Claro que seria melhor que tivéssemos liquidado as eleições
presidenciais já no 1º turno.
Mas é indiscutível que Lula e as forças de esquerda
alcançaram uma grande vitória em 2 de outubro – obtendo quase
6,2 milhões de votos a mais que Bolsonaro –, faltando menos de
1,6% dos votos para decidir as eleições ainda no 1º turno. Lula
venceu em 14 estados, contra 13 vencidos por Bolsonaro. Esses
resultados comprovam que o objetivo de liquidar as eleições
presidenciais em 2 de outubro era algo possível e desejável.
E não podemos esquecer que esse resultados foram alcançados
após anos de ataques dos principais meios de comunicação contra
Lula, de perseguição do Judiciário e de sua prisão para
impedi-lo de concorrer em 2018.
Quem imaginaria – após a esmagadora vitória de Bolsonaro
nas eleições passadas – na possibilidade de uma recuperação tão
rápida de Lula e das forças de esquerda no Brasil?
E agora, pela primeira vez, um presidente que busca a
reeleição obteve no 1º turno menos votos que o seu oponente.
Mas, é inegável que, ao ter 43,2% dos votos, Bolsonaro e a
ultradireita mostraram força, algo que não pode ser ignorado e
que tampouco desaparecerá da noite para o dia.
Diversas razões podem ser apontadas para explicar porque
Lula não consumou a sua vitória no 1º turno e Bolsonaro e a
ultradireita demonstraram tanta força, apesar do descalabro do
seu governo.
Destacamos:
1) O avanço das correntes políticas de extrema direita em todo o
planeta, diante da crise mundial do capitalismo.
2) Algumas melhoras da economia do país, nos últimos meses,
levando à diminuição da inflação e do desemprego.
3) O uso descarado da máquina do Estado e do Governo a favor de
Bolsonaro e seus aliados, inclusive aprovando um “pacote de
bondades” de caráter abertamente eleitoreiro.
4) O "orçamento secreto" de 36 bilhões de reais, administrado
pelos bolsonaristas, adubando as campanhas de seus aliados.
5) A utilização de temas “religiosos” e de “costumes” – com o
uso de todo tipo de fakenews – para conquistar o voto
conservador de grande parte da população, inclusive entre os
mais pobres.
6) A “pregação” das igrejas evangélicas pentecostais pedindo, na
sua maioria, o voto para Bolsonaro e seus aliados.
7) O apoio majoritário do agronegócio a Bolsonaro e a chantagem
econômica aos trabalhadores por parte de expressivas parcelas do
empresariado.
8) O apoio e as ameaças do chamado "partido militar" e
"policial-militar", que tem capilaridade em todo o país.
9) A migração de última hora de votos da 3ª via (Simone Tebet e
Ciro Gomes) para Bolsonaro, buscando o “voto útil” contra Lula.
10) A miopia de parte da esquerda e da centro-esquerda, que não
entendeu a necessidade da unidade já no 1º turno.
LULA É O FAVORITO, MAS A DISPUTA SERÁ ACIRRADA
O resultado alcançado por Lula no 1º turno – 48,4% dos
votos – o coloca como o favorito, bastando-lhe conquistar mais
1,6% dos votos. Já Bolsonaro necessita conseguir mais 6,8%.
Além da grande fidelidade dos votos obtidos, Lula tem
condições de conquistar para si a maioria dos 4,9 milhões de
votos (4,2%) de Simone Tebet, candidata do PMDB. Ela, além de
declarar o seu apoio a Lula, colocou-se à disposição para
percorrer o Brasil em campanha com ele. O PMDB liberou seus
filiados para apoiarem quem quiserem. Como boa parte do PMDB já
apoiou Lula no 1° turno, agora a maioria deve ficar com Lula
Da mesma forma, grande parte dos 3,6 milhões de votos
(3,0%) de Ciro Gomes, do PDT – partido que já declarou o seu
apoio a Lula – devem ir para Lula. O próprio Ciro Gomes – ainda
que relutante – afirmou que seguirá a orientação do PDT.
Igualmente devem ir para Lula os 125 mil votos (0,1%) de
outros três partidos de esquerda (UP, PCB, PSTU).
Assim, além de 6,2 milhões de votos de vantagem, Lula tem
8,6 milhões de votos de candidatos que o apoiam, onde deve
crescer. Mesmo os 600 mil votos (0,51%) de Soraya Thronicke, do
“União Brasil”, podem deslocar-se em parte para Lula.
É importante para Lula o apoio de lideranças históricas do
PSDB, como Fernando Henrique Cardoso – duas vezes Presidente da
República –, o Senador José Serra – ex-candidato à Presidência
da República – e de quatro ex-presidentes do PSDB – José Aníbal,
Tasso Jereissati, Teotônio Vilela Filho e Pimenta da Veiga –,
que carreiam votos do centro e da direita democrática.
O apoio de economistas como Armínio Fraga, Edmar Bacha,
Pedro Malan e Persio Arida – que formularam o Plano Real,
dirigiram o Ministério da Economia ou o Banco Central – também
são um importante respaldo para Lula.
E ainda temos o apoio a Lula do “Cidadania”, liderado por
Roberto Freire.
Assim – afora os 10 partidos que já o apoiaram no 1º turno
–, Lula obteve o apoio de mais três: PDT, Cidadania e PCB.
A liberação de voto por parte do PSD também favorece Lula,
visto que importantes lideranças, como os senadores reeleitos
Osmar Azis, do Amazonas, e Otto Alencar, da Bahia, já declararam
apoio a Lula e – junto com o Senador Alexandre Silveira, de
Minas Gerais, e o prefeito Eduardo Paes, do Rio de Janeiro –
montaram um grupo de parlamentares do PSD para apoiar Lula.
Diversamente, Bolsonaro dispõe de menos espaço para ampliar
sua votação e expandir seus apoios. Obteve o apoio do candidato
do Novo, que fez 560 mil votos (0,47%), mas o partido se
declarou neutro. Além disso, tem o apoio do falso “padre” do
PTB, que obteve míseros 81 mil votos (0,07%). Ao todo, a sua
área de crescimento natural é de 640 mil votos (0,54%).
Além dos três partidos que o apoiaram no 1º turno – PL, PP
e Republicanos – Bolsonaro só conseguiu agregar no 2º turno o
pequeno PSC...
Os demais apoios que Bolsonaro obteve nos últimos dias têm
sido “mais do mesmo”, isto é, políticos que já o estavam
apoiando no 1º turno. É o caso dos governadores reeleitos
Cláudio Castro, do Rio de Janeiro, Ratinho Jr, do Paraná, e
Zema, de Minas Gerais.
A novidade é o apoio do governador de São Paulo, Rodrigo
Correa (ex-DEM) – candidato derrotado do PSDB. Mas, o seu apoio
foi imediatamente desautorizado pelo presidente estadual do PSDB
e causou à renúncia de vários secretários do seu governo,
obrigando-o a afirmar que era um apoio de caráter puramente
pessoal.
De toda forma, devido à força eleitoral desses quatro
estados e pelo poder de suas máquinas, esses apoios não podem
ser desprezados. Em contrapartida, o Dr. Pessoa, Prefeito eleito
em Teresina, apoiou Bolsonaro no 1º turno, mas agora apoiará
Lula.
Para termos uma noção da vantagem relativa de Lula,
imaginemos por um momento que todos os eleitores dos demais
candidatos à presidência decidam anular o seu voto no 2º turno.
Nesse caso – mantidas as respectivas votações do 1º turno –,
Lula venceria com 52,85% dos votos válidos, contra 47,14% de
Bolsonaro, ou seja, com uma diferença de 5,7%.
Isso significa que a vitória de Lula está garantida?
De forma alguma, pois o 2º turno – ainda que não seja uma
“nova eleição” ou um “jogo zerado” – são mais 28 dias de
campanha, durante os quais “muita água pode rolar debaixo da
ponte” e fatos novos podem surgir...
Por isso, com certeza, o 2º turno será difícil e
precisaremos trabalhar com muito afinco para conquistar a
vitória.
ACERTAR NA POLÍTICA PARA VENCER
Nessas três semanas que nos restam, é necessário não errar
e consolidar nossos acertos.
O primeiro deles é a AMPLITUDE, que nos permitiu chegar até
aqui e que precisa ser cada vez maior. Como o PCdoB apontou, já
em 2018, logo após a vitória de Bolsonaro, é preciso unir todas
as forças possíveis, independente de divergências menores, para
derrotar o projeto neofascista, entreguista e antipovo de
Bolsonaro. O 2º turno é o momento adequado para isso.
A segunda questão é debater com o povo – além do
enfrentamento de suas
necessidades emergenciais IMEDIATAS – um
projeto de nação,
soberano, democrático e DE inclusÃo SOCIAL, capaz de
retomar o desenvolvimento do Brasil e garantir benefícios a
longo prazo para todos os brasileiros.
Portanto, é preciso evitar a armadilha da ultradireita, que
tenta colocar no centro da discussão as questões religiosas e a
pauta dos costumes, problemas de foro íntimo de cada um.
Sem tornar isso o central da campanha, é preciso fazer a
CRÍTICA FUNDAMENTADA DOS CRIMES DE BOLSONARO, contra a vida,
contra a nação, contra as liberdades democráticas e contra os
direitos do nosso povo.
Por fim, é essencial LEVAR A
campanha às ruas,
mobilizando o povo em torno da vitória de Lula!
AVANÇOS DA ULTRADIREITA NOS PARLAMENTOS E GOVERNOS
Nesse contexto, é preocupante o avanço da ultradireita e de
seus aliados nas eleições para o Senado (que renovou 1/3 dos
senadores), a Câmara dos Deputados e os parlamentos estaduais.
Eles também conquistaram importantes governos estaduais – como o
Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná, Goiás,
Acre, Roraima, e ainda podem conquistar outros no 2º turno como
São Paulo e Rio Grande do Sul.
No Senado (81 senadores), os setores de esquerda e
progressistas conquistaram 8 cadeiras e a extrema direita, pelo
menos, 13 cadeiras. A direita e centro, cerca de 6 lugares. Na
composição total, a esquerda terá pouco mais de 15%, a extrema
direita 30% e a direita e o centro mais da metade.
Na Câmara dos Deputados (513 deputados), a esquerda chegou
perto de 25%, a extrema direita a quase 50% e a direita e o
centro outros 25%. Na Câmara, a maior representação (99
deputados) será do PL, partido de Bolsonaro, e a segunda maior
(80 deputados) será da Federação Brasil Esperança (PT, PCdoB,
PV).
AMPLITUDE PARA VENCER E PARA GOVERNAR
Sem dúvidas, esses avanços da ultradireita criarão
dificuldades para um terceiro governo Lula, exigindo uma ampla
coalisão de forças com o centro e com a direita democrática.
Portanto, é preciso compreender que será um governo de
transição, com a tarefa central de garantir a democracia,
reconstruir a nação e melhorar as condições de vida da
população.
Engana-se quem pensa que ele terá condições de ser um
governo de grandes avanços.
Uma vez pavimentado o caminho e derrotada a extrema direita
– o que não acontecerá em 30 de outubro –, então, sim, criaremos
condições para avanços mais sólidos e profundos!