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			40 anos do massacre de Sabra e Chatila, pelo qual os sionistas 
			israelenses tem responsabilidade direta | 
		 
		
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			Raul K. M. Carrion | 19.09.2022  | 
		 
		
			
			
				
				  
				
					Neste 16 de setembro, registram-se 40 
					anos do massacre de Sabra e Chatila, quando mais de 3.000 
					refugiados palestinos foram mortos, com requintes de 
					selvageria, sob a cobertura das tropas israelenses que 
					haviam invadido o Líbano. 
					Para recordar esse “crime de lesa-humanidade”, totalmente 
					silenciado pela mídia ocidental e pró-imperialista, 
					compartilho este pequeno ensaio. 
					É impossível não nos revoltarmos contra tanta barbárie! 
					      Assinada a 
					paz com o Egito, em maio de 1982, Israel deslocou as suas 
					tropas para a fronteira sul do Líbano à espera de um motivo 
					que justificasse uma “ação de limpeza” contra a Organização 
					de Libertação da Palestina (OLP), que havia se estabelecido 
					ali após sua expulsão da Jordânia.  
				
					     A tentativa de assassinato do 
					embaixador israelense Shlomo Argov, em Londres – levada a 
					efeito pelo grupo de Abu Nida, inimigo da OLP – foi o 
					pretexto de Israel para o início do ataque, em 4 de junho: 
					“Recorrendo ao mesmo slogan da ‘erradicação do terrorismo 
					palestino’, Israel passou a massacrar uma população 
					indefesa, matando entre junho e setembro de 1982 cerca de 
					20.000 palestino e libaneses, quase todos civis” 
					(FINKELSTEIN, Norman. Imagem e realidade do conflito 
					Israel-Palestina. Rio de Janeiro: Record, 2005, p. 29). 
					Somaram-se a esses mortos mais de 30.000 feridos, também na 
					sua maioria civis.   
				
					     Por interferência das grandes 
					potências, foi negociada, então, a retirada da OLP do Líbano 
					e a sua ida para a Tunísia, tendo Israel assumido o 
					compromisso de não ocupar Beirute Ocidental, onde se 
					encontrava a maioria dos campos de refugiados palestinos.  
				
					     Em meados de agosto, com grande 
					parte do país já ocupado por Israel, o chefe militar das 
					ultradireitistas Falanges Cristãs, Bechir Gemayel, foi 
					“eleito” presidente do Líbano, com o apoio das tropas 
					israelenses. No dia 14 de setembro, Gemayel foi morto por um 
					atentado à bomba.  
				
					     Às 5 horas da manhã do dia 15, o 
					Exército de Israel ocupou Beirute Ocidental, traindo o 
					compromisso assumido de ali não entrar após a saída da OLP 
					do Líbano. Tão logo a ocupação se concretizou, as tropas 
					israelenses – comandadas por Ariel Sharon – cercaram os 
					campos de refugiados de Sabra e chatila.  
				
					     No dia 16 de setembro, o alto 
					comando israelense autorizou às tropas falangistas cristãs, 
					sedentas de sangue, a entrarem nesses dois campos de 
					refugiados para realizar uma chacina contra a população 
					civil que ali vivia:  
				
					O massacre começa imediatamente. Irá 
					durar, sem interrupção, quarenta horas. (...) Atiram sobre 
					tudo aquilo que se move nas ruelas. Arrebentando as portas 
					das casas, liquidam famílias inteiras em pleno jantar. 
					Muitos são mortos de pijamas em sua própria cama. Em 
					numerosos apartamentos, crianças de 3 ou 4 anos são 
					encontradas, também de pijamas, enroladas em cobertores 
					ensanguentados. Mas frequentemente, os assassinos não se 
					contentam em matar. Em diversos casos, cortam os membros de 
					suas vítimas antes de liquidá-las. Esmagam contra a parede a 
					cabeça das crianças e dos bebês. Mulheres e até meninas são 
					violadas, antes de serem assassinadas a golpes de machado. 
					(...) No bairro de Horch Tabet, em Chatila, toda a família 
					Mikdad é assassinada (...) Seus 45 membros, homens, mulheres 
					e crianças, são executados sem exceção, alguns degolados, 
					outros estripados. Entre eles uma mulher de 29 anos, chamada 
					Zeinab, no oitavo mês de gravidez. Abrem-lhe o ventre, 
					tiram-lhe o feto e o colocam nos braços de sua mãe morta. 
					Matam seus outros sete filhos. Uma de suas parentes, Wafa 
					Hamoud, 26 anos, grávida de sete meses, é morta com seus 
					quatro filhos (KAPELIOUK, Amnon. O Massacrre de Sabra e 
					Chatila. Belo Horizonte: Ed. Vega, 1983, p. 39-40.  
				
					     A chacina dos palestinos de Sabra e 
					Chatila prosseguiu por três dias, com a cobertura das tropas 
					israelenses, que nada fizeram para detê-la ou impedi-la. O 
					objetivo, além de liquidar milhares de palestinos, era gerar 
					um terror tal nos sobreviventes que os levasse a abandonar o 
					Líbano em massa.  
				
					     O presidente dos EUA, Ronald Reagan 
					– diante dos protestos em todo mundo pela ocupação 
					israelense de Beirute Ocidental – defendeu Israel, mentindo 
					sem qualquer pudor que este “foi levado a avançar devido ao 
					ataque de uma milícia de esquerda remanescente” (Idem, p. 
					62).  
				
					     Concluído o massacre, haviam sido 
					mortas – com requintes de crueldade – mais de 3 mil pessoas 
					e feridas outras tantas: “3.000 a 3.500 homens, mulheres e 
					crianças assassinadas em cerca de quarenta horas, nos dias 
					16 a 18 de setembro de 1982, entre uma população que contava 
					20.000 pessoas nos dois acampamentos” (Idem, p. 81).  
				
					     Só então, alguns correspondentes de 
					imprensa, rádio e televisão foram autorizados a entrar em 
					Sabra e Chatila e testemunhar com os seus próprios olhos as 
					atrocidades cometidas, sob a responsabilidade e a vigilância 
					de Israel, equivalentes aos mais terríveis crimes cometidos 
					pelos nazistas alemães contra os judeus. O enviado do 
					Washington Post assim descreveu o que viu:  
				
					Casas foram destruídas e reduzidas a pó 
					por meio de tratores, enquanto nos moradores ainda se 
					achavam em seu interior. (...) Num pequeno jardim, como dois 
					sacos de trigo, jazem duas mulheres. Ao lado, em meio aos 
					escombros, salta a cabeça de um bebê, os olhos fixos. Um 
					outro bebê, em cueiro, está jogado ao chão, a cabeça 
					esmagada. Do outro lado, num beco sem saída, encontramos 
					duas meninas, uma de mais ou menos 11 anos, a outra de 
					alguns meses: estendidas no chão, um pequeno buraco na 
					cabeça. (...) Cada ruela poeirenta conta sua própria 
					história. Numa delas, 16 cadáveres estão amontoados, uns 
					sobre os outros, tortos e grotescos. Mais adiante, no 
					pequeno pátio de uma casa, uma mulher de mais ou menos 
					quarenta anos, com um vestido de algodão e lenço na cabeça, 
					está estendida no chão, os olhos arregalados. Atiraram-lhe 
					uma bala entre os seios (Idem, p.68-69).  
				
					     A jornalista estadunidense Janet Lee 
					Stevens descreveu:  
				
					“Vi mulheres mortas nas suas casas com as 
					saias até a cintura e as pernas abertas; dezenas de jovens 
					fuzilados depois de terem sido alinhados contra a parede de 
					uma ruela; crianças degoladas; uma mulher grávida com o 
					ventre aberto, os olhos ainda abertos, seu rosto enegrecido 
					gritando em silêncio de horror; um sem número de bebês e 
					meninos que haviam sido apunhalados ou despedaçados e que 
					haviam sido atirados em monte de lixo” (BAROUD, Ramzy. La 
					lección de Sabra y Shatila es de gran alcance. rebelión.org, 
					19.09.2022)  
				
					     O massacre de milhares de palestinos 
					nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, com a 
					conivência israelense, causou uma enorme comoção no mundo e 
					em Israel, onde ocorreu a uma gigantesca manifestação de 
					protesto, de mais de 400 mil pessoas. Multiplicaram-se os 
					pronunciamentos contra esse horrendo crime de guerra.  
				
					     O correspondente militar do jornal 
					ZEEV SCHIFF denunciou: “As circunstâncias em que este ato 
					bárbaro foi cometido demonstram de maneira irrefutável a 
					responsabilidade de Israel”. O jornal HANNA ZEMER evocou o 
					“governo facínora que levou o Estado de Israel a uma 
					falência moral”. O jornal DAVAR lamentou: “É difícil ser 
					israelense (...) Não podemos apagar essa mancha. O que 
					fizeram (...) levou o Estado de Israel a uma falência 
					moral.” Isradel Zamir, filho do Prêmio Nobel Isaac 
					Bachevis-Siger afirmou: “Até agora a palavra pogrom tinha 
					uma conotação que se referia diretamente a nós, judeus, 
					enquanto vítimas. O Primeiro Ministro Begin ‘estendeu’ o 
					significado do termo: houve Bay-Yar, Lídice, Oradur, e agora 
					há também Sabra e Chatila.” E o romancista Itzhak Orpaz 
					declarou: “Nunca os perdoarei por terem arruinado um país 
					que eu amava, com uma orgia monstruosa de estupidez e morte. 
					Nos acampamentos de Sabra e Chatila, meu pai e minha mãe, 
					que perdi no holocausto, foram assassinados pela segunda 
					vez.” (Idem, pp. 95-98).  
				
					     Os protestos no mundo e em Israel 
					forçaram Menahem Begin a criar uma comissão de inquérito 
					para averiguar o acontecido. Apesar do Relatório final ter 
					reconhecido a responsabilidade israelense na matança, a 
					única consequência foi o afastamento “pro forma” do general 
					Ariel Sharon da função de Ministro da Defesa, permanecendo 
					no Gabinete como Ministro sem Pasta e como membro da 
					Comissão Ministerial da Defesa Nacional. E, em 2001, ele foi 
					eleito Primeiro Ministro de Israel.  
				
					     Em 16 de dezembro de 1982, a 
					Assembleia Geral das Nações Unidas condenou o massacre como 
					um ato de genocídio, por 123 votos a favor, 0 contra e 22 
					abstenções. Mas sem qualquer consequência ou punição para 
					Israel...  
				
					     Em 2002, sobreviventes do massacre 
					dos campos de refugiados do Líbano tentaram responsabilizar 
					Ariel Sharon pelo Massacre de Sabra e Shatila no Tribunal 
					Penal Internacional de Haia, na Bélgica, que tem entre suas 
					atribuições processar os criminosos de guerra 
					internacionais. Após muitos regateios, atrasos e intensas 
					pressões por parte dos Estados Unidos, o caso foi 
					simplesmente abandonado pelo TPI, deixando clara toda a sua 
					hipocrisia, assim das nações ocidentais, que falam “da boca 
					para fora” em democracia e em respeito aos direitos humanos, 
					mas são coniventes com o martírio que sofre o povo palestino 
					em sua luta, que já dura mais de 75 anos, pelo direito ao 
					seu Estado Nacional.  
			 
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