Porto Alegre, quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

   
A invasão de Playa Giron em Cuba

Raul K. M. Carrion | Historiador
17 de abril de 2025

 

      Desde que a Revolução Cubana foi vitoriosa, em 1º de janeiro de 1959, os Estados Unidos não descansaram um só minuto na tentativa de liquidá-la.

     Já em fevereiro de 1959, foi detido o norte-americano Allen Robert Mayer, que havia ingressado cladestinamente em Cuba, com o qual foram encontrados planos para o assassinato de Fidel Castro. Multiplicaram-se as violações dos espaços aéreo e naval cubano e os lançamentos de fósforo branco nos canaviais cubanos, por aeronaves procedentes dos EUA. Quinze milhões de arrobas de açúcar foram incendiadas, em um ato de sabotagem.

     Cuba respondeu nacionalizando diversas empresas dos EUA. Foram confiscados os latifúndios da United Fruit e um consórcio petrolífero estadunidense. Os Estados Unidos deram início, então, a uma série de atos terroristas e retaliações econômicas e diplomáticas. Em 4 de março, uma ação organizada pela CIA explodiu o navio francês “La Coubre” – que transportava armas adquiridos na Bélgica –, causando a morte de 101 pessoas e ferindo centenas.

      Quando os EUA suspenderam o abastecimento de petróleo a Cuba e a Esso, Texaco e Schell se recusaram a refinar o petróleo soviético, comprado em sua substituição, o governo cubano as nacionalizou. As companhias de telefone e de eletricidade, os bancos nacionais e estrangeiros e outras 382 grandes empresas tiveram a mesma sorte. A resposta estadunidense foi o embargo à venda de quaisquer medicamentos a Cuba e a supressão da compra do seu açúcar, tentando asfixiá-la. Cuba respondeu com uma maior aproximação com os países socialistas, em especial com a URSS. Esta passou a comprar açúcar de Cuba e a fornecer-lhe petróleo e outros bens.

     Em janeiro, os EUA romperam as relações diplomáticas e iniciaram manobras militares contra Cuba, envolvendo 40 mil homens e 150 belonaves, inclusive submarinos atômicos. A CIA iniciou a preparação de tropas mercenárias na Flórida, na Nicarágua e na Guatemala. Os avanços obtidos pelo governo revolucionário eram minados por reiterados atentados terroristas a partir de Miami, com apoio estadunidense, e pela ação de grupos contrarrevolucionários na Serra do Escambray, armados e sustentados pelos EUA.

     No dia 15 de abril de 1961, oito bombardeiros B26 atacaram - a partir de uma base aérea na Nicarágua, os aeroportos de Santiago de Cuba, Ciudad Libertad e San Antônio de Los Baños, com o objetivo de destruir em terra a Força Aérea cubana. O bombardeio causou 53 feridos e 7 mortos cubanos. Um dos B26 foi derrubado e seus dois tripulantes morreram. Era o prelúdio da invasão de Playa Girón.

     No dia 17 de abril, teve início a “Operação Pluto”, com a participação de 1.500 homens treinados pelos EUA na Nicarágua, que saíram de Puerto Cabezas em cinco navios de guerra estadunidenses, escoltados por outras belonaves e com o apoio de aviões estadunidenses disfarçados com insígnias cubanas. Essas forças desembarcaram em dois pontos da Bahia de Cochinos – Playa Girón e Playa Larga– onde deveriam estabelecer uma cabeça de praia e constituir um governo provisório, que solicitaria (e obteria de imediato) a intervenção direta dos Estados Unidos em Cuba

     A ação rápida das Forças Armadas de Cuba – dirigidas pessoalmente por Fidel Castro e com total apoio da população – derrotou em menos de 72 horas a invasão da “Baía dos Porcos”, frustrando os planos estadunidenses, e Fidel Castro pode anunciar que “o imperialismo ianque sofreu na América a sua primeira grande derrota”. Desgastado, o Presidente John Kennedy assumiu toda a responsabilidade pela invasão fracassada.

     Os atacantes tiveram 89 mortos, 250 feridos e 1.179 capturados. Julgados, 5 sofreram a pena de morte e 9 foram condenados a 30 anos de prisão. Os demais poderiam optar entre pagar 62 milhões de dólares de indenização pelos prejuízos causados ou 30 anos de prisão com trabalhos físicos obrigatórios. Depois de longas negociações, Cuba aceitou que os EUA pagassem esses 62 milhões, sob a forma de alimentos e remédios para as crianças cubanaas e libertou os invasores. Foi a primeira vez em toda sua história que os EUA pagaram uma indenização de guerra e Fidel Castro afirmou que “a partir de Girón, todos os povos da América ficaram um pouco mais livres!”

     Tendo seus mercenários derrotados em Playa Girón, os EUA começaram a preparar uma intervenção direta em Cuba. Para isso, iniciaram uma série de provocações na Base de Guantanamo, buscando um pretexto para invadir Cuba. Em julho de 1961, capturaram e assassinaram o pescador cubano Rodolfo Rossel e em outubro detiveram, torturaram e assassinaram o operário da Base Rubem Samariego.

     O povo cubano respondeu a essas agressões dos EUA com a criação dos Comitês de Defesa da Revolução (CDRs) e das Milícias Nacionais Revolucionárias, fortalecendo o apoio popular à revolução, que passou a declarar-se socialista. Se impôs a necessidade de forjar uma grande unidade das forças populares, em defesa da revolução e contra os seus inimigos internos e externos. Os trabalhadores se unificaram na Central de Trabalhadores de Cuba (CTC), os estudantes na Associação de Jovens Rebeldes (AJR), as mulheres na Federação de Mulheres de Cuba (FMC) e os camponeses criaram a Associação Nacional de Agricultores Pequenos (ANAP).

     O mesmo ocorreu no âmbito partidário: o Partido Socialista Popular (PSP) – que sucedera o antigo Partido Comunista –, o Diretório Revolucionário 13 de Março e o Movimento Revolucionário 26 de Julho fundiram-se nas “Organizações Revolucionárias Integradas” (ORI), que em setembro de 1965 transformaram-se no Partido Unido da Revolução Socialista de Cuba (PURSC) e que, em 1º de outubro de 1965, passou a chamar-se Partido Comunista de Cuba (PCC). Já a AJR transformou-se, em abril de 1962, na União de Jovens Comunistas (UJC).

     Assim, a existência de um único partido em Cuba decorreu exatamente da necessidade da mais férrea unidade do povo cubano para conseguir enfrentas às reiteradas agressões dos Estados Unidos à Cuba, em flagrante desrespeito à autodeterminação do povo cubano e ao Direito Internacional.