emancipação de vossa grande pátria está próxima. [...] A
libertação da Rússia far-se-á muito mais cedo do que pensamos. É
mesmo coisa de poucos meses.”
Porém, em outubro de 1930, os órgãos de segurança da
URSS desbarataram a conspiração e prenderam os principais líderes do
“Partido Industrial”. No seu julgamento na Suprema Côrte Soviética.
entre 25 de novembro e 7 de dezembro de 1930, diante das robustas
provas apresentadas, os acusados confessaram a sua culpa, implicando
na organização da conspiração Henri Deterdingo presidente da Schell,
Raymond Poincaré, Primeiro-Ministro da França, Leslie Urquhart,
empresário, presidente da “Associação dos Credores Britânicos da
Rússia”, o Coronel Joinville, indicado pelo Estado-Maior francês
para comandar as tropas interventoras, e outros agentes do
imperialismo.
A APOSTA DA GRANDE BURGUESIA NOS MOVIMENTOS E PARTIDOS
FASCISTAS
Ao mesmo tempo que tratavam de reerguer econômica e
militarmente a Alemanha – para lançá-la contra a URSS – e
organizavam todo o tipo de conspirações contra o poder soviético, a
grande burguesia mundial passou a observar com grande simpatia os
movimentos e partidos fascistas que surgiram em diversos países e
que defendiam o combate ao “bolchevismo” e a destruição da URSS.
O primeiro desses movimentos foi o “Fasci
italiani di combattimento”, liderado por Benito Mussolini.
Mas, isso será tema para outro artigo...
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